"Examinai as Escrituras [...]" (a letra mata...)
Já sabemos que
Jesus é o clímax da revelação de Deus: "Ninguém jamais viu a Deus. O Deus
unigênito, que está no seio do Pai, esse o deu a conhecer" (Jo 1.18).
Jesus é a maior revelação de Deus e a finalidade da revelação é tornar Deus
conhecido dos homens.
Para isso, as
Palavras do Deus espiritualmente superior à razão dos homens devem ser mostradas pelo Espírito Santo, aquele que “vos ensinará todas as
coisas”. Veja em João 17 que a função do mesmo Espírito Santo é dar ao mundo
(através da Igreja) o conhecimento de Deus. Isso configura um caráter
explicitamente espiritual e será pela revelação do Espírito Santo que tal
conhecimento pode chegar aos homens distantes de Deus.
Mas o que precisamos entender, de fato, aqui é o
seguinte: Isso também não significa dizer que o texto literal é inválido. Quem
diz ou ensina isso está cometendo um grave erro baseado num versículo isolado
da Bíblia em (IICor 3:6) que diz assim:
“[...] porque a letra mata, mas o Espírito
vivifica”. Ali Paulo não falava da invalidez das Escrituras, mas sim da validez
da mesma sobre a intervenção inspiradora, reveladora e iluminadora do Espírito
Santo. Paulo ali, no contexto, falava da Lei e isso não pode fazer alusão à
Bíblia que hoje nós temos que é a revelação de Deus. Porém a expressão “letra”,
do grego “gramma” que pode falar da Lei, mas pode falar do livro todo, uma
epístola e Escrituras (considerando que ali não existia só a Lei, mas a Lei e
os Profetas). Essa expressão grega vem do substantivo “grapho” = “escrever” e
remete ao sentido literal da escrita. Então não podemos ignorar que Paulo
advertia a igreja do mau uso da letra literal, fundamentalista e religiosa.
Mas o que vale como informação central nesse texto
é o seguinte: Não é a Lei e nem a Palavra de Deus escrita, em si mesmas, que
matam. Trata-se, pelo contrário, das exigências da Lei, que sem a vida e o
poder do Espírito, trazem condenação (veja em Jr 31:33; Rm3:31). Mediante a
salvação em Cristo, o Espírito santo concede vida e poder espiritual ao crente
no manejo das Escrituras que também são vivificadas.
Cristo havia dito: examinai as Escrituras (livros
em si) [..] pois elas de mim testificam (Jesus nelas). Jesus mostra com clareza
que Ele não é a Bíblia, não podemos assim mistificá-la, mas a Bíblia fala dEle.
Isso é bem claro e é questão de termos e perspectivas.
Isso corrobora também com o fato de: a Bíblia ter
um conteúdo ‘profético’. Mas antes, vou explicar o termo “profético”: a palavra
“profético”, assim como “profecia”, é comumente usada nas igrejas, mas, muitas
vezes, de forma errada. ‘Profecia’ e ‘profético’ remete ao voltar-se para algo,
cujo caminho ou método é apontado. Não é só, portanto, “apontar para frente”,
mas é, no caso bíblico, “voltar-se para Deus”. Leiam os profetas bíblicos
(maiores e menores) e percebam qual é o conteúdo comum em suas mensagens.
O conteúdo comum, já adiantando aqui, é “voltem
para Deus”, cujo caminho é apontado: “obedeçam a sua palavra”. Isso define o
termo “profético”. Sendo assim, a Bíblia é um livro literariamente e espiritualmente
profético, pois é a revelação do projeto de redenção de Deus cuja centralidade
está toda em Jesus Cristo, o Verbo de Deus, a verdadeira “Palavra Revelada”.
Por que é profética? Porque revela a salvação em Cristo.
O ato salvífico de Cristo se resume em: trazer o
homem de volta para Deus, logo, o conteúdo da Bíblia é profético. Aliás, a
salvação é profética, pois parte do pressuposto bíblico que Deus programou tal
projeto na Eternidade e lá elegeu o seu povo para herdar a salvação e a glória
em Cristo. Não é à toa que a figura do sangue percorre por toda a Bíblia,
mostrando, conforme nos explica o autor de Hebreus, que viria o “Perfeito”
(Cristo). Isso sustenta a frase de Cristo: “examinai as Escrituras, pois elas
de mim testificam”. Como “de mim testificam”? Pelas figuras e tipos. Onde entra
a interpretação e a “revelação” nisso? Entra no fato de: o Espírito conduzir o
que manuseia a Palavra ao entendimento de caráter profético que configura numa
espécie de revelação, pois, bota “para fora” algo que a Bíblia tinha como
“modelo”. Isso se aplica nas peças do Tabernáculo, na figura do Cordeiro, do
Sangue, dos tipos humanos, etc. Há aí uma interligação entre RAZÃO e REVELAÇÃO.
Nenhuma é alheia à outra. Estudar, pesquisar e se
aprofundar nos textos bíblicos no espírito e pelo Espírito é muito diferente de
fazer o mesmo sem a fé. Veja que muitos biblistas alcançam entendimentos
profundos sobre o conteúdo histórico, cultural, arqueológico e religioso sobre
as escrituras, mas pouquíssimos falam do seu caráter espiritual ou profético.
Por quê? Porque não têm o pressuposto fundamental para “botar para fora” aquilo
que se discerne espiritualmente, a saber, a fé. Mas vão até onde o espírito
humano (a razão humana) pode levar. Mas quando você lê ou estuda a Bíblia partindo
desse pressuposto espiritual (a fé), o Espírito de Deus, pela fé, dá o
entendimento espiritual daquilo que se lê e assim, Deus fala, as vezes de forma
bem particular. Não estamos falando aqui de inventar doutrinas em nome da
“revelação”, pois tudo que aparece deve ser provado pela própria Bíblia
Gabriel Felipe M. Rocha
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