Pensai
nas coisas do alto
Tema: A mente firme em
Cristo para uma vida abundante, frutífera e agradável a Deus.
Texto
base:
Colossenses 3: 1-10;
Textos
auxiliares:
Cl 1: 10-14; 1: 21-23; 2: 6-12; 6: 18/ Fp 4: 8;
Gabriel F. M. Rocha/ março de 2015.
Introdução:
Nosso tempo assiste a um
gradativo esmaecer de alguns valores morais que antes se firmaram em vista de
uma verdade absoluta e de um sentido. Junto do esmaecer dos bons paradigmas que
regiam a forma de vida e conduta dos indivíduos há algum tempo atrás, percebe-se
cada vez mais acentuada a fragmentação, também, dos valores cristãos em muitas
sociedades. Essa fragmentação faz com que o pecado pareça cada vez mais
“normal” e “natural” em nossa sociedade.
De certo, a humanidade está
corrompida desde o pecado de nossos pais no Édem e, a partir de então, afastada
está de Deus (Rm 3: 23). Sendo assim, não se podia mesmo esperar do mundo uma
postura que agrade a Deus. Impossível! Há uma humanidade escrava do pecado e
totalmente inclinada para o mal. Contudo, muitos valores morais um dia foram
construídos em parcial conformidade com a vontade de Deus, considerando a
existência de um Ser Transcendente e Absoluto. Um exemplo específico disso é o
fato de haver, embora criticado hoje por alguns, um modelo de casamento e família
em total correspondência com os valores cristãos. Poderíamos citar aqui vários outros
exemplos na filosofia clássica e medieval, mas não vem ao caso. A questão é: o mundo caminha para a sua
condenação e o homem sem Deus, se inclina cada vez mais para o mal (1Jo: 19) .
Se as verdades concernentes a Deus e a boa conduta em conformidade com o mesmo
Deus vão sendo esquecidas, várias “verdades” e formas de vida virão como
paradigmas nessa complexa esfera cultural de nosso tempo e esses modelos de
crença, conduta, ou o próprio niilismo que se instaura, vão se esforçar ao
máximo para entrar nas igrejas, nos lares e na mente dos cristãos.
Essa fragmentação – ou mesmo o
abandono – dos valores propriamente cristãos que atravessam os séculos (desde o
advento da modernidade) se dá, principalmente, em sociedades que antes o
Evangelho foi pregado com notável poder e de forma triunfante. Relevantes
homens foram usados por Deus. Homens que negaram suas vidas e aceitaram o
martírio, provando por seus testemunhos pessoais e em praças públicas o que de
fato é carregar a cruz de Cristo e morrer nela.
Na modernidade, através da
confiança depositada na razão, na racionalidade instrumental e na ciência como
capazes de conferir sentido, dar respostas e dirigir a vida humana, o mundo,
enfim, declarou sua inimizade com Deus, abandonando qualquer princípio que
viesse sugerir uma fé e a existência de um Deus Verdadeiro, Absoluto e Bom.
E agora, no seio da
pós-modernidade, vemos esse alvoroço todo. Há uma crise de sentido. Muitos
assumiram a postura de inimigos de Deus, sendo totalmente afastados da luz e
amantes das trevas. Homens sem rumo e sem escrúpulos. O individualismo tomou
conta de nossas sociedades. O consumismo vem ditar quem nós somos e quem
devemos nos tornar; o homem busca sua auto-realização na esfera do material, do
financeiro, mergulhado num hedonismo sem limites. O indivíduo pós-moderno se vê
arrastado pela incessante busca por satisfação de suas carências e
necessidades, pois é essa imagem de humanidade que se constrói em nosso tempo,
a saber: a imagem do indivíduo que precisa se preencher (preencher o seu vazio
existencial), adquirir, possuir, assumindo, então, cada vez mais sua postura
como ser mundano, totalmente imanentizado e afastado da Verdade. A verdade
torna-se relativa, sendo a verdade da ciência, uma verdade mutável. O verdadeiro de hoje não é mais verdadeiro
amanhã. Isso, de acordo com os avanços prodigiosos da ciência. Avanços que têm,
porém, esquecido a vida propriamente humana. Avanços, possibilidades e
formatações que enxergam o homem como animal estruturalmente natural, sem
espírito, sem alma e sem qualquer valor e qualidade que venha sugerir uma
dignidade essencial para além do corpo, das necessidades físicas e do
utilitarismo. Esse é o mundo. Não é, portanto, o nosso mundo (1 Jo 4: 4, 5; 5:
4, 5)! Se Jesus venceu o mundo, nós podemos vencer o mundanismo se nossa mente
for como a de Cristo.
Sim! Para nós que professamos a
fé em Cristo, esse não é mais nosso mundo. Estamos nele. Participamos dele.
Temos uma missão nele. Ele é o nosso campo de atuação para o bom serviço do
Evangelho. Mas não pertencemos e não devemos jamais tomar a forma dele. Como
Paulo mesmo disse em sua carta aos Romanos,
“não vos
conformeis com esse século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente,
para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus”
(Rm 12: 2).
Nossa mente deve estar firmada
nas coisas do alto, pois foi renovada em Cristo para a glória de Deus.
Portanto, devemos andar conforme Deus, a fim de agradá-lo e não conforme o
mundo, sendo o mundo feito inimigo de Deus. Somos livres em Cristo. Livres para
vivermos conforme Deus.
Mas, em detrimento disso, a
proposta pós-moderna tem invadido muitas igrejas. Pode até ser aceita (como
algo imbatível) a corrupção do mundo, uma vez que a Bíblia não nos engana sobre
o destino do mundo e sobre o pecado. Mas o que causa espanto não é a corrupção que
há no mundo, mas sim a corrupção que entra nas igrejas ditas cristãs e nas
vidas dos que se dizem crentes. Muitos falsos líderes tem se levantado com
idéias, supostas novas revelações e ensinando doutrinas de demônio e permitindo
liberalmente a entrada de muitos pecados dentro de suas congregações (1 Jo 2:
18,19).
A imagem de Cristo tem se desbotado
nos corações de muitos que se um dia professaram a fé em Cristo. Muitos têm
caído na graça. Alguns caíram totalmente da graça, pois dela nunca fizeram e
nem farão parte, mas muitos crentes genuínos deixaram-se envolver com os
ditames diabólicos desse mundo e aceitaram o pecado dentro de seus corações e
lares. Os argumentos segundo o mundo estão ficando cada vez mais fortes e convincentes
para os que não se firmaram totalmente em Cristo.
Falei das sociedades que antes
levantaram com fervor a bandeira do Evangelho. Pois é! Muitas perderam o foco. Muitas
deixaram as vãs sutilezas e filosofias entrarem deturpando a mensagem e a
imagem de nosso Senhor. Muitas abandonaram a fé. Muitas igrejas têm fechado
suas portas na Europa. Não sei se isso mexe com você, mas me entristeço inconformadamente
com essa situação. Nos EUA mesmo, a
situação também se torna crítica e digna de nota. Muitas igrejas (de bons nomes,
inclusive), perderam completamente o norte e estão deixando entrar tão
livremente o pecado, tomando assim, a forma desse mundo. Deixando-se levar pelo
argumento demoníaco do casamento homo afetivo, pela ausência de luta em favor
dos casamentos que se destroem, pela naturalização do divórcio, pela aceitação
do aborto, pela juventude que se afasta de Deus, pela falta de doutrina
bíblica, pelos ventos doutrinários que mancham a fé, etc. Aqui no Brasil, por
sua vez, a ortodoxia muitas vezes não caminha lado a lado com a ortopraxia em
alguns grupos de memoráveis nomes e, quando a ortopraxia se vê de modo dinâmico
e atuante em algumas igrejas de rótulo pentecostal, a Sã Doutrina perde lugar
para o experimentalismo estranho e para as tantas heresias que emergem dentre
os neopentecostais. Ah! São muitas coisas mesmo!
Se a mente não estiver em Cristo, tão facilmente se perde o rumo. Muitas
novelas, séries, filmes e outras mídias tentam ensinar e ditar (quase
autoritariamente) o pecado como forma de vida e tem conseguido influenciar
nosso povo com o argumento de que somos antiquados, que nossa fé é
fundamentalista, que estamos ultrapassados pelas razões científicas e
filosóficas, etc. Os jovens têm em mãos algumas ferramentas que os mantém
informados de toda e qualquer novidade e muitos filhos de crentes se perdem
nesse viés. A mídia é boa, a internet é boa, tudo pode ser bom se a mente
estiver firme em Cristo e a vida estiver depositada em Deus. Também, muitas
“novas didáticas” apresentam seus novos modelos de família; a relativização da
verdade e a relativização do pecado; desconhecimento e plena ignorância bíblica
entre os cristãos; ausência notável de uma vida piedosa entre os que professam
a Cristo, etc. Tudo isso vai colocando muitos crentes no cativeiro e na vida
cristã estática e infrutífera. Isso é
sério!
Enquanto os cristãos no Oriente
Médio e em alguns lugares na África estão sendo perseguidos, mortos e vendo
suas famílias desfeitas pela desgraça denominada de “Estado Islâmico”, muitos –
aqui no Ocidente – estão passivamente cedendo e permitindo o mal criar suas raízes, vivendo um
cristianismo desfigurado. Estão errando o alvo. Estão perdendo o foco. Estão
olhando para baixo e não para o alto. Não sabem mais, nesse pluralismo todo,
para quem olhar.
1.
Entrando
em Colossenses (breve abordagem dos capítulos 1 e 2):
O apóstolo Paulo, ao escrever
sua carta à igreja de Colosso, quis exatamente advertir os crentes quanto aos
ensinos falsos e mundanos que estavam entrando na igreja, suplantando a fé e
também a centralidade e supremacia de Jesus Cristo na criação, na revelação, na
redenção e na igreja. O apóstolo também quis ressaltar a verdadeira natureza da
nova vida em Cristo e suas exigências para o crente. Embora se trate de
contextos diferentes, o contexto do ministério paulino, assim como todo o
contexto do primeiro século da era cristã foi marcado por uma chuva de
heresias, legalismo, religiosidade e vãs filosofias que surgiam no meio do povo
de Deus. A diferença para nossos dias, é que as mesmas coisas, os mesmos pecados
se tornaram ainda maiores e afetaram todas as áreas da vida humana num tempo
diversificado e mais complexo. O apóstolo João mesmo, em sua primeira carta,
faz a advertência:
“Amados, não
deis crédito a qualquer espírito; antes provai os espíritos se procedem de
Deus, porque muitos falsos profetas têm saído pelo mundo fora. [...] e todo
espírito que não confessa a Jesus não procede de Deus [...]” (1 Jo 4: 1 e 3).
Segundo Paulo, eram muitas “filosofias e vãs sutilezas, segundo a
tradição dos homens, segundo os rudimentos do mundo e não segundo Cristo”
(2: 8) que estavam ameaçando o real entendimento da igreja sobre a divindade de
nosso Senhor e também afetando a postura em relação à Verdade. Junto dos maus
ensinos, dos maus exemplos, das filosofias e ventos de doutrina, estava o
legalismo judaizante que, assim como fora também entre os gálatas e outras
comunidades, disputava entre os crentes a primazia da fé em detrimento do
Evangelho da graça.
O mundo é inimigo de Cristo e da
igreja (Jo 15: 18,19). Sendo assim, os ditames do mundo sempre vão ter por
intento destruir a imagem divina, santa e verdadeira de Cristo por meio do
pluralismo de conceitos e pela relativização da fé e da vida cristã. Eis a
astúcia-mor do adversário de nossas almas: fazer com que Cristo não seja
contemplado por nossos olhos. Por isso, Cristo – em sua oração sacerdotal – foi
tão enfático quando disse:
“É por eles
que eu rogo; não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste [...]. Já não
estou no mundo, mas eles continuam no mundo [...]” (Jo 17: 9 e 11).
No mesmo sentido de exortação e
desejo de ver guardadas as ovelhas de Cristo, Paulo faz sua admoestação à
igreja. No capítulo 1(versículo 10 ao versículo14), ele, tão logo, chama a
atenção para que a igreja assuma uma vida digna diante do Senhor, procurando
agradar a Deus em tudo, frutificando em toda boa obra e crescendo no
conhecimento de Deus (v.10). Essa exortação para que venhamos assumir essas
qualidades se dá com base na seguinte verdade: Deus já “nos libertou do império
das trevas e nos transportou para o reino do Filho do seu amor, no qual temos a
redenção, a remissão dos pecados” (1: 13). Somos, portanto, reconciliados com
Deus em Cristo pelo sangue da cruz (1: 20), feitos inculpáveis, santos e
irrepreensíveis. Por isso, devemos tão logo assumir tais qualidades, pois o
poder do sacrifício de Jesus Cristo nos garante eficazmente essa transformação
pessoal pelo auxílio e obra do Espírito Santo. Outra verdade que pode ser
extraída desse contexto é a seguinte: se sua mente não está firme em Cristo e
você ainda não provou da transformação pessoal em Cristo, amando o pecado,
agradando a si próprio e plenamente conformado com esse mundo, a notícia para
você é esta: você não tem a mente em Cristo e não pode pensar sobre as coisas
do alto, pois você não se converteu ainda de seus pecados e não faz parte do
rebanho de Cristo, a não ser que se arrependa e almeje viver para Deus,
conforme Deus, firme em Cristo e transformado pelo Espírito Santo para uma vida
santa e justa.
Quanto a nós, devemos, então,
permanecer na fé, alicerçados e firmes, não nos deixando afastar da esperança
do Evangelho que ouvimos e aprendemos (1: 22, 23).
Dessa forma, amados irmãos, não podemos
– de forma alguma aceitar o mal, fazer vista grossa ao pecado (seja nosso, seja
do irmão) e deixar com que as vãs filosofias e heresias adentrem nossas
congregações e os maus costumes, as nossas casas. Em Romanos 6: 12., Paulo faz
a seguinte admoestação:
“Não
reine, portanto, o pecado em vosso corpo mortal, de maneira que obedeçais às
suas paixões; nem ofereçais cada um os membros do seu corpo ao pecado, como
instrumentos de iniqüidade; mas oferecei-vos a Deus, como ressurretos dentre os
mortos, e os vossos membros, a Deus, como instrumentos de justiça. porque o
pecado não terá domínio sobre vós; pois não estão debaixo da lei, mas da graça”
(Rm 6: 12- 14).
Nos versículos posteriores,
Paulo adverte ainda sobre a postura cristã em conformidade com a vontade de
Deus e deixa a seguinte afirmação: Deus – por sua graça – foi quem nos fez
idôneos, afim que sejamos livres do “império das trevas” (v. 13), pois temos a
redenção e a remissão dos pecados pelo sangue de Jesus. Ou seja: somos livres
em Cristo para andar conforme quer Cristo. A princípio parece não haver
liberdade nisso, mas no decorrer deste texto, veremos que sim. Há liberdade em
Cristo e somos livres quando nossa vida é mortificada na carne e ressurreta em
espírito.
Portanto, no capítulo 1 e no
capítulo 2 (mais especificamente nos versos 6 ao 12 e no verso 18 do segundo
capítulo), Paulo deixa uma série de afirmações quanto a nossa nova natureza em
Cristo, sendo nós agora, edificados nele (2: 7), confirmados na fé, abundantes
e instruídos na fé e na ação de graças (2: 7). Assim, devemos: estar
aperfeiçoados nele, circuncidados nele, sepultados com ele no batismo e
ressurretos nele pela fé. Assumindo, assim, a nossa liberdade com que Cristo
nos libertou e vivendo conforme a nossa nova natureza em Deus, ninguém poderá
nos dominar a seu arbítrio (ou bel-prazer) em pretextos de humildade.
Assumindo a nossa posição como
remidos por Cristo, cheios do Espírito Santo e amigos de Deus, devemos – portanto
– provar a nossa fé, evidenciando diante das plurais filosofias e formas de
vida ditadas pelo mundo, quem tem, de fato, a primazia de nosso ser. Como
evidenciar e provar a nossa fé a fim de agradar somente a Cristo? Paulo
responde no capítulo 3, no versículo 1 ao 17.
2.
Colossenses
3: 1- 10:
Paulo inicia o terceiro
capítulo com uma conjunção coordenativa conclusiva: “Portanto...”. E dá uma seqüência conclusiva ao que tratou nos dois
primeiros capítulos de sua carta.
O apóstolo diz: “Portanto, se fostes ressuscitados juntamente
com Cristo, buscai as coisas lá do alto...”. Pois bem, Paulo faz, nessas
palavras, um convite para a análise interior, para uma sondagem com o intuito
de provarmos – em vista de nossas ações e forma de vida – se realmente estamos
ressuscitados com Cristo. Evidenciamos mesmo o caráter de Cristo? É extremamente
válida tal análise. E se realmente
estamos firmados em Cristo, logo pensamos como Cristo. Se estivermos em Cristo,
somos parte do Corpo de nosso Senhor. Se nós somos, então, parte do Corpo de
Cristo, sendo Ele o cabeça desse
corpo, nossas atitudes devem estar em plena conformidade com os pensamentos de
Deus. Por isso, Paulo completa: “...se
fostes ressuscitados juntamente com Cristo, buscai as coisas lá do alto”.
Estar ressuscitado com Cristo e
buscar as coisas do alto trazem uma série de aprendizados que aqui menciono:
1)
O ressuscitado com Cristo é aquele que já
morreu para o mundo. O mundo e o pecado não o escravizam mais. É livre e vive
uma vida para a glória de seu Senhor, em fidelidade à Palavra de Deus, em
santidade, evidenciando uma vida frutificada pelo Espírito Santo e
verdadeiramente piedosa;
2)
Buscar as coisas do alto remete à
busca, ao interesse e à total inclinação para aquilo que é do Reino. É aquele
que vive o Reino e para o Reino de Deus. Buscar aquilo que é do alto é se
interessar e se preocupar com os assuntos de Deus. Como? Se envolvendo com a
obra de Deus; se envolvendo com o evangelismo, com a pregação da Palavra. O que
busca as coisas que são do alto, busca viver segundo a vontade de Deus,
procurando saber qual é a perfeita e agradável vontade do Senhor. Ele lê a
Bíblia, ele ora incessantemente, ele clama por sabedoria, ele roga a Deus para
ser usado com poder no Evangelho, ele se preocupa em apresentar um bom
testemunho na sociedade na qual se insere, ele se preocupa com as questões que
envolvem sua congregação, ele busca melhorias para os irmãos, ele desenvolve
seus talentos e dons, ele edifica, ele trabalha, ele oferta, etc. Sua mente
está voltada para a glória de Deus e sua vida familiar, profissional, financeira,
etc. reflete o seu movimento para Deus e sua firme adesão;
3)
O que está ressuscitado com Cristo e busca as
coisas que são do alto, está em plena sintonia com a mente de Cristo. Se ele está
em plena sintonia com as coisas de Cristo, tem os mesmos interesses de Deus, a
saber, o resgate de muitas almas. Quem tem a mente firme em Deus e busca as
coisas do alto, conseqüentemente não suporta uma vida estática e vai ao
encontro do perdido e do desamparado para evangelizá-lo, pois é o que Jesus
faz.
Portanto, se somos ressuscitados com
Cristo, nossa vida frutifica. E essa é a prova de que somos ressurretos para
Deus e firmados em Cristo: quando buscamos as coisas de do alto e mantemos
nossa mente voltada para as coisas do reino. Eis o exemplo em João 15: 2-4 e 5:
“Todo
ramo que, estando em mim, não der fruto, ele o corta; e todo o que dá fruto
limpa, para que produza mais fruto ainda. Vós já estais limpos pela palavra que
vos tenho falado;permanecei em mim, e eu permanecerei em vós. [...] Quem permanece
em mim, e eu nele, esse dá muito fruto[...]”.
No
versículo 2, a exortação continua assim: “pensai
nas coisas que são de cima”. O termo usado no original, traduzido
como “pensai”, é “phroneo” e pode ser traduzido também
por: “exercitar a mente”, “alimentar a mente” e mesmo “interessar-se por algo”. E a advertência
que nos cabe é exatamente essa: precisamos exercitar a nossa mente para
desenvolvermos melhor nossos pensamentos sobre Deus a fim de melhorarmos a
nossa postura cristã. Isso tem uma profunda ligação. Nossas atitudes nada mais
são o reflexo daquilo que pensamos. Se não temos nenhum conhecimento de Deus,
não temos nenhum pensamento em conformidade com a vontade de Deus, o que
poderemos esperar de nossas atitudes? Atitudes que nos afastam de Deus. Pois,
se Deus não ocupa nossa mente, nosso ser será regido, então, pelo pecado. Somos
escravos do pecado! Precisamos já alimentar a nossa mente, ou seja: precisamos
fazer como Cristo, a saber, nos alimentar de fazer a obra do Pai (João 4:
33,34), se envolver com as coisas de cima. Esse é o interesse de Cristo. Se nós
estamos mesmo com Cristo e enxertados em nele, os interesses de nosso Senhor
passam a ser nosso interesse também.
Uma curiosidade: a filosofia
grega clássica e helenística exercia forte influencia na sociedade e nas
comunidades onde Paulo exerceu seu apostolado. Não tenho dúvidas de que Paulo
era conhecedor, pelo menos em parte, da filosofia grega, uma vez que ele tinha
uma relevante desenvoltura entre os gregos na evangelização e no ensino. O
modelo de vida realizada na sociedade grega clássica e helenística era o modelo
do Sábio, a saber, o homem que era inteiramente realizado para os gregos era o
que exercitava o pensamento em vista do bem da polis. Esse era o que exercia a phrónesis (phroneo), ou seja, sabedoria sobre as coisas que transcendiam o
ser. Era a sabedoria do alto. Paulo, como era pregador bom, em consonância com
essa forma de pensamento, lançou a verdade cristã sob o mesmo viés conceitual:
o que se realiza em Deus é aquele que pensa sobre as coisas que são de cima.
Esse é o sábio. A sabedoria do cristão estar no centro da vontade de Deus e não
mergulhado no pecado.
No entanto, muitos problemas,
adversidades, e situações diversas tendem a roubar nossa atenção, nossa fé e
até mesmo conseguem, às vezes, apagar a chama de nosso coração. Porém, não
fomos chamados para uma vida de inconstância, mas sim de perseverança.
No versículo 3, Paulo deixa um
importante alento: “porque morrestes e a
vossa vida está oculta juntamente com Cristo, em Deus”. As aflições desta
vida, as lutas e provas que aparecem, junto com a força e o intento do pecado
tentam ofuscar nossa visão e fazer com que abaixemos nossas cabeças e erremos o
alvo. Nossa vida aqui é constante batalha. Contudo, devemos ter bem certo em
nós a esperança de que Cristo está conosco e temos aliança com Deus através do
sangue de Jesus Cristo. Estamos escondidos, agora, em Deus. Temos livre acesso
a Ele pela graça e pelo sangue. Nenhum mal, nenhum ataque, nenhum desanimo,
nenhuma provação, nenhum pecado que ainda cativa nosso ser pode ser mais forte
que Jesus em nós. Por isso a importância de uma vida firmada a cada dia em
Deus. Pois, buscando sempre as coisas do alto, nos fortalecemos e crescemos em
fé e em graça para suportarmos firmes qualquer desafio que possa surgir. Em
Deus, estamos protegidos.
Não livres dos ataques, não
livre das aspirações de nossa carne, não livres do pecado. Aliás, o pecado é
uma constante possibilidade de perdermos o foco. Mas, tendo o foco em Deus e
nas coisas de Deus, não há como ceder para o pecado. Há o sofrimento, mas há a
esperança. Há a tristeza, mas há a alegria que sempre vem pelo amanhecer;
existe a provação e a dificuldade, mas há a certeza que em Deus podemos tudo, a
nudez, a fome, o perigo, a espada, etc. Tudo nós podemos, naquele que nos
fortalece.
Buscar as coisas do alto é,
portanto, constante negação de nós mesmos, pois esse é o sentido real da nossa
morte e ressurreição. Vida virtuosa é isso: negação de suas aspirações e
paixões para fazer aquilo que agrada a Deus. Aí consiste a verdadeira liberdade
em Cristo. Por quê? Porque vencer a carne, dizer não para o pecado e afrontar
nossos fortes desejos para a glória de Deus implica total domínio de si mesmo,
numa vida frutificada pela obra do Espírito Santo. Poder dizer para a oferta do
maligno e da própria carne que “eu vou agradar a Deus e não a mim mesmo” é
vencer – como Cristo – a tentação do Diabo e se portar como liberto. Assumir,
portanto, a liberdade que Cristo nos concedeu na cruz. Somos livres quando
nossa mente está buscando as coisas do alto e pensando nas coisas do alto, pois
o pecado não mais nos domina. Temos vitória sobre o maligno! Veja em 1 João, 2:
12-17.
Em continuidade de sua
admoestação e ensino, Paulo ainda adverte sobre a importância de ainda
morrermos totalmente em nossa velha natureza terrena, buscando superar e vencer
toda prostituição, impureza, paixão lasciva, desejo maligno e avareza. (3: 5),
pois, por essas coisas, vem a ira de Deus sobre os homens. Muitos ainda não
acordaram para a seriedade dessas palavras e vivem praticando uma ou todas
essas coisas citadas. Mas a palavra de Deus para esses é: condenação! Morte
eterna! Inferno. A não ser que se arrependam agora e busquem a Deus. Buscai as
coisas do alto! Perto está o Senhor daqueles que o invocam (Is 55: 6).
Paulo ainda insiste: “despojai-vos, igualmente, de tudo isto”
(v.8). Notemos que Paulo está falando para a igreja. Isto! Para a congregação
de crentes. Amados, somos seres de pecado (1 Jo 1: 8). Temos tendência ao erro,
enquanto tivermos esse corpo mortal, pois a morte está instaurada como salário
(Rm 6: 23) de nosso pecado. Contudo, temos um advogado diante de Deus (1 Jo 2: 1),
a saber, o próprio Cristo. Por isso devemos ter a mente voltada para Cristo,
pois Ele é o intercessor, o que advoga e o que nos traz justificação (Rm 6:7).
Contudo, devemos – agora – despojar de tudo que ainda nos faz cativos. Ou
vivemos livres para a glória de Deus, ou somos ainda escravos. O céu é para os
livres em Cristo. Preocupe-se com isso!
Despojando de todo o pecado e de
tudo que rouba a primazia de nossa atenção, impedindo-nos de buscar e pensar nas
coisas do alto, devemos, tão logo, assumir a forma da nova criatura (novo
homem), pois essa nova natureza em espírito nos fará chegar ao pleno
conhecimento de Deus e ao modelo de Cristo (v. 10). O velho homem não pode
enxergar e conhecer os mistérios de Deus. Portanto, não pode entrar em sua
glória, pois Deus é Santo. Mas o novo homem, em espírito e assumindo a cada
instante a forma perfeita de Cristo, pode ver a Deus e já aqui, participar da
glória e de Jesus Cristo.
“não
que eu tenha já recebido ou obtido a perfeição, mas prossigo para conquistar
aquilo para o que também fui conquistado por Cristo Jesus. [...] esquecendo-me
das coisas que para trás ficam e avançando para as que diante de mim estão,
prossigo para o alvo [...]” (Fp 3: 12-14).
As outras advertências e os ensinamentos
que se seguirão na carta aos colossenses, partirão do mesmo pressuposto que
aqui destaquei: para agradar a Deus, numa vida firmada em Cristo e que mira
inegociavelmente para as coisas do alto, precisamos viver virtuosamente a
negação de nós mesmos e assumirmos, desde já, a forma e a nova natureza em
espírito que Cristo nos concedeu. Só assim agradaremos a Deus, permaneceremos
firmes e viveremos para a glória de nosso Senhor Jesus Cristo, em conhecimento
de seus mistérios e de sua boa vontade.
Irmãos, Deus será convosco
quando decidirdes, desde agora, a despojar de uma vez por todas do velho homem
e revestirdes do novo homem. A partir do momento que vossas mentes estiverem
firmes em Deus, buscando as coisas que são do alto e pensando naquilo que é de
cima, o Deus de paz fará prosperar nossos caminhos, pois é essa a vontade de
Deus para com os que são de Cristo. Deus quer que estejamos firmes, fortes,
renovados e feitos amigos dele através de uma vida que o louva em todas as
áreas, momentos e situações.
“finalmente, irmãos, tudo o que é
verdadeiro, tudo o que é respeitável, tudo o que é justo, tudo o que é puro,
tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se alguma virtude há e se algum
louvor existe, seja isso o que ocupe o vosso pensamento. O que também
aprendeste, e recebestes, e ouvistes, e vistes em mim, isso praticais; e o Deus
da paz será convosco” (Fp 4: 8,9).
Conclusão:
O crente verdadeiro é aquele que
tem uma vida conforme a vonatde de Deus e frutificada em espírito. Ele é
pecador, mas não cai da graça, pois sua salvação é evidenciada por uma vida
santa, irrepreensível, fiel, segura e frutífera. Pois sua mente está firme em
deus, buscando aquilo que é de cima. Pensando naquilo que é de Deus. Sua vida
reflete suas decisões em relação às coisas do Reino.
No entanto, não estando com a
mente voltada para as coisas do alto, pode cair na graça. Não cai da graça,
pois a salvação é segura em Cristo, mas abro uns parênteses: (a salvação se
evidencia através dos bons frutos que o genuíno crente dá. Portanto, se sua
vida é infrutífera e você se vê preso ainda no pecado, vivendo conforme a velha
natureza e os rudimentos do mundo, você deve fazer agora uma revisão de sua
vida e se entregar a Cristo). Jesus quer que estejamos firmes nele. Amigos
dele, em relacionamento com ele, frutificando nele.
Embora os planos de Deus para salvar seu
eleito não podem ser frustrados, Deus quer que venhamos a ter uma vida
abundante e plena em Cristo. Isso, já se dá no plano de nossa existência e
através de nossa livre agencia. As escolhas que vamos fazendo vão revelando
quem somos e vão fazendo-nos crescer em fé, graça e conhecimento da glória e
dos mistérios de Deus em Cristo.
Que
Deus abençoe a sua vida e te leve cada vez mais ao conhecimento de sua glória,
seu poder e seus mistérios,
Gabriel
Felipe M. Rocha
(24/03/2015)