sábado, 26 de outubro de 2013

INSPIRAÇÃO, REVELAÇÃO E ILUMINAÇÃO

Inspiração, revelação e iluminação

Inspiração, revelação e iluminação - Estes três conceitos caminham bem juntos, mantendo uma estreita ligação entre si, e são necessários para uma melhor compreensão do ensino das Escrituras.

A declaração de W. C. Taylor, missionário batista pioneiro no Brasil, irá nos ajudar a entender a relação destes conceitos entre si e o sentido de cada um:

"Três doutrinas vão sempre juntas, na inteligente apreciação do valor da Escritura: revelação, inspiração e iluminação. Para o autor (do texto bíblico) veio a Revelação; para a Escritura que ele transmite, veio a Inspiração; para o leitor, que busca saber por meio dela a verdade e a vontade de Deus, virá, nas condições de espiritualidade, a Iluminação. Os profetas e os apóstolos foram Movidos. Suas Escrituras foram Inspiradas. Nós somos Iluminados".

Inspiração - O termo vem do latim inspiro, que significa "soprar para dentro". "Inspiração" significa que Deus soprou para dentro do autor bíblico a Sua verdade. 

Ou seja, na inspiração, Deus divide de seus mistérios, mas esses precisarão ser revelados para o homem (que não tem a mente de Deus). A Inspiração é uma forma de “revelação”, mas “revelação” entra num outro contexto. O conteúdo das Escrituras não é uma especulação ou uma descoberta humana após uma longa e cansativa pesquisa filosófica, ou, pelo menos, não se resume nisso. Ela também não se dá ao homem como "revelação" (no sentido espiritual do termo) através de uma exaustiva labuta hermenêutica. Mas seja qual for o método que o autor usou, ou o que Deus usou com o autor, isto é inspiração. Foi Deus quem colocou na mente e no coração do escritor bíblico a capacidade de apreender e de registrar Sua Palavra. Assim dizemos que a Bíblia nasceu no coração e na mente de Deus. E Ele soprou Suas idéias para o homem. Isto é inspiração.

Na realidade, o que é inspirado não é o escritor humano, mas sim o texto bíblico; 

"Toda Escritura é inspirada". O termo "inspirada" (theopneustos), de 2 Tm 3.16, expressa mais do que qualquer outra coisa, que o "produto final" de todo o processo - a Escritura, é o que possui a qualidade de ser Palavra de Deus e, portanto, autoridade divina. 

Os escritores humanos foram "conduzidos" (pheromenoi) pelo Espírito Santo para registrarem o texto "soprado por Deus", o qual possui a autoridade de Palavra de Deus e cuja prerrogativa é ser obedecido (2 Pe 1.21, cf. 1.19).

Revelação - O termo significa "tirar o véu" e mostrar algo que estava encoberto. É tirar o véu daquilo que, veio de Deus, mas que é mistério para o homem . A Bíblia é um mistério a ser revelado sempre e o mesmo Espírito que inspirou revela (tira o véu). O fechamento do cânon bíblico não significa o cessar da revelação divina, pois esta manifesta-se (ou deve se manifestar) sempre no leitor da Bíblia que crê, não só na veracidade histórica da Bíblia, mas também (e principalmente) no teor profético da mesma.

Neste sentido, "revelação" é o conteúdo registrado pela inspiração. A relação entre os dois termos pode ser definida assim: a inspiração é o automóvel e a revelação é o passageiro. Quando dizemos que "Deus se revelou" estamos dizendo que Ele tirou o véu que O encobria diante dos homens e Se deu a conhecer à humanidade. O propósito da Bíblia é trazer a auto-revelação de Deus aos homens. E Jesus é a chave hermenêutica da mesma, aliás, Ele é a Palavra de Deus a ser revelada na Bíblia. A Bíblia como conjunto de livros é apenas informações sobre Deus, seu propósito salvífico, bons preceitos a serem seguidos, etc. Mas no âmbito da revelação ela é Jesus vivo, glorificado e que fala ao crente (sem o véu da separação). Conquista essa garantida pelo sangue derramado na cruz.

O propósito da Bíblia é falar de Deus. Ele revelou-Se a Si mesmo. Porém essa revelação não nos é algo 'completo'. Não temos todo o conhecimento de Deus, mas o Consolador Espírito Santo nos traz esse conhecimento pela revelação e pela iluminação. Já sabemos que Jesus é o clímax da revelação de Deus: "Ninguém jamais viu a Deus. O Deus unigênito, que está no seio do Pai, esse o deu a conhecer" (Jo 1.18). Jesus é a maior revelação de Deus e a finalidade da revelação é tornar Deus conhecido dos homens.

"Revelação e inspiração estão estreitamente ligadas, mas distinguem-se em aspectos da verdade bíblica. Nas Escrituras, a inspiração e a revelação, se combinam para assegurar que a Bíblia é a Palavra de Deus, revelando com exatidão fatos sobre o Senhor. A revelação foi o ato da divina comunicação aos escritores da Escritura. Inspiração foi a obra de Deus em guiar e dirigir os escritores da Bíblia para que eles escrevessem a verdade absoluta, mesmo quando ela estivesse além do seu entendimento. A inspiração foi limitada à Bíblia em si, e é mais adequado dizer que as Escrituras foram inspiradas do que dizer que os escritores foram inspirados" (Lewis Chafer).

Iluminação - Esta palavra significa "fazer a luz brilhar". Não somos inspirados simplesmente porque não recebemos a revelação, mas somos iluminados para conhecê-la: "sendo iluminados os olhos do vosso coração, para que saibais qual seja a esperança da vossa vocação, e quais as riquezas da glória da sua herança nos santos" (Ef 1.18). 

A iluminação é para que os crentes descubram as grandes verdades reveladas por Deus na Sua Palavra e a aplicação para as suas vidas. Isso é um ato contínuo que se findará apenas no concluir da história da Igreja na terra. É através da iluminação que o Espírito Santo concede aos cristãos a capacidade intelectual de compreenderem o que foi inspirado e revelado nas Escrituras. É impossível entendermos a situação de pecado sem intervenção do Espírito Santo, que produz luz em nossa consciência. A Iluminação acontece porque o homem natural não pode discerni-la (1 Co 2.14); a obra de Cristo na cruz faz sentido (1 Co 1.18); e o Espírito Santo ensina (Jo 14.26). Esse ensinamento é contínuo.

A obra redentora do Espírito Santo não se limitou no espaço- tempo conhecido como “era apostólica”. A base doutrinária nos foi deixada como 'herança' (herança histórico-profética), mas os ENSINAMENTOS do Senhor Jesus continuariam através dos séculos:
• “E eu rogarei ao Pai, e Ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre” (João 14:16);
• “Mas aquele Consolador, o Espírito Santo [...] vos ENSINARÁ todas as coisas...” (João 14:26).

Hoje, o Espírito Santo é quem zela pala doutrina, configurando-a em cada momento histórico e profético sem ultrapassar os preceitos doutrinários rudimentares deixados por Cristo cuja referência é a Bíblia. Portanto, não pecamos em dizer que: doutrina é um CONSTANTE ensinamento. Ensinamento esse, dado de forma didática através da revelação do Espírito Santo. Inclusive, dizer que a “Bíblia já é completamente revelada” é uma enorme abstração, uma vez que ela foi dada através de uma inspiração . Inspiração e revelação são conceitos distintos. Quem revela os segredos da Palavra de Deus é aquele quem inspirou vários homens a escrevê-la: o Consolador Espírito Santo (traremos esse assunto em determinado momento). 

Citei os dois versos do Evangelho segundo João por serem de extrema importância para essa análise. O termo “Consolador” foi escrito originalmente como “parákletos” que expressa: “o que está sempre ao lado”; “perto em todo o tempo” (tempo cronológico, tempo histórico e tempo profético). Significa também “advogado”, ou seja: aquele que advoga ou intercede por alguém. 
Logo, o texto em João 14:26 diz: “aquele Consolador...vos ensinará todas as coisas”. O termo original que corresponde a “ensinará” é “didasko” cujo significado é “ensinar”. O termo didasko (ensinar), portanto, tem uma estreita ligação com o termo “didachê” que foi usado pelo mesmo escritor (João) e se traduz por doutrina. Concluímos que: quando Jesus disse aos seus discípulos e apóstolos que iria voltar para a sua imensurável majestade e glória, advertiu-lhes com a promessa da vinda de seu Espírito Santo como aquele que iria dar continuidade à sua obra, ensinando todas as coisas. 
É interessante notar no Evangelho segundo João (capítulos 14) que Jesus faz a promessa da vinda do Consolador Espírito Santo precedida pela promessa de seu glorioso retorno ao mundo (veja em Jo 14: 2,3; Jo 14:18.). O entendimento que temos, portanto, é o seguinte: O ensinamento de Cristo não se limitou apenas aos ensinamentos deixados àquele período histórico (era apostólica), mas, pela intervenção docente e didática do Espírito Santo, seria retransmitido ao mundo através dos séculos com aperfeiçoamentos e ênfases para cada momento histórico (e profético) da Igreja de Cristo. Esse aperfeiçoamento é obra exclusiva do Espírito Santo e não cabe a homem algum configurá-lo aos seus próprios moldes teológicos e religiosos, pois daí tem-se o que a Bíblia acusa de “outro evangelho” . Inclusive, essa minha análise nada tem a ver com o fechamento do Cânon bíblico, ou seja, não estou dando margem para se dizer que a “transmissão da herança” (incumbência do Espírito Santo) significa que a Bíblia “está incompleta” e que precisa de “algo a mais”. Não é isso. Inclusive, os mistérios bíblicos são inacessíveis ao homem sem a provisão inspiradora reveladora do Espírito Santo. Portanto, o Espírito Santo ao transmitir a Herança, Ele está apenas ensinando, repassando preceitos e posicionamentos importantes ligados ao tempo histórico –profético da Igreja cuja ênfase Ele mesmo revela. Ele faz a função de um professor que, enquanto docente, ensina com base na grade curricular estabelecida. No caso em vigência, o Espírito Santo ensina e repassa a Herança seguindo a base curricular estabelecida, a saber, a Bíblia. Exemplo: Igreja Apostólica (primeiro período da Igreja). Esse período foi profético enquanto “início” da obra redentora de Cristo na terra. A ênfase dada para esse período foi: “Cristo, o que morreu, está vivo!”. Nesse determinado contexto profético, o Espírito Santo confirmava a doutrina cuja base escrita era a “Lei e os profetas”, porém por revelação que transcendia o escrito. Veja em Atos 8: 30-35. A Lei e profetas, já cumpridos em Cristo, revelavam pela intervenção do Espírito Santo, a pessoa de Jesus. Alguém poderia dizer: “a Bíblia já é plenamente revelada”. Se fosse “plenamente revelada” o eunuco (em Atos 8:30-35) não precisaria de uma 'ajuda' inspirada de Filipe e transmissão da revelação dada pelo mesmo de que Jesus o tal que estava oculto naquelas letras (nos escritos de Isaías 53:7,8). Da mesma forma, diante das aporias históricas e religiosas da cada período, o Espírito Santo confirmava e zelava pela sã doutrina. Outro exemplo: a Reforma Protestante veio como uma intervenção sobrenatural do Espírito Santo na História, dando ocasião para a obra redentora de Cristo ressurgir visível na terra, longe da perversão católica-romana estabelecidas. A igreja, nesse referido período, se separou e a chamada “igreja protestante” atravessou a história com o constante aprendizado doutrinário do Espírito Santo que, como governo da Igreja de Deus, purgou ao longo dos séculos conceitos heréticos, devolvendo aos crentes fiéis a Palavra de Deus como regra de fé, usando homens inspirados por Deus para, enfim, surgir na terra o período propício para os grandes avivamentos, preparando a Igreja de Cristo para a esperada Volta de Jesus. Portanto, desde as teses de Lutero e os cinco pilares da Reforma, a Igreja de Cristo na Terra foi recebendo contínua instrução do Espírito Santo.


Gabriel Felipe M. Rocha

Um comentário:

Anônimo disse...

Muito boa sua reflexão.

Acaso você é o mesmo irmão que publicou um comentário no site www.cavaleiroveloz.com ?

Parabéns,

Deus o abençoe.