quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Tu me amas? (um chamado para o relacionamento)

“Tu me amas?”
(um chamado para o relacionamento)



Por Gabriel Felipe M. Rocha
Texto base: João 21: 15-17

             Pedro foi um dos mais queridos apóstolos de Jesus. Sua presença nos evangelhos não é a mesma presença firme e peremptória das cartas que levam o seu nome. Muito pelo contrário, o Pedro dos evangelhos é o homem como qualquer um de nós. Não que o Pedro restaurado das cartas, do fiel apostolado e do heroico martírio não fosse também o mesmo homem no que se refere às paixões, limitações e temporalidade, mas, nos evangelhos, mostra-se um Pedro com todo o destaque na figura do discípulo, aprendiz e vacilante. Simão de Betsaida – a quem Jesus chamava de Pedro – era um homem inconstante, errôneo e afoito, embora em seu coração houvesse declaradamente um altar erguido para Deus.
             Contudo, na ocasião da prisão de seu Mestre, Pedro cometeu – podemos afirmar a partir da Escritura – um dos mais marcantes desvios de conduta de sua vida, a saber, a negação pública de seu Senhor (Jo 18: 17, 25, 27). Como disse certa vez o reverendo Alceu D. Cunha, certamente não bastavam os espinhos da coroa, os impropérios da multidão, a bofetada em seu rosto, ser cravado numa cruz com agudos pregos, Cristo ainda teve de enfrentar mais uma dor, a saber, a dor da negação pública por parte de um de seus discípulos mais íntimos. 
             No entanto, para Pedro, a dor gerou amargura de espírito, sentimento de remorso e um visível arrependimento quando esse se pôs a chorar. Segundo as Escrituras, Pedro chorou amargamente (Mt 26: 75). Cristo, embora conhecedor da situação e do propósito da mesma, certamente sofreu pelo ato de Pedro, mas pôde, dentre as tantas dores, sofrer esse acréscimo de suplício em sua alma e, como cordeiro mudo, entregar seu espírito e perdoar o pecado de sua Igreja na cruz. Mas Pedro não tinha o controle de situação alguma. Nem mesmo de sua vida e de suas ações, como prova os evangelhos. Podemos imaginar o quanto Pedro sofreu a dor, o remorso, o arrependimento, a culpa pela negação e tudo isso sem um imediato consolo. \talvez, se não fosse a graça divina na firmeza da eleição, Pedro teria o mesmo destino de Judas Iscariotes. Viu seu chamado perder o brilho. Viu seu ministério perder o sentido. Viu sua comunhão com Cristo como algo irreconciliável. Viu sua vida como uma vida imerecida da glória de um Deus tão Santo, tão Bom e tão misterioso. Tão misterioso que permitiu que o Cristo, Filho do Deus Vivo, fosse à cruz e morresse. Foi-se, por um momento, a esperança.
              Mas, certa vez, após algum tempo de sua ressurreição, Jesus surge irreconhecível diante de alguns discípulos (v. 4-8), no entanto, com a mesma autoridade. Estavam todos no barco, pescando pela madrugada. Jesus, então, se revela mostrando-os mais um milagre no meio deles. Estavam todos precisando de um milagre. Estavam todos precisando de algum renovo e consolo. Seus ministérios não prosperariam (talvez nem saíssem do lugar) se não fosse a Palavra de Deus se revelar, a saber, o próprio Cristo em autoridade divina. Uma primeira lição que tiramos disso é: Jesus se importa com os seus escolhidos. Se Ele se entregou numa cruz, levando sobre si pecados que não eram seus, sofrendo a dor que seria nossa e morrendo a morte que seria também nossa, por que Ele simplesmente nos abandonaria? Não escaparemos de sua mão (João10: 17,18). Ainda bem que nada depende de nós no que tange a salvação, pois, se dependesse, o mais provável seria, diante das circunstâncias, deixarmos o Mestre e esquecermo-nos de suas palavras. Nossa escrava vontade só poderia nos levar para longe de Deus e nos fazer voltar pelo caminho, voltar para a origem, para os lugares de onde um dia nós fomos chamados e praticar as velhas coisas (João 21: 3). Embora erremos, falhemos, e sempre pequemos, Deus nos dá a oportunidade do arrependimento e, diante da sua graça e misericórdia, crescemos em novidade de vida, perseverança e firmes rumo à perfeição (Fp 3: 12-16). Embora venha o desânimo, a incerteza, alguma aflição, tristeza e, junto com tudo isso, a desesperança, Cristo surge com um milagre. Surge no tempo dele, surge na oração nossa, surge na perseverança, surge pela promessa e pelos decretos de um Deus soberano, justo e generoso. Jesus se revela! Jesus se revela na situação e no contexto de nossa prova, luta, embaraço ou mesmo desânimo. 
Jesus, ali, pergunta aos seus discípulos se eles tinham algo para comer. Logo eles respondem que não. Ele, com sua Palavra, vai direto naquilo que nos incomoda e nos atribula. Ele arranca de nós a resposta e dá a solução. E da solução, vem o avivamento. Assim é a Palavra de Deus na vida do cristão: é a atuação e a revelação (o surgimento) de um Jesus vivo que transforma tudo, começando por nós mesmos.
             Um momento interessante dessa passagem é quando João (identificado ali como o “discípulo a quem Jesus amava”) reconhece a Jesus e vai tão logo, em notável entusiasmo, a Pedro e diz: “é o Senhor!”. Imaginemos a cena da seguinte maneira: Pedro certamente podia ter compartilhado com João de sua angústia desde o trágico dia da negação. Algo muito natural, quando a própria Bíblia mostra que João e Pedro tinham certa proximidade, uma vez que os dois aparecem juntos em várias situações extras aos momentos de comunhão, banquetes e viagens (Mc 14: 33; Atos 3: 1). Quando João, então, percebe o Cristo, logo diz a Pedro em tom de esperança renovada: “É o Senhor”! Foi como dizer: “é o Mestre, Pedro! Não tem nada perdido! Ânimo!”. Posso imaginar o sentimento de esperança em Pedro mesclada com o medo de alguma reprovação por parte de seu Senhor, o que seria justo. Entretanto, o que se sabe é que Pedro se lançou ao mar e foi ao encontro de seu Senhor. Certamente esse ato evidencia o desespero de Pedro por Cristo e sua indisfarçável vontade de reconciliar-se tão logo com seu Senhor.
             E, diferente de qualquer tipo de reprovação ou mesmo a retribuição da negação, Jesus, recebe a Pedro com a mesma igualdade com que recebe os demais discípulos e os convida a comer.
Uma segunda lição pode-se tirar dessa passagem bíblica: Deus está sempre pronto a perdoar, apagando toda a transgressão (Is 43: 25,26) quando o buscamos de coração contrito. Jesus está sempre pronto a se revelar e nos auxiliar quando damos ouvidos à Sua Palavra (João 21: 6-8). Ele está sempre disposto a nos receber quando vamos ao seu encontro (João 21: 7; João 10: 9).
              Mas, a partir do verso 15, Pedro terá um acerto de contas com seu Senhor. Haverá um confronto onde toda a angústia, desesperança, crise, maus pensamentos, desânimo, etc. irão desaparecer para dar lugar ao avivamento que todo o discípulo e servo de Cristo precisam um dia, ou sempre. Uma terceira lição adianta-se: existem momentos e situações em que, em vista de algum panorama ruim, deixamo-nos levar por algum descontentamento, por alguma frieza no serviço cristão, por alguma aparente derrota, por um objetivo que não é realizado, maus pensamentos, etc. Todos nós – que professamos a fé em Cristo – estamos sujeitos à frieza. Podemos lembrar aqui do exemplo dos dois discípulos no caminho de Emaús (Lc 24: 13-35). Deixaram-se guiar pela desesperança das “últimas notícias” (v. 18) e, desanimados e angustiados (v. 17-21), deixaram Jerusalém indo de volta para Emaús. A ordem de Jesus, antes de sua ascensão, era para que ninguém se ausentasse de Jerusalém (Atos 1: 4), pois ali se cumpriria uma importante promessa para a efetivação da missão da Igreja (Atos 1: 4,5; 2: 1-47). Mas a primazia às circunstâncias, o não desenvolvimento da fé, o sentimento de culpa, a ausência de oração, a não vigilância e a desesperança provocam a perda de foco. Isso é algo, infelizmente, comum no seio de tantas igrejas, líderes, ministérios e grupos. Contudo, os decretos de Deus para com nossas vidas (incluindo a salvação) não podem ser minados, pois Cristo nos comprou com total suficiência e jamais escaparemos de suas mãos (Jo 10: 28; Fp 1: 6), mas, existem momentos onde exercer a nossa vocação e fazê-la firme só é possível através de um “impulso no motor” para fazer mover toda a máquina. Então, Cristo surge!
Assim foi também com Pedro. Houve, portanto, o marcante diálogo entre Jesus e Pedro. Foi uma interrogação feita na terceira aparição de Jesus após sua ressurreição (João 21: 1-14). 
             Jesus faz três perguntas a Pedro. Pela dinâmica do relato, pode-se entender que essas interrogações se deram ali mesmo diante dos outros discípulos. Assim como Pedro negara a Jesus em público, Pedro confessaria seu amor por Cristo em público. Obviamente Jesus não queria dar algum “troco” a Pedro e nem mesmo expor o mesmo diante do colégio apostólico ali reunido. Era mesmo um necessário momento de confronto!
             Foi feita a primeira pergunta: “Simão, filho de João, amas-me mais do que estes outros?” (v. 15). Pedro respondeu: “sim, Senhor, tu sabes que te amo”. É interessante notar que a mesma boca que negou Jesus em público, diante de pessoas escarnecedoras e carentes de Deus, confessava o amor ao mesmo Cristo diante da congregação de santos. Não estamos aqui negando ou duvidando da sinceridade da resposta de Pedro, pois, a Bíblia não nos permite essa afirmação e acreditamos na total sinceridade de Pedro ao dar sua resposta. Mas o texto nos convida a refletir sobre uma quarta lição: a mesma boca pode professar benção e maldição (Tg 3: 10). Talvez, para alguns, seja difícil confessar seu chamado, sua vocação e sua postura diante do mundo e acaba negando a Cristo, mas – incrivelmente – confessa o seu incoerente amor a Cristo em sua congregação, cantando louvores, levantando as mãos para o alto em sinal de reverência e quebrantamento. Pregam a Cristo com total facilidade e talento, vestem a camisa da igreja, cuja estampa diz: “eu amo Jesus”, mas seu coração está longe dessa afirmação, pois as obras não manifestam e comprovam essa confissão. Esse não foi o caso de Pedro, pelo menos a Bíblia não nos dá margem para tais afirmações através da vida do mesmo. No caso de Pedro, a boca proferiu aquilo que estava latente no coração (Lc 6: 45). Por isso, Pedro respondeu dizendo: “tu sabes”. Isso pôde revelar uma coisa: o que tentar dizer com palavras no desgaste espiritual de uma vida que certa hora afirmou que morreria por Cristo (Mt 26: 33-35) e, no mesmo episódio, o negou três vezes? Mas há uma semelhança entre Pedro e nós mesmos, a saber, a humanidade, o pecado, a passividade em relação a algumas coisas, a vaidade, o orgulho, a descrença, o medo, etc. Embora possa haver isso, o chamado de Cristo às nossas vidas continua de pé. Ele nos chama para o serviço. Pedro, assim que respondeu a primeira pergunta, foi surpreendido com a ordem de Cristo: “apascenta os meus cordeiros” (v. 15). Pedro podia – com algumas razões – ter pensado que seu ministério, seu chamado, sua vocação, sua instrumentalidade estariam esgotados ou perdidos. Mas Jesus sempre dá novas chances. Ele nos chama para servir. Jesus como o Sumo Pastor da Igreja, convoca a Pedro para pastorear as suas ovelhas. Isso é o mesmo que dizer: “vem sofrer as minhas aflições” (2 Tm 4:5; Cl 1: 24). Pedro foi chamado para pastorear, para ser um ministro do Evangelho. 
              Cada um de nós tem um chamado, um talento ou um dom a ser desenvolvido para o Reino de Deus. Então, vem a quinta lição: Cristo quer restaurar nossa instrumentalidade para o serviço do Reino. Ele está disposto a esquecer o que se passou e avivar nossas vidas para a glória de seu Nome. Seu Espírito Santo – Consolador (parakletos) – faz-nos esquecer de tudo que para trás fica, dando o devido consolo e renovo. E admoesta-nos a prosseguir para o alvo. Como o “parakletos” (advogado, o que anda junto, consolador), Ele coloca o alvo novamente à nossa frente e nos ajuda a mirar e atirar corretamente. Essa analogia é de fundamental relevância aqui, pois, o “errar o alvo” é nada mais e nada menos que o significado do termo “hamartia” que se traduz também por “pecado”. Esse foi o renovo de Pedro e é também o nosso: Cristo faz com que esqueçamos o passado e nos faz mirar para o futuro, para agora, atirar certo, melhor e eficazmente. 
                 Logo, veio a segunda pergunta: “Pedro, amas-me?”, E Pedro novamente respondeu: “sim, Senhor, tu sabes...”. Semelhante à primeira, a segunda pergunta de Jesus foi transcrita para o grego através do mesmo termo, a saber, “agapao”, que vem de “agan” (muito). Esse termo traduzido para o português como “amas-me” remete, em vista do original, a um amor social e moral. Remete também ao amor por veneração, respeito, obrigação. Sua raiz, “ágape”, trata-se de um amor sublime. É o mesmo amor citado nas Escrituras para definir o amor ao próximo, por exemplo. Vamos para a sexta lição: responder diante da igreja, do mundo, dos amigos e da família esse amor não tem sido tão difícil quando não se tem a disposição para vivê-lo na íntegra. É o tipo de amor que se banalizou na fala, nas pregações, nos cânticos de vários cristãos (e até mesmo não cristãos). Para vestir uma camisa ou pegar um microfone e dizer “eu amo Jesus” não necessita de uma adesão tão séria a essa afirmação. Na verdade, necessitaria sim, mas o simples dizer com os lábios “sim, Senhor, eu te amo” pode não implicar um real compromisso com a confissão. Muitos que dizem “eu te amo” não têm a vida transformada pelo Evangelho. Vivem de fantasias, experimentalismos ou, até mesmo, participam de alguma forma, da graça de Deus. Mas suas vidas são infrutíferas. São capazes de responder as duas primeiras perguntas, mas são incapazes de apascentar as ovelhas de Deus, ou, em outras palavras, trabalhar e se envolver – em diferentes modos – no serviço cristão. Suas bocas professam um nobre sentimento e uma declaração comum às pessoas piedosas, mas suas atitudes revelam rebelião contra Deus em várias áreas. Para a conclusão da sexta lição, colocamos o seguinte: deve haver uma coerência entre a nossa confissão e a nossa atitude. O fato de Jesus, nas três interrogações, ter imediatamente convocado ao serviço nada mais é para mostrar que a confissão deve se estreitar com a atitude. Só prova que ama o Senhor quem a Ele serve (João 15: 2-15; Mc 3: 35; Mt 7: 21).
             Mas a terceira pergunta causa confronto. Ela mexe no íntimo. Causa reboliço e auto-análise. Leva para o arrependimento e causa a tristeza segundo Deus.
             Tendo Pedro respondido já a segunda pergunta com aparente facilidade, Jesus tão logo reafirma a convocação para o serviço. Mas faltava a última pergunta. No verso 17, Jesus faz a terceira interrogação: “Simão, filho de João, tu me amas?” O relato bíblico deixa evidente que a tristeza surgiu diante dessa terceira pergunta. Mas, por quê? 
            Diferente das duas primeiras perguntas, Jesus usou o termo, que transcrito para o grego, foi “phileo”, e que traduzido para o nosso português, ficou, como nas duas perguntas, “me amas”. Porém, o amor “phíleo” tem outra conotação. “Phíleo” significa “ser amigo”, “gostar de”, “ter prazer em”, “sentir afeto”. Pode expressar a deliberada concordância da vontade com aquilo que se conhece e deseja. A tradução mais popular para “phíleo” é “amigo”, ou, “amor de amigo”. Também pode conotar “relacionamento” e “intimidade”, como a intimidade e o relacionamento entre um casal.
            Essa expressão – na terceira pergunta – deixou Pedro triste, pois, era exatamente o que faltava em sua vida: correspondência de sua vontade com a vontade de Deus. Havia em Pedro o amor por Jesus Cristo, mas era um amor ainda estático, sem crescimento, influenciável, volúvel e insuficiente para assumir em sua vida o ministério. Diante do relato da terceira pergunta de Jesus a Pedro, deixamos a sétima e última lição: a escrava e corrupta vontade apenas levaram a Pedro ao pecado e à angústia, ao desânimo e à vergonha, mas, a vontade de Deus se manifestou na revelação de Jesus Cristo, tocando em seu espírito, comunicando-o a sua vocação, fazendo-o desejar servir a Deus com mais intensidade, amor, devoção, amizade, relacionamento, intimidade, etc. Por isso, confiantemente, embora com tristeza, Pedro respondeu à terceira interrogação: “Senhor, tu sabes todas as coisas, tu sabes que eu te amo” (v. 17). “Tu sabes” havia sido ainda a única argumentação possível a Pedro diante do confronto. Dizer ao Senhor “tu sabes” é um convite que podemos fazer ao nosso Deus em oração para sondar nosso coração (Sl 7: 9; Sl 17: 3; Sl 139: 1). É o mesmo que dizer a Deus que não podemos nada por nós mesmos, mas, Ele sabe que há um pequeno fogo aceso em nosso coração e basta só uma ação e palavra Sua para fazer arder o nosso coração (Lc 24: 32).
             Ainda nessa sétima e última lição, o amor com que Cristo nos convida a amá-lo é o amor que implica não só as palavras e declarações. Mas, sobretudo, o amor que implica relacionamento, intimidade, serviço, atitudes, piedade, compromisso, afeto, zelo, reverência, fidelidade, obediência, resignação, santificação e perseverança. Quando a “terceira pergunta” é feita a muitos, a tristeza toma conta e muitos não prosperam nesse amor (Mt 16: 19-22). Por outro lado, alguns repensam se realmente amam ao Senhor e perseveram.
              Para quem não é capaz de responder com total certeza a essa terceira pergunta, Jesus surge! Há uma chama acesa, pois o próprio Senhor nos batizou com o Seu Santo Espírito para que possamos ser efetivamente seus. As provações ministeriais, pessoais e familiares sempre virão. O desânimo e a desesperança poderão bater aas portas. Contudo, Cristo está ao nosso lado como esteve com os discípulos no barco. Ele nos ensina a pescar. Ele – através da Palavra – se revela com autoridade e muda a situação. Ele responde nossa oração e renova a alma, removendo a tristeza. Ele, portanto, nos faz capazes de cumprir aquilo que Ele mesmo nos chamou para fazer. 
Para quem já pôde responder e para quem ainda vai responder á pergunta de Jesus, a convocação está posta: “apascenta as minhas ovelhas!”. Em outras palavras, “participe de minhas aflições e da minha glória”. “Se relacione comigo”. “Seja meu amigo”. “Ande comigo sempre”. “Não perca o foco em mim”.

Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz o seu Senhor; mas tenho-vos chamado amigos, porque tudo o quanto ouvi de meu Pai vos tenho dado a conhecer” (João 15: 15);
Mas, como está escrito: nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração humano o que Deus tem preparado para aqueles que o amam” (1 Co 2: 9).

Com orações,
Gabriel Felipe M. Rocha


Referências: 
Bíblia de Estudos de Genebra (Almeida revista e atualizada);
Bíblia de Estudos Palavras-chave/ Hebraico e Grego (Almeida revista e corrigida).

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015

Aquietai-vos

"Aquietai-vos, e sabei que eu sou Deus [...]" (Salmos 46:10)

Existem momentos em que é preciso, às vezes, deixar Deus trabalhar sozinho. Não que Deus dependesse da nossa miserável ajuda para efetuar algo, pois até o fato de hoje querermos Deus é porque Ele nos capacitou a isso. Mas, dentro dos decretos eternos de Deus que envolvem toda a nossa vida, temos livre agência (não "livre arbítrio") e podemos tomar algumas decisões no que tangem os tantos fins e meios na esfera de nosso existir. Contudo, existem momentos em que devemos ficar quietos e deixar Deus tomar conta de tudo. Baixar a guarda totalmente. Seja isso numa determinada área de nossa vida, seja numa situação mais abrangente. Tem momentos em que Deus quer nos dar a conhecer de sua divindade e assim se revelar de uma forma ainda mais profunda, fazendo gerar em nós uma nova postura, um novo entendimento, uma nova perspectiva e uma nova ação. No entanto, o ato de deixar Deus trabalhar não implica total inércia. Não significa cruzar os braços e simplesmente esperar acontecer algo ou aguardar que caia alguma coisa do céu.
Enquanto os demais animais apenas têm necessidades e carências naturais, agindo por instinto para supri-las, nós, seres humanos (crentes ou não), temos sonhos, desejos, aspirações, vontades e sentimentos que ultrapassam os limites corporais e psíquicos da natureza humana. Somos seres espirituais. O que nos difere, inclusive, dos animais irracionais. Muitas vezes nossos desejos e vontades não passam de uma carência carnal, sentimental, etc. Por outro lado, muitas vezes se manifesta em nosso íntimo alguma carência espiritual ou alguma sobrecarga espiritual, algo que as vezes falta ou mesmo algo que as vezes sobeja e que precisa ser tirado. Quando temos fome, tão logo sabemos que precisamos comer e, não desejando delongas, comemos e tornamo-nos satisfeitos. Porém, alguns sentimentos, algumas carências espirituais, alguns sonhos que incomodam a alma, a ansiedade por algo que muito se quer, dentre tantas outras coisas parece vir para nos deixar confusos, tristes, ansiosos sobremaneira, preocupados, angustiados e incomodados. Enfim, entramos para o estágio da inquietação.
Portanto, a ordem descrita no salmo 46: 10 torna-se pertinente para tais situações. "Aquietai-vos!". No hebraico, a expressão é igual a: “raphah”, um termo cujo significado é variado e pode ser atribuído em várias aplicações. Mas o que chama a atenção aqui é o fato do termo “aquietai-vos” (raphah), além de significar "permanecer parado", estar também ligado aos termos: “soltar”,“deixar ir” ou “deixar cair”. E em vários momentos de nossas vidas, quando estamos diante de uma guerra travada ou quando a provação está num alto nível onde parece que não vamos suportar, queremos logo agir. É tipo nosso mesmo. Muitas vezes, quando deixamos apenas a nossa vontade (escrava, limitada e totalmente influenciada pelas circunstâncias) falar mais alto, a tendência é esquecermos que há um Deus soberano em glória e majestade. Quando não buscamos a Deus e quando não entregamos nossa vida por inteiro à Ele, nos submetemos (de forma cativa) a nós mesmos e ao que nos cerca e fracassamos. Precisamos deixar ir toda a prepotência, todo o orgulho, toda a incredulidade, todo o questionamento, toda a murmuração e todo o desânimo. Precisamos "soltar" tudo! Aquietar o espírito totalmente. Isso só se dá quando nos apropriamos de um importante meio de graça, a saber: oração. Quando oramos, quando confiamos e quando entregamos, estamos - de forma concomitante - aquietando-nos para que assim Deus venha agir. Não que Deus precisa exatamente de alguma postura nossa para agir ou deixar de agir. Não! Ele quer que aprendamos e cresçamos em cada situação que venhamos nos encontrar nesta vida. A vida cristã é uma escola, cujo objetivo é a perfeição. Como Paulo mesmo disse (em Fp 3: 12), nós não alcançamos ainda a perfeição (gr. teleiotes) e essa se dará de forma completa na ressurreição. No entanto, caminhamos em postura constante para que alcancemo-la. 
Nesse interim, portanto, a oração não é uma opção. A oração é uma necessidade. É fundamental. Ela - quando feita em fé, de forma constante e firmada nas Escrituras, nos leva ao entendimento da situação que nos cerca, dos propósitos de Deus na situação e à conclusão de toda provação e batalha diante de uma nova postura e uma maturidade ainda maior. Até porque, é na oração que o Espírito Santo (Consolador/ "parákletus") "ensina todas as coisas" (João 14: 26) e, muitas vezes, Ele nos mostra ou nos faz discernir por nós mesmos que algo pode estar errado, algo deve ser mudado, alguma nova postura devemos tomar, etc. Contudo, o primeiro ato é: aquietar-se!
Na oração, Deus comunica ao nosso espírito a segurança que há nele (Sl 46: 1-7); na oração, Deus nos faz entender pelo seu Santo Espírito que Ele é poderoso em obras (Sl 46: 9); na oração, Deus nos faz sentir sua presença e dá a certeza que Ele está conosco (Sl 46: 11). Enfim, na oração, Deus nos exorta à quietação (Sl 46: 10).
A oração é, essencialmente, trinitária. O cristão ora no poder habilitador de Deus o Santo Espírito, que torna apropriado, como é Seu privilégio, a obra expiatória de Deus o Filho, o qual, sozinho, lhe dá acesso ao trono de Deus o Pai. Orando, portanto, nós estamos nos sujeitando, agora, ao mesmo poder que criou todo o universo e tudo que nele há. Muita coisa, não é? Pois é! Aquieta-te! 
Nós podemos nos dirigir ao Pai através dos méritos de Seu Filho, e unicamente por Ele (Jo 14:6). Charles Haddon Spurgeon, em um sermão em Lucas 11:9-10 disse: “Nunca houve uma verdadeira oração dedicada a Ele que não foi ouvida. As orações mais aceitáveis em seu nível mais elevado chegam a Ele pelo caminho dos ferimentos de Cristo.” Como a Pessoa que aplica a grande salvação de Deus aos eleitos em regeneração e conversão, o Espírito Santo energiza as orações a serem dedicadas. Quando não sabemos nem mesmo como orar mais, Deus nos ajuda e nisso também nos aquietamos. Em Sua onisciência, o Espírito Santo é perfeitamente familiar com a profundidade de nossos espíritos e com a santa vontade de nosso Pai (Rm 8:26-27). Quando, em nossa quietação, nos faltam palavras, Ele sabe imediatamente como orar por nós. Ele sabe como compor orações de modo que sejam aceitáveis ao Pai das luzes. Nós podemos descansar no conhecimento de que a oração sincera do coração do crente não será desprezada pelo Pai, que nos convida a que Lhe falemos. E nisso paramos para Deus agir! Desde o incentivo e a exortação à oração até a resposta e a conclusão de tudo, Deus age de forma soberana. Precisamos buscar uma sensibilidade tal para entendermos e discernirmos quando é o momento de deixar apenas Deus obrar.
> “Não temais, nem vos assusteis por causa desta grande multidão, pois a peleja não é vossa, senão de Deus” (2 Cr.20:15).
> “Até ali a tua mão me guiará e a tua destra me susterá” (Salmo 139:10).
> “Entrega o teu caminho ao Senhor; confia nele, e ele tudo fará” (Salmo 37:05).
Outra questão interessante e relevante no salmo 46: 10 é o resultado do ato de ficar quieto e deixar Deus trabalhar, a saber, o conhecimento da divindade do Criador: "aquietai-vos e sabeis..."; "...sabeis que eu sou Deus". Como já falamos aqui, a vida cristã é uma escola. Nesse processo, vamos crescendo em graça e conhecimento (2 Pd 3: 18). Deus vai completando sua obra em nossas vidas ( Fp 1: 6). Conhecer a Deus está totalmente ligado ao fato de experimentar sua poderosa ação em nossas vidas. Não falo dos experimentalismos e das diversas experiências carismáticas onde se intenta conhecer Deus por viés estranhos. Mas aquietar e saber quem é Deus pode ser empregado no mesmo sentido de: parar e orar. Aqui, acrescenta-se: parar, orar e se apegar à leitura das Escrituras.
É necessário, algumas vezes, diminuir nossa atuação, sairmos um pouco de cena e deixar Deus advogar. Conforme João Batista, falando de seu ministério, precisamos também diminuirmos para que Cristo se evidencie em nossas vidas. Quando estamos ansiosos, quando estamos inquietos, preocupados, tristes, desanimados, etc., Cristo deve viver em nossa vida para que não venhamos a viver por nós mesmos e debaixo do jugo que muitas vezes o mundo (e também nós mesmos) nos impõe. Cristo é exemplo para nosso agir e também é exemplo para aquietarmos. Basta lembrar da cruz e das acusações. Houve o momento de parar para que a glória do \pai se manifestasse na História. "Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a pela fé do Filho de Deus, o qual me amou, e se entregou a si mesmo por mim"(Gálatas 2:20). Deixemos o "eu" para que possamos conhecer o "Eu Sou".
Moisés quando foi chamado por Deus para a libertação de Israel do Egito, ele, querendo dar uma boa explicação a Faraó sobre quem estava ordenando a saída do povo, perguntou: “qual é o seu nome”? (Ex.3:13). Poderia ter pensado: “mesmo vendo essa sarça em fogo e não se consumindo, devo saber quem me ordena por essa voz” (conjectura minha). Moisés convivia com os egípcios e em meio aos deuses tiranos e falsos do Egito. Embora educado segundo os preceitos hebreus, ele não havia tido ainda um encontro com o Deus vivo. Não havia acontecido ainda algo que marcasse sua história. Algo capaz de mudar os rumos de sua existência. Mas a resposta do Criador foi satisfatória: (Ex.3:14) “EU SOU O QUE SOU. Disse mais: Assim dirás aos filhos de Israel: EU SOU me enviou a vós”. Não havia espaço para argumentação, mas sim para a fé. As vezes, ficar quieto é atitude. A atitude de Cristo mais expressiva para nós foi sua morte substitutiva. Foi Deus agindo para a salvação de muitos, sendo que toda a humanidade nada podia fazer para ser salva. Enquanto o mundo se aquietou, Deus mostrou, através de Jesus Cristo, que Ele é Deus. Deu-se a conhecer a muitos por sua majestosa generosidade. Jesus assim se fez quieto, como Cordeiro mudo. Mas o céu e a terra estremeceram...e a Igreja agora sabe que Deus é Deus e é Soberano e justo, tanto para nos salvar, como também para nos ajudar em todas as intempéries de nossa vida segundo seus próprios propósitos e justiça.
Pode ser que, diante daquilo que você está agora vivendo, o momento seja de parar, aquietar o coração, orar, exercer a fé, ler a Palavra de Deus, pois Deus anela ajudar os seus escolhidos e não lança fora ninguém que fora comprado pelo sacrifício de Cristo. No momento certo e em sua própria economia, Deus conclui toda e qualquer situação e aumenta mais em nós o conhecimento de sua glória. Pode ter certeza: na próxima batalha você estará mais preparado e com a fé mais desenvolvida, pois tem mais conhecimento do Deus que te salvou.
"Não se turbe o vosso coração; credes em Deus; credes também em mim [...]" (João 14: 1).
Que Deus abençoe as nossas vidas, amém.

Gabriel Felipe M. Rocha.

Bíblia de estudos de Genebra;
Bíblia de estudos "Palavras-chave";
Richard T. Zuelch (A séria alegria da oração cristã).

Só entre você e Deus

Só entre você e Deus

(Gabriel Felipe M. Rocha)

"Portanto, se já ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas que são de cima, onde Cristo está assentado à destra de Deus" (Colossenses 3:1)
"Tu conservarás em paz aquele cuja mente está firme em ti; porque ele confia em ti. Confiai no SENHOR perpetuamente; porque o SENHOR Deus é uma rocha eterna". (Isaías 26.3,4)
"Como a corça anseia por águas correntes, a minha alma anseia por ti, ó Deus. A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo. Quando poderei entrar para apresentar-me a Deus?" (Salmos 42:1-2)
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Já cantei muito um louvor antigo que diz assim: "há momentos em que as palavras não resolvem, mas o gesto de Jesus na cruz demonstra amor por nós....". Pois é. Bem verdade isso. Existem momentos em que nenhuma palavra resolve, também nenhuma argumentação ou até mesmo uma carga a mais de esforço. Existem momentos onde Deus nos pede para aquietarmos para que assim Ele possa se revelar a nós como Deus (Sl 46: 10), todo Poderoso, todo Amor, todo Justo.
Sempre existirão aqueles momentos onde vai ser preciso parar, mudar alguma rota, mudar alguma coisa, limpar o coração (e não só o Facebook), se afastar da multidão, e pensar... Pensar muito. De preferência com a Bíblia nas mãos, com os sonhos em guarda, com a mente em Cristo e com o coração derramado no altar de Deus.
Até mesmo alguns sonhos, desejos, interesses devem ser revistos. É isso mesmo que Deus quer para mim? Como Ele quer? Como preciso ser? O que devo dar primazia? Quero ser ou ter tal coisa, mas Deus tem exatamente isso mesmo? Como devo servir melhor a Deus? Como posso servir e ser útil ao próximo? É a minha vontade que fala mais alto ou é o propósito de Deus que deve imperar? 
Sempre haverá o momento que será só entre você e Deus em determinada situação. Essa afirmação não sugere a ausência no seio da congregação. Não faça isso! Não sugere também o isolamento. Não abandone e não se feche para sua família, seus irmãos em Cristo e nem para seus amigos. Não deixe de comunicar seus problemas à igreja e à liderança. Se tiver pecado para ser confessado ao seu pastor a fim de te ajudar, confesse! Muita coisa fará parte desse processo. Oração, Bíblia, louvor, congregação e exercício de uma vida piedosa, etc. Tudo isso fará parte dessa construção de um "novo eu", pois, esse momento sugere apenas a renúncia do excesso de envolvimento com coisas, com pessoas que não edificam e projetos que roubam a primazia de nosso precioso tempo para Deus. É hora de esquecer e avançar. Como disse Paulo aos filipenses 3: 12-14, é hora de avançar em vista daquilo que é a PRIORIDADE do genuíno cristão. São duas expressões interessantes num só contexto: esquecer e prosseguir.
Esquecer remete ao passado. Deixar para trás o que não edifica. Deixar coisas, deixar costumes que roubam nosso tempo precioso, roubam nosso tempo com a família, etc. Por mais difícil que possa ser, "esquecer" inclui pessoas. Não que as pessoas sejam descartáveis. Não! Mas existe o momento em que é preciso deixar. Deixar amigavelmente. Deixar cada um seguir sua rota. "Esquecer" remete à cura interior onde só a atuação do Consolador (Espírito Santo/ "parákletus") pode atuar, limpando o coração, consolando, quebrando tudo e fazendo novo.. Por outro lado, "prosseguir" remete já (obviamente) ao futuro. É adequar a nossa visão em relação ao alvo. Com a visão adequada e com a mente firme em Deus, prosseguir é a tarefa. Olhar para o alvo é o mesmo que procurar não mais falhar, não mais pecar, seguir limpo e curado. Lembrando que pecado (hamartia) significa exatamente "errar o alvo". Quem erra o alvo? Aqueles que tiram a visão da meta e perdem o foco. Pecar é o resultado trágico da perda do foco e do abandono da visão. Nenhum atirador que pretende acertar olha para trás ou para o lado. Ambas situações (esquecer e avançar) tem o mesmo objetivo textual de "fugir" e seguir" em 2 Tm 2: 22. É fugir das paixões e dos embaraços do mal (que sempre tem a aparência do bem) e seguir a justiça, o amor e a paz, buscando a Deus com "um coração puro". Nisso tudo Deus é conosco. Ele sempre trabalha em favor dos seus a fim de fazê-los sempre mais puros e perfeitos. Ele nos incentiva a olhar para o alvo, esquecer o que para trás fica e seguir. Ele ama, Ele chama, Ele age na circunstância e na situação e dá a resposta final que nossa alma deseja. Ele mesmo, antes de nos admoestar a esquecer tudo que fica para trás, esquece tudo, concedendo perdão (Is 43: 25) e novas oportunidades. Jesus caminha do nosso lado e faz nosso coração arder. Ele é o Alfa e o ômega, Princípio e Fim. Ele está conosco desde o início e ficará até a conclusão de tudo.
Muitas coisas, circunstâncias e situações aparecem (ou são geradas por nós mesmos) para nos fazer perder o foco. Quando nos embaraçamos nelas, passamos a não orar mais, ou não orar com mais intensidade. Passamos a não ler a Palavra de Deus, passamos a não agradecer a Deus até mesmo pelo alimento sobre a mesa. Passamos a não desejar o culto. Nos tornamos, em alguns momentos, como inimigos de Deus, pois simplesmente viramos as costas para Ele. E se assim fizermos mesmo, o pecado sempre ganhará forças, pois o alvo não estará sendo mais atingido. Passaremos a dar ouvidos às diversas coisas que querem tomar a primazia de nossa existência. A "hamartia", então, acontece. 
Lembro-me dos dois discípulos no caminho de Emaús (Lc 24) que, diante das circunstâncias, esqueceram-se da ordenança de Jesus de ficarem em Jerusalém (Lc 24: 49) e, desiludidos e desesperançosos (Lc 24: 21), pegaram o caminho que leva para Emaús. Voltaram às origens. Perderam a visão (Lc 24: 16). Se esqueceram das promessas, desviaram-se do foco. Mas - por graça e misericórdia de um Deus que não nos deixa escapar de suas mãos (Jo 10: 29) - houve o momento de um encontro, uma comunhão a mais e um confronto na alma. Isso entre eles e o Mestre. No partir do pão à mesa (um momento de íntima comunhão), o Peregrino se revelou como o Senhor Vivo e Glorificado. E é assim mesmo: vivemos e caminhamos ao lado de pessoas da fé, vamos ao culto, participamos de ministérios, mas - por causa da perda da visão espiritual - não vemos Jesus se revelar em todas essas coisas. Mas há o momento do partir do pão onde o Corpo do Senhor é discernido e, daí por diante, passamos a andar com uma nova perspectiva. Volta-se desse momento envolto de um verdadeiro e duradouro avivamento. Sempre haverá o momento onde Deus se revelará como sendo O Deus em nossas vidas. Sintamos coragem para orar mais, buscar mais e renunciar de muita coisa, negar a nós mesmos. O momento é de negação do "eu". É de carregar a cruz somente e perseverar em oração. Precisamos discernir cada momento. Tirar um longo tempo de leitura devocional da Bíblia, se dedicar a um momento de oração mais intenso e derramar o coração sem reservas diante de Deus não implicará nunca "parar" no caminho ou se fechar para o mundo e para a sua congregação. Não é como o jejum do tolo e do fariseu. É apenas um desafio de dedicação pessoal mais fervorosa, firme e constante. Deus se revelará!
Lembro-me também de Pedro que, num momento só dele com o Mestre, foi confrontado pela Palavra do Próprio Verbo Vivo e teve sua vida marcada para sempre. Isso ocorre em João 21: 15-17, onde Jesus pergunta a Pedro por três vezes se esse o ama e, assim, prova seu amor. Na terceira pergunta, Pedro se entristece. Interessante que, nas duas primeiras perguntas, as palavras de Jesus foram traduzidas para o grego no termo "agapao", que traduziu-se para o português por "amas-me". Trata-se de um amor sublime, amor pleno, abrangente. É o amor com que Cristo amou sua Igreja. Pedro respondeu sem tristeza as duas perguntas. Conjecturo que para Pedro pareceu fácil diante dos outros irmãos responder tal pergunta. Assim como muitos estampam em camisas e adesivos que amam a Deus, pode parecer fácil dizer perante os homens que amamos a Deus. Pregamos, louvamos na igreja, evangelizamos, etc. Fazemos um monte de coisas para o Reino, mas, existem momentos onde precisamos nos evangelizar, pregar para nós mesmos, louvar sozinhos em nosso quarto, etc. A terceira pergunta, portanto, foi puro confronto para Pedro. Foi uma chamada para o particular. Foi um convite para a análise interior. Jesus pergunta "amas-me" apropriando-se do termo que, para o grego, foi traduzido como "phíleo", que remete ao amor de amigo, amor de relacionamento, amor de compromisso e amor de intimidade. Por que Pedro se entristeceu logo nessa terceira pergunta? Foi uma tristeza segundo Deus que tão logo produziu frutos de alegria e disposição para o serviço. Não é fácil responder a essa terceira pergunta quando nosso Senhor nos chama para um relacionamento mais íntimo. Tem que renunciar de um monte de coisas! Se esvaziar. Mas existem momentos que será apenas entre você e Deus. Ele mesmo convidará.
Será hora, portanto, de rever conceitos e ao mesmo tempo de reafirmar conceitos. Se recolher, baixar guarda, tirar o time do campo para , enfim, sair melhor para a guerra, para o jogo ou para a corrida. Muitos passarão em nossa frente. Deixem passar! Muitos ficarão para trás. Talvez tenham que ficar (só Deus sabe). Mas vai ter o momento que a escolha melhor é parar, se recolher, se guardar, esquecer, e se alimentar da graça e do conhecimento de Deus. Você e Ele! O Rei e o pobre camponês. O General e o recruta, a Rocha e o pequeno grão de areia. Mas Deus nos dará ainda mais o conhecimento de sua glória e de seus mistérios.
Uma excelente semana aos amigos e irmãos!
"Porque sou eu que conheço os planos que tenho para vocês', diz o Senhor, 'planos de fazê-los prosperar e não de causar dano, planos de dar a vocês esperança e um futuro" (Jeremias 29:11)
"Irmãos, quanto a mim, não julgo que o haja alcançado; mas uma coisa faço, e é que, esquecendo-me das coisas que atrás ficam, e avançando para as que estão diante de mim, prossigo para o alvo, pelo prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus" (Filipenses 3:13-14)
Com orações,

Gabriel Felipe M. Rocha.