Deus tem mãe?
12 de Maio é o tão comemorado
o Dia das Mães, uma data que não deixa de ser especial e bela e, como não
poderia ser diferente, uma velha discussão vem novamente à tona: será que Deus,
o Eterno Criador e a Causa Primeira de tudo, também tem uma mãe? Sem querer me
aprofundar muito no tema, que também já foi tratado por mim aqui, ,elaborei
dez pontos a seguir que nos indicam claramente que não, Deus não tem
uma mãe:
1º Porque, em primeiro
lugar, para ser considerada como “mãe de Deus” devemos levar em conta o
conceito trinitário de Deus. Deus não se limita apenas ao Pai, apenas ao Filho
ou apenas ao Espírito Santo, mas o Pai, o Filho e o Espírito Santo é o
único e verdadeiro Deus. Portanto, para Maria ser considerada como “mãe de
Deus” teria que também ser mãe do Pai e do Espírito Santo. Senão, poderíamos
nos utilizar exatamente do mesmo silogismo empregado pelos católicos contra
eles mesmos:
a) Maria não é mãe do
Pai;
b) O Pai é Deus;
c) Portanto, Maria não
é mãe de Deus.
a) Maria não é mãe do
Espírito Santo;
b) O Espírito Santo é
Deus;
c) Portanto, Maria não
é mãe de Deus.
2º Além disso, mesmo
em se tratando de Jesus Cristo, devemos considerar que Maria foi mãe deledurante
os 33 anos em que este esteve aqui na terra, e não na eternidade. Maria não
pode ser considerada como mãe de Jesus enquanto este já existia desde a
eternidade e esta nem sequer havia nascido ainda, tampouco na condição de
Criador/criatura. Para alegar que Maria continua sendo mãe de Cristo seria
necessário provar, antes de mais nada, que Jesus manteve a
mesma natureza terrena também depois de já haver adentrado os
céus, para que Maria seja biologicamente mãe de Deus. Ocorre, porém, que Deus é
espírito (Jo.4:24), e um espírito não possui carne nem ossos (Lc.24:39). Jesus,
em sua condição celestial, não está mais em carne (Hb.5:7), e, portanto, não
possui a genética humana, razão pela qual Maria não é mais biologicamente
ligada a Ele.
3º Ademais, dizer que
Deus tem mãe por Maria ter sido mãe de Jesus na terra faz presumir outros
absurdos ainda maiores, como o de, por exemplo, Deus ter um pai ou padrasto que
é José, irmãos (ou “primos”, como os católicos preferem) e outros parentes. E
por essa mesma linha, a mãe de Maria é avóde Deus, a avó de
Maria é bisavó de Deus, a bisavó de Maria é tataravó
de Deus, e por aí vai numa sucessão infindável até chegarmos em Eva.
Assim, Eva seria parente de Deus em um grau bem distante! O que é mais
racional: pensar que Deus tem mãe, tem irmão de carne, tem pai, tem primos, tem
avó, bisavó e tataravó (e isso tudo em sentido biológico e genético), ou crer
que todos estes citados são apenas criaturas de Deus, fazendo
a correta distinção já citada entre o celestial e o terreno?
4º Levando-se em
consideração que só se é mãe daquilo que gera, devemos perguntar:
Maria gerou a divindade de Cristo? Não! Maria gerou apenas a natureza
humana de Jesus, enquanto este esteve “nos dias de sua carne” (Hb.5:7).
A natureza divina de Cristo sempre existiu, é eterna, vem de muito antes de
Maria sequer existir. Alegar que Maria é mãe de Deus implica em cair em dois
absurdos: o de alegar que pode ser mãe de algo que não foi
gerado por ela, ou o de que Maria gerou sim a divindade de
Cristo. No primeiro caso, Maria seria mãe apenas da humanidade de
Jesus, não da divindade (e, portanto, mãe de Jesus homem, não da divindade de
Cristo), enquanto que no segundo caso Maria teria de ser anterior à
natureza divina de Cristo para tê-la gerado, o que é impossível, visto que
Jesus é Criador e Maria criatura.
5º Colocar Maria no
patamar de “mãe de Deus” (Theotókos) é uma abominável heresia que chega
até mesmo a ser blasfêmia, no mesmo nível dos povos pagãos que sempre tinham
uma “deusa-mãe” que era considerada a “mãe de Deus” por estes povos. Os
católicos rejeitam o título de “deusa-mãe”, mas aceitam o de “mãe de Deus”,
numa tentativa de camuflar a sua nítida ligação com os povos pagãos, tais como
Ísis, cultuada no Egito como a “mãe de Deus”. Curiosamente, ela também detinha
o título de“Rainha dos Céus” (Je.7:18; 44:17-25), exatamente o mesmo que
os católicos atribuem hoje a Maria, além de “Nossa Senhora”. Este sincretismo
claro com o paganismo evidencia que considerar Maria como a mãe de Deus não é
meramente uma afirmativa da divindade de Cristo, como alegam os católicos, mas
sim a defesa de um sincretismo religioso pagão no qual Maria é cultuada com os
mesmos títulos e atribuições que os pagãos ofereciam à sua deusa-mãe, a Rainha
dos Céus.
6º Ainda que essa
questão seja delicada e possa vir a escandalizar muitos, deveríamos perguntar:
Deus tem pênis? Óbvio que não. Mas a natureza humana de Jesus
tinha. Não conseguir diferenciarclaramente como dois extremos
distintos a natureza humana de Cristo na terra da natureza divina de Cristo no
Céu nos levaria a inúmeros absurdos, indo muito além do mencionado acima. Se
Maria é mãe de Deus por ter sido mãe de Jesus durante 33 anos enquanto este
esteve em carne aqui na terra, então Deus possui todas as características
físicas de Cristo-homem. Mas se essas características já não fazem parte dEle,
como Deus, então como Maria pode ser considerada mãe de Deus?
7º Se Maria é mãe de
Deus por ter sido mãe de Jesus na terra, então deveríamos concluir que
Deus morreu na cruz. Ora, isso é um absurdo, visto que a Bíblia ensina que
Deus é imortal, Ele não pode morrer em circunstância nenhuma (1Tm.6:16). Então,
se Deus é imortal e não pode morrer, segue-se logicamente que Deus não morreu
na cruz. E, se Deus não morreu na cruz, Maria não pode ser chamada de mãe de
Deus, visto que ela tinha sido mãe exatamente daquele Jesus que foi pregado e
morto numa cruz.
8º Uma outra pergunta
semelhante é: Deus nasceu depois de nove meses? Se sim, isso nos levaria a crer
que Deus teve um começo, o que vai totalmente contra a crença
teológica universal de que Deus é a Causa Primeira, é o Eterno, aquele que não
teve começo e nem terá fim de dias (Hb.7:3). Portanto, Deus não teve um começo,
Ele não nasceu do ventre de Maria. E, se Deus não nasceu depois de nove meses,
isso significa que Maria pode ser considerada mãe do Filho de Deus, ou mãe de “Jesus
Cristo homem” (1Tm.2:5), mas não mãe de Deus, se Deus
não nasceu no ventre dela. Mãe de Deus é uma terminologia
errada, que pode perfeitamente ser substituída por várias outras que podem se
aplicar devidamente.
9º Temos que lembrar
também que Jesus se esvaziou quando se tornou homem, conforme
diz Paulo:“mas esvaziou-se a si mesmo, vindo a ser servo” (Fp.2:7). Ele “não
teve por usurpação ser igual a Deus” (v.6). No registro conservado do
apóstolo Tadeu, que conviveu com Cristo, confirmamos a interpretação de que
este esvaziar implicou em depor a própria divindade. Isso foi registrado por Eusébio de Cesareia, que fez menção às palavras de
Tadeu nas quais ele afirma que Jesus depôs a sua divindade ao se fazer humano:
"E Tadeu respondeu: Agora
guardarei silêncio. Mas amanhã, já que fui enviado para pregar a palavra,
convoca em assembleia todos teus concidadãos, e eu pregarei diante deles, e
neles semearei a palavra da vida: sobre a vinda de Jesus: como foi; e sobre sua
missão: por que o Pai o enviou; e sobre seu poder, suas obras e os mistérios de
que falou no mundo: em virtude de que poder realizava isto; e sobre a novidade
de sua mensagem, de sua humildade e humilhação: como se humilhou a si
mesmo depondo e reduzindo a sua divindade, e como foi
crucificado e desceu ao Hades, e fez saltar o ferrolho que desde sempre
prevalecia e ressuscitou mortos, e como, tendo descido só, subiu a seu Pai com
uma grande multidão" (História Eclesiástica, Livro I, 13:20)
Significado de Depor
v.t. e v.i. Pôr de
parte, pôr no chão, deixar alguma coisa que se
trazia.
Portanto, Maria foi mãe de Jesus
enquanto este esteve esvaziado de seus atributos da divindade,
e não como Deus. Isso explica o porquê que Ele não sabia qual o dia da Sua
própria volta (Mc.13:32), pois já havia se esvaziado do
atributo da onisciência, e o porquê que Ele não pôde (ao invés
de “não quis”) realizar milagres em certa ocasião por causa da incredulidade do
povo (Mc.6:5), pois já havia seesvaziado do atributo da
onipotência.
Somente sendo plenamente humano Jesus
pôde ser verdadeiramente tentado no deserto (Mt.4:1), pois Tiago nos diz que “Deus
não pode ser tentado” (Tg.1:13). E exatamente por ter sido plenamente
humano como nós que hoje nós podemos nos espelhar no exemplo de Cristo que
venceu o maligno como homem, para que, na mesma posição de humanos e não na de
um Deus-homem, possamos vencer também da mesma forma que Ele venceu (Hb.4:14-16). Por isso podemos dizer que Ele foi
igual a nós“em todos os aspectos” (Hb.2:17).
10º Finalmente, devemos
ressaltar que a crença de que Maria foi mãe de Deus não se encontra na Bíblia,
pois em lugar nenhum Maria é relatada como sendo “mãe de
Deus”, este título é completamente omitido com relação a ela. Ao invés disso,
vemos dezenas de citações nas quais Maria é relatada como
sendo mãe de Jesus, contra zero dizendo que era mãe de Deus.
Isso revela que, no mínimo, os apóstolos e evangelistas eram muito mais
cuidadosos nessa questão do que os católicos atuais, que sem papas na língua
dizem por todos os quatro cantos da terra que Maria é mãe de Deus,
coisa na qual todos os escritores bíblicos foram suficientemente cautelosos
para nunca dizerem isso.
Então, podemos afirmar, sem medo de
errar, que não, Deus não tem uma mãe.
Paz a todos os que estão em Cristo.
Artigo extraído da apologética de Lucas Banzoli
Adaptações para o blog e informações somativas de Gabriel Felipe
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