(Por Gabriel F. M. Rocha)
Texto base: Lucas 9. 18-20
"[...] Estando ele orando à parte, achavam-se presentes os discípulos, a quem
perguntou: Quem dizem as multidões que sou eu? Responderam eles: João Batista,
mas outros, Elias; e ainda outros dizem que ressurgiu um dos antigos profetas.
Mas vós, perguntou ele, quem dizeis que eu sou? Então, falou Pedro e disse: És
o Cristo de Deus" (Lc 9. 18-20).
Introdução:
Diante da maturidade teológica que
algumas igrejas têm experimentado e, ao mesmo tempo, diante da “meninice” que
tantas outras têm vivido, perguntar quem é Jesus – nos dois contextos - vai
sempre soar como uma pergunta superficial e ultrapassada. Aliás, Jesus é Jesus,
ora... É o Mestre! É o Profeta! É aquele judeu “socialista” e revolucionário! É
aquele sujeito bom que me aceita do jeitinho que eu sou porque ama todo o
mundo! Ele é o Senhor! É o Filho de Deus! Está escrito...
As respostas vão surgindo espontaneamente,
pois anos e mais anos nas igrejas todos nós temos ouvido falar de Jesus. Algumas
respostas não ultrapassam o campo da opinião, outras já são dotadas de
definições mais “experientes”. Ademais, nós temos muitas informações sobre
Jesus. Existem filmes, documentários, livros, peças teatrais e músicas sobre
Jesus. Portanto, essa pergunta parece mesmo ultrapassada. São muito acessíveis,
por exemplo, quaisquer informações sobre o Jesus histórico. E tem sido muito
corriqueiro qualquer informação sobre o Cristo divino, afinal, se você vai a
alguma igreja cristã pelo menos aos domingos, sabe alguma coisinha sobre o
Jesus divino, não é mesmo?
No entanto, para nada vale o conhecimento do
Jesus histórico e, nem mesmo do Jesus divino, sem um encontro pessoal com o
Cristo da cruz, pois é exatamente esse encontro que pode fazer a diferença na
minha e na sua vida. Não que a imagem que temos do Cristo seja a do Jesus
crucificado (da vítima). Não! Jesus não foi vencido pela cruz e não vive apenas
na história. A Igreja conhece, agora, o Cristo ressurreto, vivo, ativo no meio
do seu povo, glorificado, que se revela na Escritura, que se revela na comunhão
da igreja, que se revela no partir do pão, que se revela no próximo, que revela
a nós quem é Deus e nos capacita para chamá-lo de Pai (Rm 8. 15,16)!
A mensagem da cruz, juntamente com
seu doloroso convite à morte, é o princípio de todo o nosso conhecimento sobre
quem é Jesus. Se discernirmos a mensagem da cruz, discerniremos quem é o Cristo
e o que Ele significa para nós.
Aí está o ponto onde queremos
chegar... Conhecer o Jesus histórico não te salvará do juízo divino, pois
somente o conhecimento do Jesus histórico não poderá te redimir. Por outro
lado, reconhecer a divindade de Jesus é bom. No entanto, tal reconhecimento
deve vir acompanhado de reais transformações que só a fé em Cristo (e em sua
mensagem) pode promover, pois essa supõe não só o reconhecimento da Pessoa e da
divindade de Jesus, mas, principalmente, o conhecimento de tudo que envolve o
Cristo e a relação que a sua obra vicária tem com a minha e com a sua vida.
Exemplo: posso conhecer o Cristo histórico e reconhecer a sua divindade (assim
como alguns grupos pseudo-cristãos conhecem e reconhecem). Mas, o conhecimento
que envolve a salvação da minha alma e a minha “re-ligação’’ com Deus é,
portanto, o conhecimento e o reconhecimento daquilo que Cristo é para mim;
daquilo que Ele fez por mim; do “por que” Ele precisou fazer o que fez por mim
e do que eu sou (e devo ser) agora, após Ele ter feito tudo o que fez por mim.
Qualquer resposta sobre quem é
Jesus, para ser verdadeira e eficaz, precisa evidenciar o conhecimento de todos
esses aspectos que envolvem a totalidade da obra de Cristo em nós. E quando se
afirma isso, não se trata de algum esforço intelectual e, tampouco, de
profundos estudos de cristologia (mesmo sendo bom e necessário isso). Mas, o
conhecimento sobre Jesus Cristo – que produz vida –, surge tão somente pela fé.
Fé precedida por uma ação sobrenatural e reveladora sobre quem, de fato, é o
Cristo. Obviamente, essa necessidade de uma ação sobrenatural e reveladora
sobre o Cristo não se trata de algum tipo de gnosticismo ou neoplatonismo. Não
se trata de um “algo além”, mas trata-se de algo já intrínseco à verdadeira fé
cristã. A fé é uma ação sobrenatural, pois é dom de Deus e é ela que nos
capacita para enxergar – em meio às diversas opiniões – o Cristo, Filho do Deus
vivo.
Portanto, responder a pergunta
“quem é Jesus?” e tantas outras perguntas não parecem tão fácil como se pensa.
É difícil responder, às vezes, coisas aparentemente tão simples (ou banais)
como, por exemplo: sobre o sentido de nossa existência, sobre o propósito do
nosso chamado e, também, sobre quem é Jesus para mim. Ter clareza e verdade nas
respostas a essas perguntas requer sempre um auxílio sobrenatural. Sem Deus,
nada poderemos fazer! Tampouco conhecer o Cristo.
Aliás, dizer sobre a pessoa de
Jesus Cristo foi um dos primeiros desafios teológicos da Igreja. Responder quem
é o Cristo foi pauta de discussões em importantes concílios na história da
igreja cristã. Várias controvérsias, oposições e reafirmações ocorreram para
nos mostrar, agora, que: tudo que sabemos sobre quem é Jesus, surgiu de longos
estudos, diálogos e esforços teológicos. Sim! Por mais que a majestade do
Cristo esteja revelada nas Escrituras, a resposta nunca soou tão fácil, não
obstante o fato de alguns poderem tão facilmente responder a essa pergunta (às
vezes sem dizer palavra alguma, apenas com gestos...).
Desenvolvimento:
Bem, mas por quê? Por que não é tão
fácil responder a essa pergunta? Ou, por que a resposta para essa pergunta só
pode ser dada por pessoas "aptas" para tal? E como se tornar apto (se
é que podemos tornar a nós mesmos aptos) para responder corretamente a pergunta
sobre “Quem é Jesus para mim”?
Já adiantando uma verdade neste
texto, só podemos responder quem é Jesus se tivermos um encontro pessoal com
Ele.
Sei que não é tão seguro afirmar
que Pedro teve ali, naquele momento, (ao responder a pergunta de Jesus) um
encontro pessoal com Cristo. Não sei se foi ali, se foi antes ou depois. Mas
sei que a resposta de Pedro foi movida por uma ação sobrenatural (espiritual)
que o levou ao encontro – pelo menos naquele instante – da Verdade fundamental
da fé cristã, a saber, que Jesus é o Cristo, Filho de Deus. Verdade essa que
permitiu Pedro permanecer, mesmo depois de alguns deslizes, com um altar
levantado para Deus em seu coração e não se desviar dessa verdade jamais.
Podemos responder quem é o Cristo e
afirmar com efetividade a sua divindade após um encontro e um relacionamento
real com o Jesus da Escritura. E o encontro pessoal com Cristo não parte de
nosso esforço para conhecê-lo e encontrá-lo. Não basta apenas estudar teologia,
embora isso seja altamente recomendável. Não basta ouvir todos os sermões sobre
a Pessoa de Jesus Cristo para entender melhor sobre o assunto. Tudo isso poderá
ser instrumento ou “oportunidade” de Deus para a promoção da fé mediante a
livre vontade de Deus em querer nos revelar tal Verdade.
Ter um encontro pessoal com Jesus
Cristo e experimentar um relacionamento com Ele só pode acontecer se Deus
permitir. Deus tem a história da humanidade em sua mão! Ele não deixará de ser
Deus e, tampouco, se tornará injusto, se decidir que meus olhos não se abram
para a Verdade (afinal, Ele não me deve coisa alguma. O pecador e devedor sou
eu e não Deus).
Por que estou citando isso? Para te
fazer algum medo? Não! É apenas a exposição da verdade bíblica! Talvez esta
verdade esteja te causando medo. Mas, nem do seu medo ou pavor depende esta
verdade! No entanto, ela pode te fazer pensar agora: “conheço mesmo a Jesus
Cristo?”; “posso mesmo responder com certeza e decisão quem é Jesus?”; “quem é
Jesus para mim?”.
O que vale é a resposta! Oxalá que
essa pergunta te leve aos pés do Criador e que, em oração e clamor, você possa
chegar a Deus e suplicar misericórdia, pois Ele – o Eterno Soberano Deus – é
Bom! Talvez, na sua súplica sincera e no derramamento de seu coração, a
resposta poderá fluir (mesmo em partes) sobre quem é Jesus para você. Pelo
menos, apto para responder melhor a essa pergunta você estará se seu coração
(com verdade e entrega) estiver aos pés do Criador em arrependimento e
desespero por sua salvação. Fazer um altar para Deus no próprio coração é evidência
de uma vida que poderá responder quem é o Cristo, pois de Cristo é todo aquele
que se arrepende de seus pecados e busca a Deus.
Portanto, se Deus abrir os nossos
olhos, poderemos identificar a divindade de Cristo e confessar o seu Nome. Veja
que em Mateus 16.17, diante da confissão de Pedro (v. 16), Jesus declara:
“Bem-aventurado
és, Simão Barjonas, porque não foram carne e sangue que to revelaram, mas meu
Pai, que está nos céus”.
Toda a Escritura nos revela o
Cristo, ela testifica dele o tempo inteiro, seja no Antigo Testamento, seja –
de forma tão direta – no Novo Testamento. Contudo, se não for pela ação
sobrenatural do Espírito Santo, não poderemos ter o encontro pessoal com o Cristo
Salvador. Se não for pela ação divina em abrir os nossos olhos, reconhecer a
nossa miséria e, ao mesmo tempo, a misericórdias de Deus, jamais poderíamos
confessar o Cristo.
Por quê? Porque nos tornamos mortos
espiritualmente por causa de nossos delitos e pecados (Rm 3.23; Ef 2.1) e, por
causa disso – mesmo sabendo muita coisa sobre o Jesus histórico e muito sobre a
sua divindade –, não poderíamos confessar “quem é Jesus para mim” e por que eu
posso ser salvo por Ele. Contudo, nada vem de nós e a fé operosa é mesmo um dom
de Deus (Ef. 2.8).
No texto em destaque (Lucas 9.
18-20), temos alguns ensinamentos a respeito da confissão segura sobre quem é
Jesus.
O que estava acontecendo ali?
No capítulo 9, discorrendo também
nos capítulos posteriores, Jesus dá uma série de instruções aos seus discípulos
e ordena-os para alguns “trabalhos de campo”, capacitando-os para o serviço.
Primeiro, aconteceu a convocação
dos doze principais discípulos para um trabalho evangelístico (9. 1-6). Logo,
acontece a primeira multiplicação dos pães e peixes (9. 10-17). É exatamente
nessas circunstâncias (missão, serviço e contato com a multidão) que Jesus
inquiriu de seus discípulos mais íntimos a resposta sobre quem Ele é. Há algo
para ser aprendido nisso!
Vimos já que o conhecimento e a fé
no Cristo só podem ocorrer se Deus abrir os nossos olhos para tal. Contudo, Cristo
dá para a sua igreja (sua noiva, seu rebanho) reais condições para ela
discernir quem Ele é. Cristo quer se revelar aos seus. Ele faz isso! A primeira
condição (ou recurso), nós já sabemos, é a própria Palavra de Deus! a santa
Escritura! Pois ela revela Jesus, testifica dele. Por isso Jesus foi categórico
ao dizer: “examinai as Escrituras [...]
São elas mesmas que testificam de mim”
(Jo 5.39).
Veja em Lc 9. 2:
“também
os enviou a pregar o reino de Deus [...]”.
Não poderia haver missão
evangelística se não houvesse um Evangelho a ser pregado. Os discípulos não tinham
uma Bíblia em mãos como nós temos hoje, mas eles tinham a máxima do Evangelho
“arrependei-vos porque vos é chagado o reino dos céus”, assim como a revelação,
pelo menos parcial da Verdade, cujo fundamento (em termos de Escritura) era
toda a Lei e os Profetas, a saber, que a salvação estava no Messias de Deus. No
entanto, esse Messias precisava ser discernido “melhor” pelos seus.
A Palavra é mais que um instrumento
útil para o nosso conhecimento. Ela é o meio para a fé ou recurso que leva à
fé. Por ela – a Escritura –, podemos entender Cristo, conhecer Cristo, se
relacionar com Cristo, ouvi-lo, aprender com Ele, imitá-lo em tudo, etc. Manejar
bem a Palavra nos leva à firmeza de entendimento sobre o Cristo. A Palavra nos
conta todo o mistério se for examinada na total dependência do Espírito Santo.
O Espírito Santo nos ensina todas as coisas (Jo 14. 26), nos faz participar de
todo o mistério. Mistério esse que para nós não é mais oculto, segundo Paulo discorre
em Efésios 3. 3-19.
Entretanto, muitos ainda se vêem
distantes de responder quem é o Cristo, pois, todo o conhecimento sem um
encontro pessoal se torna raso e não produz vida. Que a Palavra produza vida e
promova o encontro pessoal com Jesus Cristo! E, diga-se de passagem, o encontro
pessoal com Cristo e a iluminação do Espírito Santo no nosso entendimento não
implica dizer que devemos priorizar experimentalismos sob égide do mau
entendimento do “a letra mata, mas o
Espírito vivifica...”. No entanto, a Palavra testifica do Cristo e o
Espírito Santo nos auxilia para o entendimento do mistério. “Pelo que, quando lerdes, podeis perceber a
minha compreensão do mistério de Cristo” (Ef. 3.4).
Em nossas reuniões e cultos – no ano todo –,
nós ouvimos pregações e também somos chamados a pregar a Palavra. Temos em mãos
a Palavra! Temos em mãos toda a revelação escrita! E mesmo assim, muitos não
conseguem – no nosso meio – discernir o Cristo. Às vezes, nós mesmos, quando
abatidos por alguma circunstancia e aflitos diante da fúria do mar, não
reconhecemos o Cristo e a sua divindade e tendemos sempre a dar uma resposta esparsa
ou confusa sobre Ele (como os mesmos discípulos deram quando avistaram o Cristo
andando sobre as águas e acalmando a tempestade). Até mesmo um bom pregador
pode não ter discernido o Cristo, embora viva falando bem sobre Ele e pregando
muitas verdades sobre Ele.
Contudo, Jesus – através da Escritura
– se revela a nós como o Salvador. Pela Escritura, eu posso dar a minha
resposta sobre quem é Jesus. Ele é o meu Salvador! É Deus conosco! Maravilhoso,
Conselheiro, Deus forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz. Todos esses
adjetivos e atributos são identificados na santa Escritura. Jesus é o Verbo que
estava com Deus e que nada existiria se não fosse por Ele, portanto, Ele é o
Pai da Eternidade. Jesus é Deus forte, mas também se tornou Emanuel e esteve
conosco (humanidade) e permanece conosco (no nosso meio). É Deus forte, pois
venceu a própria morte e pode me salvar. É Conselheiro, pois, sempre que abro a
Palavra, Ele fala e guia-me pelas veredas da vida.
Outra ocasião gerada por Jesus –
antes de fazer a pergunta aos seus principais discípulos – foi promover a
dependência e a confiança em Deus. “Nada
leveis para o caminho [...]” (9.3).
No versículo 1 está escrito que
Jesus deu-lhes poder e autoridade. Portanto, apenas isso bastava. Logicamente, tudo
isso se trata daquela convocação específica e, para o nosso dia-a-dia, muita
coisa é necessária sim. No entanto, Jesus quer se revelar como aquele que
também é o nosso provedor. Ele é o nosso Pastor e de nada temos falta! “Não andeis ansiosos”, Ele diz. Tudo que
for necessário nos será acrescentado. Por isso podemos ter a paz, pois Jesus é
para mim o Príncipe da Paz. Maravilhoso, pois maravilhosamente Ele cuida de mim
e nunca escapo de suas mãos.
Logo, os discípulos estiveram
diante de mais um “trabalho de campo”, a saber, a primeira multiplicação dos
pães e peixes. Apenas um detalhe nessa segunda ocasião já nos diz com
pertinência outro ensinamento: o contato com a multidão. “Daí-lhes vós mesmos de comer” (v. 13); “[...] partiu e deu aos discípulos para que eles distribuíssem entre o povo”.
Nesta ocasião, Jesus concede aos
seus discípulos a tarefa de repartir o pão entre aquele povo. Mas, como
conhecer a Cristo no meio da multidão? Não é ela que tem opiniões tão esparsas
sobre Jesus?
Sim! Porém a missão é bem mais que
estar entre o povo. Mas também, conhecer a necessidade do povo. Se compadecer
do povo. Repartir com a multidão daquilo que temos (mesmo sendo tão pouco).
Isso é o que Cristo fez durante todo seu ministério terreno. É isso que Ele
ainda faz através da sua Igreja. A Igreja como aquela que pertence, de fato, a
Cristo, só pode ser identificada como “noiva” de Cristo ou porta-voz de Cristo
se ela estiver presente entre a multidão, influenciando os povos, repartindo e
socorrendo, compadecendo e agindo. De igual modo, eu e você só poderemos
responder quem de fato é Jesus para nós, se entendermos e cumprirmos a sua
vontade.
Como nós podemos conhecer bem uma
pessoa e descobrir do que ela mais gosta? Procurando entender aquilo que essa
pessoa mais gosta de fazer. Procurando compreender aquilo que mais toma a
primazia de seu tempo. Assim é com Jesus. Mesmo estando anos em uma determinada
igreja, algumas pessoas não conseguem responder quem é Jesus para elas por não
se identificarem em nada com Ele.
Veja que em João 15. 15, Jesus se
revela aos seus discípulos como o “amigo” e também os reconhece como tal. Foi
um gesto recíproco, dada à condição: “se fazerdes o que Eu mando”. Eu só posso
dizer quem é Jesus para mim e chamá-lo de amigo se eu – pelo menos na
quantidade pequena dos meus “pães e peixes”, amar como Ele amou. Portanto, quem
é Jesus para mim? É aquele que estendeu a mão para mim. É meu resgatador. Meu
auxílio no momento de dor. É aquele que – mesmo me encontrando na vala da impureza
e do pecado – me amou, me lavou com o seu sangue e me trouxe para a sua luz.
Jesus é o Cristo, Filho do Deus vivo! Por Ele sou salvo. Jesus é meu amigo! Eu
me relaciono com Ele. Eu me identifico com Ele! Eu gosto de fazer o que Ele
faz.
E é na circunstância da
multiplicação dos pães e peixes, mais exatamente após a multiplicação, que
Jesus faz as duas perguntas aos discípulos. A primeira sobre quem a multidão
diz que Ele é e a segunda sobre o que eles (os discípulos) diziam sobre Ele.
V. 18: “Quem dizem as multidões que sou eu?”
As respostas foram: João Batista,
Elias ou um dos antigos profetas ressurgido. Ou seja, opiniões esparsas, sem
definição. Sem uma concordância entre eles. Talvez pudesse ter existido até
mesmo alguma disputa entre as multidões sobre quem era Jesus. Creio que o fato
de os discípulos terem atuado em meio à multidão, fez com que eles tomassem
conhecimento das dispersas idéias que a mesma tinha sobre aquele misterioso
homem que curava e repartia alimentos. Contudo, as respostas da multidão revelam
algumas coisas:
1)
Sem
um encontro pessoal com Cristo, só teremos opiniões sobre Jesus;
2)
Podemos
ter uma história de vida em uma congregação, mas, sem uma identidade com Jesus
e sem um relacionamento real com Ele, Jesus sempre será alguém indireto;
3)
Jesus
será sempre alguém conforme a minha necessidade terrena;
4)
Jesus
será sempre alguém conforme alguma cosmovisão religiosa. Ou seja, poderá ser um
profeta importante, mas não suficiente em si mesmo. Poderá ser um irmão
evoluído, “grau 33”, mas nunca o Cristo que salva a minha alma;
5)
Alguém
poderá ter apenas uma ideia incompleta sobre Jesus, sendo Ele, por exemplo,
entendido como um milagreiro ou um bom filósofo, mas nunca como Deus e
Salvador;
6)
Jesus
poderá ser o exemplo maior de amor e, portanto, Ele poderá me aceitar do jeito
que eu sou e quero viver;
7)
Jesus
poderá também ser aquele que necessita que alguém o aceite num apelo, mas nunca
aquele no qual necessitamos confessar com arrependimento e choro para sermos
aceitos diante de Deus.
Meus amados, a multidão sempre foi
diferente dos discípulos. Continua sendo diferente ainda em nossos dias. A
multidão tem seus compromissos estabelecidos por ela mesma. Enxerga e
compreende conforme as suas necessidades locais e próprias vontades. Mas a
Igreja (eu e você, discípulos de Cristo) entende e conhece quem é Jesus porque
ela participa das vontades e dos assuntos de Deus. A multidão quer ser ativa
nesse processo. Ela determina quem é Jesus segundo o contexto que ela vive e
deseja viver. A Igreja não! Ela é passiva nesse processo. Ela conhece e
torna-se apta para responder quem é o Cristo porque ela é submissa a Ele e
reconhece primeiro a necessidade de ser moldada e transformada por Ele. O que
diferencia a multidão da Igreja é exatamente a capacitação divina – dom dos
céus – para falarmos com decisão “quem é Jesus para mim”.
Sem algo “do céu” acontecendo para
apurar todo o nosso entendimento, não poderemos responder quem é Jesus com
definição, verdade e adesão séria.
Jesus, porém, pergunta – de forma
bem específica – aos seus discípulos a mesma pergunta: “e vocês?” “Quem dizes
que sou?”.
Pedro, tomando a palavra, diz de
forma peremptória:
“És
o Cristo de Deus” (v. 20).
Essa confissão define muita coisa!
Confessar que Cristo era o “ungido” (Cristo) de Deus naquele momento significa
confessar todo o caráter da vinda de Jesus. Não foi em vão que Cristo pediu
para que os discípulos não espalhassem (ainda) essa verdade, pois, naquela
altura do campeonato, não seriam compreendidos, mas sim refutados com
violência.
Somente com o auxílio revelador do
Espírito Santo, podemos confessar que Jesus, o Homem, é também o Deus que
poderá cumprir em si mesmo todo o projeto decretado pelo Pai.
Dizer – com verdade e graça – que
Jesus é o Cristo não implica dizer o “sobrenome” de Jesus, como diz R. C.
Sproul. Não se trata disso. Há uma confissão séria nessa expressão. Cristo é o
título supremo de Jesus!
O significado de Cristo é
proveniente do Antigo Testamento. Deus havia prometido aos antigos israelitas
que o Messias viria para libertá-los do pecado. E a ideia do Messias (Cristo) está
amplamente relacionada com a noção de serviço sacerdotal, com a função de
profeta e com a noção de rei.
Afirmar que Jesus era o Cristo
naquele momento era afirmar que Jesus era aquele que foi ungido para servir
como o maior servo de todos, pois daria a própria vida para resgate de muitos.
Também, como Homem perfeito (Homem e Deus) foi o Sumo sacerdote que entrou de
forma definitiva no Santo dos santos para expiar os meus pecados a anular toda
a minha condenação. Como Sumo sacerdote, se fez também a vítima do holocausto,
sendo Ele o Cordeiro perfeito para o sacrifício. Também foi o principal Profeta,
pois trouxe a melhor notícia da parte de Deus, a saber, a salvação em seu Nome
e a proclamação de um Reino. Foi o melhor Profeta, pois não foi apenas um
portador da Palavra de Deus, mas era a própria Palavra de Deus viva e
encarnada! Era o próprio Deus ali com eles. Também Rei, pois, tornou-se rei de
todas as nações e de todos os povos, o rei dos reis, o Leão da tribo de Judá!
Portanto, a confissão de Pedro foi
muito significativa quando coloca com definição e verdade que Jesus era o
“Cristo”, ungido de Deus.
Da mesma forma que Jesus disse a
Pedro que este era abençoado por ter aquela compreensão da identidade de Jesus,
eu e você, ao dizer com certeza, graça e adesão “quem é Jesus para mim”,
seremos abençoados (ou bem-aventurados), pois, só quem nasceu de novo pode
confessar que Jesus é o Cristo.
Confessar que Jesus é o Cristo, por
sua vez, implica em aderir completamente a essa verdade. Pois a verdade dessa
resposta signfica o reconhecimento da completude da obra de Cristo em nós. Se
Ele é, de fato, meu Rei, meu Senhor e governa a minha vida, Ele é o Cristo para
mim! Se eu entendo com sinceridade que Ele me serviu como o Cordeiro que o Pai
providenciou, sendo eu o alvo da ira, nada restará para mim se não me engajar
completamente à essa mensagem, vivendo uma nova forma de vida. Se eu digo que
Jesus é o Cristo para mim, entendendo o real significado desse título, não há
como não viver uma vida conforme Cristo quer. Não há qualquer concordância
entre a real confissão sobre quem é Jesus e uma vida apática, que não evidencia
a imagem de Cristo através de suas ações, gestos, escolhas e forma de vida.
Quem é Jesus para mim? Jesus para
mim é o Cristo! É aquele que Deus ungiu para me re-ligar a Ele, pois somente
Jesus poderia operar essa “re-ligação”. Jesus para mim é o único e suficiente
Salvador e o que sou hoje eu devo ao fato de Cristo ter ido cumprir a pena que
era minha e pagar o preço que era para eu pagar. Tendo esse entendimento de
quem é Cristo e do que Ele significa para mim, sou logo convidado a me portar
segundo a mensagem que me salvou, a saber, a mensagem da cruz. Por saber quem é
Jesus e poder responder com clareza e adesão séria, é que posso pegar a minha
cruz e segui-lo sem olhar para trás.
Você pode? Pode – agora –
responder quem é Jesus para você? Que Deus te capacite para responder com a
mesma definição e decisão como foi a resposta de Pedro, amém!
Gabriel Felipe M. Rocha.
Outubro/ 2015
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