Amados irmãos, amigos e verdadeiros estudantes das
Escrituras, paz!
Deixo mais uma vez uma análise minha (reformulada e em processo) e, como de costume, ficou um pouco grande. Mas para quem for corajoso e curioso vai ler com certeza. Concordando ou não, creio que a leitura está cativante. Esforcei-me para isso. Contudo, diante dos meus escritos que estão ainda em caráter experimental, digo que: nada além das Escrituras! Só a Palavra basta!
Boa leitura!
"O Conteúdo da heresia é a apostasia. Toda heresia tende a afastar o indivíduo de Deus. Jamais uma doutrina ou prática que leva o homem a Cristo e o reconcilia com Deus pode ser chamada de heresia, afinal, o Diabo não leva ninguém a Deus, apenas afasta"
“É uma verdade indubitável que toda doutrina que vem de Deus, conduz a Deus, e o que não vos tende a promover a santidade, não é de Deus” (George Whitefield)
Parte do artigo de Gabriel Felipe M. Rocha.
(artigo em processo)
"CONCEITO DE “SÃ DOUTRINA”, E O CARÁTER ESPIRITUAL DAS ESCRITURAS (DOUTRINA/ DOGMA/ HERESIA)
“[...] Na própria Reforma Protestante, a obra redentora do Espírito foi testificada na História e o avivamento aconteceu cuja ênfase estava na supremacia da Palavra de Deus e na revelação de Cristo como fortaleza, na salvação pela graça e pela segurança da mesma em Cristo, em Jesus como verdadeira e única esperança para o crente e refúgio em Deus para todos mediante a fé por meio da graça. Ali havia um remanescente que estava de coração aberto para receber a Palavra de Deus e, a partir daí, a contínua obra redentora do Espírito Santo no seio da Igreja Fiel de Cristo foi retomada de forma notória. Muitas igrejas se consolidaram nessa experiência com a Palavra e firmaram suas estacas na verdade bíblica. Igrejas ditas “protestantes históricas” ou tão somente “históricas” surgiram como oposição religiosa ao sistema religioso vigente. Mas não poderia ficar apenas nisso. O que foi conquistado no Pentecostes haveria de ser derramado sobre a Igreja que já guardava o grande tesouro (a Palavra de Deus) e, assim, coisas novas aconteceriam e muitos veriam e participariam do ministério de poder do Espírito Santo por meio do batismo espiritual e dons espirituais. Assim, o legado, a herança estava sendo mantida e repassada, até que os grandes avivamentos espirituais aconteceram onde o Evangelho transgrediu as fronteiras humanas, litúrgicas e históricas e chegou até mesmo a lugares inóspitos. A experiência do batismo com o Espírito Santo foi vivida e notificada, grandes avivamentos aconteciam e a principal característica desses avivamentos estava no desejo de cumprir a Palavra do Cristo e levar o Evangelho a toda criatura. Foi dada, então, a chave de Davi que ninguém fecharia.
Para muitos, porém, a sã doutrina se tornou um mandamento rigorosamente sistematizado e formalizado, um ritual ou uma liturgia sempre a ser observada, mas que não produz vida e nem frutos visíveis. O legado foi apenas histórico. Vivem alguns uma ortodoxia morta. Tem doutrina, mas não tem vida. A doutrina deve produzir e gerar vida. Pelo contrário é apenas ortodoxia morta. Pode-se fazer uma análise doutrinária de A a Z, mas toda essa ortodoxia é ineficaz e não há vida nela. Há muitas igrejas “históricas” neste país que estão morrendo por não viverem a experiência com a abundante benção do Espírito Santo. Continuam solenes (pela grande bagagem histórica e heróica do protestantismo), porém mortas. Não tem heresia, mas também não tem vida. Não tem heresia, mas também não tem amor, não tem heresia, mas também não tem evangelização aos pobres, não tem heresia, mas também não tem vibração por Deus, não há avivamento algum. São igrejas boas, porém sem vida de Deus. Deus é um Deus pessoal e ama o relacionamento com o homem no qual Ele escolheu para viver essa relação recíproca. E do mesmo modo, na outra extremidade, reforçando o que já foi dito, as aventuras do pentecostalismo moderno produzem crentes imaturos e distantes da verdade bíblica.
A relevância da presente análise está, também, na possibilidade de um maior esclarecimento em torno da questão “doutrina”.
Dessa forma, tentaremos mostrar que a doutrina produz vida, pois a Palavra é viva. É boa e segura a liturgia tradicional e muitos devem rever os valores e se apegar aos ganhos da Reforma e voltar ao modelo tradicional de culto, de cultura, costume, etc., no entanto, não devemos abandonar ou recusar os valores do genuíno pentecostalismo, pois ambos na verdade podem convergir mais do que simplesmente divergir.
O objetivo geral do presente artigo é pensar e definir o conceito de “doutrina” e seu caráter não só legalista ou normativo ou disciplinar, mas também seu caráter profético , embora, para isso, devemos fazer uma análise do termo “profético”, pois o termo tem recebido valores estranhos ao seu real significado dentro de algumas igrejas pentecostais, principalmente de segunda e terceira onda pentecostal ou, mais precisamente, no neopentecostalismo brasileiro. Temos como parte de nosso objetivo, o interesse de mostrar o que é doutrina para a Igreja de Jesus , sua transcendência e o seu valor espiritual, seu caráter prático e moral e também seu caráter profético e, nesse contexto, verificar a fundamental participação do Espírito Santo na consolidação doutrinária através dos tempos ante os riscos e tentativas diversas de agregação herética no contexto da sã doutrina de Cristo. Aliás, um dos maiores desafios da Igreja pela história foi a preservação da sã doutrina diante das tantas heresias que surgiam e tentavam ser introduzidas no seio da Igreja. Hoje esse desafio continua posto. Para ser específico, esse desafio não só continua posto, mas é ainda maior na atualidade diante das tantas ramificações ditas cristãs que crescem e se espalham pelo mundo, inclusive em nosso país. Aliás, esse fenômeno acontece fortemente aqui no Brasil e por isso existe a preocupação com a saúde espiritual dos crentes que aderem a esses movimentos. Precisamos, o quanto antes, voltar ao Evangelho, porém se esquecer que Evangelho é poder de Deus e poder de Deus, para nós, é obra exclusiva do Espírito Santo e implica uma total dependência da operação do mesmo. A característica central do livro de Atos (cujo livro é a referência principal para a missão e conduta da Igreja) é a total submissão à voz do Espírito Santo.
A Igreja de Jesus Cristo, percorrendo pela história, sofreu algumas alterações em relação ao seu formato original conhecido como “período apostólico” ou “Igreja Primitiva”. A Igreja ao longo da História foi perseguida, cresceu, institucionalizou-se, separou-se e ramificou-se. Vemos tão facilmente hoje essa ramificação. Nesse contexto histórico, a sã doutrina de Cristo se viu ameaçada ou simplesmente esquecida em algumas instituições. Em outros grupos, a sã doutrina recebeu itens a mais, conceitos extras que colocaram e colocam ainda em risco a verdadeira cristandade ou espiritualidade cristã por conta de valores extras ou alheios a ela. São várias igrejas ditas “evangélicas” que, somando com as mais tradicionais, temos, só no Brasil, cerca de 42.275.438 evangélicos . Segundo o Censo de 2010, a população evangélica do país representa 22,2% da população nacional, ou seja, 42,3 milhões de pessoas. Como está sendo elaborado o conceito de doutrina nessas tantas igrejas?
Vemos principalmente nos grupos neopentecostais (ou pentecostais modernos) variedades de conceitos, experimentalismos estranhos às Escrituras, heresias, teologias frágeis à Palavra de Deus, ênfases em revelações e em manifestações espirituais, pragmatismo religioso, ostracismo religioso, desapego à leitura e ao estudo bíblico, ênfase ao subjetivismo e também ao corporativismo, denominacionalismo e sectarismo.
Diante de tantos conceitos e crenças que são ensinados, nos preocupamos aqui em trabalhar o conceito de “doutrina bíblica”, pois questionamos se, de fato, alguns ensinamentos e conceitos podem receber o coroamento de doutrina ou não. Não vamos nos prender aqui falando sistematicamente de cada doutrina cristã. Não! Mas apenas apontaremos para o núcleo doutrinário da fé cristã ou, para a base doutrinária da fé cristã que aqui chamaremos de forma genérica de “sã doutrina”. Tendo em vista essa referência e esse alicerce, mostraremos o que, junto com as doutrinas centrais e universalmente conhecidas e aceitas pela fé cristã, pode ser considerado “doutrina”, “dogma”, “disciplina ou prática cristã” e “heresia”. Tendo feita essa separação, poderemos abrir caminho para um diálogo sobre a unidade cristã em meio às diferenças denominacionais e como todas podem verificar a necessidade de voltarem ao Evangelho e ao verdadeiro avivamento sem abrir mão de alguns conceitos que podem ser sadios à fé e à sã doutrina ou, diante da verdade, abrirem mão de alguns conceitos que não estão em conformidade com a palavra de Deus e assim repensarem sua posição. Vamos aplicar aqui o termo “reformar” segundo essa perspectiva e não somente à adoção total dos valores religiosos e teológicos da Reforma Protestante, afirmando que a Reforma Protestante foi um importante e necessário marco para a História da Igreja, mas que a consolidação e o aperfeiçoamento da mesma não se resume entre as “quatro paredes” dos grupos reformados. [...]”
Doutrina e Dogma (conceitos)
Nas igrejas, recebemos ensinamentos muitas vezes sob forma de doutrina. Na maioria das congregações cristãs a base para o ensinamento é a Bíblia, dita a Palavra de Deus. Contudo é totalmente cabível o exame em torno daquilo que está sendo colocado como doutrina. Não é e nunca foi pecado examinar ou até mesmo questionar um ensinamento. Em algumas igrejas doutrina é facilmente confundida com usos, costumes, tradição, posições teológicas, liturgias eclesiásticas e ensinamentos extra-bíblicos.
Na concepção que presto a apresentar aqui, qualquer posição teológica, hermenêutica, tradicional que não está explícito ou evidente nas escrituras (Bíblia) não pode ser elevado ao nível de doutrina, mas sim dogma. A palavra dogma é, no meio protestante e evangélico, desconfortável, pois é facilmente associado aos credos apostólicos romanos e aos dogmas aceitos na instituição religiosa romana. Mas não é exatamente assim. Caso seja desconfortável ao ponto de fazer com que muitos se afastam da verdade, melhor que arrumem outro nome, mas não ensinem como doutrina aquilo que não é doutrina. O que a Bíblia diz que é de forma explícita e evidente, é, a não ser que não a temos como regra de fé. Mas aquilo que a Bíblia não ensina categoricamente que é, mas parece ser (mesmo estando conforme) não é. Está apenas no nível do pode ser. Logicamente, em várias igrejas, o que pode ser (no ponto de vista bíblico) é recebido como certo e como válido. Em alguns casos, práticas e ensinamentos que não estão evidentes e ensinados como tal na Bíblia, podem (mesmo não evidentes e claramente escritos) ser práticas sadias e até mesmo necessárias à vida cristã. Não me coloco a escrever essa pequena análise a fim de refutar “doutrinas” e nem defendê-las, mas sim separar aquilo que de fato é doutrina e o que de fato não pode ser chamado doutrina, mesmo sendo inofensiva à sã doutrina de Cristo e estando sendo usada e ensinada de forma sadia.
Necessário é separarmos isso colocando tudo a mercê do exame e estudo das escrituras bíblicas e, no caso conceptual dos dois termos (doutrina e dogma), necessário é um melhor estudo a respeito de seus significados etimológicos e culturais. Não vou fazer aqui um estudo exaustivo sobre esses termos, mas apenas vou expor alguns pontos que julgo importantes e necessários para separarmos de forma correta aquilo que estamos aprendendo como doutrina. Inclusive, insisto, não estou sugerindo com essa análise (simples) o uso do termo “dogma”, pois esse termo ganhou uma força cultural muito forte e, infelizmente, é relacionado aos pontos de fé da instituição religiosa apostólica romana. Embora, sabemos que não é bem assim. Em muitas igrejas (cristãs), alguns pontos ou práticas são vistas com a mesma característica. Um dogma, no campo filosófico, por exemplo, é uma crença ou “doutrina imposta” que não admite contestação. No campo religioso é uma verdade divina, revelada e acatada pelos fiéis. No caso específico da Igreja Católica, os dogmas surgem como interpretações das Escrituras e, sobretudo, da Tradição e autoridade da Igreja Católica. Para algumas igrejas cristãs de cunho protestante e evangélico, embora o termo “dogma” não seja usado (por não ser aceito), consiste da mesma característica que envolve a igreja romana. Pois são pontos teológicos, espirituais, revelações, entendimentos bíblicos a respeito de tal ponto, etc. que são facilmente acatados pelos fiéis e incontestáveis por serem, em algumas igrejas, revelações divinas.
Creio na revelação divina e no constante aperfeiçoamento doutrinário (como obra exclusiva do Espírito Santo e não HUMANA). Mas tal revelação ou alcance bíblico (ou teológico) não pode ser chamado de doutrina, a não ser que alcance um nível universal. Ou seja, seja aceita e testificada na vida de todos os cristãos (que se espalham em denominações diferentes). Faço algumas perguntas reflexivas: se o Espírito Santo revela a um determinado grupo ou pessoa alguma prática espiritual ou até mesmo um ponto doutrinário de suma importância para a vida cristã e que não está em desacordo com a Palavra de Deus (sã doutrina) e esta se alinha a ela sendo pretensa vinda de Deus e, como tal, se faz sinônimo de vitória e condição indiscutível para ter de Deus a graça e a salvação, por que o mesmo Espírito Santo (o mesmo Deus) não tem o interesse de que ela se manifeste entre outros irmãos, uma vez que o Espírito Santo não é propriedade particular de uma denominação específica, mas opera aqui e ali conforme sua soberana vontade? Por que existem tantas denominações com variadas práticas diferentes? E por que é, para cada uma delas, fundamental aceitá-las e vivê-las a ponto de ir contra a vontade de Deus? Não vou dizer que tais práticas espirituais ou “doutrinas de uma igreja” excedem aquilo que a Bíblia diz se essas tantas práticas (reveladas ou não) estiverem levando o verdadeiro crente à santificação e uma vida cristã sadia e conforme os ensinamentos básicos de Cristo. Mas algumas, sem dúvidas, excedem e muito a sã doutrina e já entram num campo perigoso chamado de heresia e apostasia. Algumas posições teológicas ou práticas espirituais se enquadram no nocivo “outro evangelho”.
Portanto, qualquer ensinamento a respeito das escrituras que não estão evidentes não pode ser ensinado como doutrina, mas sim como “aspectos doutrinários”, “práticas espirituais”, “alcances inspirados das Escrituras”, etc. Caso seja ensinado que é irrevogável ou inquestionável por ser revelação de Deus, temos que esperar muitos outros grupos receberem de Deus também essa mesma revelação (pois o Espírito é o mesmo), mas enquanto a revelação divina estiver como exclusiva a um determinado grupo e não for ensinada, passada e aceita (pelo testificar do mesmo Espírito) a outros, ela pode, no máximo, ser considerada como uma prática espiritual da igreja em questão, mesmo como inúmeras experiências da membresia em torno dessa prática. Crer que Deus revela seus mistérios apenas a um grupo, é dizer que o Espírito Santo tem estado ausente nos outros grupos e isso não é verdade, além de ser puro sectarismo religioso. O que tem de ser feito? Tudo que está no nível de revelação divina, deve ser mais bem ensinado, separado e testificado entre os crentes, parte do Corpo de Cristo (que não representa uma só denominação religiosa), a Igreja de Deus. Feito isso na graça de Jesus, creio que muitos crentes em Deus testemunharão com suas próprias vidas a eficácia de cada aspecto doutrinário ensinado. Se for algo revelado então, Deus triunfará com sua sã doutrina e a obra redentora do Espírito Santo será vivida entre os verdadeiros crente em Jesus. Portanto, a prática espiritual ou entendimento a respeito de algo bíblico, deve se tornar universal para, enfim, receber o coroamento de doutrina. Esse “se tornar universal” não tem relação nenhuma com o “ecumenismo”. Não estamos falando de um ecumenismo, mas sim de uma doutrina sã e vivida por todos sem exclusividade religiosa e sectarismo. Vale lembrar que a obra do Espírito Santo no tempo da igreja primitiva foi testificada de forma geral pelo mesmo Espírito na vida dos crentes. Embora houvesse algumas discussões ali em torno de alguns pontos, o operar do Espírito Santo foi genuíno e as doutrinas foram estabelecidas de forma geral, ou seja, o mesmo Espírito Santo que batizava os crentes no ministério de Pedro, batizava e ensinava no distante ministério de Paulo. Eram ministérios diferentes, às vezes divergentes, mas confirmados pela sã doutrina que era sim algo revelado e novo para os que estavam ali. Paulo não recebeu nenhuma revelação divina exclusiva que o manteve separado das igrejas em Jerusalém, tanto é que Pedro, embora ministrasse para a circuncisão , recebeu a mesma revelação divina a respeito dos gentios como Paulo também recebera. Nisso vemos que a doutrina do Espírito Santo era clara e universal.
Para uma revelação divina ou entendimento bíblico se tornar uma evidente doutrina bíblica, o sentido ou essência espiritual deve estar suficientemente manifesto na Palavra de Deus. Sabemos que a Palavra de Deus (Bíblia) enquanto conjunto de livros inspirados pode ser revelado pelo mesmo Espírito que a inspirou. Nesse contexto de “revelação”, podem surgir sim novos entendimentos, porém fincados na essência bíblica explícita, não ultrapassando a verdade de Cristo. Mas a doutrina será somente aquilo que está já evidente como tal. Exemplo: Se Jesus ou os apóstolos ensinaram e está devidamente registrado nas Escrituras, podemos chamar de DOUTRINA. Mas, fora disso, qualquer conceito doutrinário ou dogmático dado pela INTERPRETAÇÃO bíblica, tendo como base única os ensinamentos bíblicos e genuína aplicação bíblica, contextualizada e que agrega os valores da sã doutrina, tal conceito doutrinário NÃO PODE ser chamado de DOUTRINA, no entanto, não é simplesmente HERESIA, mas sim um DOGMA que não ultrapassa a sã doutrina de Cristo. Muitos entendem como “ultrapassar a doutrina de Cristo” algo que está simplesmente diferente do que está escrito e isso não é verdade. Temos que nos afastar também desse fundamentalismo bíblico e não ter a Escritura como “regra” (no sentido legalista) ou como um simples manual de conduta. Mas ela deve, além disso, produzir vida e bons frutos no crente e fazer o mesmo se achegar mais a Deus e não afastá-lo de Deus. Aliás, o que afasta é apostasia e apostasia é o conteúdo objetivo da heresia. Logo, se uma doutrina, um conceito doutrinário, prática ou dogma que leva o crente a Deus, expõe a graça de Deus e sua glória, diminui o homem e eleva a Cristo e entende a salvação em Cristo no sentido bíblico da mesma não pode ser chamada de heresia, pois ela não afasta, mas agrega. Se o Diabo é o mentor da heresia, logo ele quer afastar o crente de verdade. Se existe uma heresia que leva o crente a Deus, de que lado o Diabo está?
Para um estudo bíblico eficaz na defesa da fé cristã e da sã doutrina, precisamos ter um referencial único: JESUS CRISTO, a base, o fundamento referencial para qualquer edificação conceptual doutrinária e espiritual. O que ultrapassa o Evangelho de Jesus Cristo é já condenado pelas escrituras. Porém devemos lembrar aqui que muitas doutrinas consideradas universalmente “doutrinas bíblicas” não foram diretamente ensinadas pelos apóstolos e nem por Cristo, mas são frutos de interpretação bíblica (que talvez por fé poderemos chamar de inspiração bíblica). Mas, se aquilo que é ensinado, mesmo não podendo se elevar ao nível de doutrina ou “verdade cristã absoluta”, for ou estiver conforme os ensinamentos de Jesus Cristo, levando o verdadeiro cristão à santidade e a uma vida espiritual moldada segundo os parâmetros de Cristo, não poderá ser chamada de heresia ou engano. Da mesma forma, não poderá ser chamada de “doutrina bíblica” simplesmente pelo zelo em conservar a sã consciência cristã diante de Deus e do mundo. Como escreveu George Whitefield , “é uma verdade indubitável que toda doutrina que vem de Deus, conduz a Deus, e o que não vos tende a promover a santidade, não é de Deus”. Bem, vamos ao conceito-chave da palavra doutrina e da palavra dogma.
2.1 Diferenciando os termos: o que é doutrina? O que é dogma?
O termo doutrina pode ser cuidadosamente definido como o conjunto de princípios que servem de base a um sistema religioso, político, filosófico, militar, pedagógico, entre outros. Está sempre relacionado à disciplina, e a qualquer coisa que seja objeto de ensino. No campo religioso cristão é considerado (na maioria dos conceitos) como aquilo que se crê, ou seja, aquilo que está na revelação escrita ou oral cuja base é a Bíblia (os católicos romanos chamam de credo). Para a grande parte dos cristãos, principalmente para os protestantes, só pode ser chamado de doutrina aquilo que está explícito na Bíblia como tal. Citaremos exemplos.
Na Reforma Protestante, por exemplo, os pilares instituídos tiveram como base, segundo os pensadores da reforma, os pontos explícitos, evidentes e básicos da Bíblia para a fé cristã como a Sola Scriptura (Somente a Bíblia e toda a Bíblia como via única de fé); Solus Christus (Somente Cristo salva e intercede, garantindo ao crente o livre sacerdócio); Sola Gratia (Somente a Graça por meio da fé e não pelas obras); Sola Fide (Somente a Fé) e Soli Deo Gloria (Somente a Deus Glória). Esses pontos teológicos foram e são aceitos no meio protestante e evangélico como “doutrina” porque se tornaram conceitos universais apoiadas pelos textos bíblicos claros que respaldam todos esses pontos. Com essa instituição “doutrinária”, excluiu-se definitivamente a Tradição Apostólica que era de suma importância para a igreja apostólica romana. A Igreja Católica colocava a Tradição como equivalente na teoria, mas superior na prática. Mas a Reforma Protestante colocava a Bíblia como única “regra” de fé e instituía os cinco pilares não como conjunto doutrinário exaustivo, mas básico para a prática cristã. Nessa perspectiva histórica e cultural, o termo “doutrina” cujo principal significado é “ensinamento” ou “ordenança” (em muitos textos bíblicos à luz do original) ganhou força como: conceitos, preceitos e aspectos explícitos na Bíblia, ou seja, aquilo que não carece de um estudo extenuante para a sua afirmação. Exemplo: a doutrina “Deus” ou “Salvação através de Jesus Cristo” são aspectos bíblicos confirmados pela própria Bíblia, ou seja, a Bíblia ENSINA tais aspectos e por serem UNIVERSALMENTE aceitos, podem receber o coroamento de doutrina bíblica.
Se doutrina tem sua raiz bíblica (hebraico/grego) ligada à palavra “ensinamento”, tudo que a Bíblia explicitamente ensina pode ser considerado, com base no conceito geral, DOUTRINA ou “doutrina bíblica. Já, no nível de exemplo, o aspecto bíblico ou doutrinário conhecido comumente como “Trindade” não está explícito na Bíblia e, portanto, não é evidentemente ensinada, gerando assim outros conceitos bíblicos diferentes. A isso, chama-se, geralmente “dogma”. Embora venha soar estranho para nós, a “Trindade”, por exemplo, é um conceito dogmático e não doutrinal. Isso não interfere no valor conceptual e na qualidade espiritual dessa posição teológica inspirada que, para nós cristãos, é uma verdade bíblica e geralmente aceita como doutrina. Mas esses conceitos apresentados aqui estão na forma de pressupostos apenas e não afirmações, aliás, o presente artigo não tem a pretensão de afirmar nada, mas apenas expor conceitos. A separação entre doutrina e dogma geralmente é feita com base no entendimento religioso, cultural e tradicional e não etimológico. Etimologicamente, doutrina e dogma são conceitos semelhantes, aliás, a tradução da palavra “doutrina” para o grego é δόγμα (dogma) cujo significado está em torno de “ensinamento”, “preceitos”, “normas”, “conjunto de crenças”, “instituições normativas”, etc. Mas, para não basearmos somente em idéias comumente aceitas, vamos analisar à luz da etimologia e lexicologia.
A idéia de doutrina, portanto, pode ser considerada aqui como: conjunto de princípios, ensinamentos, práticas, e conceitos explicitamente bíblicos, ou seja, evidentes e inquestionáveis no universo cristão como os exemplos citados anteriormente. A principal forma de propagação de uma doutrina ou de um conjunto doutrinário exaustivo é através do ensinamento.
Na segunda carta do apóstolo João, no verso nove, o termo doutrina (escrito em grego) contribui para essa tese. Vejamos:
“Todo aquele que prevarica (ou corrompe) e não persevera na doutrina de Cristo não tem a Deus” .
A palavra doutrina foi escrita na referida carta como “didachê” (termo do grego coiné). Esse termo expressa, muitas vezes, o ato de ensinar ou expor. Significa também o mesmo termo conhecido por nós – doutrina -, embora, em alguns textos, doutrina está no original como “dogma” (δόγμα), como vem acima. O significado básico de “dogma” é: "aquilo que aparenta; opinião ou crença”. Também pode ser definido por uma lei civil ou eclesiástica (uma imposição eclesiástica que pode ser doutrinária ou cultural) baseada em entendimentos congregacionais ou entendimentos de particular interpretação de uma doutrina bíblica ou um credo (no caso da igreja romana). A palavra dogma, por sua vez derivada do verbo δοκέω (dokeo) que significa "pensar, supor, imaginar", está comumente ligada a conceitos implícitos da Bíblia que, embora estando implícitos, podem ser considerados como “verdade a ser aceita” como no caso da “Trindade”. O termo “dogma”, analisado no original grego, é um termo ligado a “ordenanças de pessoas da nobreza” como reis, príncipes ou autoridades espirituais como sacerdotes e, no nosso caso, líderes eclesiásticos e apóstolos (os pais da Igreja). Nesse horizonte etimológico, poderíamos até dizer que uma doutrina extremamente e explicitamente bíblica também é dogma, pois é uma ordenança transmitida que irá passar primeiro no campo das idéias. Mas é preciso separar ambos os conceitos de forma didática e precisa, pois essas duas palavras, embora semelhantes em relação a suas raízes, tomaram, podemos dizer, rumos conceptuais diferentes. Portanto, para a nossa analise ficar mais bem entendida, vamos considerar o seguinte: DOUTRINA é aquilo que está posto de forma evidente e inquestionável (dentre os cristãos) na Bíblia e está afirmada por uma hermenêutica e exegese segura. DOGMA, portanto, é (na minha análise) um aspecto doutrinário ou, como quiserem conceitos e preceitos estabelecidos através de ideias e interpretações baseadas na DOUTRINA ou no conjunto de escritos bíblicos. O dogma é uma chancela de algo, seja da tradição, seja da particular interpretação com alguma coerência bíblica. O que não é coerente com a BASE doutrinária explícita não pode nem ser elevado ao conceito de dogma, mas, pela falta de total respaldo ou por ferir a essência, é já uma HERESIA.
Muitas vezes o dogma caracteriza um grupo religioso do outro em suas interpretações e formas de julgar cada aspecto bíblico e doutrinário. Em um determinado grupo o “conceito dogmático” pode ser sadio e não ultrapassar a essência dos ensinamentos evidentes de Cristo ou podem ser simplesmente heréticos. Essas interpretações e formas de agir eclesiásticas, portanto, ganharam o nome de “dogmas”, mas se ultrapassam e transgridem a “sã doutrina” (a própria Bíblia como regra de fé) é configurada como heresia, daí, portanto, tal grupo religioso pratica a apostasia.
Um exemplo clássico: Se um grupo religioso diz que Cristo salva, mas para ser salvo é preciso santidade além da graça soberana e por isso se abstém do mundo buscando uma santidade, tal grupo defende um dogma: “salvação condicional” ou eleição condicional. Pois esses conceitos não estão biblicamente explícitos (por isso é palco de uma longa discussão teológica entre calvinistas e arminianos). Mas se outro grupo diz que Cristo salva e Maria também salva, ultrapassam gravemente a sã doutrina configurando uma heresia pela falta extrema de evidencia bíblica ou por basearem-se apenas em uma tradição religiosa passada como “verdade a ser crida”, mas que fere a BASE que é Cristo, o único e suficiente salvador.
2.2 Separações didáticas entre doutrina, dogma e heresia
O que quero, de fato, já eliminar aqui é a idéia de que TODO aspecto doutrinário considerado “dogma” por não estarem explícitos na Bíblia como as demais doutrinas-base e evidentes são heréticos. Isso não é verdade. Existem muitas interpretações que, mesmo não podendo chegar ao nível de doutrina, não fogem da Verdade bíblica e não se afastam da base. Vou dar um exemplo: “Divindade de Jesus”. A bíblia, assim como no caso da “Trindade” não fala esclarecidamente “Jesus é Deus e ponto final”, mas dá variadas margens interpretativas que nos assegura tal conceito como uma verdade bíblica. Poderíamos dizer que “Divindade de Jesus” é um dogma respaldado hermeneuticamente pela Palavra de Deus, portanto está facilmente co-relacionada com “doutrina bíblica”. Embora muitos ainda não saibam essa questão doutrinária ganha interpretações erradas em alguns grupos como é no caso das Testemunhas de Jeová . As TJ crêem que Jesus não é Deus, indo na contramão da essência cristã. Sendo assim, esse mencionado grupo tem um “dogma” a respeito desse ponto bíblico, porém o “dogma”, como “interpretação particular” de um aspecto bíblico se torna heresia por ultrapassar e ferir a essência e o limite doutrinário que é a própria BASE (Jesus Cristo).
Não defendo, nessa análise, a veracidade de dogmas ou a validade dos mesmos, mas apenas analiso ambos os conceitos e verifico a periculosidade de um “dogma” ou de uma “doutrina” se tornarem heréticos por não estarem firmados ou respaldados na BASE (que é Cristo). Heresia, como já sabemos, é tudo aquilo que ultrapassa a sã doutrina e não é coerente com o projeto ou a obra redentora de Jesus Cristo, chegando ao ponto de até ferir a essência espiritual do Evangelho de Jesus Cristo. Podemos aceitar, como simples gráfico mental, que “dogma” é uma espécie de “ponte” que pode estar ligada à doutrina explicitamente bíblica se for coerente com o projeto divino ou não ferir os preceitos da obra redentora de Cristo. Por outro lado, como “ponte” pode levar o crente à heresia e apostasia se o aspecto doutrinário for errôneo e incoerente, ferindo a base e ultrapassando aquilo que é santo. Precisamos observar em nossas igrejas se o que é ensinado é verdadeiro e seguro em relação à sã doutrina e o projeto redentor e profético. Às vezes a essência e a veracidade da prática espiritual ou doutrina é deturpada por maus ensinamentos. Por exemplo: se digo que orar clamando o poder do sangue de Jesus é necessário em algumas orações específicas como a petição de um renovo, de um perdão, de uma comunhão, de uma acusação, etc. não estou de forma alguma indo contra os princípios bíblicos, afinal, dizer com ousadia e fé na minha oração (que é a minha conversa íntima com meu Criador) que há, de fato, poder no sangue de Jesus não configura nenhuma heresia por que existem margens nas Escrituras que podem sustentar minha saudável prática. Mas se ensino que é só dessa forma que se chega a Deus, ou é somente assim que Deus me ouve referindo-me ao dizer determinadas palavras ou frases na minha oração como condição de entrar no santo dos santos, valorizando mais a frase do que a sinceridade de minha oração estou ferindo a sã doutrina, pois coloco uma condicionalidade desnecessária, desvalorizando o sacrifício perfeito de Cristo. Daí posso passar facilmente da sadia prática espiritual para a heresia.
Para separarmos ainda mais claramente e didaticamente, vemos que o conceito ou aspecto doutrinário enquanto simples posição teológica, cultural ou idealística não pode elevar-se ao nível de doutrina. Já uma ordenança bíblica clara (que também pode ser traduzida como dogma) pode ser chamada doutrina, por ser explícita e proveniente do colégio apostólico ou do próprio Senhor Jesus. Uma revelação direta de Deus, por exemplo, pode ser considerada doutrina, se for respaldada pala Palavra de Deus e estiver amplamente firmada nas verdades bíblicas evidentes e for aceita universalmente. Sendo assim, as revelações divinas não podem vir como “algo a mais”. Posso citar aqui outra vez o exemplo do “clamor pelo sangue de Jesus”, uma prática espiritual muito utilizada em casos específicos em vários grupos e que na Igreja Cristã Maranata ganhou uma posição de doutrina ou supostamente “doutrina revelada”. Bem, prefiro manter uma posição cética e não vamos dedicar esse estudo em defesa de fé doutrinária e nem em refutação da mesma, mas sim em análise. A citada prática espiritual que, no meu entendimento, não ultrapassa o projeto redentor de Cristo e nem os seus ensinamentos não pode ser considerada herética, mas, por não ser usada e aceita de forma geral no meio protestante- evangélico, não pode ser considerada doutrina. Por ser proveniente de um aspecto doutrinário (o poder do sangue de Jesus que é bíblico), pode ser vista aqui como uma prática espiritual ou uma expressão de fé na oração ou um ato de exprimir a confiança, a liberdade e a ousadia de entrar no santuário pelo poder salvífico do sangue de Jesus, o ápice da Nova Aliança. A heresia, nesse exemplo citado, poderia configurar-se no ensinamento errôneo que citei anteriormente de que “só com esse tipo de oração, Deus nos ouvirá e nos aceitará”.
A diferença básica entre os dois termos não é extrema. O primeiro termo (doutrina) demonstra como já vimos a prática ou o ato do ensinamento ou da exposição de uma idéia ou de um conjunto de idéias e também algo vindo direto de Deus com comprovações seguras e o segundo termo (dogma) expressa uma idéia colocada, interpretada ou sugerida, independente de um ensinamento ou não; traz a idéia de “preceitos externos”, enquanto doutrina dá a idéia de “conceitos já claramente estabelecidos”. Para o segundo termo (dogma), basta, às vezes, uma simplória exposição e a plena aceitação dos ouvintes em determinadas congregações. Mas, etimologicamente, doutrina e dogma sendo apresentadas a nós como conceitos diferentes, não se distanciam muito uma da outra a não ser no seu entendimento e uso comum. Um conceito posto ou sugerido no nível de dogma pode estar respaldado pela Palavra de Deus e pode não ultrapassar os limites doutrinários cuja principal referência é a Bíblia. Por exemplo: o conceito de salvação calvinista e arminiano que mencionei anteriormente. Ambos os conceitos podem ser considerados dogmas (pensamentos/idéias) cuja base bíblica é a doutrina da salvação (explícita). Inclusive, se uma só é a verdade, logo um dos dois conceitos está errado. Se está errado, logo é mentira. Se é mentira, logo é heresia e engano. Mas eu pergunto: crer que Deus elegeu de antemão alguns e que a graça é irresistível ou crer que Deus elegeu a todos e que temos livre participação nesse processo muda a essência da coisa? Nesse exemplo, o que de fato é necessário para se chegar a Deus e ser salvo? Simplesmente crer que a salvação vem de Deus (pela graça), e se concretiza mediante a fé no Cristo. Basta! Para o nosso entendimento, nesse caso, a salvação é explicitamente doutrina bíblica, porém as práticas do ensinamento de uma das duas correntes teológicas citadas estão no nível de dogma, uma vez que são idéias (de cunho bíblico) apresentadas como possíveis “verdades”. Mas, existem conceitos bíblicos passados no campo das idéias e interpretações que alcançam uma maior comprovação bíblica (hermeneuticamente e exegeticamente) sendo assim considerada doutrina bíblica como, por exemplo, um dos pilares da Reforma Protestante: Sola fide. Considera-se doutrinal no meio protestante a idéia de que a salvação é por meio da fé e a fé é um recurso proveniente da graça ou como quisermos, o único meio de graça, no entanto, vem de Deus para que ninguém se glorie .
O fato é que, popularmente, a idéia de dogma está de modo geral ligada à prática ou doutrina eclesiástica inquestionável ou herética. Mas “heresia” não define “dogma”. São conceitos diferentes. Não são termos ligados, mas são termos ligáveis como no exemplo dado anteriormente da “ponte”. Um dogma (conceito ou interpretação) totalmente fora da BASE e que fere a sã doutrina é heresia. Do contrário, um entendimento específico de um ponto bíblico estando em conformidade com a essência espiritual cristã não é. Sendo assim ambos são conceitos diferentes. Vou dar um exemplo simples: Se uma denominação entende que, para agradar a Cristo é necessário total desapego ao material e financeiro, não estão ferindo a essência, pois não transgridem a autoridade e a divindade de Cristo, antes buscam dessa forma a santificação baseados num interesse sincero e saudável. O que não pode acontecer é o fato desse grupo começar a pregar que “a salvação consiste em nosso esforço em nos abstermos” ou “Isso é o certo” ou que isso “foi revelado divinamente assim, portanto, quem não pratica dessa forma não alcança a graça de Cristo”. Daí configura-se um erro, uma heresia.
Um conjunto de idéias descontextualizadas e errôneas pode estar no nível de dogma por serem idéias e entendimentos a respeito de algo e pode se tornar doutrina herética (não bíblica), mas jamais podem se tornar doutrina genuinamente bíblica, a não ser se tal idéia ou entendimento de algo estiver firmada e respaldada claramente na base que é Cristo, o Verbo vivo, a própria Palavra de Deus e se for aceita universalmente enquanto tal. O que importa é a base (Cristo). Ele é o centro de toda doutrina (ensinamento), por isso Ele foi categórico ao dizer que as Escrituras testificavam dele . Nessa perspectiva, Paulo escreveu a Tito o seguinte: “retendo firme a fiel palavra, que é CONFORME a doutrina...” . Ou seja, tudo, para receber o coroamento de ‘doutrina’ ou preceitos externos (dogmas ou conceitos válidos e sadios para a fé cristã), deve estar conforme a doutrina cujo significado é “ensinamento”. Ensinamento de quem? De Cristo. Ele é, portanto, a base, o nosso firme fundamento. Vamos entender mais sobre isso ao longo dessa análise [...]"
Continua...
Deixo mais uma vez uma análise minha (reformulada e em processo) e, como de costume, ficou um pouco grande. Mas para quem for corajoso e curioso vai ler com certeza. Concordando ou não, creio que a leitura está cativante. Esforcei-me para isso. Contudo, diante dos meus escritos que estão ainda em caráter experimental, digo que: nada além das Escrituras! Só a Palavra basta!
Boa leitura!
"O Conteúdo da heresia é a apostasia. Toda heresia tende a afastar o indivíduo de Deus. Jamais uma doutrina ou prática que leva o homem a Cristo e o reconcilia com Deus pode ser chamada de heresia, afinal, o Diabo não leva ninguém a Deus, apenas afasta"
“É uma verdade indubitável que toda doutrina que vem de Deus, conduz a Deus, e o que não vos tende a promover a santidade, não é de Deus” (George Whitefield)
Parte do artigo de Gabriel Felipe M. Rocha.
(artigo em processo)
"CONCEITO DE “SÃ DOUTRINA”, E O CARÁTER ESPIRITUAL DAS ESCRITURAS (DOUTRINA/ DOGMA/ HERESIA)
“[...] Na própria Reforma Protestante, a obra redentora do Espírito foi testificada na História e o avivamento aconteceu cuja ênfase estava na supremacia da Palavra de Deus e na revelação de Cristo como fortaleza, na salvação pela graça e pela segurança da mesma em Cristo, em Jesus como verdadeira e única esperança para o crente e refúgio em Deus para todos mediante a fé por meio da graça. Ali havia um remanescente que estava de coração aberto para receber a Palavra de Deus e, a partir daí, a contínua obra redentora do Espírito Santo no seio da Igreja Fiel de Cristo foi retomada de forma notória. Muitas igrejas se consolidaram nessa experiência com a Palavra e firmaram suas estacas na verdade bíblica. Igrejas ditas “protestantes históricas” ou tão somente “históricas” surgiram como oposição religiosa ao sistema religioso vigente. Mas não poderia ficar apenas nisso. O que foi conquistado no Pentecostes haveria de ser derramado sobre a Igreja que já guardava o grande tesouro (a Palavra de Deus) e, assim, coisas novas aconteceriam e muitos veriam e participariam do ministério de poder do Espírito Santo por meio do batismo espiritual e dons espirituais. Assim, o legado, a herança estava sendo mantida e repassada, até que os grandes avivamentos espirituais aconteceram onde o Evangelho transgrediu as fronteiras humanas, litúrgicas e históricas e chegou até mesmo a lugares inóspitos. A experiência do batismo com o Espírito Santo foi vivida e notificada, grandes avivamentos aconteciam e a principal característica desses avivamentos estava no desejo de cumprir a Palavra do Cristo e levar o Evangelho a toda criatura. Foi dada, então, a chave de Davi que ninguém fecharia.
Para muitos, porém, a sã doutrina se tornou um mandamento rigorosamente sistematizado e formalizado, um ritual ou uma liturgia sempre a ser observada, mas que não produz vida e nem frutos visíveis. O legado foi apenas histórico. Vivem alguns uma ortodoxia morta. Tem doutrina, mas não tem vida. A doutrina deve produzir e gerar vida. Pelo contrário é apenas ortodoxia morta. Pode-se fazer uma análise doutrinária de A a Z, mas toda essa ortodoxia é ineficaz e não há vida nela. Há muitas igrejas “históricas” neste país que estão morrendo por não viverem a experiência com a abundante benção do Espírito Santo. Continuam solenes (pela grande bagagem histórica e heróica do protestantismo), porém mortas. Não tem heresia, mas também não tem vida. Não tem heresia, mas também não tem amor, não tem heresia, mas também não tem evangelização aos pobres, não tem heresia, mas também não tem vibração por Deus, não há avivamento algum. São igrejas boas, porém sem vida de Deus. Deus é um Deus pessoal e ama o relacionamento com o homem no qual Ele escolheu para viver essa relação recíproca. E do mesmo modo, na outra extremidade, reforçando o que já foi dito, as aventuras do pentecostalismo moderno produzem crentes imaturos e distantes da verdade bíblica.
A relevância da presente análise está, também, na possibilidade de um maior esclarecimento em torno da questão “doutrina”.
Dessa forma, tentaremos mostrar que a doutrina produz vida, pois a Palavra é viva. É boa e segura a liturgia tradicional e muitos devem rever os valores e se apegar aos ganhos da Reforma e voltar ao modelo tradicional de culto, de cultura, costume, etc., no entanto, não devemos abandonar ou recusar os valores do genuíno pentecostalismo, pois ambos na verdade podem convergir mais do que simplesmente divergir.
O objetivo geral do presente artigo é pensar e definir o conceito de “doutrina” e seu caráter não só legalista ou normativo ou disciplinar, mas também seu caráter profético , embora, para isso, devemos fazer uma análise do termo “profético”, pois o termo tem recebido valores estranhos ao seu real significado dentro de algumas igrejas pentecostais, principalmente de segunda e terceira onda pentecostal ou, mais precisamente, no neopentecostalismo brasileiro. Temos como parte de nosso objetivo, o interesse de mostrar o que é doutrina para a Igreja de Jesus , sua transcendência e o seu valor espiritual, seu caráter prático e moral e também seu caráter profético e, nesse contexto, verificar a fundamental participação do Espírito Santo na consolidação doutrinária através dos tempos ante os riscos e tentativas diversas de agregação herética no contexto da sã doutrina de Cristo. Aliás, um dos maiores desafios da Igreja pela história foi a preservação da sã doutrina diante das tantas heresias que surgiam e tentavam ser introduzidas no seio da Igreja. Hoje esse desafio continua posto. Para ser específico, esse desafio não só continua posto, mas é ainda maior na atualidade diante das tantas ramificações ditas cristãs que crescem e se espalham pelo mundo, inclusive em nosso país. Aliás, esse fenômeno acontece fortemente aqui no Brasil e por isso existe a preocupação com a saúde espiritual dos crentes que aderem a esses movimentos. Precisamos, o quanto antes, voltar ao Evangelho, porém se esquecer que Evangelho é poder de Deus e poder de Deus, para nós, é obra exclusiva do Espírito Santo e implica uma total dependência da operação do mesmo. A característica central do livro de Atos (cujo livro é a referência principal para a missão e conduta da Igreja) é a total submissão à voz do Espírito Santo.
A Igreja de Jesus Cristo, percorrendo pela história, sofreu algumas alterações em relação ao seu formato original conhecido como “período apostólico” ou “Igreja Primitiva”. A Igreja ao longo da História foi perseguida, cresceu, institucionalizou-se, separou-se e ramificou-se. Vemos tão facilmente hoje essa ramificação. Nesse contexto histórico, a sã doutrina de Cristo se viu ameaçada ou simplesmente esquecida em algumas instituições. Em outros grupos, a sã doutrina recebeu itens a mais, conceitos extras que colocaram e colocam ainda em risco a verdadeira cristandade ou espiritualidade cristã por conta de valores extras ou alheios a ela. São várias igrejas ditas “evangélicas” que, somando com as mais tradicionais, temos, só no Brasil, cerca de 42.275.438 evangélicos . Segundo o Censo de 2010, a população evangélica do país representa 22,2% da população nacional, ou seja, 42,3 milhões de pessoas. Como está sendo elaborado o conceito de doutrina nessas tantas igrejas?
Vemos principalmente nos grupos neopentecostais (ou pentecostais modernos) variedades de conceitos, experimentalismos estranhos às Escrituras, heresias, teologias frágeis à Palavra de Deus, ênfases em revelações e em manifestações espirituais, pragmatismo religioso, ostracismo religioso, desapego à leitura e ao estudo bíblico, ênfase ao subjetivismo e também ao corporativismo, denominacionalismo e sectarismo.
Diante de tantos conceitos e crenças que são ensinados, nos preocupamos aqui em trabalhar o conceito de “doutrina bíblica”, pois questionamos se, de fato, alguns ensinamentos e conceitos podem receber o coroamento de doutrina ou não. Não vamos nos prender aqui falando sistematicamente de cada doutrina cristã. Não! Mas apenas apontaremos para o núcleo doutrinário da fé cristã ou, para a base doutrinária da fé cristã que aqui chamaremos de forma genérica de “sã doutrina”. Tendo em vista essa referência e esse alicerce, mostraremos o que, junto com as doutrinas centrais e universalmente conhecidas e aceitas pela fé cristã, pode ser considerado “doutrina”, “dogma”, “disciplina ou prática cristã” e “heresia”. Tendo feita essa separação, poderemos abrir caminho para um diálogo sobre a unidade cristã em meio às diferenças denominacionais e como todas podem verificar a necessidade de voltarem ao Evangelho e ao verdadeiro avivamento sem abrir mão de alguns conceitos que podem ser sadios à fé e à sã doutrina ou, diante da verdade, abrirem mão de alguns conceitos que não estão em conformidade com a palavra de Deus e assim repensarem sua posição. Vamos aplicar aqui o termo “reformar” segundo essa perspectiva e não somente à adoção total dos valores religiosos e teológicos da Reforma Protestante, afirmando que a Reforma Protestante foi um importante e necessário marco para a História da Igreja, mas que a consolidação e o aperfeiçoamento da mesma não se resume entre as “quatro paredes” dos grupos reformados. [...]”
Doutrina e Dogma (conceitos)
Nas igrejas, recebemos ensinamentos muitas vezes sob forma de doutrina. Na maioria das congregações cristãs a base para o ensinamento é a Bíblia, dita a Palavra de Deus. Contudo é totalmente cabível o exame em torno daquilo que está sendo colocado como doutrina. Não é e nunca foi pecado examinar ou até mesmo questionar um ensinamento. Em algumas igrejas doutrina é facilmente confundida com usos, costumes, tradição, posições teológicas, liturgias eclesiásticas e ensinamentos extra-bíblicos.
Na concepção que presto a apresentar aqui, qualquer posição teológica, hermenêutica, tradicional que não está explícito ou evidente nas escrituras (Bíblia) não pode ser elevado ao nível de doutrina, mas sim dogma. A palavra dogma é, no meio protestante e evangélico, desconfortável, pois é facilmente associado aos credos apostólicos romanos e aos dogmas aceitos na instituição religiosa romana. Mas não é exatamente assim. Caso seja desconfortável ao ponto de fazer com que muitos se afastam da verdade, melhor que arrumem outro nome, mas não ensinem como doutrina aquilo que não é doutrina. O que a Bíblia diz que é de forma explícita e evidente, é, a não ser que não a temos como regra de fé. Mas aquilo que a Bíblia não ensina categoricamente que é, mas parece ser (mesmo estando conforme) não é. Está apenas no nível do pode ser. Logicamente, em várias igrejas, o que pode ser (no ponto de vista bíblico) é recebido como certo e como válido. Em alguns casos, práticas e ensinamentos que não estão evidentes e ensinados como tal na Bíblia, podem (mesmo não evidentes e claramente escritos) ser práticas sadias e até mesmo necessárias à vida cristã. Não me coloco a escrever essa pequena análise a fim de refutar “doutrinas” e nem defendê-las, mas sim separar aquilo que de fato é doutrina e o que de fato não pode ser chamado doutrina, mesmo sendo inofensiva à sã doutrina de Cristo e estando sendo usada e ensinada de forma sadia.
Necessário é separarmos isso colocando tudo a mercê do exame e estudo das escrituras bíblicas e, no caso conceptual dos dois termos (doutrina e dogma), necessário é um melhor estudo a respeito de seus significados etimológicos e culturais. Não vou fazer aqui um estudo exaustivo sobre esses termos, mas apenas vou expor alguns pontos que julgo importantes e necessários para separarmos de forma correta aquilo que estamos aprendendo como doutrina. Inclusive, insisto, não estou sugerindo com essa análise (simples) o uso do termo “dogma”, pois esse termo ganhou uma força cultural muito forte e, infelizmente, é relacionado aos pontos de fé da instituição religiosa apostólica romana. Embora, sabemos que não é bem assim. Em muitas igrejas (cristãs), alguns pontos ou práticas são vistas com a mesma característica. Um dogma, no campo filosófico, por exemplo, é uma crença ou “doutrina imposta” que não admite contestação. No campo religioso é uma verdade divina, revelada e acatada pelos fiéis. No caso específico da Igreja Católica, os dogmas surgem como interpretações das Escrituras e, sobretudo, da Tradição e autoridade da Igreja Católica. Para algumas igrejas cristãs de cunho protestante e evangélico, embora o termo “dogma” não seja usado (por não ser aceito), consiste da mesma característica que envolve a igreja romana. Pois são pontos teológicos, espirituais, revelações, entendimentos bíblicos a respeito de tal ponto, etc. que são facilmente acatados pelos fiéis e incontestáveis por serem, em algumas igrejas, revelações divinas.
Creio na revelação divina e no constante aperfeiçoamento doutrinário (como obra exclusiva do Espírito Santo e não HUMANA). Mas tal revelação ou alcance bíblico (ou teológico) não pode ser chamado de doutrina, a não ser que alcance um nível universal. Ou seja, seja aceita e testificada na vida de todos os cristãos (que se espalham em denominações diferentes). Faço algumas perguntas reflexivas: se o Espírito Santo revela a um determinado grupo ou pessoa alguma prática espiritual ou até mesmo um ponto doutrinário de suma importância para a vida cristã e que não está em desacordo com a Palavra de Deus (sã doutrina) e esta se alinha a ela sendo pretensa vinda de Deus e, como tal, se faz sinônimo de vitória e condição indiscutível para ter de Deus a graça e a salvação, por que o mesmo Espírito Santo (o mesmo Deus) não tem o interesse de que ela se manifeste entre outros irmãos, uma vez que o Espírito Santo não é propriedade particular de uma denominação específica, mas opera aqui e ali conforme sua soberana vontade? Por que existem tantas denominações com variadas práticas diferentes? E por que é, para cada uma delas, fundamental aceitá-las e vivê-las a ponto de ir contra a vontade de Deus? Não vou dizer que tais práticas espirituais ou “doutrinas de uma igreja” excedem aquilo que a Bíblia diz se essas tantas práticas (reveladas ou não) estiverem levando o verdadeiro crente à santificação e uma vida cristã sadia e conforme os ensinamentos básicos de Cristo. Mas algumas, sem dúvidas, excedem e muito a sã doutrina e já entram num campo perigoso chamado de heresia e apostasia. Algumas posições teológicas ou práticas espirituais se enquadram no nocivo “outro evangelho”.
Portanto, qualquer ensinamento a respeito das escrituras que não estão evidentes não pode ser ensinado como doutrina, mas sim como “aspectos doutrinários”, “práticas espirituais”, “alcances inspirados das Escrituras”, etc. Caso seja ensinado que é irrevogável ou inquestionável por ser revelação de Deus, temos que esperar muitos outros grupos receberem de Deus também essa mesma revelação (pois o Espírito é o mesmo), mas enquanto a revelação divina estiver como exclusiva a um determinado grupo e não for ensinada, passada e aceita (pelo testificar do mesmo Espírito) a outros, ela pode, no máximo, ser considerada como uma prática espiritual da igreja em questão, mesmo como inúmeras experiências da membresia em torno dessa prática. Crer que Deus revela seus mistérios apenas a um grupo, é dizer que o Espírito Santo tem estado ausente nos outros grupos e isso não é verdade, além de ser puro sectarismo religioso. O que tem de ser feito? Tudo que está no nível de revelação divina, deve ser mais bem ensinado, separado e testificado entre os crentes, parte do Corpo de Cristo (que não representa uma só denominação religiosa), a Igreja de Deus. Feito isso na graça de Jesus, creio que muitos crentes em Deus testemunharão com suas próprias vidas a eficácia de cada aspecto doutrinário ensinado. Se for algo revelado então, Deus triunfará com sua sã doutrina e a obra redentora do Espírito Santo será vivida entre os verdadeiros crente em Jesus. Portanto, a prática espiritual ou entendimento a respeito de algo bíblico, deve se tornar universal para, enfim, receber o coroamento de doutrina. Esse “se tornar universal” não tem relação nenhuma com o “ecumenismo”. Não estamos falando de um ecumenismo, mas sim de uma doutrina sã e vivida por todos sem exclusividade religiosa e sectarismo. Vale lembrar que a obra do Espírito Santo no tempo da igreja primitiva foi testificada de forma geral pelo mesmo Espírito na vida dos crentes. Embora houvesse algumas discussões ali em torno de alguns pontos, o operar do Espírito Santo foi genuíno e as doutrinas foram estabelecidas de forma geral, ou seja, o mesmo Espírito Santo que batizava os crentes no ministério de Pedro, batizava e ensinava no distante ministério de Paulo. Eram ministérios diferentes, às vezes divergentes, mas confirmados pela sã doutrina que era sim algo revelado e novo para os que estavam ali. Paulo não recebeu nenhuma revelação divina exclusiva que o manteve separado das igrejas em Jerusalém, tanto é que Pedro, embora ministrasse para a circuncisão , recebeu a mesma revelação divina a respeito dos gentios como Paulo também recebera. Nisso vemos que a doutrina do Espírito Santo era clara e universal.
Para uma revelação divina ou entendimento bíblico se tornar uma evidente doutrina bíblica, o sentido ou essência espiritual deve estar suficientemente manifesto na Palavra de Deus. Sabemos que a Palavra de Deus (Bíblia) enquanto conjunto de livros inspirados pode ser revelado pelo mesmo Espírito que a inspirou. Nesse contexto de “revelação”, podem surgir sim novos entendimentos, porém fincados na essência bíblica explícita, não ultrapassando a verdade de Cristo. Mas a doutrina será somente aquilo que está já evidente como tal. Exemplo: Se Jesus ou os apóstolos ensinaram e está devidamente registrado nas Escrituras, podemos chamar de DOUTRINA. Mas, fora disso, qualquer conceito doutrinário ou dogmático dado pela INTERPRETAÇÃO bíblica, tendo como base única os ensinamentos bíblicos e genuína aplicação bíblica, contextualizada e que agrega os valores da sã doutrina, tal conceito doutrinário NÃO PODE ser chamado de DOUTRINA, no entanto, não é simplesmente HERESIA, mas sim um DOGMA que não ultrapassa a sã doutrina de Cristo. Muitos entendem como “ultrapassar a doutrina de Cristo” algo que está simplesmente diferente do que está escrito e isso não é verdade. Temos que nos afastar também desse fundamentalismo bíblico e não ter a Escritura como “regra” (no sentido legalista) ou como um simples manual de conduta. Mas ela deve, além disso, produzir vida e bons frutos no crente e fazer o mesmo se achegar mais a Deus e não afastá-lo de Deus. Aliás, o que afasta é apostasia e apostasia é o conteúdo objetivo da heresia. Logo, se uma doutrina, um conceito doutrinário, prática ou dogma que leva o crente a Deus, expõe a graça de Deus e sua glória, diminui o homem e eleva a Cristo e entende a salvação em Cristo no sentido bíblico da mesma não pode ser chamada de heresia, pois ela não afasta, mas agrega. Se o Diabo é o mentor da heresia, logo ele quer afastar o crente de verdade. Se existe uma heresia que leva o crente a Deus, de que lado o Diabo está?
Para um estudo bíblico eficaz na defesa da fé cristã e da sã doutrina, precisamos ter um referencial único: JESUS CRISTO, a base, o fundamento referencial para qualquer edificação conceptual doutrinária e espiritual. O que ultrapassa o Evangelho de Jesus Cristo é já condenado pelas escrituras. Porém devemos lembrar aqui que muitas doutrinas consideradas universalmente “doutrinas bíblicas” não foram diretamente ensinadas pelos apóstolos e nem por Cristo, mas são frutos de interpretação bíblica (que talvez por fé poderemos chamar de inspiração bíblica). Mas, se aquilo que é ensinado, mesmo não podendo se elevar ao nível de doutrina ou “verdade cristã absoluta”, for ou estiver conforme os ensinamentos de Jesus Cristo, levando o verdadeiro cristão à santidade e a uma vida espiritual moldada segundo os parâmetros de Cristo, não poderá ser chamada de heresia ou engano. Da mesma forma, não poderá ser chamada de “doutrina bíblica” simplesmente pelo zelo em conservar a sã consciência cristã diante de Deus e do mundo. Como escreveu George Whitefield , “é uma verdade indubitável que toda doutrina que vem de Deus, conduz a Deus, e o que não vos tende a promover a santidade, não é de Deus”. Bem, vamos ao conceito-chave da palavra doutrina e da palavra dogma.
2.1 Diferenciando os termos: o que é doutrina? O que é dogma?
O termo doutrina pode ser cuidadosamente definido como o conjunto de princípios que servem de base a um sistema religioso, político, filosófico, militar, pedagógico, entre outros. Está sempre relacionado à disciplina, e a qualquer coisa que seja objeto de ensino. No campo religioso cristão é considerado (na maioria dos conceitos) como aquilo que se crê, ou seja, aquilo que está na revelação escrita ou oral cuja base é a Bíblia (os católicos romanos chamam de credo). Para a grande parte dos cristãos, principalmente para os protestantes, só pode ser chamado de doutrina aquilo que está explícito na Bíblia como tal. Citaremos exemplos.
Na Reforma Protestante, por exemplo, os pilares instituídos tiveram como base, segundo os pensadores da reforma, os pontos explícitos, evidentes e básicos da Bíblia para a fé cristã como a Sola Scriptura (Somente a Bíblia e toda a Bíblia como via única de fé); Solus Christus (Somente Cristo salva e intercede, garantindo ao crente o livre sacerdócio); Sola Gratia (Somente a Graça por meio da fé e não pelas obras); Sola Fide (Somente a Fé) e Soli Deo Gloria (Somente a Deus Glória). Esses pontos teológicos foram e são aceitos no meio protestante e evangélico como “doutrina” porque se tornaram conceitos universais apoiadas pelos textos bíblicos claros que respaldam todos esses pontos. Com essa instituição “doutrinária”, excluiu-se definitivamente a Tradição Apostólica que era de suma importância para a igreja apostólica romana. A Igreja Católica colocava a Tradição como equivalente na teoria, mas superior na prática. Mas a Reforma Protestante colocava a Bíblia como única “regra” de fé e instituía os cinco pilares não como conjunto doutrinário exaustivo, mas básico para a prática cristã. Nessa perspectiva histórica e cultural, o termo “doutrina” cujo principal significado é “ensinamento” ou “ordenança” (em muitos textos bíblicos à luz do original) ganhou força como: conceitos, preceitos e aspectos explícitos na Bíblia, ou seja, aquilo que não carece de um estudo extenuante para a sua afirmação. Exemplo: a doutrina “Deus” ou “Salvação através de Jesus Cristo” são aspectos bíblicos confirmados pela própria Bíblia, ou seja, a Bíblia ENSINA tais aspectos e por serem UNIVERSALMENTE aceitos, podem receber o coroamento de doutrina bíblica.
Se doutrina tem sua raiz bíblica (hebraico/grego) ligada à palavra “ensinamento”, tudo que a Bíblia explicitamente ensina pode ser considerado, com base no conceito geral, DOUTRINA ou “doutrina bíblica. Já, no nível de exemplo, o aspecto bíblico ou doutrinário conhecido comumente como “Trindade” não está explícito na Bíblia e, portanto, não é evidentemente ensinada, gerando assim outros conceitos bíblicos diferentes. A isso, chama-se, geralmente “dogma”. Embora venha soar estranho para nós, a “Trindade”, por exemplo, é um conceito dogmático e não doutrinal. Isso não interfere no valor conceptual e na qualidade espiritual dessa posição teológica inspirada que, para nós cristãos, é uma verdade bíblica e geralmente aceita como doutrina. Mas esses conceitos apresentados aqui estão na forma de pressupostos apenas e não afirmações, aliás, o presente artigo não tem a pretensão de afirmar nada, mas apenas expor conceitos. A separação entre doutrina e dogma geralmente é feita com base no entendimento religioso, cultural e tradicional e não etimológico. Etimologicamente, doutrina e dogma são conceitos semelhantes, aliás, a tradução da palavra “doutrina” para o grego é δόγμα (dogma) cujo significado está em torno de “ensinamento”, “preceitos”, “normas”, “conjunto de crenças”, “instituições normativas”, etc. Mas, para não basearmos somente em idéias comumente aceitas, vamos analisar à luz da etimologia e lexicologia.
A idéia de doutrina, portanto, pode ser considerada aqui como: conjunto de princípios, ensinamentos, práticas, e conceitos explicitamente bíblicos, ou seja, evidentes e inquestionáveis no universo cristão como os exemplos citados anteriormente. A principal forma de propagação de uma doutrina ou de um conjunto doutrinário exaustivo é através do ensinamento.
Na segunda carta do apóstolo João, no verso nove, o termo doutrina (escrito em grego) contribui para essa tese. Vejamos:
“Todo aquele que prevarica (ou corrompe) e não persevera na doutrina de Cristo não tem a Deus” .
A palavra doutrina foi escrita na referida carta como “didachê” (termo do grego coiné). Esse termo expressa, muitas vezes, o ato de ensinar ou expor. Significa também o mesmo termo conhecido por nós – doutrina -, embora, em alguns textos, doutrina está no original como “dogma” (δόγμα), como vem acima. O significado básico de “dogma” é: "aquilo que aparenta; opinião ou crença”. Também pode ser definido por uma lei civil ou eclesiástica (uma imposição eclesiástica que pode ser doutrinária ou cultural) baseada em entendimentos congregacionais ou entendimentos de particular interpretação de uma doutrina bíblica ou um credo (no caso da igreja romana). A palavra dogma, por sua vez derivada do verbo δοκέω (dokeo) que significa "pensar, supor, imaginar", está comumente ligada a conceitos implícitos da Bíblia que, embora estando implícitos, podem ser considerados como “verdade a ser aceita” como no caso da “Trindade”. O termo “dogma”, analisado no original grego, é um termo ligado a “ordenanças de pessoas da nobreza” como reis, príncipes ou autoridades espirituais como sacerdotes e, no nosso caso, líderes eclesiásticos e apóstolos (os pais da Igreja). Nesse horizonte etimológico, poderíamos até dizer que uma doutrina extremamente e explicitamente bíblica também é dogma, pois é uma ordenança transmitida que irá passar primeiro no campo das idéias. Mas é preciso separar ambos os conceitos de forma didática e precisa, pois essas duas palavras, embora semelhantes em relação a suas raízes, tomaram, podemos dizer, rumos conceptuais diferentes. Portanto, para a nossa analise ficar mais bem entendida, vamos considerar o seguinte: DOUTRINA é aquilo que está posto de forma evidente e inquestionável (dentre os cristãos) na Bíblia e está afirmada por uma hermenêutica e exegese segura. DOGMA, portanto, é (na minha análise) um aspecto doutrinário ou, como quiserem conceitos e preceitos estabelecidos através de ideias e interpretações baseadas na DOUTRINA ou no conjunto de escritos bíblicos. O dogma é uma chancela de algo, seja da tradição, seja da particular interpretação com alguma coerência bíblica. O que não é coerente com a BASE doutrinária explícita não pode nem ser elevado ao conceito de dogma, mas, pela falta de total respaldo ou por ferir a essência, é já uma HERESIA.
Muitas vezes o dogma caracteriza um grupo religioso do outro em suas interpretações e formas de julgar cada aspecto bíblico e doutrinário. Em um determinado grupo o “conceito dogmático” pode ser sadio e não ultrapassar a essência dos ensinamentos evidentes de Cristo ou podem ser simplesmente heréticos. Essas interpretações e formas de agir eclesiásticas, portanto, ganharam o nome de “dogmas”, mas se ultrapassam e transgridem a “sã doutrina” (a própria Bíblia como regra de fé) é configurada como heresia, daí, portanto, tal grupo religioso pratica a apostasia.
Um exemplo clássico: Se um grupo religioso diz que Cristo salva, mas para ser salvo é preciso santidade além da graça soberana e por isso se abstém do mundo buscando uma santidade, tal grupo defende um dogma: “salvação condicional” ou eleição condicional. Pois esses conceitos não estão biblicamente explícitos (por isso é palco de uma longa discussão teológica entre calvinistas e arminianos). Mas se outro grupo diz que Cristo salva e Maria também salva, ultrapassam gravemente a sã doutrina configurando uma heresia pela falta extrema de evidencia bíblica ou por basearem-se apenas em uma tradição religiosa passada como “verdade a ser crida”, mas que fere a BASE que é Cristo, o único e suficiente salvador.
2.2 Separações didáticas entre doutrina, dogma e heresia
O que quero, de fato, já eliminar aqui é a idéia de que TODO aspecto doutrinário considerado “dogma” por não estarem explícitos na Bíblia como as demais doutrinas-base e evidentes são heréticos. Isso não é verdade. Existem muitas interpretações que, mesmo não podendo chegar ao nível de doutrina, não fogem da Verdade bíblica e não se afastam da base. Vou dar um exemplo: “Divindade de Jesus”. A bíblia, assim como no caso da “Trindade” não fala esclarecidamente “Jesus é Deus e ponto final”, mas dá variadas margens interpretativas que nos assegura tal conceito como uma verdade bíblica. Poderíamos dizer que “Divindade de Jesus” é um dogma respaldado hermeneuticamente pela Palavra de Deus, portanto está facilmente co-relacionada com “doutrina bíblica”. Embora muitos ainda não saibam essa questão doutrinária ganha interpretações erradas em alguns grupos como é no caso das Testemunhas de Jeová . As TJ crêem que Jesus não é Deus, indo na contramão da essência cristã. Sendo assim, esse mencionado grupo tem um “dogma” a respeito desse ponto bíblico, porém o “dogma”, como “interpretação particular” de um aspecto bíblico se torna heresia por ultrapassar e ferir a essência e o limite doutrinário que é a própria BASE (Jesus Cristo).
Não defendo, nessa análise, a veracidade de dogmas ou a validade dos mesmos, mas apenas analiso ambos os conceitos e verifico a periculosidade de um “dogma” ou de uma “doutrina” se tornarem heréticos por não estarem firmados ou respaldados na BASE (que é Cristo). Heresia, como já sabemos, é tudo aquilo que ultrapassa a sã doutrina e não é coerente com o projeto ou a obra redentora de Jesus Cristo, chegando ao ponto de até ferir a essência espiritual do Evangelho de Jesus Cristo. Podemos aceitar, como simples gráfico mental, que “dogma” é uma espécie de “ponte” que pode estar ligada à doutrina explicitamente bíblica se for coerente com o projeto divino ou não ferir os preceitos da obra redentora de Cristo. Por outro lado, como “ponte” pode levar o crente à heresia e apostasia se o aspecto doutrinário for errôneo e incoerente, ferindo a base e ultrapassando aquilo que é santo. Precisamos observar em nossas igrejas se o que é ensinado é verdadeiro e seguro em relação à sã doutrina e o projeto redentor e profético. Às vezes a essência e a veracidade da prática espiritual ou doutrina é deturpada por maus ensinamentos. Por exemplo: se digo que orar clamando o poder do sangue de Jesus é necessário em algumas orações específicas como a petição de um renovo, de um perdão, de uma comunhão, de uma acusação, etc. não estou de forma alguma indo contra os princípios bíblicos, afinal, dizer com ousadia e fé na minha oração (que é a minha conversa íntima com meu Criador) que há, de fato, poder no sangue de Jesus não configura nenhuma heresia por que existem margens nas Escrituras que podem sustentar minha saudável prática. Mas se ensino que é só dessa forma que se chega a Deus, ou é somente assim que Deus me ouve referindo-me ao dizer determinadas palavras ou frases na minha oração como condição de entrar no santo dos santos, valorizando mais a frase do que a sinceridade de minha oração estou ferindo a sã doutrina, pois coloco uma condicionalidade desnecessária, desvalorizando o sacrifício perfeito de Cristo. Daí posso passar facilmente da sadia prática espiritual para a heresia.
Para separarmos ainda mais claramente e didaticamente, vemos que o conceito ou aspecto doutrinário enquanto simples posição teológica, cultural ou idealística não pode elevar-se ao nível de doutrina. Já uma ordenança bíblica clara (que também pode ser traduzida como dogma) pode ser chamada doutrina, por ser explícita e proveniente do colégio apostólico ou do próprio Senhor Jesus. Uma revelação direta de Deus, por exemplo, pode ser considerada doutrina, se for respaldada pala Palavra de Deus e estiver amplamente firmada nas verdades bíblicas evidentes e for aceita universalmente. Sendo assim, as revelações divinas não podem vir como “algo a mais”. Posso citar aqui outra vez o exemplo do “clamor pelo sangue de Jesus”, uma prática espiritual muito utilizada em casos específicos em vários grupos e que na Igreja Cristã Maranata ganhou uma posição de doutrina ou supostamente “doutrina revelada”. Bem, prefiro manter uma posição cética e não vamos dedicar esse estudo em defesa de fé doutrinária e nem em refutação da mesma, mas sim em análise. A citada prática espiritual que, no meu entendimento, não ultrapassa o projeto redentor de Cristo e nem os seus ensinamentos não pode ser considerada herética, mas, por não ser usada e aceita de forma geral no meio protestante- evangélico, não pode ser considerada doutrina. Por ser proveniente de um aspecto doutrinário (o poder do sangue de Jesus que é bíblico), pode ser vista aqui como uma prática espiritual ou uma expressão de fé na oração ou um ato de exprimir a confiança, a liberdade e a ousadia de entrar no santuário pelo poder salvífico do sangue de Jesus, o ápice da Nova Aliança. A heresia, nesse exemplo citado, poderia configurar-se no ensinamento errôneo que citei anteriormente de que “só com esse tipo de oração, Deus nos ouvirá e nos aceitará”.
A diferença básica entre os dois termos não é extrema. O primeiro termo (doutrina) demonstra como já vimos a prática ou o ato do ensinamento ou da exposição de uma idéia ou de um conjunto de idéias e também algo vindo direto de Deus com comprovações seguras e o segundo termo (dogma) expressa uma idéia colocada, interpretada ou sugerida, independente de um ensinamento ou não; traz a idéia de “preceitos externos”, enquanto doutrina dá a idéia de “conceitos já claramente estabelecidos”. Para o segundo termo (dogma), basta, às vezes, uma simplória exposição e a plena aceitação dos ouvintes em determinadas congregações. Mas, etimologicamente, doutrina e dogma sendo apresentadas a nós como conceitos diferentes, não se distanciam muito uma da outra a não ser no seu entendimento e uso comum. Um conceito posto ou sugerido no nível de dogma pode estar respaldado pela Palavra de Deus e pode não ultrapassar os limites doutrinários cuja principal referência é a Bíblia. Por exemplo: o conceito de salvação calvinista e arminiano que mencionei anteriormente. Ambos os conceitos podem ser considerados dogmas (pensamentos/idéias) cuja base bíblica é a doutrina da salvação (explícita). Inclusive, se uma só é a verdade, logo um dos dois conceitos está errado. Se está errado, logo é mentira. Se é mentira, logo é heresia e engano. Mas eu pergunto: crer que Deus elegeu de antemão alguns e que a graça é irresistível ou crer que Deus elegeu a todos e que temos livre participação nesse processo muda a essência da coisa? Nesse exemplo, o que de fato é necessário para se chegar a Deus e ser salvo? Simplesmente crer que a salvação vem de Deus (pela graça), e se concretiza mediante a fé no Cristo. Basta! Para o nosso entendimento, nesse caso, a salvação é explicitamente doutrina bíblica, porém as práticas do ensinamento de uma das duas correntes teológicas citadas estão no nível de dogma, uma vez que são idéias (de cunho bíblico) apresentadas como possíveis “verdades”. Mas, existem conceitos bíblicos passados no campo das idéias e interpretações que alcançam uma maior comprovação bíblica (hermeneuticamente e exegeticamente) sendo assim considerada doutrina bíblica como, por exemplo, um dos pilares da Reforma Protestante: Sola fide. Considera-se doutrinal no meio protestante a idéia de que a salvação é por meio da fé e a fé é um recurso proveniente da graça ou como quisermos, o único meio de graça, no entanto, vem de Deus para que ninguém se glorie .
O fato é que, popularmente, a idéia de dogma está de modo geral ligada à prática ou doutrina eclesiástica inquestionável ou herética. Mas “heresia” não define “dogma”. São conceitos diferentes. Não são termos ligados, mas são termos ligáveis como no exemplo dado anteriormente da “ponte”. Um dogma (conceito ou interpretação) totalmente fora da BASE e que fere a sã doutrina é heresia. Do contrário, um entendimento específico de um ponto bíblico estando em conformidade com a essência espiritual cristã não é. Sendo assim ambos são conceitos diferentes. Vou dar um exemplo simples: Se uma denominação entende que, para agradar a Cristo é necessário total desapego ao material e financeiro, não estão ferindo a essência, pois não transgridem a autoridade e a divindade de Cristo, antes buscam dessa forma a santificação baseados num interesse sincero e saudável. O que não pode acontecer é o fato desse grupo começar a pregar que “a salvação consiste em nosso esforço em nos abstermos” ou “Isso é o certo” ou que isso “foi revelado divinamente assim, portanto, quem não pratica dessa forma não alcança a graça de Cristo”. Daí configura-se um erro, uma heresia.
Um conjunto de idéias descontextualizadas e errôneas pode estar no nível de dogma por serem idéias e entendimentos a respeito de algo e pode se tornar doutrina herética (não bíblica), mas jamais podem se tornar doutrina genuinamente bíblica, a não ser se tal idéia ou entendimento de algo estiver firmada e respaldada claramente na base que é Cristo, o Verbo vivo, a própria Palavra de Deus e se for aceita universalmente enquanto tal. O que importa é a base (Cristo). Ele é o centro de toda doutrina (ensinamento), por isso Ele foi categórico ao dizer que as Escrituras testificavam dele . Nessa perspectiva, Paulo escreveu a Tito o seguinte: “retendo firme a fiel palavra, que é CONFORME a doutrina...” . Ou seja, tudo, para receber o coroamento de ‘doutrina’ ou preceitos externos (dogmas ou conceitos válidos e sadios para a fé cristã), deve estar conforme a doutrina cujo significado é “ensinamento”. Ensinamento de quem? De Cristo. Ele é, portanto, a base, o nosso firme fundamento. Vamos entender mais sobre isso ao longo dessa análise [...]"
Continua...
Gabriel Felipe M. Rocha é graduado em História (licenciatura e bacharelado), pós graduado em Sociologia (lato sensu), bacharel em Teologia com ênfase em História da Igreja, tem artigos publicados e registrados nessa área, atualmente está mestrando em Filosofia cuja linha de pesquisa é Ética e Antropologia. Estudou Francês Instrumental na Faculdade de Filosofia e Teologia de Belo Horizonte.
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