Análise de 1 Coríntios 1: 7 e 8
"De modo que não falta a vocês nenhum dom espiritual, enquanto vocês
esperam que o nosso Senhor Jesus Cristo seja revelado. Ele os manterá firmes
até o fim, de modo que vocês serão irrepreensíveis no dia de nosso Senhor Jesus
Cristo." (1 Coríntios 1:7-8)
Será que o versículo acima se
refere aos diversos dons naturais (ou talentos), como: louvar, tocar, servir, oratória,
ministrar, etc. ou refere-se aos dons do Espírito Santo mencionados por Paulo
ainda na primeira carta aos coríntios no capítulo 12? Eis a questão!
Bem, na verdade, analisando os
originais, vemos que o termo "dom"
é o mesmo empregado por Paulo ao falar dos dons do Espírito Santo em sua
primeira carta aos coríntios.
Isso não refuta a ideia de se
tratar, talvez, de dons ou talentos naturais, mas a língua grega (coine/ usada
na escrita do Novo Testamento) traz algumas pegadinhas e dá sempre dicas
importantes. Por exemplo: o fato de Paulo mencionar "dom espiritual" dá já uma ideia explícita de algo oriundo do Espírito
como algo dado (em e por graça) por Deus e não um talento específico que
poderia ter nascido com a pessoa. O termo "dom espiritual" está como "dorea"/ uma dádiva, uma
graça (de karis) e "pneumátikos" (do espírito).
Portanto, podemos crer que pode se tratar ali de dons espirituais conforme
relatado em 1 coríntios 12, ou seja, Paulo está falando sim dos dons
espirituais do Espírito Santo como algo fundamental para a Igreja. Pois,
através desses dons, o Espírito Santo dirige e assegura a igreja quanto às
coisas concernentes ao espiritual. Os dons promovem a edificação pessoal, a
corroboração e a confirmação da mensagem bíblica, edifica o Corpo de Cristo e
seus membros em particular, guia a igreja em trabalhos missionários e
evangelísticos, acrescenta a fé por meio dos sinais (que acompanham os que crêem)
e dá a possibilidade de uma comunicação mais íntima entre a igreja (cada um de
nós) com Deus por intermédio do Espírito Santo, na Revelação de Jesus Cristo.
Essa idéia se sustenta assim,
pois a exortação de Paulo para que não faltem os dons do Espírito está
diretamente relacionada ao anseio por parte dos crentes de Corinto de
contemplarem o Senhor glorificado. Portanto, para que haja a revelação de
Jesus, deve haver a operação do Espírito Santo.
Mas há uma advertência: Paulo em
momento algum em sua carta aos coríntios coloca os dons espirituais em um
patamar superior em relação a Palavra de Deus, a saber, as Escrituras.
Inclusive, ela, a Palavra de Deus, é quem revela o Cristo glorificado por
intermédio da Revelação obrada pelo mesmo Espírito Santo. Os dons na igreja
devem apenas confirmar a mensagem e a verdade bíblica, sem ultrapassá-la e sem
acrescentar algo a ela. Mas, antes, deve corroborar com a mensagem do Evangelho
e com a Revelação de Jesus Cristo nas Escrituras. Ela (as Escrituras) é quem
promovem a fé (pois a fé vem pelo ouvir a Palavra) e é ela (a Palavra de Deus)
quem produz o genuíno avivamento espiritual.
Por fim, Paulo deixa isso
severamente claro para que a igreja caminhe seu caminho e realize sua missão
(já revelada nas Escrituras) em constante glorificação, edificação e que a
mesma possa ser guiada com segurança pelo Espírito Santo, tendo como alvo a
Cristo e sua grandiosa redenção. A Palavra, enfim, é quem mostra (revela) o
Jesus glorificado à Igreja e os dons espirituais confirmam em edificação e
sinais a mensagem do Cristo vivo. A igreja deve ter (dinamicamente) experiências
pessoais com Jesus Cristo. Portanto, Paulo assevera: “Ele (Jesus) os manterá
firmes até o fim, de modo que vocês serão irrepreensíveis no dia de nosso
Senhor Jesus Cristo”.
Os dons espirituais devem
promover também a separação e a santificação da igreja em relação ao mundo. O
termo "irrepreensível" dá a ideia de "não haver nenhuma
condenação" ou "nenhum pecado", mas, antes, devemos caminhar em Jesus (o Caminho). Os dons
espirituais então são resultados da graça divina para que a igreja tenha sempre
uma experiência pessoal com Jesus Cristo. No entanto, os mesmos dons (como em
específico o de discernir espíritos) devem servir para que a igreja não se abra
a experimentalismos estranhos e evidenciem mais o dom espiritual do que a
pregação pura do Evangelho. É a Palavra quem deve ser o referencial único a qual
Cristo será revelado. Os dons virão como a confirmação em edificação pessoal e
conjunta da mensagem da cruz.
Em fé, edificação espiritual e
dependência do Espírito Santo, a Igreja caminha firme até a volta gloriosa de
Jesus.
Gabriel Felipe M. Rocha
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