domingo, 13 de julho de 2014

Examinando as Escrituras 2: A Palavra Revelada

Examinando as Escrituras 2:

A Revelação das Escrituras (um conceito bíblico-profético de “Palavra Revelada” em análise de João 6: 54 e Mateus 16: 16)
(Por Gabriel Felipe M. Rocha)


Antes de irmos direto ao estudo proposto, quero saudar meus irmãos, amigos, companheiros de estudos bíblicos e dedicados leitores (verdadeiros estudantes das Escrituras) com a Paz de nosso Senhor Jesus Cristo.

Em referência a belíssima exposição do tema dada na Escola Bíblia Dominical da igreja na qual sou membro, decidi postar o estudo com base nos meus próprios estudos e, ao mesmo tempo, lançando mão dos aspectos espirituais abordados na aula e de um estudo mais aprofundado com base na Verdade das Escrituras (nosso referencial prático e regra de fé).


Tenho já postado alguns assuntos de cunho apologético referentes ao tema. Seguem abaixo os sete links sobre o assunto:










Segue, portanto, minha análise do tema: “Palavra Revelada”. Boa leitura!

Textos base: João 6: 54 e Mateus 16: 16 – 18.

Comecemos com o texto base em João 6: 54: “Todo aquele que comer a minha carne e beber o meu sangue tem vida eterna, e Eu o ressuscitarei no último dia” (Bíblia King James Atualizada).

O contexto da passagem bíblica em João 6: 54 se deu num sermão expositivo de Jesus, onde o mesmo falava para uma imensa multidão. Multidão essa que envolvia não só parte do povo humilde e “desletrado” daquela sociedade, mas também os fariseus e notáveis conhecedores da Lei de Moisés. Incluída nessa multidão, estavam os apóstolos e discípulos de Jesus.
No texto em destaque, Jesus fala de algo plenamente espiritual, no entanto, falava de algo espiritual (de cunho profético) com base nas informações da revelação escrita, a saber,  a Palavra de Deus (ali na forma da Lei e Profetas).

Jesus dizia que era preciso comer de sua carne e beber de seu sangue. Bem, esse sermão foi inquietante, pois – de princípio – feria o costume religioso judaico e de forma absurda. “Como comer a carne desse homem?” poderiam ter dito esses magistrados e doutores da Lei, inclusive até o mais humilde homem, pois, nem sequer podiam comer determinadas carnes de animais e jamais poderiam beber algum tipo de sangue. “Esse homem é louco!”, conjecturamos essas palavras, pois elas, de fato, causavam espanto aos tais. “Muitos, pois, dos seus discípulos, ouvindo isto, disseram: Duro é este discurso; quem o pode ouvir?” (João 6:60). Interessante que o termo grego para “duro” é “skleros” que significa também “louco”. Ou seja, a revelação era loucura para aqueles tantos espalhados ali entre a grande multidão.

Mas Jesus mesmo usava elementos da Revelação Escrita (a “Bíblia do Antigo testamento: Lei e Profetas) para falar da Nova Aliança que viria em seu Corpo e seu Sangue.

Este é o pão que desceu do céu; não é o caso de vossos pais, que comeram o maná e morreram; quem comer este pão viverá para sempre” (João 6: 58)

Jesus falava de algo plenamente profético e espiritual usando aspectos da literatura bíblica no exemplo do maná do deserto que antes era comido, mas os que comeram não puderam evitar a morte. Nesse horizonte  caracterizado pela dualidade “letra” e “revelação”, Jesus pregava sobre a Nova Aliança que se daria em seu Corpo e seu Sangue, onde  - agora – todos que cressem (comessem e bebessem) não morreriam a morte eterna (da condenação), mas teriam a Vida Eterna (da salvação). Era o profético superando a expectativa literal, sem, porém invalidar o texto literal.

Jesus mostrava com isso que: existia uma espécie de dicotomia intrínseca nas Escrituras, assim como tem essa mesma dicotomia na Bíblia. Explico:
Existia (e existe ainda) nas Escrituras sagradas o aspecto da Revelação Escrita, dada por inspiração (uma forma de revelação). E o aspecto da profecia (o caráter profético). Portanto, quando falo de dicotomia bíblica ou dualidade, falo da Bíblia analisada sob duas óticas:

A)   Aspecto literal/ histórico (o que chamamos de letra);

B)   Aspecto espiritual – profético (a Revelação do Cristo Vivo e da Trindade Santa nas Escrituras/ testificação e vivificação espiritual através da mensagem bíblica).

Esse primeiro aspecto que chamamos de “letra” tem em si – também – duas faces: uma positiva e uma negativa (a parte negativa se dá no mau uso da mesma). A “letra” nesse sentido (sentido positivo) não mata. Não se trata – agora – da “letra” mencionada por Paulo em 2 Coríntios 3: 6. Ali Paulo fala das exigências Lei que tendem a mostrar e acusar o pecado, ao contrário da ação do Espírito que convence do pecado e mostra a Vida (o Cristo Revelado é a Vida).  Mas a “letra” que empregamos aqui diz respeito ao conteúdo literal da Bíblia (das Escrituras). A Bíblia não mata. O conhecimento bíblico não mata. Talvez a ignorância mata! Para ver mais sobre esse tema de 2 Coríntios 3: 6, segue o link abaixo:



Esse aspecto literal é importante, pois dele tiramos máximas importantes e ensinamentos práticos e espirituais fundamentais para a autêntica vida cristã. O aspecto literal da Bíblia (letra) traz ensinos válidos e atuais em todas as áreas de nossa vida, como: juventude, namoro, casamento, vida matrimonial, ser pai, ser mãe, ser marido, ser esposa, ser servo, ser honesto, ser honrado, honrar, respeitar, orar, confiar em Deus, amar, trabalhar, trabalhar para Deus, como fazer, como não fazer, etc. O aspecto literal da Bíblia, portanto, não pode ser ignorado. Se ignorarmos baseados num falso ensinamento que “a letra mata” se referindo à Bíblia, cairemos num paradoxo totalmente sem sentido, pois teríamos que afirmar tão logo que Deus mesmo tem ignorado suas Palavras que dantes foram reveladas, estruturadas e canonizadas para nossa prática de fé. Esse, portanto, foi o aspecto positivo.

O aspecto negativo se dá no uso tendencioso das Escrituras para, talvez, justificar heresias, doutrinas humanas, dogmas diversos, costumes e conceitos variados. Disso nascem vãs filosofias e heresias que culminam numa terrível apostasia, ou seja: afastamento gradativo da Verdade (Jesus é essa Verdade). O engano doutrinário não testifica de Jesus, não revela o Cristo vivo e glorificado, pois é fruto de doutrinas humanas (ou diabólicas) e o Espírito Santo não está nisso. Outro aspecto negativo e também mais próximo da exortação de Paulo em 2 Coríntos 3: 6 é o legalismo muitas vezes instaurados por alguns grupos religiosos sectários e até mesmo históricos. Os grupos neopentecostais (mais modernos) costumam utilizar de versos isolados da Bíblia para justificar doutrinas, matando assim o projeto redentor de Deus através da obra do Espírito Santo. Dão-se, com isso, a vários experimentalismos estranhos e matam a fé genuína com seus fermentos que produzem imaturidade, negam a graça, falta de compromisso com o reino, inversão de valores (material ao invés do espiritual) e religiosidade. Já outros grupos (mais históricos) costumam ter uma ortodoxia extremamente zelosa. O zelo ortodoxo não é de todo ruim, mas ortodoxia sem vida para nada vale e pode também produzir morte espiritual. Podem ter Bíblia, podem ter uma excelente ortodoxia e liturgia, podem ter um ensino bíblico estruturadíssimo, mas se a Verdade Viva (Jesus Cristo) não for revelado pela ação do Espírito, a Palavra dita e ensinada não se tornará eficaz, pois Jesus precisa ser testificado, penetrando aos corações e gerando fé. Isso é vivificação pelo Espírito. Revelação nada mais é do que a manifestação do Cristo vivo no meio da congregação através da Palavra viva e da ação do Espírito santo. (observação: quando falamos aqui de “manifestação” não estamos falando de pseudo-manifestações espirituais como acontecem em algumas igrejas modernas, mas falamos da ação regeneradora, redentora, purificadora, iluminadora, inspiradora do Espírito santo e do convencimento do pecado instaurado por Ele em nossos depravados corações). IPalavra Revelada é bem mais que um conjunto de pregações cheias de alegorias, tipologias e analogias. É a exposição em espírito e no Espírito da verdade das Escrituras, testificando em suas letras de um Jesus que se revela (pela graça e pela nossa fé), gerando mais fé ao ouvinte e leitor das Escrituras. Podemos pregar, por exemplo, o clássico e conhecido João 3: 16 sem procurarmos “coisas ocultas” no versículo para dizermos assim que “a palavra foi revelada”. Não é esse o conceito real de Palavra Revelada. Palavra Revelada é a manifestação em graça da Verdade, ou seja, do Jesus Vivo, Glorificado e testificado pela mensagem bíblica lida, ouvida ou pregada. Palavra Revelada se dá quando o Espírito Santo revela ao nosso coração sedento por Deus algo específico naquilo que está sendo dito ou lido ou, também, quando o mesmo Espírito fala sobrenaturalmente ao nosso coração através do texto bíblico apresentado ou lido. Pois o Jesus vivo é testificado pela Palavra e quando é testificado, traz consigo sua benção (da eternidade), logo, revelação é a percepção de algo que dantes não víamos, mas pelo Espírito Santo, agora vemos. Exemplo: se a fé de uma determinada pessoa está titubeando e lhe é dada uma palavra sobre fé em qualquer texto bíblico que fale sobre isso, se houver a operação do Espírito santo, a fé, antes vacilante, será renovada, ou dada, ou acrescentada em espírito. Isso é vivificação pela Palavra, configurando assim uma “Palavra Revelada”. Algo, antes, fora do nosso alcance humano e racional, foi concedido ou acrescentado pelo espiritual.

Onde quer que seja pregado o evangelho no espírito e na Revelação de Jesus Cristo, é como se Deus viesse para o meio de nós. É certo que se vamos à igreja, não ouviremos apenas um homem mortal falando, mas sentiremos que Deus (por meio do seu poder secreto, mas revelado nas Escrituras) está falando à nossa alma; sentiremos que Ele é o professor. Não o homem! Deus nos chama para si como se estivesse falando-nos por sua própria boca e pudéssemos vê-lo ali, em pessoa. Isso é revelação!

De sorte que a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Deus (Romanos 10:17)


A autoridade espiritual e o aspecto profético da pregação da Palavra de Deus se fundamentam na comissão santa dada ao pregador de mostrar apenas o Cristo Vivo através de sua mensagem e nada dele mesmo. E depende da sua fidelidade à mensagem e à Verdade bíblica sem nenhuma alteração. Algumas passagens do Novo Testamento e a própria terminologia empregada indicam que, na qualidade de arauto, o pregador  da Palavra é um porta voz de Cristo, que sua pregação deve ser recebida como Palavra de Deus, e sua voz (quando em espírito e no Espírito Santo) equiparada à voz de Cristo. Deveriam esses textos [no caso, Mt 10.17;20; 28.20; 2 Co 2.17; e 1 Ts 2.9,13] ser interpretados como casos particulares, relacionados apenas à inspiração apostólica; ou em termos mais amplos, com relação à autoridade da pregação dos ministros da Palavra? Algumas passagens [no caso, Lc 10.16; Rm 10.14; e Hb 1.1-2; 2.1-3; 3.7,8,15; 4.7; 12.25; 13.7-8] parecem apontar para a segunda possibilidade. Temos uma responsabilidade em relação à Revelação de Jesus Cristo.

Vimos então os dois aspectos da Bíblia em seu caráter literal.

Voltemos, então, para o texto base João 6: 54:

No contexto da passagem bíblica em questão, vemos que vários discípulos e praticamente toda a multidão abandonava o discurso de Jesus e desciam fartos do alimento material (pão e peixe). O que isso mostra? Mostra que não entenderam a Revelação de Jesus Cristo e não discerniram o aspecto espiritual.  Não conseguiram enxergar o plano profético. Alguns estavam apegados apenas ao aspecto literal das Escrituras, mas não entendiam com o olhar da revelação que elas já testificavam daquele Jesus que ali pregava a vida. Em várias passagens veterotestamentárias (Antigo Testamento), Jesus foi testificado de forma quase explícita em alguns casos. Mas os olhos da carne não podem enxergar a luz da eternidade. Isso ocorre em perfeita harmonia com o contexto da graça soberana de Deus na eleição dos seus para a Vida. Pois, só podem entender a Revelação de Jesus Cristo e só podem conhecer esse Cristo vivo e glorificado (para além do Jesus histórico) aqueles a qual o Pai dá a conhecer. A Revelação de Jesus é um aspecto da graça e é pela graça que Jesus se revela. Portanto, esse negócio de ficar lendo a Bíblia em pedaços, procurando “revelação” não está certo. Devemos apenas ler a Palavra de Deus em espírito e em oração para que Deus se revele ali na Pessoa de Jesus Cristo na ação testificadora do Espírito Santo. Assim como não podemos forçar dons espirituais, não podemos alegorizar demais as Escrituras em nome da “revelação” e nem - com isso – deturpar o contexto bíblico em nome da perigosa expressão “além da letra”. “Além da letra” já foi instrumento para várias heresias no cristianismo ao longo da História da Igreja. Veja esse exemplo trágico nos grupos: Testemunhas de Jeová, Mórmons, Adventistas, e tantos outros que receberam “novas revelações” e deturparam alguns contextos bíblicos para sustentar tais heresias.

A mensagem bíblica quando é entendida e discernida espiritualmente ou, quando é pregada evidenciando a mensagem profética da cruz e quando há em intrínseca em si a presença da Trindade, ela produz fé e a fé produz vida no altar. Quem discerne espiritualmente o propósito divino nas Escrituras, não desce com a multidão e permanece aos pés de Cristo, pois o alimento espiritual produz vida com abundância, transformação e dependência de Deus.

Então disse Jesus aos doze: Quereis vós também retirar-vos? Respondeu-lhe, pois, Simão Pedro: Senhor, para quem iremos nós? Tu tens as palavras da vida eterna (João 6:67-68).

Só Jesus tem as Palavras de Vida Eterna! Quando Ele (Jesus) é testificado nas Escrituras, é produzido em nosso ser o genuíno avivamento. A Palavra de Deus aviva a alma e produz fé. Ela abre nossa visão e, assim, passamos a andar na luz.

O conteúdo da Palavra Revelada é a Palavra de Vida Eterna. Quem é a Palavra? Jesus, o Verbo. Por qual Nome podemos entrar na Vida Eterna? No Nome de Jesus, a Palavra de Deus.

Toda a Bíblia revela essa verdade (de Gênesis a Apocalipse). Nela há implicitamente um projeto que tende a ser revelado pela ação remidora do Espírito Santo  (João 14: 26) “Mas aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito”.

Em João 6: 54,Jesus fala de seu Corpo (carne). Interessante que Corpo fala da presença. A Igreja é o Corpo de Cristo. Ela é a presença de Cristo na terra. Jesus este presente em todas as páginas do Antigo Testamento. Os eruditos não conseguem discernir sua presença na mera interpretação literal das Escrituras e, talvez, nem por alegorias e tipologias. Apenas a ação do Espírito Santo dá a conhecer o Deus vivo da Palavra e, assim, testifica de Jesus Cristo.

Examinais as Escrituras, porque vós cuidais ter nelas a vida eterna, e são elas que de mim testificam” (João 5:39).

Outra citação importante e interessante de Jesus foi o Sangue. O Sangue é outra figura (símbolo) que percorre toda a Bíblia (de gênesis a Apocalipse)  que, da mesma forma, revela um projeto implícito, porém explicitado pelo mesmo Espírito Santo. A Bíblia, ao mesmo tempo, é implícita em relação a esse projeto de redenção e explícita, pois com os olhos espirituais podemos enxergar em suas letras o propósito da graça e soberania de Deus.

Aliás, CORPO e SANGUE são as bases da sã doutrina de Jesus Cristo. Na ceia (última ceia de Jesus com seus apóstolos), Jesus evidenciou novamente esses dois aspectos básicos de sua doutrina: Corpo (pão) e Sangue (vinho). A base doutrinária da Nova Aliança é o Corpo e o Sangue. O Corpo aponta para a presença viva de Jesus na terra através da Igreja (onde Ele é o Cabeça) e a vida dessa Igreja se dá pela presença do Sangue percorrendo seu Corpo, ou seja, pela ação constante da obra redentora, remidora, restauradora e santificadora do Espírito Santo.

Portanto, entender esses aspectos que estão diretamente ligados à vida da Igreja, é fundamental. Por isso precisamos entender melhor o conceito de Revelação, sabendo que a mesma nada mais é que a manifestação (pela Palavra na ação do Espírito santo) do Cristo Vivo e Glorificado que: a) dirige a igreja;  b) fala a Igreja; c) exorta a Igreja; d) purifica a Igreja; e) acusa o pecado; f) dá esperança a Igreja; g) prepara a Igreja para sua missão; h) prepara a Igreja para sua vinda (veja em Apocalipse, capítulos 1, 2 e 3). Toda essa ação resultante da presença viva de Cristo na Igreja se dá pela operação dinâmica do Espírito Santo (o que revela Cristo a igreja). Estando fundamentada na Revelação de Jesus Cristo (cujo único manual de fé e prática é a Bíblia e nada mais), a Igreja também revela Jesus ao mundo.
Já sabemos que Jesus é, então,  o clímax da revelação de Deus: "Ninguém jamais viu a Deus. O Deus unigênito, que está no seio do Pai, esse o deu a conhecer" (Jo 1.18). Jesus é a maior revelação de Deus e, todas as outras inspirações e revelações de Deus aos homens por parte do Criador, eram para mostrar Jesus. A finalidade da revelação é tornar Deus conhecido dos homens.

Para isso, as Palavras do Deus espiritualmente e intelectualmente superior à razão dos homens devem ser mostradas pelo Espírito Santo, aquele que “vos ensinará todas as coisas”. Veja em João 17 que a função do mesmo Espírito Santo é dar ao mundo (através da Igreja) o conhecimento de Deus. Isso configura um caráter explicitamente espiritual e será pela revelação do Espírito Santo que tal conhecimento pode chegar aos homens distantes de Deus.

O homem que será salvo, segundo a Palavra de Deus, é aquele que crê no Cristo ressuscitado e, considerando que Cristo é o conteúdo central da Bíblia, esse Cristo irá se revelar por meio da fé do leitor na Palavra, corroborando com a afirmação de que a fé vem pelo ouvir a Palavra de Deus, ou seja, a voz do Criador revelada na pessoa do Senhor Jesus. O trabalho para o convencimento do leitor (pela fé – dom de Deus) que Cristo é a salvação é obra exclusiva do Espírito Santo. Portanto, o ato do Espírito divino mostrar e convencer o homem sobre a salvação em Cristo é um ato “revelador”, portando a Bíblia revela o pleno salvífico de Deus. O poder que existe na Palavra de Deus não está simplesmente no papel, mas está na vivificação do Espírito Santo que, pelas Escrituras, convence o homem de seu pecado e o leva para a genuína conversão. Essa é a minha perspectiva a respeito da “revelação”. Não estamos falando aqui que existe algo “a mais” nas Escrituras que precisa vir à tona, mas sim que existe a possibilidade de Deus (que é vivo) falar de forma íntima pela Escritura. Isso configura uma “revelação”. As Escrituras têm autoridade espiritual quando são regidas pelo poder do Espírito Santo. Elas são suficientes e nada pode ser acrescentado, pois toda a Bíblia cont´pem em suas páginas o que a Igreja precisa conhecer para a salvação e para sua missão. Basta buscar o auxílio do Espírito Santo.
 A salvação em Jesus Cristo se dá pelo encontro pessoal com o mesmo. Mas como se o mesmo subiu ao céu? Dá-se agora pela revelação do cristo glorificado pela Palavra de Deus cuja ação para convencimento é obra genuína do Espírito Santo.

Agora veremos uma explanação sobre o assunto no segundo texto base (Mateus 16: 16 a 18) na análise da Razão Humana e Revelação.

E Simão Pedro, respondendo, disse: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo. E Jesus, respondendo, disse-lhe: Bem-aventurado és tu, Simão Barjonas, porque to não revelou a carne e o sangue, mas meu Pai, que está nos céus. Pois também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela

Quando Jesus pergunta aos seus discípulos “que dizem os homens quem sou?” (v. 13), Ele, na verdade, pouco se importava com que os outros diziam. Ele era conhecedor do depravado coração humano. Ele, de fato, queria despertar a fé em seus discípulos.

Uns, no entanto, diziam que Jesus era algum profeta, pois o ensino literal e meramente racional das Escrituras permitia apenas eles pensarem isso, pois, talvez, para esses, Jesus era mais um profeta enviado. Ainda mais num contexto espiritual como aquele vivido pela sociedade judaica naquele tempo. Jesus poderia ser mais um Elias, um João Batista, um Jeremias, etc. Por quê? Pois a base literal das Escrituras sob uma análise meramente racional permitia uma certa comparação do homem Jesus, o conteúdo de sua pregação e postura com tais nomes.

Mas ao perguntar diretamente aos seus discípulos quem Ele, de fato, era, Pedro toma a voz e diz em espírito: “Tu és o Cristo, Filho do Deus vivo” (v.16). Logo, Jesus dá a aprovação da palavra dada em espírito e pelo Espírito Santo.

O que isso ensina?

Isso ensina o seguinte: aquilo que diz respeito ao conteúdo profético das Escrituras só pode ser mostrado pela ação inspiradora e reveladora do Espírito Santo. Por quê? Porque no coração humano há engano e pecado. Somos naturalmente incapazes de enxergarmos a Luz da Revelação de Deus com nossos esforços próprios. Isso é um princípio e fundamento da doutrina da graça onde cremos que: Deus é quem se revela a nós pelo seu Santo Espírito por graça e misericórdia. Nossa razão é diferenciada. Destacamos-nos dos demais animais exatamente pela posse da razão pelo uso da integibilidade. No entanto, nas questões relativas à fé e à espiritualidade, somos plenamente incapazes de conhecer por nós mesmos a Deus. Nisso o filósofo prussiano de origem protestante, Immanuel Kant tinha razão: nossa pura razão é incapaz de conhecer o Transcendente. Ela é, portanto, limitada. Assim, abre-se, tão logo, uma possibilidade para a fé.
Só a fé, então, pode conhecer a Deus. A fé é o princípio e fundamento onde Cristo dá-se a conhecer pelas Escrituras. Muitos têm Bíblia mas não têm a fé. Alguns têm a fé e manuseiam a Bíblia com fé e entrega pessoal e ouvem a voz de Deus.

Não foi Pedro na sua limitada razão que descobriu através de métodos e experimentos científicos ou lançando mão de uma boa hermenêutica bíblica que Jesus era o Cristo, Filho de Deus, mas foi a ação genuína do Espírito Santo que o mostrou a Verdade das Escrituras. Ou seja, Pedro disse uma verdade implícita em todas as páginas da Lei e dos Profetas que os tantos doutores não haviam discernido.

Logicamente, não significa que devemos estar totalmente desprovidos de razão. Revelação de Jesus não é uma espécie de “transe espiritual” onde ficamos totalmente desligados da realidade do mundo. Não! A Revelação espiritual e a fé comunicam com nosso psíquico e a Verdade divina é recebida pela abertura transcendental de nosso espírito. Lembramos que a antropologia bíblica se baseia na tricotomia Corpo, Alma e Espírito (1 Ts 5: 23). Portanto, nosso corpo carnal (grego = somma) é regido pelo aspecto psíquico (onde se insere a razão/ psique = alma vivente) que é aberta às novas realidades (inclusive à realidade e Verdade da fé) pelo espírito (pneuma = sopro = espírito). Assim, Deus (que é Espírito) se comunica ao espírito humano que, tão logo, afeta a razão humana (psique = alma/ mente/ inteligência/ razão) e toma conta da mesma. Assim, pela Revelação, o homem passa a viver em espírito, segundo o Espírito divino. Sua inteligência e razão não são anuladas, mas se tornam instrumentos para a compreensão das coisas espirituais.
Lendo as Escrituras, podemos conhecer o Maravilhoso Jesus histórico e nos impressionar com seus atos, seu amor e até mesmo tomar uma decisão de seguir seus caminhos. Isso é possível na medida em que a Verdade das Escrituras é conhecida e penetra a alma pela intervenção espiritual. Mas era pela Revelação de Jesus Cristo, ou seja, pela experiência pessoal com Jesus que esse poderá, enfim, conhecer a Cristo e se definir por completo, ouvir sua voz e realizar seu projeto. Por que assim? Porque isso é obra da soberania e graça de Deus. Deus é quem se dá a conhecer ao eleito. Assim, Ele é quem providencia a ação reveladora do espírito Santo para a redenção.

“Bem-aventurado és tu, Simão Barjonas, porque to não revelou a carne e o sangue, mas meu Pai, que está nos céus” (Mateus 16:17).

É na Verdade das Escrituras que a Igreja deve estar fundamentada. Não há outro fundamento a não ser o fundamento da Palavra. Qual é a principal testificação da Palavra? Quem é o clímax da revelação de Deus? Jesus Cristo! Portanto, a Igreja deve estar fundamentada nos Cristo revelado pelas Escrituras.

“Pois também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mateus 16:18).

Estamos fundamentados nessa Revelação, a saber, Jesus Cristo, o Filho do Deus vivo.

A Palavra, portanto, precisa ser lida e pregada mostrando sempre a Pessoa glorificada de Jesus Cristo. Só assim Jesus se manifestará em Espírito e falará à congregação. Nossas mensagens precisam ser cristocêntricas. Nada de nós e tudo de Cristo!

A Palavra precisa ser entendida. Precisamos ler, precisamos estudar. Não podemos ser ignorantes, tampouco analfabetos em relação à Bíblia.  Atentar para o exame e estudo das Escrituras é buscar o conhecimento da graça e o conhecimento intelectual e, assim, colocar a nossa razão a serviço da fé.

A Palavra de Deus e o crescimento na GRAÇA  e no CONHECIMENTO de Jesus Cristo (para concluir)

"Antes crescei na graça e conhecimento de nosso Senhor e Salvador, Jesus Cristo. A ele seja dada a glória, assim agora, como no dia da eternidade. Amém." (2 Pedro 3:18)

A Bíblia é, portanto, um importante meio de graça, ela é fundamentalmente um "recurso oriundo da graça". Ler a Bíblia é muito mais que uma simples leitura. Ler a Bíblia em espírito e em oração é abrir-se à transcendência pela Revelação de Jesus Cristo nela contida. É ouvir o que o Espírito Santo quer dizer e, efetivamente, ouvir a voz de Deus. O que busca o conhecimento agrada a Deus. Assim, vamos crescendo na graça, ou seja, naquilo que é da fé e naquilo que é do Espírito (aspecto espiritual) e também vamos crescendo em conhecimento. O termo grego usado no original por Pedro em sua carta para definir "conhecimento" foi "gnosis" que, exatamente, quer dizer "conhecimento", "intelectual". Ele não falava do dom espiritual descrito por Paulo em 1 Coríntios 12, embora lá também Paulo use a mesma expressão "gnosis" que significa "conhecimento" ligado ao termo "intelecto". Então Pedro diz em sua carta que precisamos crescer em graça (no aspecto espiritual) e em inteligência (razão a serviço da fé) para que assim sejamos firmes em ambos os aspectos. A fé é um dom de Deus (ela é doada por Deus/ oriunda da Eternidade). No entanto, o crescimento da mesma se dá em nossa constante busca de conhecimento, cuja referência principal para tal conhecimento é a Bíblia, a Palavra de Deus. O conhecimento promove a fé e o coração cheio de fé é o que está, de fato, apto para receber a revelação de Jesus Cristo, a saber, o Cristo vivo e glorificado que se revela pela Palavra.

A fé vem pela Palavra de Deus, O genuíno avivamento vem pela Palavra de Deus, todo dom espiritual ou toda manifestação supostamente espiritual deve estar submissa a verdade das Escrituras e deve passar pelo crivo da mesma, senão é engano. A regra de fé e prática da igreja que pretende ser fiel (eu e você) é a Palavra de Deus, nada mais.... Nada menos... Devemos prosseguir em conhecer ao Senhor e a base de todo o conhecimento de seu projeto de redenção está na Bíblia. Cresçamos em graça (naquilo que é espiritual) e cresçamos em conhecimento (naquilo que é intelectual). Jesus morreu e ressuscitou para limpar-nos de nossos pecados e não para tirar a nossa inteligência. Nossa inteligência, razão e intelectualidade devem estar submissas ao espiritual e devem ser servas da fé e da Revelação de Jesus Cristo. Devemos sim estudar a Bíblia. Conforme vimos acima, quando Paulo fala da "letra" em 2 Coríntios 3: 6, ele não fala do ensino literal da Bíblia, mas sim das exigências da Lei. Devemos conhecer todo o contexto e não apenas apegarmos a versículos isolados. É perigoso! Isso sim mata... Mas Paulo (servo de Deus que nunca ignorou o conhecimento) estava dizendo ali que a "letra" (Lei) mostra o pecado, portanto, "mata", mas o Espírito Santo mostra a vida, portanto, "vivifica". Simples, não é? 

Há ensinamentos na Bíblia que não precisam de alegorizações e busca por algo oculto, pois já estão explicitadas e nos servem como máximas a serem seguidas (pela fé). A Bíblia carrega inúmeros ensinamentos práticos para a vida cristã, para a nossa salvação individual, para nossa prática e fé, para o serviço na igreja, para a missão da igreja, para a família, para o lar, para os pais, para os filhos, para os casamentos, para a vida estudantil, para a vida ministerial, para a santificação, etc. Todos esses ensinamentos estão explícitos na Palavra de Deus e já estão revelados, pois são já a revelação de Deus para os seus servos. Temos que ler, temos que buscar praticá-los, temos que aprende-los e ensiná-los. Assim até a volta de Jesus!

Conheço muitos crentes medíocres que ignoram o conhecimento dizendo que é "razão" e que "a letra mata....etc." e preferem, assim, 'autolimitarem'. Tudo bem, ninguém precisa estudar uma teologia sistemática ou coisa parecida, aliás, não é disso que estamos falando. Conhecimento acadêmico é ouras coisa. Alguns até podem ser perigosos sim. Deus não se interessa por teólogos ou "acadêmicos da fé", mas sim de servos humildes que, em sua humildade e fé, buscam conhecer a Deus e se aprofundar nos assuntos relativos à fé. Isso é nobreza espiritual.

Não fomos chamados para a ignorância, aliás, devemos em todo o tempo prestar o nosso culto racional. Jesus ia cumprir na cruz toda a Lei, mas antes, cresceu em graça e conhecimento e vivia no meio dos doutores. Era sábio. Deus nos dá a sabedoria para aplicá-la a serviço do espiritual (do Reino), no entanto, devemos buscar aprofundarmos em conhecimento sim e não sermos medíocres e apenas para repetir o que ouvimos.

"Antes crescei na graça e conhecimento de nosso Senhor e Salvador, Jesus Cristo. A ele seja dada a glória, assim agora, como no dia da eternidade. Amém." (2 Pedro 3:18)

"Então conheçamos, e prossigamos em conhecer ao Senhor..." (Oséias 6:3)

"Porque a sabedoria serve de defesa, como de defesa serve o dinheiro; mas a excelência do conhecimento é que a sabedoria dá vida ao seu possuidor" (Eclesiastes 7:12)

Ler a Bíblia, buscar o conhecimento da glória de Deus e ter em suas letras a Revelação de Jesus é encontrar vida, é encontrar avivamento. Assim, configura-se a Palavra Revelada.


Gabriel Felipe M. Rocha

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