Por Que Precisamos da Bíblia?
A
necessidade primária para o registro da Bíblia foi o pecado do homem. No Éden
só havia um livro: o livro da natureza; todavia, com o pecado humano, a
natureza também sofreu as consequências, ficando obscurecida, perdendo parte da
sua eloquência primeva em apontar para o seu Criador (Gn 3.17-19)1 e,
como parte do castigo pelo pecado, o homem perdeu o discernimento espiritual
para poder ver a glória de Deus manifesta na criação (Sl 19.1; Rm 1.18-23).
A Revelação Geral que fora adequada para
as necessidades do homem no Éden – embora saibamos que ali também se deu a
Revelação Especial (Gn 2.15-17,19,22; 3.8ss) –, tornou-se, agora, incompleta e
ineficiente2 para conduzir o homem a um relacionamento
pessoal e consciente com Deus.3 A observação de Calvino,
parece-nos importante aqui: “Lembremo-nos de que nossa ruína se deve imputar à
depravação de nossa natureza, não à natureza em si, em sua condição original,
para que não lhe lancemos a acusação contra o próprio Deus, autor dessa
natureza.”4
Através
da História Deus separou e preparou homens para que registrassem de forma exata
e infalível os seus desígnios, sendo a Palavra de Deus escrita, dentre outras
coisas, “o corretivo às ideias disformes que pode dar-nos a natureza em seu
estado caído.”5
Desta forma, a Bíblia tem um caráter
instrumental e temporário, embora que os seus efeitos e as suas verdades sejam
eternos. O que estamos querendo dizer, é que na eternidade não haverá mais a
Bíblia; apenas teremos a visão ampla e experimental daquilo para o qual ela
apontava: A
vitória do Cordeiro!
Necessidade Consequente:
Como consequência lógica do argumento
anterior, podemos observar que a Bíblia foi escrita para registrar de forma
cabal e inerrante a vontade de Deus referente ao aqui e agora e ao lá e depois,
evitando assim, os desvios naturais, fruto do pecado humano. Por isso, só se
considera adequada a revelação de Deus contida na Bíblia; somente através das
Escrituras, o homem pode ter um conhecimento de Deus livre de superstições.
Calvino compreendendo bem este fato,
escreveu: Com efeito, se refletimos quão acentuada é a tendência da mente
humana para com o esquecimento de Deus, quão grande a proclividade para com
toda sorte de erro, quão pronunciado o gosto de a cada instante forjar novas e
fantasiosas religiões, poder-se-á perceber quão necessária haja sido tal
autenticação escrita da celeste doutrina, para que não deperecesse pelo olvido,
ou se dissipasse pelo erro, ou fosse da petulância dos homens corrompida.6
A Bíblia como Palavra inspirada e
inerrante de Deus, dá ao homem a resposta adequada às necessidades espirituais
de que tanto carece, apontando para Jesus Cristo (Jo 5.39) e para o poder de
Deus. Nas Escrituras encontramos a esperança da vida preparada, realizada e
consumada pelo Deus Triúno (Rm 15.4; 1Jo 5.13). A Bíblia não foi registrada
apenas para o nosso deleite espiritual; mas para que cumpramos os seus
preceitos, dados pelo próprio Deus (Dt 29.29; Js 1.8; 2Tm 3.15,16; Tg 1.22); a Bíblia
também não nos foi dada para satisfazer a nossa curiosidade pecaminosa (Dt
29.29), que em geral ocasiona especulações esdrúxulas e facções;7 Ela
foi-nos concedida para que conheçamos o seu Autor e, o conhecendo o adoremos e,
o adorando, mais o conheçamos (Os 6.3; 2Pe 3.18).8 A
Bíblia foi-nos confiada a fim de que, mediante a iluminação do Espírito Santo (revelação),9 sejamos
conduzidos a Jesus Cristo (Jo 5.39; Lc 24.27,44), sendo Ele mesmo Quem nos leva
ao Pai (Jo 14.6-15; 1Tm 2.5; 1Pe 3.18) e nos dá vida abundante (Jo 10.10; Cl
3.4). Por isso, “ao estudarmos Deus, devemos procurar ser conduzidos a Ele. A
revelação nos foi dada com esse propósito e devemos usá-la com essa
finalidade”.10
____________________________
Referências:
1 - Vd. Hermisten M.P. Costa, Antropologia Teológica: Uma Visão Bíblica
do Homem, São Paulo: 1988, p. 22-24. Groningen acentua: “O Senhor soberano
julgou necessário revelar explicitamente a natureza de sua relação pactual com
a humanidade. Ele fez isto antes do homem cair em pecado. Depois da queda, isto
se tornou ainda mais necessário devido aos efeitos do pecado.” (Gerard Van
Groningen, Revelação Messiânica no Velho Testamento, Campinas, SP.: Luz para o
Caminho, 1995, p. 63).
2 - Vd. B.B. Warfield, Revelation and Inspiration: In: The Works of Benjamin B. Warfield, Grand Rapids, Michigan: Baker Book House, 1981, p. 7ss. A revelação Geral é “tênue e obscura para a humanidade pecadora, e mesmo para a humanidade redimida.” (Gerard V. Groningen, Revelação Messiânica no Velho Testamento, p. 64).
3 - Vd. Hermisten M.P. Costa, Introdução à Teologia Sistemática, São Paulo: 1986, p. 7ss; 21.
4 - J. Calvino, As Institutas, II.1.10.
5 - H.H. Meeter, La Iglesia y El Estado, 3ª ed.Grand Rapids, Michigan: TELL. (s.d.), p. 28.
6 - J. Calvino, As Institutas, I.6.3. (Vd. Confissão de Westminster, I.1).
7 - Calvino combateu as especulações com veemência; em diversos lugares ele escreveu sobre o assunto; como exemplo, cito:
“Porque são mui poucos entre a ingente multidão de homens que existe no mundo os que pretendem saber qual é o caminho para ir ao céu; porém todos desejam antes do tempo conhecer o que é que se faz nele.” (As Institutas, III.25.11; Vd. também I.5.9).
“‘A Escritura é proveitosa.’ Segue-se daqui que é errôneo usá-la de forma inaproveitável. Ao dar-nos as Escrituras, o Senhor não pretendia satisfazer nossa curiosidade, nem alimentar nossa ânsia por ostentação, nem tampouco deparar-nos uma chance para invenções místicas e palavreado tolo; sua intenção, ao contrário, era fazer-nos o bem. E assim, o uso correto da Escritura deve guiar-nos sempre ao que é proveitoso.” [J. Calvino, As Pastorais, São Paulo: Paracletos, 1998, (2Tm 3.16), p. 263].
“As cousas que o Senhor deixou recônditas em secreto não perscrutemos, as que pôs a descoberto não negligenciemos, para que não sejamos condenados ou de excessiva curiosidade, de uma parte, ou de ingratidão, de outra.” (As Institutas, III.21.4).
“Nem nos envergonhemos em até este ponto submeter o entendimento à sabedoria imensa de Deus, que em seus muitos arcanos sucumba. Pois, dessas cousas que nem é dado, nem é lícito saber, douta é a ignorância, a avidez de conhecimento, uma espécie de loucura.” (As Institutas, III.23.8).
8 - Vd. Calvino, As Institutas, I.5.10; Agostinho, Confissões, 9ª ed. Porto, Livraria Apostolado da Imprensa, 1977, I.1.1. p. 27-28; J.I. Packer, O Conhecimento de Deus, São Paulo: Mundo Cristão, 1980, especialmente, p. 26-35.
9 - J. Calvino observou que: “Só quando Deus irradia em nós a luz de seu Espírito é que a Palavra logra produzir algum efeito. Daí a vocação interna, que só é eficaz no eleito e apropriada para ele, distingue-se da voz externa dos homens.”
[J. Calvino, Exposição de Romanos, São Paulo: Paracletos, 1997, (10.16), p. 374]. A vocação eficaz do eleito, “não consiste somente na pregação da Palavra, senão também na iluminação do Espírito Santo.” (J. Calvino, As Institutas, III.24.2).
10 - J.I. Packer, O Conhecimento de Deus, p. 1.
2 - Vd. B.B. Warfield, Revelation and Inspiration: In: The Works of Benjamin B. Warfield, Grand Rapids, Michigan: Baker Book House, 1981, p. 7ss. A revelação Geral é “tênue e obscura para a humanidade pecadora, e mesmo para a humanidade redimida.” (Gerard V. Groningen, Revelação Messiânica no Velho Testamento, p. 64).
3 - Vd. Hermisten M.P. Costa, Introdução à Teologia Sistemática, São Paulo: 1986, p. 7ss; 21.
4 - J. Calvino, As Institutas, II.1.10.
5 - H.H. Meeter, La Iglesia y El Estado, 3ª ed.Grand Rapids, Michigan: TELL. (s.d.), p. 28.
6 - J. Calvino, As Institutas, I.6.3. (Vd. Confissão de Westminster, I.1).
7 - Calvino combateu as especulações com veemência; em diversos lugares ele escreveu sobre o assunto; como exemplo, cito:
“Porque são mui poucos entre a ingente multidão de homens que existe no mundo os que pretendem saber qual é o caminho para ir ao céu; porém todos desejam antes do tempo conhecer o que é que se faz nele.” (As Institutas, III.25.11; Vd. também I.5.9).
“‘A Escritura é proveitosa.’ Segue-se daqui que é errôneo usá-la de forma inaproveitável. Ao dar-nos as Escrituras, o Senhor não pretendia satisfazer nossa curiosidade, nem alimentar nossa ânsia por ostentação, nem tampouco deparar-nos uma chance para invenções místicas e palavreado tolo; sua intenção, ao contrário, era fazer-nos o bem. E assim, o uso correto da Escritura deve guiar-nos sempre ao que é proveitoso.” [J. Calvino, As Pastorais, São Paulo: Paracletos, 1998, (2Tm 3.16), p. 263].
“As cousas que o Senhor deixou recônditas em secreto não perscrutemos, as que pôs a descoberto não negligenciemos, para que não sejamos condenados ou de excessiva curiosidade, de uma parte, ou de ingratidão, de outra.” (As Institutas, III.21.4).
“Nem nos envergonhemos em até este ponto submeter o entendimento à sabedoria imensa de Deus, que em seus muitos arcanos sucumba. Pois, dessas cousas que nem é dado, nem é lícito saber, douta é a ignorância, a avidez de conhecimento, uma espécie de loucura.” (As Institutas, III.23.8).
8 - Vd. Calvino, As Institutas, I.5.10; Agostinho, Confissões, 9ª ed. Porto, Livraria Apostolado da Imprensa, 1977, I.1.1. p. 27-28; J.I. Packer, O Conhecimento de Deus, São Paulo: Mundo Cristão, 1980, especialmente, p. 26-35.
9 - J. Calvino observou que: “Só quando Deus irradia em nós a luz de seu Espírito é que a Palavra logra produzir algum efeito. Daí a vocação interna, que só é eficaz no eleito e apropriada para ele, distingue-se da voz externa dos homens.”
[J. Calvino, Exposição de Romanos, São Paulo: Paracletos, 1997, (10.16), p. 374]. A vocação eficaz do eleito, “não consiste somente na pregação da Palavra, senão também na iluminação do Espírito Santo.” (J. Calvino, As Institutas, III.24.2).
10 - J.I. Packer, O Conhecimento de Deus, p. 1.
Fonte:
Trecho do Livro Creio no Pai, no Filho e no Espírito Santo, do
autor Hermisten Maia, lançamento de maio de 2014 da Editora fiel.
Nenhum comentário:
Postar um comentário