sábado, 16 de agosto de 2014

Vencendo a Religiosidade

Vencendo a Religiosidade

É possível ser religioso sem ser religioso? Não, a pergunta não está errada. O problema provavelmente está em nossa interpretação do que é ser “religioso”.

O termo “religião” não é um termo etimologicamente ruim como alguns pensam. Na verdade há uma confusão entre as expressões “religião” em seu significado real e  “religiosidade” que expressa já uma outra idéia (um sentido mais qualitativo). O termo “religião”, portanto, vem do latim “religare”, tem o significado de religação. Essa “religação” se refere a uma nova ligação entre o homem e Deus. Sabendo disso, conclui-se que o real significado da palavra é JESUS CRISTO, pois Ele é o único mediador entre Deus e os homens, não há outro capaz de religar o homem a Deus a não ser pelo Nome de Jesus Cristo.

A Bíblia assim diz, na pessoa de Jesus: ninguém vai ao Pai senão por mim. Todos pecaram e foram destituídos da Glória de Deus.

Mas o quadro foi totalmente mudado quando Ele se ofereceu em sacrifício em nosso lugar. O que a maior parte das pessoas toma por religião é, na verdade, denominação. Católicos, Assembleianos, Metodistas, Batistas, etc. são denominações. Jesus morreu por todos e para se ter uma religião é só se converter a Ele. Ele é a “religião pura e imaculada”.

A religião pura e imaculada para com Deus, o Pai, é esta: Visitar os órfãos e as viúvas nas suas tribulações, e guardar-se da corrupção do mundo” (Tiago 1: 27)

A religiosidade em seu sentido estrito é inerente ao ser humano, até mesmo para o ateu, que elege a razão e a ciência como substituto das coisas espirituais. Jesus Cristo era, sob certo aspecto extremamente religioso no sentido sadio da expressão, pois era zeloso em relação ao estudo da Lei e vivia em contato com as Escrituras, sendo reconhecido por onde passava como um Rabi, um Mestre nas questões do Judaísmo. Entretanto, ninguém confrontou os religiosos de sua época com tanta autoridade como nosso Senhor, sendo até reconhecido por seus ouvintes como alguém que “ensinava como quem tem autoridade e não como os escribas” (Mt 7.29). Pois Jesus não vivia numa “religiosidade”.

A religiosidade nociva trata-se já de uma situação semelhante a dos escribas e fariseus descritas por Jesus nos evangelhos. Esses eram sectários, vaidosos em relação às suas “denominações” (como farisaísmo, e outros grupos sectários ali existentes), se diziam “melhores”, ou afirmavam que eram mais “especiais” que os outros, “donos da verdade”, e que apenas seus grupos identificados com sua forma de vida e ação eram a obra genuína de Deus. Esses estavam apegados mais aos fatores externos do que a verdadeira transformação de vida. Preocupavam-se com alguns itens da Lei, mas ignoravam os outros tantos. Cobravam atitudes dos outros, mas não moviam uma palha sequer. Vigiavam a vida alheia, mas se faziam de santarrões ao publico, no entanto, eram como “sepulcros caiados”. Jesus foi severo com esses e o juízo ainda está sobre o religioso da religiosidade nociva, vaidosa, sectária e cega.

O grande desafio para o discípulo de Jesus não é deixar de ser religioso ou desprezar a religiosidade, mas, como o Mestre, vencer a religiosidade vazia e ritualística para viver uma religiosidade sadia e conectada com o Espírito Santo, pois a obra do Espírito Santo na vida do autêntico servo de Deus frutifica-o para a vida eterna em atitudes visíveis de arrependimento, definição, testemunho, frutos do Espírito, vida em espírito (de verdade), etc. Pois a obra do Espírito Santo não se limita a grupos religiosos, mas, em sua real essência, trata-se da operação do Espírito Santo na vida do eleito até o completar da sua redenção, aperfeiçoando-a no coração do crente até o Dia do Senhor:

Tendo por certo isto mesmo, que aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará até ao dia de Jesus Cristo” (Filipenses 1:6)

Uma religião verdadeira consiste em uma vida genuinamente aos pés de Cristo, onde o crente autêntico (verdadeiro servo do Senhor) engaja-se sem reservas ao serviço e ao testemunho do Evangelho, sendo um imitador de Cristo com suas atitudes. O crente que é crente só no âmbito de sua denominação religiosa não consegue viver por completo essa verdade bíblica. No entanto, viver  a obra redentora de Deus por intermédio do Espírito Santo perpassa-se nas seguintes etapas: 1) conhecimento da Verdade (pela Palavra); 2) frutificação da fé (dom de Deus/ fé salvífica); 3) arrependimento; 4) Batismo (águas e com o Espírito Santo); 5) transformação de vida/ frutos do Espírito Santo; 6) santificação; 7) instrumentalidade/ dons espirituais; 8) crescimento na graça e conhecimento e, conforme a obra específica do Espírito, a evidência de algum ministério na vida desse crente. Aí se resume a vida que vive a genuína religião, a religião pura e imaculada onde Jesus é revelado ao mundo através de uma vida cheia do Espírito Santo. O religioso da religiosidade doentia já não vive isso.

Quando Martin Luther King, Jr. enfrentou os racistas no meio do século passado, muitos deles das igrejas cristãs, ele não se levantou dizendo que precisávamos de menos religião. Ao contrário, ele disse que precisávamos de mais religião, mas da religião de acordo com o verdadeiro ensinamento do Evangelho de Jesus, e não das regras moldadas por homens.

A religiosidade vazia que devemos combater é a religiosidade que preza o exterior ao invés do coração. É aquela que valoriza mais as supostas manifestações do Espírito, experiências pessoais e subjetivas, tradições históricas do que a prática da Palavra de Deus. Esta vivência religiosa foi abertamente combatida por Jesus em Marcos 7:1-23, quando ele e seus discípulos foram criticados por comerem sem lavar as mãos. Os fariseus eram velozes em cumprir alguns aspectos da Lei que lhes interessavam (a consagração de bens ao Senhor), ainda que estes mesmos aspectos contrariassem valores mais importantes (o honrar pai e mãe). Para aqueles, Jesus foi bem direto, chamando-os de hipócritas.

Não é difícil cair nesta mesma armadilha hoje em dia. Geralmente temos os conceitos preestabelecidos de como o cristianismo deve ser vivido, de o que um crente deve fazer, como deve se vestir e que palavras usar. Até criamos o chamado “evangeliquês”, em que basta inserir um “bênção” ou um “glória a Deus” na frase para passarmos por espirituais. Usar tais palavras não constituem religiosidade vazia, desde que o conteúdo do coração esteja alinhado com essa “glória de Deus”. As palavras que saem de nossa boca devem refletir, sim, o estado do nosso coração – se está diante de Deus ou não. Se vivemos uma religiosidade vazia, podemos até falar palavras “bonitas”, mas nossas atitudes comunicam falta de amor e graça. Em contrapartida, se nossa religiosidade é recheada da presença do Espírito Santo, as palavras mais simples e cotidianas vêm repletas do poder transformador de Jesus Cristo.
Sim, é possível ser religioso sem ser religioso. Para isto, basta ter como modelo e referência não pessoas religiosas, mas a maior e mais verdadeira com Deus foi mostrada por Jesus Cristo. Ele é a nossa religião e ser como Ele é nosso objetivo. Para isto, precisamos buscá-lo através de uma comunhão genuína pela oração e pela compreensão da Palavra de Deus, vivendo seus ensinamentos como Ele mesmo viveu, sem medo algum de ser imitador de Cristo.


Texto escrito com base no estudo de Luis Fernando Nacif (Pastor da Oitava Igreja Presbiteriana de Belo Horizonte)

Adaptações e acréscimos de Gabriel Felipe M. Rocha

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