quinta-feira, 4 de junho de 2015

Pensai nas coisas que são de cima!

SÍNTESE CRISTÃ

Refletindo sobre a Escritura, a fé e a conduta cristã!

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Tema: A mente firme em Cristo para uma vida abundante, frutífera e agradável a Deus.
 Texto base: Colossenses 3: 1-10;
Textos auxiliares: Cl 1: 10-14; 1: 21-23; 2: 6-12; 6: 18/ Fp 4: 8; Gabriel F. M. Rocha/ março de 2015.
Introdução: Nosso tempo assiste a um gradativo esmaecer de alguns valores morais que antes se firmaram em vista de uma verdade absoluta e de um sentido. Junto do esmaecer dos bons paradigmas que regiam a forma de vida e conduta dos indivíduos há algum tempo atrás, percebe-se cada vez mais acentuada a fragmentação, também, dos valores cristãos em muitas sociedades. Essa fragmentação faz com que o pecado pareça cada vez mais “normal” e “natural” em nossa sociedade. De certo, a humanidade está corrompida desde o pecado de nossos pais no Édem e, a partir de então, afastada está de Deus (Rm 3: 23). Sendo assim, não se podia mesmo esperar do mundo uma postura que agrade a Deus. Impossível! Há uma humanidade escrava do pecado e totalmente inclinada para o mal. Contudo, muitos valores morais um dia foram construídos em parcial conformidade com a vontade de Deus, considerando a existência de um Ser Transcendente e Absoluto. Um exemplo específico disso é o fato de haver, embora criticado hoje por alguns, um modelo de casamento e família em total correspondência com os valores cristãos. Poderíamos citar aqui vários outros exemplos na filosofia clássica e medieval, mas não vem ao caso.
A questão é: o mundo caminha para a sua condenação e o homem sem Deus, se inclina cada vez mais para o mal (1Jo: 19) . Se as verdades concernentes a Deus e a boa conduta em conformidade com o mesmo Deus vão sendo esquecidas, várias “verdades” e formas de vida virão como paradigmas nessa complexa esfera cultural de nosso tempo e esses modelos de crença, conduta, ou o próprio niilismo que se instaura, vão se esforçar ao máximo para entrar nas igrejas, nos lares e na mente dos cristãos. Essa fragmentação – ou mesmo o abandono – dos valores propriamente cristãos que atravessam os séculos (desde o advento da modernidade) se dá, principalmente, em sociedades que antes o Evangelho foi pregado com notável poder e de forma triunfante. Relevantes homens foram usados por Deus. Homens que negaram suas vidas e aceitaram o martírio, provando por seus testemunhos pessoais e em praças públicas o que de fato é carregar a cruz de Cristo e morrer nela. Na modernidade, através da confiança depositada na razão, na racionalidade instrumental e na ciência como capazes de conferir sentido, dar respostas e dirigir a vida humana, o mundo, enfim, declarou sua inimizade com Deus, abandonando qualquer princípio que viesse sugerir uma fé e a existência de um Deus Verdadeiro, Absoluto e Bom. E agora, no seio da pós-modernidade, vemos esse alvoroço todo. Há uma crise de sentido. Muitos assumiram a postura de inimigos de Deus, sendo totalmente afastados da luz e amantes das trevas. Homens sem rumo e sem escrúpulos. O individualismo tomou conta de nossas sociedades.
O consumismo vem ditar quem nós somos e quem devemos nos tornar; o homem busca sua auto-realização na esfera do material, do financeiro, mergulhado num hedonismo sem limites. O indivíduo pós-moderno se vê arrastado pela incessante busca por satisfação de suas carências e necessidades, pois é essa imagem de humanidade que se constrói em nosso tempo, a saber: a imagem do indivíduo que precisa se preencher (preencher o seu vazio existencial), adquirir, possuir, assumindo, então, cada vez mais sua postura como ser mundano, totalmente imanentizado e afastado da Verdade. A verdade torna-se relativa, sendo a verdade da ciência, uma verdade mutável. O verdadeiro de hoje não é mais verdadeiro amanhã. Isso, de acordo com os avanços prodigiosos da ciência. Avanços que têm, porém, esquecido a vida propriamente humana.
Avanços, possibilidades e formatações que enxergam o homem como animal estruturalmente natural, sem espírito, sem alma e sem qualquer valor e qualidade que venha sugerir uma dignidade essencial para além do corpo, das necessidades físicas e do utilitarismo. Esse é o mundo. Não é, portanto, o nosso mundo (1 Jo 4: 4, 5; 5: 4, 5)! Se Jesus venceu o mundo, nós podemos vencer o mundanismo se nossa mente for como a de Cristo. Sim! Para nós que professamos a fé em Cristo, esse não é mais nosso mundo. Estamos nele. Participamos dele. Temos uma missão nele. Ele é o nosso campo de atuação para o bom serviço do Evangelho. Mas não pertencemos e não devemos jamais tomar a forma dele. Como Paulo mesmo disse em sua carta aos Romanos, “não vos conformeis com esse século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus” (Rm 12: 2). Nossa mente deve estar firmada nas coisas do alto, pois foi renovada em Cristo para a glória de Deus.
Portanto, devemos andar conforme Deus, a fim de agradá-lo e não conforme o mundo, sendo o mundo feito inimigo de Deus. Somos livres em Cristo. Livres para vivermos conforme Deus. Mas, em detrimento disso, a proposta pós-moderna tem invadido muitas igrejas. Pode até ser aceita (como algo imbatível) a corrupção do mundo, uma vez que a Bíblia não nos engana sobre o destino do mundo e sobre o pecado. Mas o que causa espanto não é a corrupção que há no mundo, mas sim a corrupção que entra nas igrejas ditas cristãs e nas vidas dos que se dizem crentes. Muitos falsos líderes tem se levantado com idéias, supostas novas revelações e ensinando doutrinas de demônio e permitindo liberalmente a entrada de muitos pecados dentro de suas congregações (1 Jo 2: 18,19). A imagem de Cristo tem se desbotado nos corações de muitos que se um dia professaram a fé em Cristo. Muitos têm caído na graça. Alguns caíram totalmente da graça, pois dela nunca fizeram e nem farão parte, mas muitos crentes genuínos deixaram-se envolver com os ditames diabólicos desse mundo e aceitaram o pecado dentro de seus corações e lares. Os argumentos segundo o mundo estão ficando cada vez mais fortes e convincentes para os que não se firmaram totalmente em Cristo.
Falei das sociedades que antes levantaram com fervor a bandeira do Evangelho. Pois é! Muitas perderam o foco. Muitas deixaram as vãs sutilezas e filosofias entrarem deturpando a mensagem e a imagem de nosso Senhor. Muitas abandonaram a fé. Muitas igrejas têm fechado suas portas na Europa. Não sei se isso mexe com você, mas me entristeço inconformadamente com essa situação.  Nos EUA mesmo, a situação também se torna crítica e digna de nota. Muitas igrejas (de bons nomes, inclusive), perderam completamente o norte e estão deixando entrar tão livremente o pecado, tomando assim, a forma desse mundo. Deixando-se levar pelo argumento demoníaco do casamento homo afetivo, pela ausência de luta em favor dos casamentos que se destroem, pela naturalização do divórcio, pela aceitação do aborto, pela juventude que se afasta de Deus, pela falta de doutrina bíblica, pelos ventos doutrinários que mancham a fé, etc. Aqui no Brasil, por sua vez, a ortodoxia muitas vezes não caminha lado a lado com a ortopraxia em alguns grupos de memoráveis nomes e, quando a ortopraxia se vê de modo dinâmico e atuante em algumas igrejas de rótulo pentecostal, a Sã Doutrina perde lugar para o experimentalismo estranho e para as tantas heresias que emergem dentre os neopentecostais.
Ah! São muitas coisas mesmo! Se a mente não estiver em Cristo, tão facilmente se perde o rumo. Muitas novelas, séries, filmes e outras mídias tentam ensinar e ditar (quase autoritariamente) o pecado como forma de vida e tem conseguido influenciar nosso povo com o argumento de que somos antiquados, que nossa fé é fundamentalista, que estamos ultrapassados pelas razões científicas e filosóficas, etc. Os jovens têm em mãos algumas ferramentas que os mantém informados de toda e qualquer novidade e muitos filhos de crentes se perdem nesse viés. A mídia é boa, a internet é boa, tudo pode ser bom se a mente estiver firme em Cristo e a vida estiver depositada em Deus. Também, muitas “novas didáticas” apresentam seus novos modelos de família; a relativização da verdade e a relativização do pecado; desconhecimento e plena ignorância bíblica entre os cristãos; ausência notável de uma vida piedosa entre os que professam a Cristo, etc. Tudo isso vai colocando muitos crentes no cativeiro e na vida cristã estática e infrutífera.  Isso é sério! Enquanto os cristãos no Oriente Médio e em alguns lugares na África estão sendo perseguidos, mortos e vendo suas famílias desfeitas pela desgraça denominada de “Estado Islâmico”, muitos – aqui no Ocidente – estão passivamente cedendo e permitindo o  mal criar suas raízes, vivendo um cristianismo desfigurado. Estão errando o alvo. Estão perdendo o foco. Estão olhando para baixo e não para o alto. Não sabem mais, nesse pluralismo todo, para quem olhar.
  1. Entrando em Colossenses (breve abordagem dos capítulos 1 e 2):
O apóstolo Paulo, ao escrever sua carta à igreja de Colosso, quis exatamente advertir os crentes quanto aos ensinos falsos e mundanos que estavam entrando na igreja, suplantando a fé e também a centralidade e supremacia de Jesus Cristo na criação, na revelação, na redenção e na igreja. O apóstolo também quis ressaltar a verdadeira natureza da nova vida em Cristo e suas exigências para o crente. Embora se trate de contextos diferentes, o contexto do ministério paulino, assim como todo o contexto do primeiro século da era cristã foi marcado por uma chuva de heresias, legalismo, religiosidade e vãs filosofias que surgiam no meio do povo de Deus. A diferença para nossos dias, é que as mesmas coisas, os mesmos pecados se tornaram ainda maiores e afetaram todas as áreas da vida humana num tempo diversificado e mais complexo.
O apóstolo João mesmo, em sua primeira carta, faz a advertência: “Amados, não deis crédito a qualquer espírito; antes provai os espíritos se procedem de Deus, porque muitos falsos profetas têm saído pelo mundo fora. […] e todo espírito que não confessa a Jesus não procede de Deus […]” (1 Jo 4: 1 e 3). Segundo Paulo, eram muitas “filosofias e vãs sutilezas, segundo a tradição dos homens, segundo os rudimentos do mundo e não segundo Cristo” (2: 8) que estavam ameaçando o real entendimento da igreja sobre a divindade de nosso Senhor e também afetando a postura em relação à Verdade. Junto dos maus ensinos, dos maus exemplos, das filosofias e ventos de doutrina, estava o legalismo judaizante que, assim como fora também entre os gálatas e outras comunidades, disputava entre os crentes a primazia da fé em detrimento do Evangelho da graça. O mundo é inimigo de Cristo e da igreja (Jo 15: 18,19). Sendo assim, os ditames do mundo sempre vão ter por intento destruir a imagem divina, santa e verdadeira de Cristo por meio do pluralismo de conceitos e pela relativização da fé e da vida cristã. Eis a astúcia-mor do adversário de nossas almas: fazer com que Cristo não seja contemplado por nossos olhos. Por isso, Cristo – em sua oração sacerdotal – foi tão enfático quando disse:
“É por eles que eu rogo; não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste […]. Já não estou no mundo, mas eles continuam no mundo […]” (Jo 17: 9 e 11).
No mesmo sentido de exortação e desejo de ver guardadas as ovelhas de Cristo, Paulo faz sua admoestação à igreja. No capítulo 1(versículo 10 ao versículo 14), ele, tão logo, chama a atenção para que a igreja assuma uma vida digna diante do Senhor, procurando agradar a Deus em tudo, frutificando em toda boa obra e crescendo no conhecimento de Deus (v.10). Essa exortação para que venhamos assumir essas qualidades se dá com base na seguinte verdade: Deus já “nos libertou do império das trevas e nos transportou para o reino do Filho do seu amor, no qual temos a redenção, a remissão dos pecados” (1: 13). Somos, portanto, reconciliados com Deus em Cristo pelo sangue da cruz (1: 20), feitos inculpáveis, santos e irrepreensíveis. Por isso, devemos tão logo assumir tais qualidades, pois o poder do sacrifício de Jesus Cristo nos garante eficazmente essa transformação pessoal pelo auxílio e obra do Espírito Santo. Outra verdade que pode ser extraída desse contexto é a seguinte: se sua mente não está firme em Cristo e você ainda não provou da transformação pessoal em Cristo, amando o pecado, agradando a si próprio e plenamente conformado com esse mundo, a notícia para você é esta: você não tem a mente em Cristo e não pode pensar sobre as coisas do alto, pois você não se converteu ainda de seus pecados e não faz parte do rebanho de Cristo, a não ser que se arrependa e almeje viver para Deus, conforme Deus, firme em Cristo e transformado pelo Espírito Santo para uma vida santa e justa. Quanto a nós, devemos, então, permanecer na fé, alicerçados e firmes, não nos deixando afastar da esperança do Evangelho que ouvimos e aprendemos (1: 22, 23). Dessa forma, amados irmãos, não podemos – de forma alguma aceitar o mal, fazer vista grossa ao pecado (seja nosso, seja do irmão) e deixar com que as vãs filosofias e heresias adentrem nossas congregações e os maus costumes, as nossas casas.
Em Romanos 6: 12., Paulo faz a seguinte admoestação: “Não reine, portanto, o pecado em vosso corpo mortal, de maneira que obedeçais às suas paixões; nem ofereçais cada um os membros do seu corpo ao pecado, como instrumentos de iniqüidade; mas oferecei-vos a Deus, como ressurretos dentre os mortos, e os vossos membros, a Deus, como instrumentos de justiça. porque o pecado não terá domínio sobre vós; pois não estão debaixo da lei, mas da graça” (Rm 6: 12- 14). Nos versículos posteriores, Paulo adverte ainda sobre a postura cristã em conformidade com a vontade de Deus e deixa a seguinte afirmação: Deus – por sua graça – foi quem nos fez idôneos, afim que sejamos livres do “império das trevas” (v. 13), pois temos a redenção e a remissão dos pecados pelo sangue de Jesus. Ou seja: somos livres em Cristo para andar conforme quer Cristo. A princípio parece não haver liberdade nisso, mas no decorrer deste texto, veremos que sim. Há liberdade em Cristo e somos livres quando nossa vida é mortificada na carne e ressurreta em espírito. Portanto, no capítulo 1 e no capítulo 2 (mais especificamente nos versos 6 ao 12 e no verso 18 do segundo capítulo), Paulo deixa uma série de afirmações quanto a nossa nova natureza em Cristo, sendo nós agora, edificados nele (2: 7), confirmados na fé, abundantes e instruídos na fé e na ação de graças (2: 7).
Assim, devemos: estar aperfeiçoados nele, circuncidados nele, sepultados com ele no batismo e ressurretos nele pela fé. Assumindo, assim, a nossa liberdade com que Cristo nos libertou e vivendo conforme a nossa nova natureza em Deus, ninguém poderá nos dominar a seu arbítrio (ou bel-prazer) em pretextos de humildade. Assumindo a nossa posição como remidos por Cristo, cheios do Espírito Santo e amigos de Deus, devemos – portanto – provar a nossa fé, evidenciando diante das plurais filosofias e formas de vida ditadas pelo mundo, quem tem, de fato, a primazia de nosso ser. Como evidenciar e provar a nossa fé a fim de agradar somente a Cristo? Paulo responde no capítulo 3, no versículo 1 ao 17. Paulo inicia o terceiro capítulo com uma conjunção coordenativa conclusiva: “Portanto…”. E dá uma seqüência conclusiva ao que tratou nos dois primeiros capítulos de sua carta. O apóstolo diz:
“Portanto, se fostes ressuscitados juntamente com Cristo, buscai as coisas lá do alto…”.
Pois bem, Paulo faz, nessas palavras, um convite para a análise interior, para uma sondagem com o intuito de provarmos – em vista de nossas ações e forma de vida – se realmente estamos ressuscitados com Cristo. Evidenciamos mesmo o caráter de Cristo? É extremamente válida tal análise. E se realmente estamos firmados em Cristo, logo pensamos como Cristo. Se estivermos em Cristo, somos parte do Corpo de nosso Senhor. Se nós somos, então, parte do Corpo de Cristo, sendo Ele o cabeça desse corpo, nossas atitudes devem estar em plena conformidade com os pensamentos de Deus. Por isso, Paulo completa: “…se fostes ressuscitados juntamente com Cristo, buscai as coisas lá do alto”. Estar ressuscitado com Cristo e buscar as coisas do alto trazem uma série de aprendizados que aqui menciono:
1) O ressuscitado com Cristo é aquele que já morreu para o mundo. O mundo e o pecado não o escravizam mais. É livre e vive uma vida para a glória de seu Senhor, em fidelidade à Palavra de Deus, em santidade, evidenciando uma vida frutificada pelo Espírito Santo e verdadeiramente piedosa;
2) Buscar as coisas do alto remete à busca, ao interesse e à total inclinação para aquilo que é do Reino. É aquele que vive o Reino e para o Reino de Deus. Buscar aquilo que é do alto é se interessar e se preocupar com os assuntos de Deus.
Como? Se envolvendo com a obra de Deus; se envolvendo com o evangelismo, com a pregação da Palavra. O que busca as coisas que são do alto, busca viver segundo a vontade de Deus, procurando saber qual é a perfeita e agradável vontade do Senhor. Ele lê a Bíblia, ele ora incessantemente, ele clama por sabedoria, ele roga a Deus para ser usado com poder no Evangelho, ele se preocupa em apresentar um bom testemunho na sociedade na qual se insere, ele se preocupa com as questões que envolvem sua congregação, ele busca melhorias para os irmãos, ele desenvolve seus talentos e dons, ele edifica, ele trabalha, ele oferta, etc. Sua mente está voltada para a glória de Deus e sua vida familiar, profissional, financeira, etc. reflete o seu movimento para Deus e sua firme adesão; 3) O que está ressuscitado com Cristo e busca as coisas que são do alto, está em plena sintonia com a mente de Cristo. Se ele está em plena sintonia com as coisas de Cristo, tem os mesmos interesses de Deus, a saber, o resgate de muitas almas. Quem tem a mente firme em Deus e busca as coisas do alto, conseqüentemente não suporta uma vida estática e vai ao encontro do perdido e do desamparado para evangelizá-lo, pois é o que Jesus faz. Portanto, se somos ressuscitados com Cristo, nossa vida frutifica. E essa é a prova de que somos ressurretos para Deus e firmados em Cristo: quando buscamos as coisas de do alto e mantemos nossa mente voltada para as coisas do reino. Eis o exemplo em João 15: 2-4 e 5:
“Todo ramo que, estando em mim, não der fruto, ele o corta; e todo o que dá fruto limpa, para que produza mais fruto ainda. Vós já estais limpos pela palavra que vos tenho falado;permanecei em mim, e eu permanecerei em vós. […] Quem permanece em mim, e eu nele, esse dá muito fruto[…]”.
No versículo 2, a exortação continua assim: “pensai nas coisas que são de cima”. O termo usado no original, traduzido como “pensai”, é “phroneo” e pode ser traduzido também por: “exercitar a mente”, “alimentar a mente” e mesmo “interessar-se por algo”. E a advertência que nos cabe é exatamente essa: precisamos exercitar a nossa mente para desenvolvermos melhor nossos pensamentos sobre Deus a fim de melhorarmos a nossa postura cristã. Há uma profunda ligação entre o nosso pensamento e a nossa atitude. Nossas atitudes nada mais são o reflexo daquilo que pensamos. Se não temos nenhum conhecimento de Deus, não temos nenhum pensamento em conformidade com a vontade de Deus, o que poderemos esperar de nossas atitudes? Como exercitar a mente para pensar nas coisas que são de cima e buscar as coisas que são do alto? Lendo a Escritura! Isso! Lendo, estudando e examinando a Bíblia! Ela fala de Jesus. Ela é a revelação de Jesus Cristo, o Verbo de Deus! Conhecendo a Palavra de Deus, podemos agir conforme Deus e ter uma visão correta sobre nosso Senhor. Atitudes que nos afastam de Deus são atitudes cujos pensamentos estão longe das coisas de Deus. Não pensamos no próximo, não observamos a vontade de Deus, não trabalhamos e nem desejamos trabalhar no Evangelho, etc. Tudo isso por não ter uma mente firmada em Cristo. Se Deus não ocupa nossa mente, nosso ser poderá ser regido, então, pelo pecado. Isso é sério! Não somos mais escravos do pecado! Somos livres em Cristo para exercitar e desenvolver nossa salvação. Precisamos desde já alimentar a nossa mente e pensar nas coisas que são de cima, ou seja: precisamos fazer como Cristo. Precisamos nos alimentar de fazer a obra do Pai (João 4: 33,34), se envolver com as coisas de cima. Esse é o interesse de Cristo. Se nós estamos mesmo com Cristo e enxertados nele, os interesses de nosso Senhor passam a ser nosso interesse também. Uma curiosidade: a filosofia grega clássica e helenística exercia forte influencia na sociedade e nas comunidades onde Paulo exerceu seu apostolado. Não tenho dúvidas de que Paulo era conhecedor, pelo menos em parte, da filosofia grega, uma vez que ele tinha uma relevante desenvoltura entre os gregos na evangelização e no ensino. O modelo de vida realizada na sociedade grega clássica e helenística era o modelo do Sábio, a saber, o homem que era inteiramente realizado para os gregos era o que exercitava o pensamento em vista do bem da polis. Esse era o que exercia a phrónesis (phroneo), ou seja, sabedoria sobre as coisas que transcendiam o ser. Era a sabedoria do alto. Paulo, como era pregador bom, em consonância com essa forma de pensamento, lançou a verdade cristã sob o mesmo viés conceitual: o que se realiza em Deus é aquele que pensa sobre as coisas que são de cima. Esse é o sábio. A sabedoria do cristão estar no centro da vontade de Deus e não mergulhado no pecado. No entanto, muitos problemas, adversidades, e situações diversas tendem a roubar nossa atenção, nossa fé e até mesmo conseguem, às vezes, apagar a chama de nosso coração. Porém, não fomos chamados para uma vida de inconstância, mas sim de perseverança. No versículo 3, Paulo deixa um importante alento: “porque morrestes e a vossa vida está oculta juntamente com Cristo, em Deus”. As aflições desta vida, as lutas e provas que aparecem, junto com a força e o intento do pecado tentam ofuscar nossa visão e fazer com que abaixemos nossas cabeças e erremos o alvo. Nossa vida aqui é constante batalha. Contudo, devemos ter bem certo em nós a esperança de que Cristo está conosco e temos aliança com Deus através do sangue de Jesus Cristo. Estamos escondidos, agora, em Deus. Temos livre acesso a Ele pela graça e pelo sangue. Nenhum mal, nenhum ataque, nenhum desanimo, nenhuma provação, nenhum pecado que ainda cativa nosso ser pode ser mais forte que Jesus em nós. Por isso a importância de uma vida firmada a cada dia em Deus. Pois, buscando sempre as coisas do alto, nos fortalecemos e crescemos em fé e em graça para suportarmos firmes qualquer desafio que possa surgir. Em Deus, estamos protegidos. Não livres dos ataques, não livre das aspirações de nossa carne, não livres do pecado. Aliás, o pecado é uma constante possibilidade de perdermos o foco. Mas, tendo o foco em Deus e nas coisas de Deus, não há como ceder para o pecado. Há o sofrimento, mas há a esperança. Há a tristeza, mas há a alegria que sempre vem pelo amanhecer; existe a provação e a dificuldade, mas há a certeza que em Deus podemos tudo, a nudez, a fome, o perigo, a espada, etc. Tudo nós podemos, naquele que nos fortalece. Buscar as coisas do alto é, portanto, constante negação de nós mesmos (Cl 3: 5), pois esse é o sentido real da nossa morte e ressurreição. Vida virtuosa é isso: negação de suas aspirações e paixões para fazer aquilo que agrada a Deus. Olhar para as coisas que são de cima e focar nas coisas do alto é assumir o chamado; é esquecer das coisas que para trás ficam; é avançar para o alvo; é procurar não errar o alvo; é crescer em graça e em conhecimento; é se encher do Espírito Santo; é se preocupar com as coisas do Reino; é se alimentar de Jesus; é se envolver e se relacionar com nosso Senhor. Buscar as coisa de cima pressupõe uma vida que está determinada a carregar a cruz. Buscar as coisas de cima é poder orar com firmeza de coração: “venha a nós o teu Reino e seja feita a tua vontade!”. Buscar as coisas que são de cima é buscar em Deus e em sua Palavra o sentido para viver e poder olhar para o próximo com mais compaixão. Em Mateus 5: 1-48, Jesus nos deixa o modelo da vida bem-aventurada, ou da “beata vita”, que supõe uma vida de plena realização pessoal. E nos ensinamentos do Sermão da Montanha, Jesus ensina que a bem-aventurança (felicidade plena) está na constante negação de nós mesmos para o serviço do Reino de Deus e no servir o próximo e amar o próximo como marca de uma vida que conheceu a liberdade em Cristo. E não só isso: conheceu a graça e a própria miserabilidade diante do amor de Jesus Cristo. Buscar as coisa do alto pensar nas coisas de cima é, portanto, disposição mental, física e espiritual para morrer de vez para o mundo e viver uma vida ressurreta para Deus. Nossa bem-aventurança está no entendimento da mensagem da cruz. Na cruz consiste a verdadeira liberdade em Cristo. Por quê? Porque morrer para o mundo e para o pecado e vencer a carne, dizendo não para as paixões, inclinações e desapontando nossos fortes desejos em vista da glória de Deus, implica total domínio de si mesmo, numa vida frutificada pela obra do Espírito Santo. Poder dizer para a oferta do maligno e da própria carne que “eu vou agradar a Deus e não a mim mesmo” é vencer – como Cristo – a tentação do Diabo e se portar como verdadeiro liberto. O escravo não consegue. O livre sim, pois seu olhar está firme em Deus e tem constantemente buscado as coisas do alto. Assumir, portanto, a liberdade que Cristo nos concedeu na cruz. Somos livres quando nossa mente está buscando as coisas do alto e pensando nas coisas do alto, pois o pecado não mais nos domina. Temos vitória sobre o maligno! Veja em 1 João, 2: 12-17. Em continuidade de sua admoestação e ensino, Paulo ainda adverte sobre a importância de ainda morrermos totalmente em nossa velha natureza terrena, buscando superar e vencer toda prostituição, impureza, paixão lasciva, desejo maligno e avareza. (3: 5), pois, por essas coisas, vem a ira de Deus sobre os homens. Muitos ainda não acordaram para a seriedade dessas palavras e vivem praticando uma ou todas essas coisas citadas. Mas a palavra de Deus para esses é: condenação! Morte eterna! Inferno.
A não ser que se arrependam agora e busquem a Deus. Buscai as coisas do alto! Perto está o Senhor daqueles que o invocam (Is 55: 6). Paulo ainda insiste: “despojai-vos, igualmente, de tudo isto” (v.8). Notemos que Paulo está falando para a igreja. Isto! Para a congregação de crentes. Amados, somos seres de pecado (1 Jo 1: 8). Temos tendência ao erro, enquanto tivermos esse corpo mortal, pois a morte está instaurada como salário (Rm 6: 23) de nosso pecado. Contudo, temos um advogado diante de Deus (1 Jo 2: 1), a saber, o próprio Cristo. Por isso devemos ter a mente voltada para Cristo, pois Ele é o intercessor, o que advoga e o que nos traz justificação (Rm 6:7).
Contudo, devemos – agora – despojar de tudo que ainda nos faz cativos. Ou vivemos livres para a glória de Deus, ou somos ainda escravos. O céu é para os livres em Cristo. Preocupe-se com isso! Despojando de todo o pecado e de tudo que rouba a primazia de nossa atenção, impedindo-nos de buscar e pensar nas coisas do alto, devemos, tão logo, assumir a forma da nova criatura (novo homem), pois essa nova natureza em espírito nos fará chegar ao pleno conhecimento de Deus e ao modelo de Cristo (v. 10). O velho homem não pode enxergar e conhecer os mistérios de Deus. Portanto, não pode entrar em sua glória, pois Deus é Santo. Mas o novo homem, em espírito e assumindo a cada instante a forma perfeita de Cristo, pode ver a Deus e já aqui, participar da glória e de Jesus Cristo. “não que eu tenha já recebido ou obtido a perfeição, mas prossigo para conquistar aquilo para o que também fui conquistado por Cristo Jesus.
[…] esquecendo-me das coisas que para trás ficam e avançando para as que diante de mim estão, prossigo para o alvo
[…]” (Fp 3: 12-14). Uma excelente noite e auto-análise, reflexão, súplicas e paz!
Gabriel F. M. Rocha. Gabriel F. M. Rocha é professor, graduado em História (licenciatura e bacharelado); pós graduado em Sociologia (lato sensu) e mestrando em Filosofia (stricto sensu) nas áreas de Ética e Antropologia. 
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