Amados irmãos, amigos e verdadeiros estudantes das
Escrituras, paz!
Deixo mais uma vez
uma análise minha (reformulada e em processo) e, como de costume, ficou um
pouco grande. Mas para quem for corajoso e curioso vai ler com certeza.
Concordando ou não, creio que a leitura está cativante. Esforcei-me para isso.
Contudo, diante dos meus escritos que estão ainda em caráter experimental, digo
que: nada além das Escrituras! Só a
Palavra basta!
Boa leitura!
"O
Conteúdo da heresia é a apostasia. Toda heresia tende a afastar o indivíduo de
Deus. Jamais uma doutrina ou prática que leva o homem a Cristo e o reconcilia
com Deus pode ser chamada de heresia, afinal, o Diabo não leva ninguém a Deus,
apenas afasta"
“É uma verdade indubitável que toda doutrina que
vem de Deus, conduz a Deus, e o que não vos tende a promover a santidade, não é
de Deus” (George Whitefield)
Parte do artigo de Gabriel Felipe M. Rocha.
(artigo em processo)
"CONCEITO
DE “SÃ DOUTRINA”, E O CARÁTER ESPIRITUAL DAS ESCRITURAS (DOUTRINA/ DOGMA/ HERESIA)
“[...] Na própria Reforma Protestante, a obra
redentora do Espírito foi testificada na História e o avivamento aconteceu cuja
ênfase estava na supremacia da Palavra de Deus e na revelação de Cristo como
fortaleza, na salvação pela graça e pela segurança da mesma em Cristo, em Jesus
como verdadeira e única esperança para o crente e refúgio em Deus para todos
mediante a fé por meio da graça. Ali havia um remanescente que estava de
coração aberto para receber a Palavra de Deus e, a partir daí, a contínua obra
redentora do Espírito Santo no seio da Igreja Fiel de Cristo foi retomada
de forma notória. Muitas igrejas se consolidaram nessa experiência com a
Palavra e firmaram suas estacas na verdade bíblica. Igrejas ditas “protestantes
históricas” ou tão somente “históricas” surgiram como oposição religiosa ao
sistema religioso vigente. Mas não poderia ficar apenas nisso. O que foi
conquistado no Pentecostes haveria de ser derramado sobre a Igreja que já
guardava o grande tesouro (a Palavra de Deus) e, assim, coisas novas
aconteceriam e muitos veriam e participariam do ministério de poder do Espírito
Santo por meio do batismo espiritual e dons espirituais. Assim, o legado, a
herança estava sendo mantida e repassada, até que os grandes avivamentos
espirituais aconteceram onde o Evangelho transgrediu as fronteiras humanas, litúrgicas
e históricas e chegou até mesmo a lugares inóspitos. A experiência do batismo
com o Espírito Santo foi vivida e notificada, grandes avivamentos aconteciam e
a principal característica desses avivamentos estava no desejo de cumprir a
Palavra do Cristo e levar o Evangelho a toda criatura. Foi dada, então, a chave
de Davi que ninguém fecharia.
Para muitos, porém, a sã doutrina se tornou um
mandamento rigorosamente sistematizado e formalizado, um ritual ou uma liturgia
sempre a ser observada, mas que não produz vida e nem frutos visíveis. O legado
foi apenas histórico. Vivem alguns uma ortodoxia morta. Tem doutrina, mas não
tem vida. A doutrina deve produzir e gerar vida. Pelo contrário é apenas
ortodoxia morta. Pode-se fazer uma análise doutrinária de A a Z, mas toda essa
ortodoxia é ineficaz e não há vida nela. Há muitas igrejas “históricas” neste
país que estão morrendo por não viverem a experiência com a abundante benção do
Espírito Santo. Continuam solenes (pela grande bagagem histórica e heróica do
protestantismo), porém mortas. Não tem heresia, mas também não tem vida. Não
tem heresia, mas também não tem amor, não tem heresia, mas também não tem
evangelização aos pobres, não tem heresia, mas também não tem vibração por
Deus, não há avivamento algum. São igrejas boas, porém sem vida de Deus. Deus é
um Deus pessoal e ama o relacionamento com o homem no qual Ele escolheu para
viver essa relação recíproca. E do mesmo modo, na outra extremidade, reforçando
o que já foi dito, as aventuras do pentecostalismo moderno produzem crentes
imaturos e distantes da verdade bíblica.
A relevância da presente análise está, também, na
possibilidade de um maior esclarecimento em torno da questão “doutrina”.
Dessa forma, tentaremos mostrar que a doutrina
produz vida, pois a Palavra é viva. É boa e segura a liturgia tradicional e
muitos devem rever os valores e se apegar aos ganhos da Reforma e voltar ao
modelo tradicional de culto, de cultura, costume, etc., no entanto, não devemos
abandonar ou recusar os valores do genuíno pentecostalismo, pois ambos na
verdade podem convergir mais do que simplesmente divergir.
O objetivo geral do presente artigo é pensar e
definir o conceito de “doutrina” e seu caráter não só legalista ou normativo ou
disciplinar, mas também seu caráter profético , embora, para isso, devemos
fazer uma análise do termo “profético”, pois o termo tem recebido valores
estranhos ao seu real significado dentro de algumas igrejas pentecostais,
principalmente de segunda e terceira onda pentecostal ou, mais precisamente, no
neopentecostalismo brasileiro. Temos como parte de nosso objetivo, o interesse
de mostrar o que é doutrina para a Igreja de Jesus , sua transcendência e o seu
valor espiritual, seu caráter prático e moral e também seu caráter profético e,
nesse contexto, verificar a fundamental participação do Espírito Santo na
consolidação doutrinária através dos tempos ante os riscos e tentativas
diversas de agregação herética no contexto da sã doutrina de Cristo. Aliás, um
dos maiores desafios da Igreja pela história foi a preservação da sã doutrina
diante das tantas heresias que surgiam e tentavam ser introduzidas no seio da
Igreja. Hoje esse desafio continua posto. Para ser específico, esse desafio não
só continua posto, mas é ainda maior na atualidade diante das tantas
ramificações ditas cristãs que crescem e se espalham pelo mundo, inclusive em
nosso país. Aliás, esse fenômeno acontece fortemente aqui no Brasil e por isso
existe a preocupação com a saúde espiritual dos crentes que aderem a esses movimentos.
Precisamos, o quanto antes, voltar ao Evangelho, porém se esquecer que
Evangelho é poder de Deus e poder de Deus, para nós, é obra exclusiva do
Espírito Santo e implica uma total dependência da operação do mesmo. A
característica central do livro de Atos (cujo livro é a referência principal
para a missão e conduta da Igreja) é a total submissão à voz do Espírito Santo.
A Igreja de Jesus Cristo, percorrendo pela
história, sofreu algumas alterações em relação ao seu formato original
conhecido como “período apostólico” ou “Igreja Primitiva”. A Igreja ao longo da
História foi perseguida, cresceu, institucionalizou-se, separou-se e
ramificou-se. Vemos tão facilmente hoje essa ramificação. Nesse contexto
histórico, a sã doutrina de Cristo se viu ameaçada ou simplesmente esquecida em
algumas instituições. Em outros grupos, a sã doutrina recebeu itens a mais,
conceitos extras que colocaram e colocam ainda em risco a verdadeira
cristandade ou espiritualidade cristã por conta de valores extras ou alheios a
ela. São várias igrejas ditas “evangélicas” que, somando com as mais
tradicionais, temos, só no Brasil, cerca de 42.275.438 evangélicos . Segundo o
Censo de 2010, a população evangélica do país representa 22,2% da população
nacional, ou seja, 42,3 milhões de pessoas. Como está sendo elaborado o
conceito de doutrina nessas tantas igrejas?
Vemos principalmente nos grupos neopentecostais (ou
pentecostais modernos) variedades de conceitos, experimentalismos estranhos às
Escrituras, heresias, teologias frágeis à Palavra de Deus, ênfases em
revelações e em manifestações espirituais, pragmatismo religioso, ostracismo
religioso, desapego à leitura e ao estudo bíblico, ênfase ao subjetivismo e
também ao corporativismo, denominacionalismo e sectarismo.
Diante de tantos conceitos e crenças que são
ensinados, nos preocupamos aqui em trabalhar o conceito de “doutrina bíblica”,
pois questionamos se, de fato, alguns ensinamentos e conceitos podem receber o
coroamento de doutrina ou não. Não vamos nos prender aqui falando sistematicamente
de cada doutrina cristã. Não! Mas apenas apontaremos para o núcleo doutrinário
da fé cristã ou, para a base doutrinária da fé cristã que aqui chamaremos de
forma genérica de “sã doutrina”. Tendo em vista essa referência e esse
alicerce, mostraremos o que, junto com as doutrinas centrais e universalmente
conhecidas e aceitas pela fé cristã, pode ser considerado “doutrina”, “dogma”,
“disciplina ou prática cristã” e “heresia”. Tendo feita essa separação,
poderemos abrir caminho para um diálogo sobre a unidade cristã em meio às
diferenças denominacionais e como todas podem verificar a necessidade de
voltarem ao Evangelho e ao verdadeiro avivamento sem abrir mão de alguns
conceitos que podem ser sadios à fé e à sã doutrina ou, diante da verdade, abrirem
mão de alguns conceitos que não estão em conformidade com a palavra de Deus e
assim repensarem sua posição. Vamos aplicar aqui o termo “reformar” segundo
essa perspectiva e não somente à adoção total dos valores religiosos e
teológicos da Reforma Protestante, afirmando que a Reforma Protestante foi um
importante e necessário marco para a História da Igreja, mas que a consolidação
e o aperfeiçoamento da mesma não se resume entre as “quatro paredes” dos grupos
reformados. [...]”
Doutrina e Dogma (conceitos)
Nas igrejas, recebemos ensinamentos muitas vezes
sob forma de doutrina. Na maioria das congregações cristãs a base para o
ensinamento é a Bíblia, dita a Palavra de Deus. Contudo é totalmente cabível o
exame em torno daquilo que está sendo colocado como doutrina. Não é e nunca foi
pecado examinar ou até mesmo questionar um ensinamento. Em algumas igrejas
doutrina é facilmente confundida com usos, costumes, tradição, posições
teológicas, liturgias eclesiásticas e ensinamentos extra-bíblicos.
Na concepção que presto a apresentar aqui, qualquer
posição teológica, hermenêutica, tradicional que não está explícito ou evidente
nas escrituras (Bíblia) não pode ser elevado ao nível de doutrina, mas sim
dogma. A palavra dogma é, no meio protestante e evangélico, desconfortável,
pois é facilmente associado aos credos apostólicos romanos e aos dogmas aceitos
na instituição religiosa romana. Mas não é exatamente assim. Caso seja
desconfortável ao ponto de fazer com que muitos se afastam da verdade, melhor
que arrumem outro nome, mas não ensinem como doutrina aquilo que não é
doutrina. O que a Bíblia diz que é de forma explícita e evidente, é, a não ser
que não a temos como regra de fé. Mas aquilo que a Bíblia não ensina
categoricamente que é, mas parece ser (mesmo estando conforme) não é. Está
apenas no nível do pode ser. Logicamente, em várias igrejas, o que pode ser (no
ponto de vista bíblico) é recebido como certo e como válido. Em alguns casos,
práticas e ensinamentos que não estão evidentes e ensinados como tal na Bíblia,
podem (mesmo não evidentes e claramente escritos) ser práticas sadias e até
mesmo necessárias à vida cristã. Não me coloco a escrever essa pequena análise
a fim de refutar “doutrinas” e nem defendê-las, mas sim separar aquilo que de
fato é doutrina e o que de fato não pode ser chamado doutrina, mesmo sendo
inofensiva à sã doutrina de Cristo e estando sendo usada e ensinada de forma
sadia.
Necessário é separarmos isso colocando tudo a mercê
do exame e estudo das escrituras bíblicas e, no caso conceptual dos dois termos
(doutrina e dogma), necessário é um melhor estudo a respeito de seus
significados etimológicos e culturais. Não vou fazer aqui um estudo exaustivo
sobre esses termos, mas apenas vou expor alguns pontos que julgo importantes e
necessários para separarmos de forma correta aquilo que estamos aprendendo como
doutrina. Inclusive, insisto, não estou sugerindo com essa análise (simples) o
uso do termo “dogma”, pois esse termo ganhou uma força cultural muito forte e,
infelizmente, é relacionado aos pontos de fé da instituição religiosa
apostólica romana. Embora, sabemos que não é bem assim. Em muitas igrejas
(cristãs), alguns pontos ou práticas são vistas com a mesma característica. Um
dogma, no campo filosófico, por exemplo, é uma crença ou “doutrina imposta” que
não admite contestação. No campo religioso é uma verdade divina, revelada e
acatada pelos fiéis. No caso específico da Igreja Católica, os dogmas surgem
como interpretações das Escrituras e, sobretudo, da Tradição e autoridade da
Igreja Católica. Para algumas igrejas cristãs de cunho protestante e
evangélico, embora o termo “dogma” não seja usado (por não ser aceito),
consiste da mesma característica que envolve a igreja romana. Pois são pontos
teológicos, espirituais, revelações, entendimentos bíblicos a respeito de tal
ponto, etc. que são facilmente acatados pelos fiéis e incontestáveis por serem,
em algumas igrejas, revelações divinas.
Creio na revelação divina e no constante
aperfeiçoamento doutrinário (como obra exclusiva do Espírito Santo e não
HUMANA). Mas tal revelação ou alcance bíblico (ou teológico) não pode ser
chamado de doutrina, a não ser que alcance um nível universal. Ou seja, seja
aceita e testificada na vida de todos os cristãos (que se espalham em
denominações diferentes). Faço algumas perguntas reflexivas: se o Espírito
Santo revela a um determinado grupo ou pessoa alguma prática espiritual ou até
mesmo um ponto doutrinário de suma importância para a vida cristã e que não
está em desacordo com a Palavra de Deus (sã doutrina) e esta se alinha a ela
sendo pretensa vinda de Deus e, como tal, se faz sinônimo de vitória e condição
indiscutível para ter de Deus a graça e a salvação, por que o mesmo Espírito
Santo (o mesmo Deus) não tem o interesse de que ela se manifeste entre outros
irmãos, uma vez que o Espírito Santo não é propriedade particular de uma
denominação específica, mas opera aqui e ali conforme sua soberana vontade? Por
que existem tantas denominações com variadas práticas diferentes? E por que é,
para cada uma delas, fundamental aceitá-las e vivê-las a ponto de ir contra a
vontade de Deus? Não vou dizer que tais práticas espirituais ou “doutrinas de
uma igreja” excedem aquilo que a Bíblia diz se essas tantas práticas (reveladas
ou não) estiverem levando o verdadeiro crente à santificação e uma vida cristã
sadia e conforme os ensinamentos básicos de Cristo. Mas algumas, sem dúvidas,
excedem e muito a sã doutrina e já entram num campo perigoso chamado de heresia
e apostasia. Algumas posições teológicas ou práticas espirituais se enquadram
no nocivo “outro evangelho”.
Portanto, qualquer ensinamento a respeito das
escrituras que não estão evidentes não pode ser ensinado como doutrina, mas sim
como “aspectos doutrinários”, “práticas espirituais”, “alcances inspirados das
Escrituras”, etc. Caso seja ensinado que é irrevogável ou inquestionável por
ser revelação de Deus, temos que esperar muitos outros grupos receberem de Deus
também essa mesma revelação (pois o Espírito é o mesmo), mas enquanto a
revelação divina estiver como exclusiva a um determinado grupo e não for
ensinada, passada e aceita (pelo testificar do mesmo Espírito) a outros, ela
pode, no máximo, ser considerada como uma prática espiritual da igreja em
questão, mesmo como inúmeras experiências da membresia em torno dessa prática.
Crer que Deus revela seus mistérios apenas a um grupo, é dizer que o Espírito
Santo tem estado ausente nos outros grupos e isso não é verdade, além de ser
puro sectarismo religioso. O que tem de ser feito? Tudo que está no nível de revelação
divina, deve ser mais bem ensinado, separado e testificado entre os crentes,
parte do Corpo de Cristo (que não representa uma só denominação religiosa), a
Igreja de Deus. Feito isso na graça de Jesus, creio que muitos crentes em Deus
testemunharão com suas próprias vidas a eficácia de cada aspecto doutrinário
ensinado. Se for algo revelado então, Deus triunfará com sua sã doutrina e a
obra redentora do Espírito Santo será vivida entre os verdadeiros crente em
Jesus. Portanto, a prática espiritual ou entendimento a respeito de algo
bíblico, deve se tornar universal para, enfim, receber o coroamento de
doutrina. Esse “se tornar universal” não tem relação nenhuma com o
“ecumenismo”. Não estamos falando de um ecumenismo, mas sim de uma doutrina sã
e vivida por todos sem exclusividade religiosa e sectarismo. Vale lembrar que a
obra do Espírito Santo no tempo da igreja primitiva foi testificada de forma
geral pelo mesmo Espírito na vida dos crentes. Embora houvesse algumas
discussões ali em torno de alguns pontos, o operar do Espírito Santo foi
genuíno e as doutrinas foram estabelecidas de forma geral, ou seja, o mesmo
Espírito Santo que batizava os crentes no ministério de Pedro, batizava e
ensinava no distante ministério de Paulo. Eram ministérios diferentes, às vezes
divergentes, mas confirmados pela sã doutrina que era sim algo revelado e novo
para os que estavam ali. Paulo não recebeu nenhuma revelação divina exclusiva
que o manteve separado das igrejas em Jerusalém, tanto é que Pedro, embora
ministrasse para a circuncisão , recebeu a mesma revelação divina a respeito
dos gentios como Paulo também recebera. Nisso vemos que a doutrina do Espírito
Santo era clara e universal.
Para uma revelação divina ou entendimento bíblico
se tornar uma evidente doutrina bíblica, o sentido ou essência espiritual deve
estar suficientemente manifesto na Palavra de Deus. Sabemos que a Palavra de
Deus (Bíblia) enquanto conjunto de livros inspirados pode ser revelado pelo
mesmo Espírito que a inspirou. Nesse contexto de “revelação”, podem surgir sim
novos entendimentos, porém fincados na essência bíblica explícita, não
ultrapassando a verdade de Cristo. Mas a doutrina será somente aquilo que está
já evidente como tal. Exemplo: Se Jesus ou os apóstolos ensinaram e está devidamente
registrado nas Escrituras, podemos chamar de DOUTRINA. Mas, fora disso,
qualquer conceito doutrinário ou dogmático dado pela INTERPRETAÇÃO bíblica,
tendo como base única os ensinamentos bíblicos e genuína aplicação bíblica,
contextualizada e que agrega os valores da sã doutrina, tal conceito
doutrinário NÃO PODE ser chamado de DOUTRINA, no entanto, não é simplesmente
HERESIA, mas sim um DOGMA que não ultrapassa a sã doutrina de Cristo. Muitos
entendem como “ultrapassar a doutrina de Cristo” algo que está simplesmente
diferente do que está escrito e isso não é verdade. Temos que nos afastar
também desse fundamentalismo bíblico e não ter a Escritura como “regra” (no
sentido legalista) ou como um simples manual de conduta. Mas ela deve, além
disso, produzir vida e bons frutos no crente e fazer o mesmo se achegar mais a
Deus e não afastá-lo de Deus. Aliás, o que afasta é apostasia e apostasia é o
conteúdo objetivo da heresia. Logo, se uma doutrina, um conceito doutrinário,
prática ou dogma que leva o crente a Deus, expõe a graça de Deus e sua glória,
diminui o homem e eleva a Cristo e entende a salvação em Cristo no sentido
bíblico da mesma não pode ser chamada de heresia, pois ela não afasta, mas
agrega. Se o Diabo é o mentor da heresia, logo ele quer afastar o crente de
verdade. Se existe uma heresia que leva o crente a Deus, de que lado o Diabo
está?
Para um estudo bíblico eficaz na defesa da fé
cristã e da sã doutrina, precisamos ter um referencial único: JESUS CRISTO, a
base, o fundamento referencial para qualquer edificação conceptual doutrinária
e espiritual. O que ultrapassa o Evangelho de Jesus Cristo é já condenado pelas
escrituras. Porém devemos lembrar aqui que muitas doutrinas consideradas
universalmente “doutrinas bíblicas” não foram diretamente ensinadas pelos
apóstolos e nem por Cristo, mas são frutos de interpretação bíblica (que talvez
por fé poderemos chamar de inspiração bíblica). Mas, se aquilo que é ensinado,
mesmo não podendo se elevar ao nível de doutrina ou “verdade cristã absoluta”, for
ou estiver conforme os ensinamentos de Jesus Cristo, levando o verdadeiro
cristão à santidade e a uma vida espiritual moldada segundo os parâmetros de
Cristo, não poderá ser chamada de heresia ou engano. Da mesma forma, não poderá
ser chamada de “doutrina bíblica” simplesmente pelo zelo em conservar a sã
consciência cristã diante de Deus e do mundo. Como escreveu George Whitefield ,
“é uma verdade indubitável que toda doutrina que vem de Deus, conduz a Deus, e
o que não vos tende a promover a santidade, não é de Deus”. Bem, vamos ao
conceito-chave da palavra doutrina e da palavra dogma.
2.1 Diferenciando os termos: o que é doutrina? O
que é dogma?
O termo doutrina pode ser cuidadosamente definido
como o conjunto de princípios que servem de base a um sistema religioso,
político, filosófico, militar, pedagógico, entre outros. Está sempre
relacionado à disciplina, e a qualquer coisa que seja objeto de ensino. No
campo religioso cristão é considerado (na maioria dos conceitos) como aquilo
que se crê, ou seja, aquilo que está na revelação escrita ou oral cuja base é a
Bíblia (os católicos romanos chamam de credo). Para a grande parte dos
cristãos, principalmente para os protestantes, só pode ser chamado de doutrina
aquilo que está explícito na Bíblia como tal. Citaremos exemplos.
Na Reforma Protestante, por exemplo, os pilares
instituídos tiveram como base, segundo os pensadores da reforma, os pontos
explícitos, evidentes e básicos da Bíblia para a fé cristã como a Sola
Scriptura (Somente a Bíblia e toda a Bíblia como via única de fé); Solus
Christus (Somente Cristo salva e intercede, garantindo ao crente o livre
sacerdócio); Sola Gratia (Somente a Graça por meio da fé e não pelas obras);
Sola Fide (Somente a Fé) e Soli Deo Gloria (Somente a Deus Glória). Esses pontos
teológicos foram e são aceitos no meio protestante e evangélico como “doutrina”
porque se tornaram conceitos universais apoiadas pelos textos bíblicos claros
que respaldam todos esses pontos. Com essa instituição “doutrinária”,
excluiu-se definitivamente a Tradição Apostólica que era de suma importância
para a igreja apostólica romana. A Igreja Católica colocava a Tradição como
equivalente na teoria, mas superior na prática. Mas a Reforma Protestante
colocava a Bíblia como única “regra” de fé e instituía os cinco pilares não
como conjunto doutrinário exaustivo, mas básico para a prática cristã. Nessa
perspectiva histórica e cultural, o termo “doutrina” cujo principal significado
é “ensinamento” ou “ordenança” (em muitos textos bíblicos à luz do original)
ganhou força como: conceitos, preceitos e aspectos explícitos na Bíblia, ou
seja, aquilo que não carece de um estudo extenuante para a sua afirmação.
Exemplo: a doutrina “Deus” ou “Salvação através de Jesus Cristo” são aspectos
bíblicos confirmados pela própria Bíblia, ou seja, a Bíblia ENSINA tais
aspectos e por serem UNIVERSALMENTE aceitos, podem receber o coroamento de
doutrina bíblica.
Se doutrina tem sua raiz bíblica (hebraico/grego)
ligada à palavra “ensinamento”, tudo que a Bíblia explicitamente ensina pode
ser considerado, com base no conceito geral, DOUTRINA ou “doutrina bíblica. Já,
no nível de exemplo, o aspecto bíblico ou doutrinário conhecido comumente como
“Trindade” não está explícito na Bíblia e, portanto, não é evidentemente
ensinada, gerando assim outros conceitos bíblicos diferentes. A isso, chama-se,
geralmente “dogma”. Embora venha soar estranho para nós, a “Trindade”, por
exemplo, é um conceito dogmático e não doutrinal. Isso não interfere no valor
conceptual e na qualidade espiritual dessa posição teológica inspirada que,
para nós cristãos, é uma verdade bíblica e geralmente aceita como doutrina. Mas
esses conceitos apresentados aqui estão na forma de pressupostos apenas e não
afirmações, aliás, o presente artigo não tem a pretensão de afirmar nada, mas
apenas expor conceitos. A separação entre doutrina e dogma geralmente é feita
com base no entendimento religioso, cultural e tradicional e não etimológico.
Etimologicamente, doutrina e dogma são conceitos semelhantes, aliás, a tradução
da palavra “doutrina” para o grego é δόγμα (dogma) cujo significado está em
torno de “ensinamento”, “preceitos”, “normas”, “conjunto de crenças”,
“instituições normativas”, etc. Mas, para não basearmos somente em idéias
comumente aceitas, vamos analisar à luz da etimologia e lexicologia.
A idéia de doutrina, portanto, pode ser considerada
aqui como: conjunto de princípios, ensinamentos, práticas, e conceitos
explicitamente bíblicos, ou seja, evidentes e inquestionáveis no universo
cristão como os exemplos citados anteriormente. A principal forma de propagação
de uma doutrina ou de um conjunto doutrinário exaustivo é através do
ensinamento.
Na segunda carta do apóstolo João, no verso nove, o
termo doutrina (escrito em grego) contribui para essa tese. Vejamos:
“Todo aquele que prevarica (ou corrompe) e não
persevera na doutrina de Cristo não tem a Deus” .
A palavra doutrina foi escrita na referida carta
como “didachê” (termo do grego coiné). Esse termo expressa, muitas vezes, o ato
de ensinar ou expor. Significa também o mesmo termo conhecido por nós –
doutrina -, embora, em alguns textos, doutrina está no original como “dogma”
(δόγμα), como vem acima. O significado básico de “dogma” é: "aquilo que
aparenta; opinião ou crença”. Também pode ser definido por uma lei civil ou
eclesiástica (uma imposição eclesiástica que pode ser doutrinária ou cultural)
baseada em entendimentos congregacionais ou entendimentos de particular
interpretação de uma doutrina bíblica ou um credo (no caso da igreja romana). A
palavra dogma, por sua vez derivada do verbo δοκέω (dokeo) que significa
"pensar, supor, imaginar", está comumente ligada a conceitos
implícitos da Bíblia que, embora estando implícitos, podem ser considerados
como “verdade a ser aceita” como no caso da “Trindade”. O termo “dogma”, analisado
no original grego, é um termo ligado a “ordenanças de pessoas da nobreza” como
reis, príncipes ou autoridades espirituais como sacerdotes e, no nosso caso,
líderes eclesiásticos e apóstolos (os pais da Igreja). Nesse horizonte
etimológico, poderíamos até dizer que uma doutrina extremamente e
explicitamente bíblica também é dogma, pois é uma ordenança transmitida que irá
passar primeiro no campo das idéias. Mas é preciso separar ambos os conceitos
de forma didática e precisa, pois essas duas palavras, embora semelhantes em
relação a suas raízes, tomaram, podemos dizer, rumos conceptuais diferentes.
Portanto, para a nossa analise ficar mais bem entendida, vamos considerar o
seguinte: DOUTRINA é aquilo que está posto de forma evidente e inquestionável
(dentre os cristãos) na Bíblia e está afirmada por uma hermenêutica e exegese
segura. DOGMA, portanto, é (na minha análise) um aspecto doutrinário ou, como
quiserem conceitos e preceitos estabelecidos através de ideias e interpretações
baseadas na DOUTRINA ou no conjunto de escritos bíblicos. O dogma é uma
chancela de algo, seja da tradição, seja da particular interpretação com alguma
coerência bíblica. O que não é coerente com a BASE doutrinária explícita não
pode nem ser elevado ao conceito de dogma, mas, pela falta de total respaldo ou
por ferir a essência, é já uma HERESIA.
Muitas vezes o dogma caracteriza um grupo religioso
do outro em suas interpretações e formas de julgar cada aspecto bíblico e
doutrinário. Em um determinado grupo o “conceito dogmático” pode ser sadio e
não ultrapassar a essência dos ensinamentos evidentes de Cristo ou podem ser
simplesmente heréticos. Essas interpretações e formas de agir eclesiásticas,
portanto, ganharam o nome de “dogmas”, mas se ultrapassam e transgridem a “sã
doutrina” (a própria Bíblia como regra de fé) é configurada como heresia, daí,
portanto, tal grupo religioso pratica a apostasia.
Um exemplo clássico: Se um grupo religioso diz que
Cristo salva, mas para ser salvo é preciso santidade além da graça soberana e
por isso se abstém do mundo buscando uma santidade, tal grupo defende um dogma:
“salvação condicional” ou eleição condicional. Pois esses conceitos não estão
biblicamente explícitos (por isso é palco de uma longa discussão teológica
entre calvinistas e arminianos). Mas se outro grupo diz que Cristo salva e
Maria também salva, ultrapassam gravemente a sã doutrina configurando uma
heresia pela falta extrema de evidencia bíblica ou por basearem-se apenas em
uma tradição religiosa passada como “verdade a ser crida”, mas que fere a BASE
que é Cristo, o único e suficiente salvador.
2.2 Separações didáticas entre doutrina, dogma e
heresia
O que quero, de fato, já eliminar aqui é a idéia de
que TODO aspecto doutrinário considerado “dogma” por não estarem explícitos na
Bíblia como as demais doutrinas-base e evidentes são heréticos. Isso não é
verdade. Existem muitas interpretações que, mesmo não podendo chegar ao nível
de doutrina, não fogem da Verdade bíblica e não se afastam da base. Vou dar um
exemplo: “Divindade de Jesus”. A bíblia, assim como no caso da “Trindade” não
fala esclarecidamente “Jesus é Deus e ponto final”, mas dá variadas margens
interpretativas que nos assegura tal conceito como uma verdade bíblica.
Poderíamos dizer que “Divindade de Jesus” é um dogma respaldado
hermeneuticamente pela Palavra de Deus, portanto está facilmente co-relacionada
com “doutrina bíblica”. Embora muitos ainda não saibam essa questão doutrinária
ganha interpretações erradas em alguns grupos como é no caso das Testemunhas de
Jeová . As TJ crêem que Jesus não é Deus, indo na contramão da essência cristã.
Sendo assim, esse mencionado grupo tem um “dogma” a respeito desse ponto
bíblico, porém o “dogma”, como “interpretação particular” de um aspecto bíblico
se torna heresia por ultrapassar e ferir a essência e o limite doutrinário que
é a própria BASE (Jesus Cristo).
Não defendo, nessa análise, a veracidade de dogmas
ou a validade dos mesmos, mas apenas analiso ambos os conceitos e verifico a
periculosidade de um “dogma” ou de uma “doutrina” se tornarem heréticos por não
estarem firmados ou respaldados na BASE (que é Cristo). Heresia, como já
sabemos, é tudo aquilo que ultrapassa a sã doutrina e não é coerente com o
projeto ou a obra redentora de Jesus Cristo, chegando ao ponto de até ferir a essência
espiritual do Evangelho de Jesus Cristo. Podemos aceitar, como simples gráfico
mental, que “dogma” é uma espécie de “ponte” que pode estar ligada à doutrina
explicitamente bíblica se for coerente com o projeto divino ou não ferir os
preceitos da obra redentora de Cristo. Por outro lado, como “ponte” pode levar
o crente à heresia e apostasia se o aspecto doutrinário for errôneo e
incoerente, ferindo a base e ultrapassando aquilo que é santo. Precisamos
observar em nossas igrejas se o que é ensinado é verdadeiro e seguro em relação
à sã doutrina e o projeto redentor e profético. Às vezes a essência e a
veracidade da prática espiritual ou doutrina é deturpada por maus ensinamentos.
Por exemplo: se digo que orar clamando o poder do sangue de Jesus é necessário
em algumas orações específicas como a petição de um renovo, de um perdão, de
uma comunhão, de uma acusação, etc. não estou de forma alguma indo contra os
princípios bíblicos, afinal, dizer com ousadia e fé na minha oração (que é a
minha conversa íntima com meu Criador) que há, de fato, poder no sangue de
Jesus não configura nenhuma heresia por que existem margens nas Escrituras que
podem sustentar minha saudável prática. Mas se ensino que é só dessa forma que
se chega a Deus, ou é somente assim que Deus me ouve referindo-me ao dizer
determinadas palavras ou frases na minha oração como condição de entrar no
santo dos santos, valorizando mais a frase do que a sinceridade de minha oração
estou ferindo a sã doutrina, pois coloco uma condicionalidade desnecessária,
desvalorizando o sacrifício perfeito de Cristo. Daí posso passar facilmente da
sadia prática espiritual para a heresia.
Para separarmos ainda mais claramente e
didaticamente, vemos que o conceito ou aspecto doutrinário enquanto simples
posição teológica, cultural ou idealística não pode elevar-se ao nível de
doutrina. Já uma ordenança bíblica clara (que também pode ser traduzida como
dogma) pode ser chamada doutrina, por ser explícita e proveniente do colégio
apostólico ou do próprio Senhor Jesus. Uma revelação direta de Deus, por
exemplo, pode ser considerada doutrina, se for respaldada pala Palavra de Deus
e estiver amplamente firmada nas verdades bíblicas evidentes e for aceita
universalmente. Sendo assim, as revelações divinas não podem vir como “algo a
mais”. Posso citar aqui outra vez o exemplo do “clamor pelo sangue de Jesus”,
uma prática espiritual muito utilizada em casos específicos em vários grupos e
que na Igreja Cristã Maranata ganhou uma posição de doutrina ou supostamente
“doutrina revelada”. Bem, prefiro manter uma posição cética e não vamos dedicar
esse estudo em defesa de fé doutrinária e nem em refutação da mesma, mas sim em
análise. A citada prática espiritual que, no meu entendimento, não ultrapassa o
projeto redentor de Cristo e nem os seus ensinamentos não pode ser considerada
herética, mas, por não ser usada e aceita de forma geral no meio protestante-
evangélico, não pode ser considerada doutrina. Por ser proveniente de um
aspecto doutrinário (o poder do sangue de Jesus que é bíblico), pode ser vista
aqui como uma prática espiritual ou uma expressão de fé na oração ou um ato de
exprimir a confiança, a liberdade e a ousadia de entrar no santuário pelo poder
salvífico do sangue de Jesus, o ápice da Nova Aliança. A heresia, nesse exemplo
citado, poderia configurar-se no ensinamento errôneo que citei anteriormente de
que “só com esse tipo de oração, Deus nos ouvirá e nos aceitará”.
A diferença básica entre os dois termos não é
extrema. O primeiro termo (doutrina) demonstra como já vimos a prática ou o ato
do ensinamento ou da exposição de uma idéia ou de um conjunto de idéias e
também algo vindo direto de Deus com comprovações seguras e o segundo termo
(dogma) expressa uma idéia colocada, interpretada ou sugerida, independente de um
ensinamento ou não; traz a idéia de “preceitos externos”, enquanto doutrina dá
a idéia de “conceitos já claramente estabelecidos”. Para o segundo termo
(dogma), basta, às vezes, uma simplória exposição e a plena aceitação dos
ouvintes em determinadas congregações. Mas, etimologicamente, doutrina e dogma
sendo apresentadas a nós como conceitos diferentes, não se distanciam muito uma
da outra a não ser no seu entendimento e uso comum. Um conceito posto ou
sugerido no nível de dogma pode estar respaldado pela Palavra de Deus e pode
não ultrapassar os limites doutrinários cuja principal referência é a Bíblia.
Por exemplo: o conceito de salvação calvinista e arminiano que mencionei
anteriormente. Ambos os conceitos podem ser considerados dogmas (pensamentos/idéias)
cuja base bíblica é a doutrina da salvação (explícita). Inclusive, se uma só é
a verdade, logo um dos dois conceitos está errado. Se está errado, logo é
mentira. Se é mentira, logo é heresia e engano. Mas eu pergunto: crer que Deus
elegeu de antemão alguns e que a graça é irresistível ou crer que Deus elegeu a
todos e que temos livre participação nesse processo muda a essência da coisa?
Nesse exemplo, o que de fato é necessário para se chegar a Deus e ser salvo?
Simplesmente crer que a salvação vem de Deus (pela graça), e se concretiza
mediante a fé no Cristo. Basta! Para o nosso entendimento, nesse caso, a
salvação é explicitamente doutrina bíblica, porém as práticas do ensinamento de
uma das duas correntes teológicas citadas estão no nível de dogma, uma vez que
são idéias (de cunho bíblico) apresentadas como possíveis “verdades”. Mas,
existem conceitos bíblicos passados no campo das idéias e interpretações que
alcançam uma maior comprovação bíblica (hermeneuticamente e exegeticamente)
sendo assim considerada doutrina bíblica como, por exemplo, um dos pilares da
Reforma Protestante: Sola fide. Considera-se doutrinal no meio protestante a
idéia de que a salvação é por meio da fé e a fé é um recurso proveniente da
graça ou como quisermos, o único meio de graça, no entanto, vem de Deus para
que ninguém se glorie .
O fato é que, popularmente, a idéia de dogma está
de modo geral ligada à prática ou doutrina eclesiástica inquestionável ou
herética. Mas “heresia” não define “dogma”. São conceitos diferentes. Não são
termos ligados, mas são termos ligáveis como no exemplo dado anteriormente da
“ponte”. Um dogma (conceito ou interpretação) totalmente fora da BASE e que
fere a sã doutrina é heresia. Do contrário, um entendimento específico de um
ponto bíblico estando em conformidade com a essência espiritual cristã não é.
Sendo assim ambos são conceitos diferentes. Vou dar um exemplo simples: Se uma
denominação entende que, para agradar a Cristo é necessário total desapego ao
material e financeiro, não estão ferindo a essência, pois não transgridem a
autoridade e a divindade de Cristo, antes buscam dessa forma a santificação
baseados num interesse sincero e saudável. O que não pode acontecer é o fato
desse grupo começar a pregar que “a salvação consiste em nosso esforço em nos
abstermos” ou “Isso é o certo” ou que isso “foi revelado divinamente assim,
portanto, quem não pratica dessa forma não alcança a graça de Cristo”. Daí
configura-se um erro, uma heresia.
Um conjunto de idéias descontextualizadas e
errôneas pode estar no nível de dogma por serem idéias e entendimentos a
respeito de algo e pode se tornar doutrina herética (não bíblica), mas jamais
podem se tornar doutrina genuinamente bíblica, a não ser se tal idéia ou
entendimento de algo estiver firmada e respaldada claramente na base que é
Cristo, o Verbo vivo, a própria Palavra de Deus e se for aceita universalmente
enquanto tal. O que importa é a base (Cristo). Ele é o centro de toda doutrina
(ensinamento), por isso Ele foi categórico ao dizer que as Escrituras
testificavam dele . Nessa perspectiva, Paulo escreveu a Tito o seguinte:
“retendo firme a fiel palavra, que é CONFORME a doutrina...” . Ou seja, tudo,
para receber o coroamento de ‘doutrina’ ou preceitos externos (dogmas ou
conceitos válidos e sadios para a fé cristã), deve estar conforme a doutrina
cujo significado é “ensinamento”. Ensinamento de quem? De Cristo. Ele é,
portanto, a base, o nosso firme fundamento. Vamos entender mais sobre isso ao
longo dessa análise [...]"
Continua...
Gabriel Felipe M. Rocha é graduado em História (licenciatura e bacharelado), pós graduado em Sociologia (lato sensu), bacharel em Teologia com ênfase em História da Igreja, tem artigos publicados e registrados nessa área, atualmente está mestrando em Filosofia cuja linha de pesquisa é Ética e Antropologia. Estudou Francês Instrumental na Faculdade de Filosofia e Teologia de Belo Horizonte.