quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

BÍBLIA: INSPIRADA/REVELADA E ESPIRITUALMENTE ILUMINADA

BÍBLIA: INSPIRADA/REVELADA E ESPIRITUALMENTE ILUMINADA
(trecho de um comentário feito na página "Escrituras Em Foco"/Facebook)

"Sabendo primeiramente isto: que nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação. Porque a profecia nunca foi produzida por vontade de homem algum, mas os homens santos de Deus falaram inspirados pelo Espírito Santo." (II Pedro 1:20-21)


Leitores, esta presente análise não nos vem como apologética ou defesa de determinadas crenças religiosas ou algo parecido. É apenas uma análise sobre o valor espiritual da Bíblia, uma vez que sabemos que ela não se limita a um simples livro histórico e literário. Mas para tudo ficar claro e não haver confusão aconselho você ler manuseando sua bíblia e fazendo como os crentes de Bereía, analisando se de fato é assim mesmo. Não somos donos de verdades aqui, mas também somos ousados na Palavra, pois sabemos que ela é o poder de um Deus vivo e que por ela fala ao homem. Boa leitura!

Começamos a estudar essa questão quando um amigo lançou a questão: a Bíblia é em si a Palavra de Deus ou ela apenas contém a Palavra de Deus? Bem, resumindo aqui de forma bem rápida, dizemos que ela é a Palavra de Deus e o verdadeiro cristão deve crer nisso, pois há, realmente, um sério risco em dizer que nela apenas contém a Palavra de Deus, fazendo assim com que o trabalho hermenêutico e exegético fique ainda mais difícil e dubitável.


Mas a questão não é bem essa a ser tratada aqui. Nosso foco, na verdade, é mostrar o que de fato é "revelação bíblica", pois vemos em muitas igrejas uma certa deturpação e mau uso do termo "revelação", dando assim brechas (talvez intencionais) para chover sobre a igreja "novas revelações doutrinárias". A heresia cavalga aí. Contudo, reconhecemos aqui que há um conteúdo espiritual na Bíblia e seu caráter é 'profético' (explicaremos aqui o termo 'profético'), conteúdo esse que continua sendo iluminado ao crente pela ação do Espírito Santo, pois o Cristo na qual a Bíblia testifica continua vivo, glorificado e falando e, para reforçar nossa posição, Ele nunca vai contra si mesmo, ou seja, a iluminação espiritual jamais vai ou pode ir contra o já revelado por Deus na sua Santa e Viva Palavra. 

Pois bem, “Quem tem a melhor revelação da Bíblia?” Seriam todos os que têm a Bíblia? Bem, pois se a Bíblia é já “revelada” (algo já esgotado), subentende que todos têm a revelação da Bíblia, ou seja, basta ter a Bíblia em mão para ter a “revelação” e se todos têm a “revelação”, logo Deus é o deus mais relativo dentre todos os deuses, pois muitos (de biblistas ateus a pastores da Assembléia de Deus) têm a Bíblia em mãos e estudam, estudam, estudam.... ...Incansavelmente estudam! O que os homens tem feito com a “revelação” de Deus? O que, de fato, é “revelação” de Deus na Bíblia?
Creio que, em meio a essa confusão de conceitos, há uma caricatura da Sola Scriptura.

De que forma a Bíblia é a “Revelação” de Deus?

O fato é que a Bíblia é a revelação de Deus no ato de sua escrita por meio da inspiração. Ou seja, Deus inspirou escritores específicos que, com todas as suas cargas literárias pessoais possíveis, transcreveu o “recado” de Deus. Então na inspiração existe o ato da revelação. 
Não são conceitos alheios em si. Houve a inspiração – enquanto a inspiração da mensagem divina estava na forma subjetiva, ou seja, um segredo entre Deus e o escritor, a revelação existia só para o escritor. Esse escritor ao escrever a mensagem inspirada, tornava-a pública, configurando assim uma “revelação”, ou seja, um “trazer à luz” aquilo que dantes estava oculto. Nesse sentido (somente nesse sentido) que podemos dizer que a Bíblia é “toda revelada”, pois ela é  a Palavra do Criador para a humanidade e nela existe a revelação do projeto redentor. Mas seria a Bíblia apenas um livro de ‘informações religiosas’ ou conjunto de regras e normas? Creio que a Bíblia traz em si um conteúdo espiritual (ou profético) que transcende tanto o escrito como o leitor. Isso é muito diferente (muito mesmo) de uma “espiritualização” da Bíblia ou mistificação. Temos que separar o valor espiritual dado a Bíblia do valor místico que alguns também dão a ela. Esses dois termos podem se confundir facilmente, mas não são sinônimos.
Mas, contudo, o conteúdo bíblico não é simplesmente literário como as grandes obras literárias e filosóficas que, por meio de estudos, estudos, estudos e mais estudos, conseguimos trazer uma interpretação puramente racional e, por ser puramente racional, é passiva de erros e equívocos. Aliás, se não podemos crer que Deus possa revelar seus segredos aos seus santos por serem falhos, pecadores e ‘depravados’, não podemos crer também na espiritualidade ou na inspiração espiritual bíblica, pois essa foi a revelação de Deus aos homens que a escreveram.
Portanto, dizer que a Bíblia é uma revelação de Deus está certo, mas o erro está na crença que tudo ali é acessível de forma imediata ao homem natural através dos discernimentos naturais do próprio homem, a saber, seu próprio intelecto como forma única de se alcançar aquilo que é de Deus. Daí nós esbarramos num conceito alcançado na Reforma Protestante que, inclusive, é o primeiro pilar da teologia calvinista: a depravação total do homem = depravação essa que o torna incapaz de escolher e se achegar a Deus. Mas se esse ser humano depravado não pode conhecer pela sua razão a Deus (ou como dizia Kant: essa razão tem limites), Ele não pode conhecer (somente) pela razão a Deus, mas precisa de uma intervenção espiritual, corroborando coma própria Bíblia que diz que as coisas espirituais discernem-se espiritualmente. Afirmar isso não quer dizer que é só pela “revelação” extra, ou algo a mais, etc. que conhecemos a palavra de Deus. Não! Isso inclusive é um modo errado de interpretar a frase “discernir espiritualmente”, mas o que queremos dizer, em conformidade com as Escrituras, é que o auxílio do Espírito santo é fundamental (disse fundamental) para o discernimento e para a aplicação espiritual das Escrituras. Isso, lógico, se considerarmos a Bíblia um livro espiritual.

Mas o que precisamos fazer aqui é uma melhor conceituação do termo “revelação”. 

O que é Revelação?

Primeiro, precisamos tirar os trapos que nos vestiram sobre esse conceito. Revelação não é procurar coisas ocultas na Bíblia, mas sim o ato do Deus vivo falar pelo contexto de uma forma íntima e particular ou também publica sobre algo que pode ser extraído daquele contexto sem adulterá-lo.

Revelação bíblica é Deus tornar conhecido Seus pensamentos, Suas intenções, Seus desígnios, Seus mistérios. Isa. 55:8-9, Rom. 11:33-34, Apoc. 1:1.

A Bíblia é a mensagem de Deus em palavras humanas. Há um Deus transcendente que escolheu revelar-se ao homem, para que ele entenda como se formaram as coisas.

Revelação tem que ver mais com o conteúdo. A Bíblia está repleta de expressões como: "e falou o Senhor", "eis o que diz o Senhor", "veio a mim a palavra do Senhor". Daí a propriedade de denominarmos o conjunto destas revelações de A Palavra de Deus.

Etimologicamente, revelação vem do latim revelo, que significa descobrir, desvendar, levantar o véu. Revelação significa, portanto descobrimento, manifestação de algo que está escondido. A palavra grega correspondente à latina revelação é Apocalipse.

O termo significa "tirar o véu" e mostrar algo que estava encoberto. É tirar o véu daquilo que, veio de Deus, mas que é mistério para o homem . A Bíblia é um mistério. Dizer que a Bíblia é já a Revelação não anula o fato dela ser um mistério, aliás, APOCALIPSE é “revelação” e nos vem como o livro mais misterioso da Bíblia, tão misterioso que a nossa razão sozinha e nossas especulações não conseguem chegar num consenso universal (veja quantas doutrinas divergentes inclusive por grupos históricos sobre a escatologia bíblica). Neste sentido, "revelação" é o conteúdo registrado pela inspiração. A relação entre os dois termos pode ser definida assim: a inspiração é o automóvel e a revelação é o passageiro. Quando dizemos que "Deus se revelou" estamos dizendo que Ele tirou o véu que O encobria diante dos homens e Se deu a conhecer à humanidade. Nessa perspectiva, JESUS é a Revelação de Deus e a Bíblia testifica profeticamente dEle. O propósito da Bíblia é trazer a auto-revelação de Deus aos homens, a saber, Jesus Cristo. 
Mas é curioso que os grandes doutores e ‘teólogos’ dos tempos de Jesus, com a “Bíblia” na mão não identificaram o Cristo revelado. Mas aí você poderia me dizer: Mas Jesus se revelou! E estaria certo, Ele se revelou em seu ministério, mas o mundo não o conheceu como João insistiu em relatar. Quem o conheceu? Os Que tiveram o auxílio revelador do Espírito Santo.
Jesus em seu ministério ainda não estava totalmente revelado para os seus discípulos, tanto que o próprio Cristo levantou ali a pergunta “O que dizem os homens quem sou?” Pedro, pela revelação espiritual respondeu: “tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo”. Jesus logo diz: “bem aventurado [...] não foi a carne, mas o Espírito quem o revelou...”. 
O propósito da Bíblia é falar de Deus. Deus é já revelado, ou temos na Bíblia informações básicas e necessárias sobre Ele? Prefiro ficar com a segunda opção. Ele revelou-Se a Si mesmo em Cristo que, a saber, é a Revelação de Deus. Encontrar Jesus profeticamente em toda a Bíblia é pura “revelação espiritual”? Não! Precisamos lançar mão do exame bíblicos, da leitura bíblica, mas sem ignorar a participação do Espírito Santo para o discernimento espiritual da mesma.


"Examinai as Escrituras [...]"

Já sabemos que Jesus é o clímax da revelação de Deus: "Ninguém jamais viu a Deus. O Deus unigênito, que está no seio do Pai, esse o deu a conhecer" (Jo 1.18). Jesus é a maior revelação de Deus e a finalidade da revelação é tornar Deus conhecido dos homens. Para isso, as Palavras do Deus espiritualmente superior à razão dos homens devem ser mostradas pelo Espírito Santo, aquele que “vos ensinará todas as coisas”. Veja em João 17 que a função do mesmo Espírito Santo é dar ao mundo (através da Igreja) o conhecimento de Deus. Isso configura um caráter explicitamente espiritual e será pela revelação do Espírito Santo que tal conhecimento pode chegar aos homens distantes de Deus.
Mas o que precisamos entender, de fato, aqui é o seguinte: Isso também não significa dizer que o texto literal é inválido. Quem diz ou ensina isso está cometendo um grave erro baseado num versículo isolado da Bíblia em (IICor 3:6) que diz assim: “[...] porque a letra mata, mas o Espírito vivifica”. Ali Paulo não falava da invalidez das Escrituras, mas sim da validez da mesma sobre a intervenção inspiradora, reveladora e iluminadora do Espírito Santo. Paulo ali, no contexto, falava da Lei e isso não pode fazer alusão à Bíblia que hoje nós temos que é a revelação de Deus. Porém a expressão “letra”, do grego “gramma” que pode falar da Lei, mas pode falar do livro todo, uma epístola e Escrituras (considerando que ali não existia só a Lei, mas a Lei e os Profetas). Essa expressão grega vem do substantivo “grapho” = “escrever” e remete ao sentido literal da escrita. Então não podemos ignorar que Paulo advertia a igreja do mau uso da letra literal, fundamentalista e religiosa. Mas o que vale como informação central nesse texto é o seguinte: Não é a Lei e nem a Palavra de Deus escrita, em si mesmas, que matam. Trata-se, pelo contrário, das exigências da Lei, que sem a vida e o poder do Espírito, trazem condenação (veja em Jr 31:33; Rm3:31). Mediante a salvação em Cristo, o Espírito santo concede vida e poder espiritual ao crente no manejo das Escrituras que também são vivificadas. 


 Cristo havia dito: examinai as Escrituras (livros em si) [..] pois elas de mim testificam (Jesus nelas). Jesus mostra com clareza que Ele não é a Bíblia, não podemos assim mistificá-la, mas a Bíblia fala dEle. Isso é bem claro e é questão de termos e perspectivas.
Isso corrobora também com o fato de: a Bíblia ter um conteúdo ‘profético’. Mas antes, vou explicar o termo “profético”: a palavra “profético”, assim como “profecia”, é comumente usada nas igrejas, mas, muitas vezes, de forma errada. ‘Profecia’ e ‘profético’ remete ao voltar-se para algo, cujo caminho ou método é apontado. Não é só, portanto, “apontar para frente”, mas é, no caso bíblico, “voltar-se para Deus”. Leiam os profetas bíblicos (maiores e menores) e percebam qual é o conteúdo comum em suas mensagens. O conteúdo comum, já adiantando aqui, é “voltem para Deus”, cujo caminho é apontado: “obedeçam a sua palavra”. Isso define o termo “profético”. Sendo assim, a Bíblia é um livro literariamente e espiritualmente profético, pois é a revelação do projeto de redenção de Deus cuja centralidade está toda em Jesus Cristo, o Verbo de Deus, a verdadeira “Palavra Revelada”. Por que é profética? Porque revela a salvação em Cristo. O ato salvífico de Cristo se resume em: trazer o homem de volta para Deus, logo, o conteúdo da Bíblia é profético. Aliás, a salvação é profética, pois parte do pressuposto bíblico que Deus programou tal projeto na Eternidade e lá elegeu o seu povo para herdar a salvação e a glória em Cristo. Não é à toa que a figura do sangue percorre por toda a Bíblia, mostrando, conforme nos explica o autor de Hebreus, que viria o “Perfeito” (Cristo). Isso sustenta a frase de Cristo: “examinai as Escrituras, pois elas de mim testificam”. Como “de mim testificam”? Pelas figuras e tipos. Onde entra a interpretação e a “revelação” nisso? Entra no fato de: o Espírito conduzir o que manuseia a Palavra ao entendimento de caráter profético que configura numa espécie de revelação, pois, bota “para fora” algo que a Bíblia tinha como “modelo”. Isso se aplica nas peças do Tabernáculo, na figura do Cordeiro, do Sangue, dos tipos humanos, etc. Há aí uma interligação entre RAZÃO e REVELAÇÃO. Nenhuma é alheia à outra. Estudar, pesquisar e se aprofundar nos textos bíblicos no espírito e pelo Espírito é muito diferente de fazer o mesmo sem a fé. Veja que muitos biblistas alcançam entendimentos profundos sobre o conteúdo histórico, cultural, arqueológico e religioso sobre as escrituras, mas pouquíssimos falam do seu caráter espiritual ou profético. Por quê? Porque não têm o pressuposto fundamental para “botar para fora” aquilo que se discerne espiritualmente, a saber, a fé. Mas vão até onde o espírito humano (a razão humana) pode levar. Mas quando você lê ou estuda a Bíblia partindo desse pressuposto espiritual (a fé), o Espírito de Deus, pela fé, dá o entendimento espiritual daquilo que se lê e assim, Deus fala, as vezes de forma bem particular. Não estamos falando aqui de inventar doutrinas em nome da “revelação”, pois tudo que aparece deve ser provado pela própria Bíblia. Mas estamos falando de uma espécie de imanência divina nas Escrituras Bíblicas.

Partindo dessa perspectiva, a Bíblia não pode ser encarada apenas como “regra” de fé, mas como modelo de fé e meio (instrumento) para Deus se revelar através da intervenção espiritual. Fato esse que não anula o nosso papel de estudar, interpretar, ‘alegorizar’, etc. as Escrituras. Não podemos abstratamente pensar que se nós abrirmos a Bíblia sem conhecê-la, o Espírito Santo vai nos revelar tudo. Isso soa um místico demais. Mas o Espírito Santo auxilia no discernimento espiritual daquele que conhece as Escrituras, pois deve haver um pressuposto, um ponto de partida racional para a absorção da revelação divina. Lembrando também que a revelação divina, ou a iluminação (como querem) não se configura como “algo a mais”, ou “outro Evangelho”. Não podemos pegar um erro para justificar ou desqualificar tudo. Isso é, de igual forma, abstração.
Mais conceitos:
"Revelação e inspiração estão estreitamente ligadas, mas distinguem-se em aspectos da verdade bíblica. Nas Escrituras, a inspiração e a revelação, se combinam para assegurar que a Bíblia é a Palavra de Deus, revelando com exatidão fatos sobre o Senhor. A revelação foi o ato da divina comunicação aos escritores da Escritura. Inspiração foi a obra de Deus em guiar e dirigir os escritores da Bíblia para que eles escrevessem a verdade absoluta, mesmo quando ela estivesse além do seu entendimento. A inspiração foi limitada à Bíblia em si, e é mais adequado dizer que as Escrituras foram inspiradas do que dizer que os escritores foram inspirados" (Lewis Chafer).
Iluminação - Esta palavra significa "fazer a luz brilhar". Não somos inspirados simplesmente pDaniel Rops no livro Que é a Bíblia?, página 40 define inspiração como sendo a operação divina que toma conta do autor sagrado, esclarecendo-o, guiando-o, assistindo-o na execução do seu trabalho.
Também é uma palavra latina, derivada do verbo inspiro, que quer dizer "soprar para dentro".

Inspiração refere-se à transmissão, à maneira como o homem torna conhecida a vontade de Deus.

II Tim. 3:16 nos diz que toda a escritura é divinamente inspirada, em grego "theopneustos", bafejada por Deus, tendo o sopro de Deus, inspirada por Deus. No contexto dessa passagem vista no original, percebe-se que há uma tendência em dizer que: a escritura é divinamente inspirada, ou seja vem de Deus, e só pode ser revelada pelo mesmo Deus naquilo que diz respeito ao seu propósito particular na vida do crente.

Os termos inspiração e revelação são muitas vezes empregados indistintamente, por exprimirem apenas aspectos diferentes da mesma verdade grandiosa.

As escrituras podem, em resumo, ser definidas como a descrição feita por escritores inspirados duma série de revelações de Deus ao homem.

A declaração de que a Escritura é inspirada por Deus é feita de várias formas. No novo Testamento encontramos referências aos profetas do Velho Testamento, como as seguintes:

"Homens que falaram da parte de Deus" e "que foram movidos pelo Espírito Santo", "o Espírito de Cristo que estava neles testificou".

O salmista Davi afirma em 11 Sam. 23:2: "O Espírito do Senhor fala por meu intermédio".
Destas afirmações se conclui que a Bíblia é um livro divino, mas evidentemente ele não caiu pronto do céu. Para que a Bíblia se concretizasse, o Espírito Santo Se serviu de instrumentos que eram humanos e que conservavam a respectiva personalidade, o caráter, talento e gênio, os hábitos intelectuais e poderes de estilo. Deus não violentou nem destruiu as faculdades daqueles que deviam formular a Sua mensagem. O escritor continuava sendo homem, com seu modo de ser, sua linguagem própria, seu próprio estilo.

Portanto, o homem apenas pode conhecer a Deus porque Ele Se revela. Todos os cristãos reconhecem que Deus Se revela por intermédio dos profetas e esta revelação se consumou em Jesus Cristo, por ser Ele o maior dos profetas. Cristo em todos os Seus ensinos tornou bem claro que Ele era uma revelação de Deus. Dizer que Deus já está plenamente e esgotadamente revelado na Bíblia é uma forma de abstração e também de diminuição da glória soberana desse Deus que fala e se revela. Dizer que é pelo nosso esforço somente que a revelação ou o conteúdo da revelação chegará a nós não difere em nada do contexto das obras humanas para a salvação. Se esse ponto de vista for o correto (o de dizer que a Bíblia é já plenamente revelada e que será pelos nossos incansáveis estudos que o conteúdo da verdade nos virá), poderemos dizer que aquele que não tem cultura bíblica não tem a revelação de Deus. Mas a fé vem pelo ouvir, o ouvir a Palavra de Deus. O pregador não precisa se aventurar em analogias, tipologias, alegorias ou informações “extra-letra”, mas simplesmente estar em espírito e ser guiado pelo Espírito, pois a obra é do Espírito e o convencimento para a aceitação da verdade declarada na pregação é obra do Espírito e não por “bom preparo intelectual” do pregador.

No mais quero terminar aqui dizendo que: Crer na intervenção espiritual para o aprendizado e para o alcance de patamares maiores em relação às Escrituras não é codificar nada e nem crer em aspectos ocultos, embora existam muitas coisas ocultas na Bíblia (quem negará isso?). As “inúmeras idéias” de Deus nasceram da própria Reforma Protestante que deu a Bíblia ao povo e “liberou” a livre interpretação, sendo que eles mesmos, os protestantes históricos, grandes conhecedores da Bíblia, etc. têm entre si várias divergências. As divergências desses não se resumem apenas na guerra teológica estabelecida entre calvinistas e arminianos, mas são várias... Muitas. E esses hoje nos vêm como ‘portadores da verdade’ dizendo “vocês precisam voltar ao Evangelho’, sendo que na verdade, o chamado “profético” é “voltem para o NOSSO evangelho”. A minha referência para igreja e de igreja está somente em Atos dos Apóstolos onde tudo era confirmado pela ação genuína do Espírito Santo e a palavra pregada era proveniente do mesmo Espírito Santo que iluminava os apóstolos e outros obreiros primitivos (como Timóteo) a fazer o bom uso da Palavra da Verdade, porém no espírito e com o Espírito, mostrando sempre a revelação de Deus, a saber, o Cristo crucificado que ressuscitou e ainda vive.

Jamais a revelação bíblica ou o aperfeiçoamento de uma prática doutrinária pode ir contra a base de fé já escrita. Tudo que ultrapassa essa base de fé é anátema, pois a base de fé é a própria sã doutrina de Cristo. Tudo que vai contra Cristo é que configura heresia. Se uma determinada prática, ou modo de ver as Escrituras, ou modo de praticar a fé, etc. não vai contra a graça e nem contra o senhorio de Cristo, logo não é heresia. O conteúdo da heresia é a apostasia (o que afasta). Se algo te afasta de Cristo, é heresia causando apostasia. Mas ao contrário disso, algo te leva a Cristo e ao entendimento da verdade espiritual da glória de Cristo, é santo e não profano.

"Sabendo primeiramente isto: que nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação. Porque a profecia nunca foi produzida por vontade de homem algum, mas os homens santos de Deus falaram inspirados pelo Espírito Santo." (II Pedro 1:20-21)

O problema é que muitos nessa hora tão conturbada onde igrejas tem se arriscado em experimentalismos estranhos e teologias frágeis às Escrituras, têm pensado que “voltar ao Evangelho” é cair na lábia do formalismo (e as vezes fundamentalismo ) do protestantismo histórico.
De fato, é correto ler e estudar a Bíblia desligado de conceitos religiosos ou sem apegos aos conceitos que determinada igreja ensina como verdade. Mas, em se tratando de algumas igrejas protestantes históricas, isso acontece muito e o tempo todo. Defendem ferrenhamente suas verdades como a verdade indubitável.
Como agir em meio a esse teológico “fogo cruzado”? Reconhecendo o caráter profético da Bíblia (no sentido real do termo) e reconhecer que há nela um projeto de redenção – parte explícita e parte implícita – na Bíblia cujo centro é o Cristo vivo.

A Bíblia é a revelação de Deus, mas o veículo da revelação de Deus em sua essência espiritual ou profética é pela iluminação do Espírito Santo. Então se algum pegador pregou que o cego Bartimeu falava ou apontava para o cego espiritual ou se as árvores que andam é tipo do homem, etc. tal pregador não fez nada a mais do que interpretar as Escrituras, acrescentando um conteúdo espiritual ao texto literal. Não foi nada “revelado”, mas foi algo iluminado, ou no mínimo, sob a tutela do Espírito Santo, pois mostra em seu conteúdo a essência do ato salvífico de Cristo: restaurar o homem e trazê-lo para Deus. Mas, vem cá, quem nos garante que o texto falava mesmo disso? Jesus falou ali (ali) que essas árvores eram os homens? Literalmente não! O cego Bartimeu era o pobre “cego espiritual”? Não! Mas porque não deixar Deus revelar seus propósitos atreves de exemplos que podem vir como exemplos alegóricos? Todo ato de falar da parte de Deus é revelação de Deus e, sendo assim, não é errado usar o termo “Palavra revelada”.

Mas, como disse, o formalismo se confunde com “volta ao Evangelho”....

OUTROS MODOS DE COMPREENDER A INSPIRAÇÃO

A inspiração profética tem sido compreendida de vários modos, como nos provam ainda os seguintes pensamentos:
De um estudo do bispo Westcott publicado no livro História, Doutrina e Interpretação da Bíblia de Joseph Angus, Vol. l, pág. 99, podemos ver que:

"Ensina-nos que a Inspiração é uma operação do Espírito Santo, atuando nos homens, de acordo com as leis da constituição humana; que não é neutralizada pela influência divina, mas aproveitada como um veículo para a expressão completa da mensagem de Deus. Ensinam-nos que a Inspiração está geralmente combinada com o progresso moral e espiritual do Doutrinador, de maneira que há no todo uma conformidade moral entre o Profeta e a sua doutrina."

Opinião dos Reformadores

Os reformadores adotaram a opinião de que os Livros Sagrados foram ditados por Deus palavra por palavra.

Segundo esta opinião de encarar o problema os escritores da Bíblia foram apenas amanuenses do Autor Divino.

A inspiração verbal é difícil de ser defendida em face da diversidade de estilos e das declarações dos próprios escritores bíblicos.

O bispo Elicott, em seu livro Aids to Faith, p. 411, escreveu:

"A Escritura é a revelação através de meios humanos da inteligência infinita de Deus para a mente finita do homem, e reconhecendo nós na palavra escrita não só o elemento divino mas também o elemento humano, cremos verdadeiramente que o Espírito Santo penetrou tanto a mente do escritor, iluminou a sua alma, e apoderou-se dos seus pensamentos que ele, sem lhe ser tirada a sua individualidade, recebeu tudo quanto era necessário para o habilitar a expor a Verdade divina em toda a sua plenitude."

Ellen G. White no livro O Grande Conflito, da Casa Publicadora Brasileira, CD, na página 7, afirma:

"A Escritura Sagrada aponta a Deus como seu autor; no entanto, foi escrita por mãos humanas, e no variado estilo de seus diferentes livros apresenta os característicos dos diversos escritores. As verdades reveladas são dadas por inspiração de Deus (II Tim. 3:16); acham-se, contudo, expressas em palavras de homens. O Ser infinito, por meio de Seu Santo Espírito, derramou luz no entendimento e coração de Seus servos. Deu sonhos e visões, símbolos e figuras; e aqueles a quem a verdade foi assim revelada, concretizaram os pensamentos em linguagem humana."

Outra declaração análoga da escritora inspirada se encontra no Manuscrito 24, 1886:

"A Bíblia não nos é dada numa linguagem super-humana. Para atingir o homem onde ele se encontra, Jesus assumiu a humanidade. A Bíblia tem de ser dada na linguagem dos homens. (. . .) Sentidos diferentes são expressos pela mesma palavra; não há nenhuma palavra para cada idéia diferente. A Bíblia foi dada para propósitos práticos. As características da mente são diferentes. Todos não entendem da mesma maneira expressões e declarações. Alguns entendem as declarações das Escrituras para se adaptarem aos seus próprios casos e desígnios particulares. "

Gabriel Felipe M. Rocha.
Graduado em História (licenciatura e bacharelado);
Pós graduado em Sociologia (lato sensu);
Mestrando em Filosofia (Ética a Antropologia);
Bacharel em Teologia com ênfase em História da Igreja.

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