O ato de Deus inspirar certos homens para a escrita da mesma é a revelação de Deus ao escritor. Os escritos, portanto são inspirados. Mas o ato do escritor transcrever a mensagem inspirada – que para ele foi revelada – configura um segundo patamar de revelação: a revelação na forma escrita. Nesse contexto podemos dizer que a Bíblia é a revelação de Deus, sendo assim, ela é a Palavra de Deus. Mesmo não ignorando que ela foi escrita por pessoas simples que a escreveram considerando valores de seus respectivos tempos, cultura, etc. Também consideramos as influências históricas, os estilos literários, etc.
Mas, de fato, a Bíblia tem a revelação do conteúdo da salvação. Sua chave hermenêutica principal (e fundamental) é o Cristo Revelado nas Escrituras.
Mas, é a Bíblia já plenamente revelada no sentido de esgotar em si a ciência de Deus? Ou ela por si só salva o leitor? Não! Passamos aí para o outro patamar da “revelação”. Baseando na idéia de “revelação” ser a “luz” que traz à tona algo oculto, a Bíblia é já um livro revelado, pois Deus assoprou de si mesmo a sua ‘vontade’ e seu plano para vida do homem que haveria de ser salvo.
O homem que será salvo, segundo a Palavra de Deus, é aquele que crê no Cristo ressuscitado e, considerando que Cristo é o conteúdo central da Bíblia, esse Cristo irá se revelar por meio da fé do leitor na Palavra, corroborando com a afirmação de que a fé vem pelo ouvir a Palavra de Deus, ou seja, a voz do Criador revelada na pessoa do Senhor Jesus. O trabalho para o convencimento do leitor (pela fé – dom de Deus) que Cristo é a salvação é obra exclusiva do Espírito Santo. Portanto, o ato do Espírito divino mostrar e convencer o homem sobre a salvação em Cristo é um ato “revelador”, portando a Bíblia ainda se revela. O poder que existe na Palavra de Deus não está simplesmente no papel, mas está na vivificação do Espírito Santo que, pelas Escrituras, convence o homem de seu pecado e o leva para a genuína conversão. Essa é a minha perspectiva a respeito da “revelação”. Não estamos falando aqui que existe algo “a mais” nas Escrituras que precisa vir `=a tona, mas sim que existe a possibilidade de Deus (que é vivo) falar de forma íntima pela Escritura. Isso configura uma “revelação”. A salvação em Jesus Cristo se dá pelo encontro pessoal com o mesmo. Mas como se o mesmo subiu ao céu? Dá-se agora pela revelação do cristo glorificado pela Palavra de Deus cuja ação para convencimento é genuína do Espírito Santo.
Na postagem número 1, escrevi:
"Para isso, as Palavras do Deus espiritualmente superior à razão dos homens devem ser mostradas pelo Espírito Santo, aquele que “vos ensinará todas as coisas”. Veja em João 17 que a função do mesmo Espírito Santo é dar ao mundo (através da Igreja) o conhecimento de Deus. Isso configura um caráter explicitamente espiritual e será pela revelação do Espírito Santo que tal conhecimento pode chegar aos homens distantes de Deus.
Mas o que precisamos entender, de fato, aqui é o seguinte: Isso também não significa dizer que o texto literal é inválido. Quem diz ou ensina isso está cometendo um grave erro baseado num versículo isolado da Bíblia em (IICor 3:6) que diz assim: “[...] porque a letra mata, mas o Espírito vivifica”. Ali Paulo não falava da invalidez das Escrituras, mas sim da validez da mesma sobre a intervenção inspiradora, reveladora e iluminadora do Espírito Santo. Paulo ali, no contexto, falava da Lei e isso não pode fazer alusão à Bíblia que hoje nós temos que é a revelação de Deus. Porém a expressão “letra”, do grego “gramma” que pode falar da Lei, mas pode falar do livro todo, uma epístola e Escrituras (considerando que ali não existia só a Lei, mas a Lei e os Profetas). Essa expressão grega vem do substantivo “grapho” = “escrever” e remete ao sentido literal da escrita. Então não podemos ignorar que Paulo advertia a igreja do mau uso da letra literal, fundamentalista e religiosa. Mas o que vale como informação central nesse texto é o seguinte: Não é a Lei e nem a Palavra de Deus escrita, em si mesmas, que matam. Trata-se, pelo contrário, das exigências da Lei, que sem a vida e o poder do Espírito, trazem condenação (veja em Jr 31:33; Rm3:31). Mediante a salvação em Cristo, o Espírito santo concede vida e poder espiritual ao crente no manejo das Escrituras que também são vivificadas. " (Gabriel Felipe M. Rocha)
Mas, no manuseio da Bíblia pelo crente já convertido, há uma possibilidade de uma ação reveladora do Espírito Santo? Não podemos dizer que não, pois como diz a Palavra de Deus: “o Espírito assopra onde quer”, mas por uma questão de segurança, melhor não se lançar em nenhum experimentalismo que possa vir como algo que ultrapasse a sã doutrina de Jesus Cristo revelada na Bíblia. Mas, de mesmo modo, não podemos negar que o mesmo Espírito divino que, segundo João nos ensinaria todas as coisas. Como? Mostrando “algo novo”, revelando “novas doutrinas”? Não! Mas apenas consolidando o conteúdo doutrinário já registrado e aperfeiçoando a igreja por meio de ensinamentos e alcances ainda mais profundos segundo propósitos específicos do próprio Deus . Não podemos negar que a função do Espírito Santo na Igreja é o preparo, a consolidação da doutrina, o aperfeiçoamento do Corpo de Cristo, oposição ao pecado, etc.
“E a unção, que vós recebestes dele, fica em vós, e não tendes necessidade de que alguém vos ensine; mas, como a sua unção vos ensina todas as coisas, e é verdadeira …”
Podemos ilustrar da seguinte forma: Deus é o engenheiro e já tem pronto todo o seu projeto. Ele dita (revela) seu projeto a homens aptos para recebê-lo. Logo, ele nos deixa pronto e devidamente registrado (revelado) tudo sobre seu plano de construção (salvação). Mas, nós, os operários de Deus, não temos a mesma ciência divina. Aliás, somos trabalhadores registrados pela bondade soberana do dono da construção, pois nossa aptidão para tal obra havia sido perdida (pecado). Mas, diante do projeto já nos revelado no arquivo técnico, como interpretar e aplicar na prática o desenho se não temos a ciência divina? Só executaremos e entenderemos cada detalhe do projeto pelo auxílio do engenheiro enviado para nos “ensinar todas as coisas”. Isso, logicamente, não significará que tudo virá de forma ‘sobrenatural’, não! Mas se dará primeiro pelo nosso esforço em estudar e ler o projeto, entender os princípios básicos e já suficientes registrados ali e começar por nós mesmos a execução dessa obra. Daí o entendimento virá conforme a nossa necessidade diante de algumas adversidades, oposições. Para cada patamar dessa grande construção, o engenheiro enviado para ensinar todas as coisas mostrará a aplicação específica para a execução daquele trabalho e ele mesmo se encarregará de enviar alguns instrumentos. Como sou da confissão pentecostal, cito alguns instrumentos: dons espirituais e tantos outros recursos provenientes da graça divina.
A Bíblia é um instrumento planejado por Deus para sua revelação chegar de forma acessível ao homem. Pois, o homem naturalmente depravado pelo pecado não poderia entender e nem buscar a Deus, mas a Bíblia é um meio universalmente posto para o homem conhecer um pouco, ou pelo menos de forma básica, aquilo que Deus tem para ele.
Mas é a ação do Santo Espírito de Deus que vai definir o convencimento ou não desse depravado homem.
Como Deus ensina os pequeninos? Pelo seu Espírito Santo.
Quando o homem se regenera pela ação do Espírito divino e torna-se para Deus, ele está apto para entender espiritualmente o plano desse gracioso Deus. O Espírito divino vai de encontro com o espírito humano. Deus não se comunica com a carne simplesmente, mas é o encontro do Espírito Santo com o espírito humano e o homem pelo seu espírito compreende e conhece Deus; pelo seu psíquico o homem escolhe – no plano de sua razão – atender a esse Deus e, assim, seu corpo será a revelação para o mundo do que fez Deus na vida desse mesmo homem. Lembrando que não podemos falar de salvação sem mencionar a transformação de vida.
Mas devemos entender que o projeto básico para a salvação do homem está já explícito na Bíblia. Qualquer homem pode ler e constatar o que Deus quer. E será julgado por isso e no tribunal divino não será inocente pela Palavra de Deus. Mas o convencimento dos eleitos é pela revelação do Espírito Santo. Qual é o conteúdo da genuína conversão? É o encontro pessoal com Cristo
Cristo se encontra com o homem como? Pela revelação do Cristo vivo e glorificado pelo Espírito Santo.
Podemos perceber que a função da Igreja não é apenas anunciar o Cristo, mas mostrá-lo ao mundo. Aí se configura outra forma de “revelação”. Jesus deve ser revelado pela Igreja, afinal, a Igreja é o Corpo de Jesus Cristo. Veja o que Jesus pede ao Pai em uma oração feita registrada no Evangelho segundo João, capítulo 17:
17.21 “a fim de que todos sejam um; e como és tu, ó Pai, em mim e eu em ti, também sejam eles em nós; para que o mundo creia que tu me enviaste.”
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17.22 “ Eu lhes tenho transmitido a glória que me tens dado, para que sejam um, como nós o somos”
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17.23 “eu neles, e tu em mim, a fim de que sejam aperfeiçoados na unidade, para que o mundo conheça que tu me enviaste e os amaste como também amaste a mim”.
Jesus precisa ser revelado ao mundo por meio da Igreja. A Igreja, como detentora da revelação escrita de Jesus (a Bíblia) deve mostrar, pela Bíblia, e na prática, segundo a Bíblia, o Cristo vivo. Nos cultos, a Palavra de Deus precisa ser pregada em espírito, onde a revelação do conteúdo profético contido na Palavra de Deus venha atingir o ouvinte. Como? Por alegorias, tipologias, por busca de informações ocultas, etc.? Não! Mas simplesmente pela total dependência de Deus e na fé que Ele vivificará ali sua Palavra para, por meio da Palavra escrita, antiga e universalmente conhecida, Ele irá falar de forma atual ao coração do ouvinte, gerando a fé. Essa ação é espiritual e configura um tipo de “revelação”.
Vamos para uma lógica simples?
Se a Bíblia é um livro eficaz em si mesmo, ou se é a boca de Deus travestida de livro, podemos acreditar que enquanto tiver Bíblia haverá salvação, pois a salvação está materializada nela. Ela é a revelação de um projeto. Projeto esse que o Espírito Santo opera e 'ensina'. E, insisto, não estou falando aqui de "coisas novas", “invenções doutrinárias em nome da “revelação”, etc.
Mas do ato simples do entendimento, aplicação, convencimento, aperfeiçoamentos, etc. através da obra do exclusiva do Espírito Santo.
Gabriel Felipe M. Rocha.
Graduado em História (licenciatura e bacharelado);
Pós graduado em Sociologia (lato sensu);
Mestrando em Filosofia (Ética a Antropologia);
Bacharel em Teologia com ênfase em História da Igreja.
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