quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Um pouco mais sobre as Escrituras

"Examinai as Escrituras [...]" (João 5:39)

Por Gabriel Felipe M. Rocha*


A paz de nosso Senhor a todos!

Pois bem, venho através deste mostrar um pouco mais sobre a Bíblia, a Revelação de Deus. No mês anterior eu publiquei aqui no blog Palavra a Sério dois estudos que desenvolvi sobre as Escrituras Sagradas (Bíblia: Inspirada, Revelada e Espiritualmente Iluminada 1 e 2), escritos esses que poderão ser vistos entre as postagens do mês de janeiro de 2014.

 

Mas, antes de lerem esta presente postagem, sugiro que visualizem e analisem  antes a postagem: “Lendo as Escrituras” cujo link deixo aqui: http://palavraserio.blogspot.com.br/2014/02/lendo-as-escrituras.html

 

Como esses três estudos são originalmente um, havia postado separadamente para não ficar algo tão grande. No entanto, resolvi postar trechos importantes presentes em ambas as postagens e na postagem de fevereiro, isso como meio de facilitar o entendimento do assunto, haja vista que o Blog Palavra a Sério é um blog sério, inteligente e voltado para verdadeiros estudos bíblicos, cujo conteúdo é realmente trabalhado, estudado e pesquisado, evitando cópias e colagens alheias, a não ser algumas postagens que julgamos importantes e que, ao serem postadas aqui, os devidos créditos são deixados e, na maioria das vezes, sob permissão do autor. Eu (Gabriel Felipe M. Rocha) por não ter compromisso com “teologias neopentecostais” e nem cursos “teológicos” gratuitos sem reconhecimento dos devidos órgãos governamentais, me faço sistemático o bastante para que o nosso conteúdo seja assimilado e tenha, sobretudo, a seriedade, serenidade e a devida competência como textos dignos de serem chamados “textos apologéticos”.

 

O trecho que deixo aqui hoje é uma desmistificação de uma frase muito usada em algumas igrejas e, na maioria das vezes, mal usada e interpretada, gerando heresias, interpretações alheias ao conteúdo da sã doutrina e pretextos para a prática da apostasia no uso e no ensinamento de doutrinas estranhas às Escrituras.

 O texto é: “porque a letra mata, mas o Espírito a vivifica(2Cor 3:6)

 

E, na oportunidade, escrevo um pouco mais sobre o teor ‘profético’ das Escrituras.

Vamos à análise:

Já sabemos que Jesus é o clímax da revelação de Deus:

 "Ninguém jamais viu a Deus. O Deus unigênito, que está no seio do Pai, esse o deu a conhecer" (Jo 1.18).

“Porque não o recebi e aprendi de homem algum, mas pela revelação de Jesus Cristo” (Gl 1:12)

Jesus é a revelação de Deus e, ao mesmo tempo, Deus foi revelado aos homens em Jesus. Bem, a finalidade da revelação de Jesus Cristo é tornar Deus conhecido dos homens e também acessível pelo Santo Nome de Jesus. Para isso, as Palavras do Deus espiritualmente superior à razão dos homens devem ser mostradas pelo Espírito Santo, aquele que “vos ensinará todas as coisas” (João 14: 26).
Veja em João 17: 21 a 24 que a função do mesmo Espírito Santo é dar ao mundo (através da Igreja) o conhecimento de Deus. Isso configura um caráter explicitamente espiritual e será pela revelação do Espírito Santo que tal conhecimento pode chegar aos homens distantes de Deus.
Mas o que precisamos entender, de fato, aqui é o seguinte: Isso também não significa dizer que o texto literal é inválido. Quem diz ou ensina isso está cometendo um grave erro baseado num versículo isolado da Bíblia em (IICor 3:6) que diz assim: “
[...] porque a letra mata, mas o Espírito vivifica”.
Ali Paulo não falava da invalidez das Escrituras, mas sim da validez da mesma sobre a intervenção inspiradora, reveladora e iluminadora do Espírito Santo. Paulo ali, no contexto, falava da Lei e isso não pode fazer alusão à Bíblia que hoje nós temos que é a revelação de Deus. Porém a expressão “letra”, do grego “gramma” que pode falar da Lei, mas pode também falar do livro todo (forma abrangente), uma epístola e Escrituras (considerando que ali não existia só a Lei, mas a Lei e os Profetas). Essa expressão grega vem do substantivo “grapho” = “escrever” e remete ao sentido literal da escrita. Então não podemos ignorar que Paulo advertia a igreja do mau uso da letra literal, fundamentalista e religiosa. Mas o que vale como informação central nesse texto é o seguinte: Não é a Lei e nem a Palavra de Deus escrita, em si mesmas, que matam. Trata-se, pelo contrário, das exigências da Lei, que sem a vida e o poder do Espírito, trazem condenação (veja em Jr 31:33; Rm3:31). Mediante a salvação em Cristo, o Espírito Santo concede vida e poder espiritual ao crente no manejo das Escrituras que também são vivificadas. 

 Cristo havia dito em João 5:39: “examinai as Escrituras (livros em si) [..] pois elas de mim testificam” (Jesus nelas). Jesus mostra com clareza que Ele não é a Bíblia, não podemos assim mistificá-la, mas a Bíblia fala dEle. Isso é bem claro e é questão de entendimento de termos e perspectivas.
Isso corrobora também com o fato de: a Bíblia ter um conteúdo ‘profético’. Mas antes, vou explicar o termo “profético”: a palavra “profético”, assim como “profecia”, é comumente usada nas igrejas, mas, muitas vezes, de forma errada. ‘Profecia’ e ‘profético’ remete ao voltar-se para algo, cujo caminho ou método é apontado. Não é só, portanto, “apontar para frente”, mas é, no caso bíblico, “voltar-se para Deus”. Leiam os profetas bíblicos (maiores e menores) e percebam qual é o conteúdo comum em suas mensagens. O conteúdo comum, já adiantando aqui, é “voltem para Deus”, cujo caminho é apontado: “obedeçam a sua palavra”. Isso define o termo “profético”. Sendo assim, a Bíblia é um livro literariamente e espiritualmente profético, pois é a revelação do projeto de redenção de Deus cuja centralidade está toda em Jesus Cristo, o Verbo de Deus, a verdadeira “Palavra Revelada”. Por que é profética? Porque revela a salvação em Cristo. O ato salvífico de Cristo se resume em: trazer o homem de volta para Deus, logo, o conteúdo da Bíblia é profético. Aliás, a salvação é profética, pois parte do pressuposto bíblico que Deus programou tal projeto na Eternidade e lá elegeu o seu povo para herdar a salvação e a glória em Cristo. Não é à toa que a figura do sangue percorre por toda a Bíblia, mostrando, conforme nos explica o autor de Hebreus, que viria o “Perfeito” (Cristo). Isso sustenta a frase de Cristo: “
examinai as Escrituras, pois elas de mim testificam”. Como “de mim testificam”? Pelas figuras, alegorias e tipos.
Onde entra a interpretação e a “revelação” nisso? Entra no fato de: o Espírito conduzir o que manuseia a Palavra ao entendimento de caráter profético que configura numa espécie de revelação, pois, bota “para fora” algo que a Bíblia tinha como “modelo”. Isso se aplica nas peças do Tabernáculo, na figura do Cordeiro, do Sangue, dos tipos humanos, etc. Há aí uma interligação entre RAZÃO e REVELAÇÃO. Nenhuma é alheia à outra. Estudar, pesquisar e se aprofundar nos textos bíblicos no espírito e pelo Espírito é muito diferente de fazer o mesmo sem a fé. Veja que muitos biblistas alcançam entendimentos profundos sobre o conteúdo histórico, cultural, arqueológico e religioso sobre as escrituras, mas pouquíssimos falam do seu caráter espiritual ou profético. Por quê? Porque não têm o pressuposto fundamental para “botar para fora” aquilo que se discerne espiritualmente, a saber, a fé. Mas vão até onde o espírito humano (a razão humana) pode levar. Mas quando você lê ou estuda a Bíblia partindo desse pressuposto espiritual (a fé), o Espírito de Deus, pela fé, dá o entendimento espiritual daquilo que se lê e assim, Deus fala, às vezes, de forma bem particular.
Não estamos falando aqui de inventar doutrinas em nome da “revelação”, pois tudo que aparece deve ser provado pela própria Bíblia.
Não podemos abstratamente pensar que se nós abrirmos a Bíblia sem conhecê-la, o Espírito Santo vai nos revelar tudo. Isso soa um místico demais. Mas o Espírito Santo auxilia no discernimento espiritual daquele que conhece as Escrituras, pois deve haver um pressuposto, um ponto de partida racional para a absorção da revelação divina. Lembrando também que a revelação divina, ou a iluminação (como querem) não se configura como “algo a mais”, ou “outro Evangelho”. Não podemos pegar um erro para justificar ou desqualificar tudo. Isso é de igual forma, abstração.
Mas, no manuseio da Bíblia pelo crente já convertido, há uma possibilidade de uma ação reveladora do Espírito Santo? Não podemos dizer que não, pois como diz a Palavra de Deus: “o Espírito assopra onde quer”, mas por uma questão de segurança, melhor não se lançar em nenhum experimentalismo que possa vir como algo que ultrapasse a sã doutrina de Jesus Cristo revelada na Bíblia. Mas, de mesmo modo, não podemos negar que o mesmo Espírito divino que, segundo João nos ensinaria todas as coisas. Como? Mostrando “algo novo”, revelando “novas doutrinas”? Não! Mas apenas consolidando o conteúdo doutrinário já registrado e aperfeiçoando a igreja por meio de ensinamentos e alcances ainda mais profundos segundo propósitos específicos do próprio Deus . Não podemos negar que a função do Espírito Santo na Igreja é o preparo, a consolidação da doutrina, o aperfeiçoamento do Corpo de Cristo, oposição ao pecado, etc.

“E a unção, que vós recebestes dele, fica em vós, e não tendes necessidade de que alguém vos ensine; mas, como a sua unção vos ensina todas as coisas, e é verdadeira …”

Podemos ilustrar da seguinte forma: Deus é o engenheiro e já tem pronto todo o seu projeto. Ele dita (revela) seu projeto a homens aptos para recebê-lo. Logo, ele nos deixa pronto e devidamente registrado (revelado) tudo sobre seu plano de construção (salvação). Mas, nós, os operários de Deus, não temos a mesma ciência divina. Aliás, somos trabalhadores registrados pela bondade soberana do dono da construção, pois nossa aptidão para tal obra havia sido perdida (pecado). Mas, diante do projeto já nos revelado no arquivo técnico, como interpretar e aplicar na prática o desenho se não temos a ciência divina? Só executaremos e entenderemos cada detalhe do projeto pelo auxílio do engenheiro enviado para nos “ensinar todas as coisas”. Isso, logicamente, não significará que tudo virá de forma ‘sobrenatural’, não! Mas se dará primeiro pelo nosso esforço em estudar e ler o projeto, entender os princípios básicos e já suficientes registrados ali e começar por nós mesmos a execução dessa obra. Daí o entendimento virá conforme a nossa necessidade diante de algumas adversidades, oposições. Para cada patamar dessa grande construção, o engenheiro enviado para ensinar todas as coisas mostrará a aplicação específica para a execução daquele trabalho e ele mesmo se encarregará de enviar alguns instrumentos. Como sou da confissão pentecostal, cito alguns instrumentos: dons espirituais e tantos outros recursos provenientes da graça divina.

A Bíblia é um instrumento planejado por Deus para sua revelação chegar de forma acessível ao homem. Pois, o homem naturalmente depravado pelo pecado não poderia entender e nem buscar a Deus, mas a Bíblia é um meio universalmente posto para o homem conhecer um pouco, ou pelo menos de forma básica, aquilo que Deus tem para ele.
Mas é a ação do Santo Espírito de Deus que vai definir o convencimento ou não desse depravado homem.


Gabriel Felipe M. Rocha.
Graduado em História (licenciatura e bacharelado);
Pós- graduado em Sociologia (lato sensu);
Mestrando em Filosofia (stricto sensu) – Área de concentração: Antropologia e Ética;
Bacharel em Teologia (ênfase em História da Igreja).

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