Lendo as Escrituras
"Por isso, quando ledes, podeis perceber a minha compreensão do mistério de Cristo" (Ef 3.4).
Nosso texto de hoje possui íntima ligação com o versículo seguinte, o qual expressa:
"O qual noutros séculos não foi manifestado aos filhos dos homens, como agora tem sido revelado pelo Espírito aos seus santos apóstolos e profetas" (Ef 3.5).
Lembramos que, originalmente, a Bíblia não fora separada em capítulos e versículos, de modo que usamos estas divisões simplesmente por facilitar a localização. Desse modo, ninguém deve ler a Bíblia como se fosse o intento de Deus nos deixar "fragmentos" ou versículos isolados, textos que geram pretextos, etc. afinal, tal qual como corriqueiramente encontramos em livros, a leitura deve ser completa e una, a fim de não entendermos de maneira errada a mensagem bíblica.
Paulo escreve para os crentes em Éfeso que ao lerem a carta em questão, poderiam compreender que nela havia o conhecimento do mistério de Cristo. Podemos ver sobre este mistério em Efésios 1.9, quando Paulo reafirma que Deus teve por bem revelar as coisas que permaneceram ocultas nos tempos passados. Este entendimento das coisas do Reino só poderia surgir de uma grande revelação recebida por Paulo, conforme ele mesmo já deixou registrado (Ef 1.17).
Devemos entender corretamente um precioso detalhe: o que devemos conhecer "do mistério de Cristo"? Tal mistério não diz respeito há algo indecifrável, e sim à revelação de Deus, que é o próprio Cristo. Paulo registra que ao lerem sua carta, os cristãos poderiam perceber que nela havia grande conhecimento da pessoa de Jesus Cristo, o Filho de Deus e Salvador de todos os eleitos. Aqueles cristãos teriam uma carta repleta de abundante sabedoria vinda de Deus, a qual explicitava a pessoa de Cristo e tudo que Ele fizera pelos judeus e gentios, de forma que os gentios não deveriam a ler como sendo palavras de homens, mas, sim, buscando encontrar o Cristo nela contida.
"Por isso, quando ledes, podeis perceber a minha compreensão do mistério de Cristo" (Ef 3.4).
Nosso texto de hoje possui íntima ligação com o versículo seguinte, o qual expressa:
"O qual noutros séculos não foi manifestado aos filhos dos homens, como agora tem sido revelado pelo Espírito aos seus santos apóstolos e profetas" (Ef 3.5).
Lembramos que, originalmente, a Bíblia não fora separada em capítulos e versículos, de modo que usamos estas divisões simplesmente por facilitar a localização. Desse modo, ninguém deve ler a Bíblia como se fosse o intento de Deus nos deixar "fragmentos" ou versículos isolados, textos que geram pretextos, etc. afinal, tal qual como corriqueiramente encontramos em livros, a leitura deve ser completa e una, a fim de não entendermos de maneira errada a mensagem bíblica.
Paulo escreve para os crentes em Éfeso que ao lerem a carta em questão, poderiam compreender que nela havia o conhecimento do mistério de Cristo. Podemos ver sobre este mistério em Efésios 1.9, quando Paulo reafirma que Deus teve por bem revelar as coisas que permaneceram ocultas nos tempos passados. Este entendimento das coisas do Reino só poderia surgir de uma grande revelação recebida por Paulo, conforme ele mesmo já deixou registrado (Ef 1.17).
Devemos entender corretamente um precioso detalhe: o que devemos conhecer "do mistério de Cristo"? Tal mistério não diz respeito há algo indecifrável, e sim à revelação de Deus, que é o próprio Cristo. Paulo registra que ao lerem sua carta, os cristãos poderiam perceber que nela havia grande conhecimento da pessoa de Jesus Cristo, o Filho de Deus e Salvador de todos os eleitos. Aqueles cristãos teriam uma carta repleta de abundante sabedoria vinda de Deus, a qual explicitava a pessoa de Cristo e tudo que Ele fizera pelos judeus e gentios, de forma que os gentios não deveriam a ler como sendo palavras de homens, mas, sim, buscando encontrar o Cristo nela contida.
Mas o fato é que a Bíblia carrega em si um conteúdo espiritual (ou
profético no sentido real da Palavra). Por que a Bíblia é profética ou tem um
conteúdo profético?
Ela é profética, pois chama o homem de volta a Deus e aponta o caminho. Basicamente podemos defini-la assim. Partindo desses dois pólos, Jesus é o caminho que leva o homem de volta a Deus. Isso corrobora com o fato de que a Bíblia tem um conteúdo profético, pois ela, não só no N.T., testifica do Cristo Vivo e o ato de entender ou encontrar Cristo pelas escrituras é pela Revelação e auxílio do Espírito Santo, o que revela Jesus Cristo à Igreja. Nessa perspectiva, temos o real 'avivamento' que é exatamente a volta para Deus e para sua Palavra. Como disse certa vez Luiz Sayão, o verdadeiro avivamento leva o crente a Deus e o faz desejar conhecer mais sobre a Palavra de Deus, pois o conteúdo do avivamento é espiritual e, se leva o crente para as Escrituras, se dá porque ela - a Escritura - é espiritual.
Qual foi o ato de Cristo na cruz que pôde reconciliar o homem com Deus? Foi seu sacrifício e sangue derramado (veja que o sangue percorre todo o conteúdo da Bíblia, do primeiro livro ao último). Logo, esse sangue é símbolo do que é a obra do Espírito Santo na vida do crente e no seio da Igreja: levar o homem de volta a Deus, de volta a VIDA.
O versículo que está separado para esta análise (Ef. 3:4) nos ensina três coisas de vital importância para nossa vida espiritual: Devemos ler a Escritura; Devemos perceber algo divino; A quem buscamos compreender?
Devemos ler a Escritura - "Por isso, quando ledes"
Freqüentemente temos visto como a leitura da Palavra de Deus tem sido negligenciada pelos cristãos. Muitíssimos têm preferido revelações EXTRA-BÍBLICAS além do que a Palavra prescreve. Não que Deus possa iluminar e ensinar espiritualmente sobre sua Palavra e mostrar algum mistério, mas isso deve ser feito com cuidado, respeitando os limites traçados pela Palavra de Deus. Encarando os fatos de modo sincero, podemos dizer que todo aquele que não se satisfaz com o que o Senhor nos deixou legado, ainda não amou a Cristo com completa inteireza de coração. Buscar uma revelação além da Escritura ou que venha ferir a sã doutrina de Cristo é ultrajar a Deus e afirmar que Ele nos deixou um conhecimento incompleto, de maneira que precisamos, supostamente, ir a homens para obter uma maior graça. Certamente que não estamos a invalidar os ensinamentos e dons que o Senhor distribuiu aos cristãos, como no caso de mestres e presbíteros, os quais "velam por vossas almas" (Hb 13.17). E nem estamos falando que a Escritura não pode ser discernida espiritualmente ou que Deus não possa revelar, iluminar e ensinar algo, porém quando Ele assim o faz, Ele não volta jamais contra sua própria Palavra, sendo assim todo dom espiritual ou toda iluminação espiritual deve ser feita tendo a Palavra de Deus como base. Jamais podemos, entretanto, advogar novas revelações aos homens no que tange à administração da Palavra e em matéria de salvação, pois firmemente lemos que só é lícito praticar e ordenar as coisas prescritas (Dt 12.32). Reforçamos, ainda, que o Espírito Santo é livre para agir da maneira como lhe convém (Jo 3.8), de maneira que não estamos afirmando que o Ele não mais age em nosso meio; pelo contrário, afirmamos que Ele está firmemente presente em Sua Igreja, aperfeiçoa a mesma para triunfar com Cristo e é plenamente ativo, se limitando, apenas, a agir de acordo com o que foi revelado em Sua Palavra, isto é, porque o Senhor não pode mentir e nem se contradizer (Tg 1.17), jamais agirá contrariamente ao que nos deixou para o ensino (2Tm 3.16-17).
As consequências de não se conhecer a Bíblia são graves e os homens constantemente a distorcem por não a conhecerem. O Senhor afirma que o desconhecimento de Sua Palavra é a causa de entendimentos errôneos. Por exemplo, quando o Mestre foi inquirido acerca de quem estaria eternamente unido com a viúva que se casou com seus cunhados, respondeu aos saduceus, os quais não criam na ressurreição (Mt 22.23): "Errais, não conhecendo as Escrituras, nem o poder de Deus" (Mt 22.29). Noutro lugar, afirmou sobre a acusação de Seus discípulos não lavarem as mãos antes das refeições (Mt 15.2), demonstrando cristalinamente que a adoração daqueles escribas e fariseus (Mt 15.1) era falsa e não recebida por Deus: "Este povo se aproxima de mim com a sua boca e me honra com os seus lábios, mas o seu coração está longe de mim. Mas, em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos dos homens" (Mt 15.8-9).
Observemos como o Senhor usa de uma expressão precisa para aqueles que com sua boca o professam, mas na realidade sequer o conhecem: "em vão me adoram". A palavra traduzida por "vão" é deveras incisiva, significando uma ideia através da tentativa de manipulação, ou seja, uma busca sem sucesso, ou então de punição. O que Cristo diz é que se alguém se achega a Ele simplesmente dizendo fazer parte de Sua família, quando não possui o correto conhecimento de Deus, pois o "seu coração está longe de mim", acaba por adorar sem qualquer sucesso em ter acesso a Deus, pois o que estão a realizar "são preceitos dos homens".
Tal ensinamento deve nos levar à reflexão se o que temos pensado acerca de Deus e de tudo o que foi criado, é de fato vindo da Palavra de Deus. Noutras palavras, devemos olhar para nossos pressupostos internos e refletir sobre como temos encarado o mundo, a fim de verificar se estamos como que olhando com as lentes de Deus. Isto foi dito pelo apóstolo, quando afirmou: "nós temos a mente de Cristo" (1Co 2.16).
Como alguns professos da fé cristã podem afirmar ter a mente de Cristo, ou seja, enxergarem o mundo e nele viverem como o próprio Cristo, se os tais não meditam dia e noite nas Escrituras (Sl 1.2)? Para agravar ainda mais a situação destes miseráveis homens, quando afirmam ser cristãos, mas não leem a Escritura e sequer se deleitam na Lei de Deus, acabam por ferir o terceiro mandamento: "Não tomarás o nome do Senhor teu Deus em vão; porque o Senhor não terá por inocente o que tomar o seu nome em vão" (Êx 20.7). Tal mandamento possui, dentre outras nuances, o condão de levar os homens a não professarem terem o Senhor como seu Salvador, se assim não vivem; também faz com que os homens refreiem suas atitudes, afinal, carregam o bom nome de Cristo consigo - "vale mais ter um bom nome do que muitas riquezas" (Pv 22.1).
A única maneira de entendermos a vida cristã será mediante a firme leitura. Poderíamos exemplificar com a falsa noção de céu que por vezes acabamos nutrindo. Ora, no que consiste o céu? Quer dizer, o que haverá no céu de mais excelso? Não há qualquer erro em dizer que ele será um lugar de bem aventuranças eternas, onde "Deus limpará de seus olhos toda a lágrima; e não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor" (Ap 21.4). Todavia, notemos qual o fundamento da vida eterna: "E a vida eterna é esta: que te conheçam, a ti só, por único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste" (Jo 17.3). A exclusão das lágrimas, choro e dores, não é o a essência do céu; a essência será o conhecer o único e verdadeiro Deus, de maneira infinitamente mais bela e perfeita do que o podemos conhecer nesta terra!
Devemos perceber algo divino - "podeis perceber"
Quando lemos a Escritura é preciso ter um senso do que estamos lendo. A expressão bíblica "podeis perceber", poder-se-ia se traduzir, para nós, em forma de pergunta: o que temos percebido? Ou: temos percebido que ela transcende a humanidade? Temos percebido o que o Espírito está revelando? Temos conhecido o projeto divino? Ao abrirmos a Escritura, buscamos enxergar algo além da casca da letra? Quando lemos o Pentateuco, isto é, os cinco primeiros livros da Bíblia, o "compêndio da Lei de Deus", enxergamos a bondade, beleza, suavidade e misericórdia de Deus em Jesus Cristo? Quando lemos os provérbios escritos por Salomão, entendemos que a sabedoria é como que o próprio Cristo personificado? Quando lemos Cantares, entendemos quão grande é o amor de Cristo por sua Igreja?
Como cristãos, é necessário averiguar o que diz a Escritura: "podeis perceber". O tempo da sentença não diz respeito a "poderão" ou "poderiam", mas, sim, "podeis". Mostra uma possessão que nos é possível. Mas possível como se somos pecadores e espiritualmente limitados em relação à grandeza do Criador? Podemos perceber pelo Espírito Santo! Compreender a divindade das palavras registradas (2Tm 3.16-17) é algo possível e deve ser buscado por todos os filhos do Senhor. Em nossa responsabilidade, devemos rogar ao Senhor para que nos agracie com o correto entendimento de Sua Palavra, pois quantas são as vezes que nos achegamos à Escritura de modo leviano, displicente, sem praticarmos o nosso culto racional (Rm 12.1), isto é, com entendimento do que estamos realizando?
Precisamos ler a Escritura e termos nossos corações impactados. A leitura bíblica individual deve transformar a vida interior e as atitudes exteriores. Quando isto acontece, não raro é fruto de nossa má compreensão sobre a que as palavras de Deus são a verdadeira comida e bebida. A necessidade imperiosa é buscarmos ler Escritura de modo a poder a manejar corretamente. Porque vivemos em uma época de facilidades e automatismos, lamentavelmente transpomos este conceito para a vida de cristã, como se a leitura bíblica, por si só, como um dever, fosse trazer todos os benefícios do Espírito Santo. Aliás, ela é um dos recursos da graça divina e está no mesmo patamar da oração.
A quem buscamos compreender - "a minha compreensão do mistério de Cristo"
Devemos buscar somente a Cristo. Ele é o princípio e o fim. Seu Nome está implícito e explícito de Gênesis a Apocalipse e a marca de seu sacrifício (se Sangue precioso) acompanha toda a Escritura. Vemos aí o mistério de Cristo!
A Escritura sem Cristo não possui valor: "Examinais as Escrituras, porque vós cuidais ter nelas a vida eterna, e são elas que de mim testificam" (Jo 5.39 - grifo meu). Se não buscamos encontrar Cristo em cada pormenor da revelação de Deus, então estamos a lendo somente para proveito egoísta, como se fora uma livro de agradáveis pensamentos e norteador de boas ações. Se Cristo não estiver não estiver em preeminência em nossa vida cristã e em especial quando lemos a Palavra, então há de muito errado conosco.
É necessário recordar que Ele é a fonte da água da vida: "aquele que beber da água que eu lhe der nunca terá sede, porque a água que eu lhe der se fará nele uma fonte de água que salte para a vida eterna" (Jo 4.14). Não homem que vá com sede à Palavra e retorne dela sem ter sido saciado. Não obstante esta realidade, devido ao pecado, inúmeras vezes os cristãos se dirigem à Escritura e em vez de voltarem "com alegria, trazendo consigo os seus molhos" (Sl 126.6), não se visualizam qualquer mudança em suas mentes e corações. Isto acontece porque não a lemos de maneira convicta e olhando para o trono da graça. Somos ávidos por Suas bênçãos, mas não desejamos Suas admoestações; cremos em Seu poder salvífico, mas não em sua santificação; O louvamos pelo poder criador, mas nos esquecemos da mão sustentadora.
Não fosse Cristo, nada existiria, pois a Escritura também atribui a criação ao Filho: "Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez" (Jo 1.3). Tão grandiosa é a obra de Cristo, que o Reino é comparado ao mais excelente tesouro: "Também o reino dos céus é semelhante a um tesouro escondido num campo, que um homem achou e escondeu; e, pelo gozo dele, vai, vende tudo quanto tem, e compra aquele campo" (Mt 13.44). Anotemos a importância de vender tudo o que se tem, para comprar o preciso campo - assim devemos ir até a Escritura, deixando, como o homem que fora curado e que abandonou a sua capa que o impedia de correr (Mc 10.50), todo o embaraço e passando a procurar por Cristo Jesus, porque temos a promessa: "E buscar-me-eis, e me achareis, quando me buscardes com todo o vosso coração" (Jr 29.13).
Ela é profética, pois chama o homem de volta a Deus e aponta o caminho. Basicamente podemos defini-la assim. Partindo desses dois pólos, Jesus é o caminho que leva o homem de volta a Deus. Isso corrobora com o fato de que a Bíblia tem um conteúdo profético, pois ela, não só no N.T., testifica do Cristo Vivo e o ato de entender ou encontrar Cristo pelas escrituras é pela Revelação e auxílio do Espírito Santo, o que revela Jesus Cristo à Igreja. Nessa perspectiva, temos o real 'avivamento' que é exatamente a volta para Deus e para sua Palavra. Como disse certa vez Luiz Sayão, o verdadeiro avivamento leva o crente a Deus e o faz desejar conhecer mais sobre a Palavra de Deus, pois o conteúdo do avivamento é espiritual e, se leva o crente para as Escrituras, se dá porque ela - a Escritura - é espiritual.
Qual foi o ato de Cristo na cruz que pôde reconciliar o homem com Deus? Foi seu sacrifício e sangue derramado (veja que o sangue percorre todo o conteúdo da Bíblia, do primeiro livro ao último). Logo, esse sangue é símbolo do que é a obra do Espírito Santo na vida do crente e no seio da Igreja: levar o homem de volta a Deus, de volta a VIDA.
O versículo que está separado para esta análise (Ef. 3:4) nos ensina três coisas de vital importância para nossa vida espiritual: Devemos ler a Escritura; Devemos perceber algo divino; A quem buscamos compreender?
Devemos ler a Escritura - "Por isso, quando ledes"
Freqüentemente temos visto como a leitura da Palavra de Deus tem sido negligenciada pelos cristãos. Muitíssimos têm preferido revelações EXTRA-BÍBLICAS além do que a Palavra prescreve. Não que Deus possa iluminar e ensinar espiritualmente sobre sua Palavra e mostrar algum mistério, mas isso deve ser feito com cuidado, respeitando os limites traçados pela Palavra de Deus. Encarando os fatos de modo sincero, podemos dizer que todo aquele que não se satisfaz com o que o Senhor nos deixou legado, ainda não amou a Cristo com completa inteireza de coração. Buscar uma revelação além da Escritura ou que venha ferir a sã doutrina de Cristo é ultrajar a Deus e afirmar que Ele nos deixou um conhecimento incompleto, de maneira que precisamos, supostamente, ir a homens para obter uma maior graça. Certamente que não estamos a invalidar os ensinamentos e dons que o Senhor distribuiu aos cristãos, como no caso de mestres e presbíteros, os quais "velam por vossas almas" (Hb 13.17). E nem estamos falando que a Escritura não pode ser discernida espiritualmente ou que Deus não possa revelar, iluminar e ensinar algo, porém quando Ele assim o faz, Ele não volta jamais contra sua própria Palavra, sendo assim todo dom espiritual ou toda iluminação espiritual deve ser feita tendo a Palavra de Deus como base. Jamais podemos, entretanto, advogar novas revelações aos homens no que tange à administração da Palavra e em matéria de salvação, pois firmemente lemos que só é lícito praticar e ordenar as coisas prescritas (Dt 12.32). Reforçamos, ainda, que o Espírito Santo é livre para agir da maneira como lhe convém (Jo 3.8), de maneira que não estamos afirmando que o Ele não mais age em nosso meio; pelo contrário, afirmamos que Ele está firmemente presente em Sua Igreja, aperfeiçoa a mesma para triunfar com Cristo e é plenamente ativo, se limitando, apenas, a agir de acordo com o que foi revelado em Sua Palavra, isto é, porque o Senhor não pode mentir e nem se contradizer (Tg 1.17), jamais agirá contrariamente ao que nos deixou para o ensino (2Tm 3.16-17).
As consequências de não se conhecer a Bíblia são graves e os homens constantemente a distorcem por não a conhecerem. O Senhor afirma que o desconhecimento de Sua Palavra é a causa de entendimentos errôneos. Por exemplo, quando o Mestre foi inquirido acerca de quem estaria eternamente unido com a viúva que se casou com seus cunhados, respondeu aos saduceus, os quais não criam na ressurreição (Mt 22.23): "Errais, não conhecendo as Escrituras, nem o poder de Deus" (Mt 22.29). Noutro lugar, afirmou sobre a acusação de Seus discípulos não lavarem as mãos antes das refeições (Mt 15.2), demonstrando cristalinamente que a adoração daqueles escribas e fariseus (Mt 15.1) era falsa e não recebida por Deus: "Este povo se aproxima de mim com a sua boca e me honra com os seus lábios, mas o seu coração está longe de mim. Mas, em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos dos homens" (Mt 15.8-9).
Observemos como o Senhor usa de uma expressão precisa para aqueles que com sua boca o professam, mas na realidade sequer o conhecem: "em vão me adoram". A palavra traduzida por "vão" é deveras incisiva, significando uma ideia através da tentativa de manipulação, ou seja, uma busca sem sucesso, ou então de punição. O que Cristo diz é que se alguém se achega a Ele simplesmente dizendo fazer parte de Sua família, quando não possui o correto conhecimento de Deus, pois o "seu coração está longe de mim", acaba por adorar sem qualquer sucesso em ter acesso a Deus, pois o que estão a realizar "são preceitos dos homens".
Tal ensinamento deve nos levar à reflexão se o que temos pensado acerca de Deus e de tudo o que foi criado, é de fato vindo da Palavra de Deus. Noutras palavras, devemos olhar para nossos pressupostos internos e refletir sobre como temos encarado o mundo, a fim de verificar se estamos como que olhando com as lentes de Deus. Isto foi dito pelo apóstolo, quando afirmou: "nós temos a mente de Cristo" (1Co 2.16).
Como alguns professos da fé cristã podem afirmar ter a mente de Cristo, ou seja, enxergarem o mundo e nele viverem como o próprio Cristo, se os tais não meditam dia e noite nas Escrituras (Sl 1.2)? Para agravar ainda mais a situação destes miseráveis homens, quando afirmam ser cristãos, mas não leem a Escritura e sequer se deleitam na Lei de Deus, acabam por ferir o terceiro mandamento: "Não tomarás o nome do Senhor teu Deus em vão; porque o Senhor não terá por inocente o que tomar o seu nome em vão" (Êx 20.7). Tal mandamento possui, dentre outras nuances, o condão de levar os homens a não professarem terem o Senhor como seu Salvador, se assim não vivem; também faz com que os homens refreiem suas atitudes, afinal, carregam o bom nome de Cristo consigo - "vale mais ter um bom nome do que muitas riquezas" (Pv 22.1).
A única maneira de entendermos a vida cristã será mediante a firme leitura. Poderíamos exemplificar com a falsa noção de céu que por vezes acabamos nutrindo. Ora, no que consiste o céu? Quer dizer, o que haverá no céu de mais excelso? Não há qualquer erro em dizer que ele será um lugar de bem aventuranças eternas, onde "Deus limpará de seus olhos toda a lágrima; e não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor" (Ap 21.4). Todavia, notemos qual o fundamento da vida eterna: "E a vida eterna é esta: que te conheçam, a ti só, por único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste" (Jo 17.3). A exclusão das lágrimas, choro e dores, não é o a essência do céu; a essência será o conhecer o único e verdadeiro Deus, de maneira infinitamente mais bela e perfeita do que o podemos conhecer nesta terra!
Devemos perceber algo divino - "podeis perceber"
Quando lemos a Escritura é preciso ter um senso do que estamos lendo. A expressão bíblica "podeis perceber", poder-se-ia se traduzir, para nós, em forma de pergunta: o que temos percebido? Ou: temos percebido que ela transcende a humanidade? Temos percebido o que o Espírito está revelando? Temos conhecido o projeto divino? Ao abrirmos a Escritura, buscamos enxergar algo além da casca da letra? Quando lemos o Pentateuco, isto é, os cinco primeiros livros da Bíblia, o "compêndio da Lei de Deus", enxergamos a bondade, beleza, suavidade e misericórdia de Deus em Jesus Cristo? Quando lemos os provérbios escritos por Salomão, entendemos que a sabedoria é como que o próprio Cristo personificado? Quando lemos Cantares, entendemos quão grande é o amor de Cristo por sua Igreja?
Como cristãos, é necessário averiguar o que diz a Escritura: "podeis perceber". O tempo da sentença não diz respeito a "poderão" ou "poderiam", mas, sim, "podeis". Mostra uma possessão que nos é possível. Mas possível como se somos pecadores e espiritualmente limitados em relação à grandeza do Criador? Podemos perceber pelo Espírito Santo! Compreender a divindade das palavras registradas (2Tm 3.16-17) é algo possível e deve ser buscado por todos os filhos do Senhor. Em nossa responsabilidade, devemos rogar ao Senhor para que nos agracie com o correto entendimento de Sua Palavra, pois quantas são as vezes que nos achegamos à Escritura de modo leviano, displicente, sem praticarmos o nosso culto racional (Rm 12.1), isto é, com entendimento do que estamos realizando?
Precisamos ler a Escritura e termos nossos corações impactados. A leitura bíblica individual deve transformar a vida interior e as atitudes exteriores. Quando isto acontece, não raro é fruto de nossa má compreensão sobre a que as palavras de Deus são a verdadeira comida e bebida. A necessidade imperiosa é buscarmos ler Escritura de modo a poder a manejar corretamente. Porque vivemos em uma época de facilidades e automatismos, lamentavelmente transpomos este conceito para a vida de cristã, como se a leitura bíblica, por si só, como um dever, fosse trazer todos os benefícios do Espírito Santo. Aliás, ela é um dos recursos da graça divina e está no mesmo patamar da oração.
A quem buscamos compreender - "a minha compreensão do mistério de Cristo"
Devemos buscar somente a Cristo. Ele é o princípio e o fim. Seu Nome está implícito e explícito de Gênesis a Apocalipse e a marca de seu sacrifício (se Sangue precioso) acompanha toda a Escritura. Vemos aí o mistério de Cristo!
A Escritura sem Cristo não possui valor: "Examinais as Escrituras, porque vós cuidais ter nelas a vida eterna, e são elas que de mim testificam" (Jo 5.39 - grifo meu). Se não buscamos encontrar Cristo em cada pormenor da revelação de Deus, então estamos a lendo somente para proveito egoísta, como se fora uma livro de agradáveis pensamentos e norteador de boas ações. Se Cristo não estiver não estiver em preeminência em nossa vida cristã e em especial quando lemos a Palavra, então há de muito errado conosco.
É necessário recordar que Ele é a fonte da água da vida: "aquele que beber da água que eu lhe der nunca terá sede, porque a água que eu lhe der se fará nele uma fonte de água que salte para a vida eterna" (Jo 4.14). Não homem que vá com sede à Palavra e retorne dela sem ter sido saciado. Não obstante esta realidade, devido ao pecado, inúmeras vezes os cristãos se dirigem à Escritura e em vez de voltarem "com alegria, trazendo consigo os seus molhos" (Sl 126.6), não se visualizam qualquer mudança em suas mentes e corações. Isto acontece porque não a lemos de maneira convicta e olhando para o trono da graça. Somos ávidos por Suas bênçãos, mas não desejamos Suas admoestações; cremos em Seu poder salvífico, mas não em sua santificação; O louvamos pelo poder criador, mas nos esquecemos da mão sustentadora.
Não fosse Cristo, nada existiria, pois a Escritura também atribui a criação ao Filho: "Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez" (Jo 1.3). Tão grandiosa é a obra de Cristo, que o Reino é comparado ao mais excelente tesouro: "Também o reino dos céus é semelhante a um tesouro escondido num campo, que um homem achou e escondeu; e, pelo gozo dele, vai, vende tudo quanto tem, e compra aquele campo" (Mt 13.44). Anotemos a importância de vender tudo o que se tem, para comprar o preciso campo - assim devemos ir até a Escritura, deixando, como o homem que fora curado e que abandonou a sua capa que o impedia de correr (Mc 10.50), todo o embaraço e passando a procurar por Cristo Jesus, porque temos a promessa: "E buscar-me-eis, e me achareis, quando me buscardes com todo o vosso coração" (Jr 29.13).
Muitos,
infelizmente têm buscado viver de experimentalismos e “novas revelações”. Isso
é perigoso. Não podemos deturpar o verdadeiro e sadio sentido do termo “Palavra
revelada”. Nosso foco, na verdade, é mostrar o que de fato é "revelação
bíblica", pois vemos em muitas igrejas certa deturpação, exagero e mau uso
do termo "revelação", dando assim brechas (talvez intencionais) para
chover sobre a igreja "novas revelações doutrinárias". A
heresia cavalga aí. Contudo, reconhecemos aqui que há um conteúdo espiritual
na Bíblia e seu caráter é 'profético' (como expliquei acima), conteúdo esse que
continua sendo iluminado ao crente pela ação do Espírito Santo, pois o Cristo
na qual a Bíblia testifica continua vivo, glorificado e falando de seus
mistérios e, para reforçar nossa posição, Ele nunca vai contra si
mesmo, ou seja, a iluminação espiritual jamais vai ou pode ir contra o já
revelado por Deus na sua Santa e Viva Palavra.
Se formos para a Escritura buscando encontrar qualquer coisa que não seja Cristo (moralidade, civilidade, bons costumes, preceitos, conselhos, narrativas interessantes), então estamos errando em nosso o alvo. Devemos fazer como prescreve a Palavra de Deus:
"prossigo para alcançar aquilo para o que fui também preso por Cristo Jesus" (Fp 3.12).
Sejamos agraciados, segundo a boa medida com que o Senhor intenta nos abençoar, a buscarmos ao Senhor somente em Sua palavra.
Texto escrito em referência ao sermão pregado em 01/09/2013 de Felipe Machado (Igreja Cristã Reformada de Blumenau)
Reescrita, adaptação e acréscimos de conteúdo de Gabriel Felipe M. Rocha*.
Gabriel Felipe M. Rocha.
Graduado em História
(licenciatura e bacharelado);
Pós graduado em
Sociologia (lato sensu);
Mestrando em Filosofia
(stricto sensu) – Área de concentração: Antropologia e Ética;
Bacharel em Teologia (ênfase em História da Igreja).
Pois bem, já que nosso assunto nesta postagem foi a Escritura, deixo aqui algumas imagens de uma sensacional exposição de Bíblias históricas, inclusive uma Bíblia copiada após a Reforma e lançada por Martinho Lutero. Dentre as tais, esteve também um manuscrito - em pergaminho - contendo parte do Evangelho de Lucas (foi marcante). Tive a honra de visitar tais acervos e deixo aqui alguns registros. As peças vieram de alguns museus da Europa. A exposição foi no mês de setembro na Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia, onde curso meu mestrado acadêmico em Filosofia (área de estudo: Ética). A Faje-BH é uma das mais conceituadas faculdades de Filosofia e Teologia do Brasil, inclusive é líder e tem reconhecimento internacional. Segue as imagens:
As Bíblias:
Parte do Evangelho de Lucas.
Ao lado de uma das Bíblias em exposição.
(última foto) Na sala de estudos bíblicos em minha casa.
3 comentários:
Parabéns, Gabriel. Realmente o conteúdo desse blog é bem selecionado e de alto nível. Continue nessa mesma disposição para escrever, a paz.
Obrigado! Continue conosco. O que fazemos aqui é para a glória do Rei Jesus!!!
Tudo muito bem elaborado e cuidadosamente estudado na sã doutrina.
O importante, Gabriel Felipe, é que você não é travado na denominação e traz os assuntos à luz da palavra.
Abração.
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