terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

A Mulher de Samaria (Por Santo Agostinho)

Veio uma mulher de Samaria buscar água

• Autoria: Agostinho de Hipona (Santo Agostinho)
• Ref. Bíblica: João 4:5-42


Veio uma mulher (Jo 4:7). Esta mulher é figura da Igreja, ainda não justificada, mas a caminho da justificação. É disso que iremos tratar.

A mulher veio sem saber o que ali a esperava; encontrou Jesus, e Jesus dirigiu-lhe a palavra. Vejamos o fato e a razão por que veio uma mulher da Samaria buscar água (Jo 4:7). Os samaritanos não pertenciam ao povo judeu; não eram do povo escolhido. Faz parte do simbolismo da narração que esta mulher, figura da Igreja, tenha vindo de um povo estrangeiro; porque a Igreja viria dos pagãos, dos que não pertenciam à raça judaica.

Ouçamos, portanto, a nós mesmos nas palavras desta mulher, reconheçamo-nos nela e nela demos graças a Deus por nós. Ela era uma figura, não a realidade; começou por ser figura, e tornou-se realidade. Pois acreditou naquele que queria torná-la uma figura de nós mesmos. Veio buscar água. Viera simplesmente para buscar água, como costumam fazer os homens e as mulheres.

Jesus lhe disse: “Dá-me de beber!” Os seus discípulos tinham ido à cidade comprar algo para comer. A samaritana disse a Jesus: “Como é que tu, sendo judeu, pedes de beber a mim que sou uma mulher samaritana?” De fato, os judeus não se relacionam com os samaritanos (Jo 4:7-9).

Estais vendo que são estrangeiros. Os judeus de modo algum se serviam dos cântaros dos samaritanos. Como a mulher trazia consigo um cântaro para buscar água, admirou-se que um judeu lhe pedisse de beber, pois os judeus não costumavam fazer isso. Mas aquele que pedia de beber tinha sede da fé daquela mulher.

Escuta agora quem pede de beber. Jesus respondeu: Se conhecesses o dom de Deus e quem é aquele que te diz: “Dá-me de beber”, tu lhe pedirias, e ele te daria água viva (Jo 4:10).

Pede de beber e promete dar de beber. Apresenta-se como necessitado que espera receber, mas possui em abundância para saciar os outros. Se conhecesses o dom de Deus, diz ele. O dom de Deus é o Espírito Santo. Jesus fala ainda veladamente à mulher, mas pouco a pouco entra em seu coração, e vai lhe ensinando. Que haverá de mais suave e bondoso que esta exortação? Se conhecesses o dom de Deus e quem é aquele que te diz: “Dá-me de beber”, tu lhe pedirias, e ele te daria água viva.

Que água lhe daria ele, senão aquela da qual está escrito: Em vós está a fonte da vida? (Sl 36:10*). Pois, como podem ter sede, os que vêm saciar-se na abundância de vossa morada? (Sl 36:9*).

O Senhor prometia à mulher um alimento forte, prometia saciá-la com o Espírito Santo. Mas ela ainda não compreendia. E, na sua incompreensão, que respondeu? A mulher disse então a Jesus: “Senhor, dá-me dessa água, para que eu não tenha mais sede, nem tenha de vir aqui tirar água” (Jo 4:15). A necessidade a obrigava a trabalhar, mas sua fraqueza recusava o trabalho. Se ao menos ela tivesse ouvido aquelas palavras: Vinde a mim, todos vós que estais cansados e carregados de fardos, e eu vos darei descanso! (Mt 11:18). Jesus dizia-lhe tudo aquilo para que não se cansasse mais; ela, porém, ainda não compreendia.


In Ioannis Evangelium, Tractatus 15, 10-12.16-17

2 comentários:

COMUNIDADE PEDRAS VIVAS disse...

Ungida, providencial, riquíssima e inspirada reflexão. Abriu ainda mais o meu coração para buscar na Fonte de Água viva o sentido da minha vida!

Carlos Batista disse...

Ungida, providencial, riquíssima e inspirada reflexão. Abriu ainda mais o meu coração para buscar na Fonte de Água viva o sentido da minha vida!