segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Uma reflexão singela sobre a amizade

Uma reflexão singela sobre a amizade

O amigo ama em todos os momentos;
é um irmão na adversidade.
(Provérbios 17:17)

A amizade é um fenômeno humano cujas raízes (ou princípios) são plenamente metafísicos. Ou seja, estão para além da física. O cérebro até pode mostrar para o psicanalista onde se manifesta fisiologicamente a amizade, o amor, o companheirismo, até mesmo a fé. Mas nunca poderá mostrar empiricamente  os átomos ou matérias que compõe cada um. Porque suas raízes não estão no plano imanente e não se limitam na esfera terrena. A amizade, assim como todos os outros sentimentos próprios do espírito, está para além do homem e é oriunda de Deus.

Antes de se manifestar o sentimento da amizade em nós nos primeiros contatos e relações humanas de nossa existência, Deus já era “todo Amor”. Ele já era “todo Amizade”, assim como os diversos atributos e características de nosso Senhor.
Tanto que, o termo "amigo” no hebraico (rêa), além de significar “companheiro”, “irmão” e “próximo”, significa também “amante”, “marido”. É um substantivo masculino que significa outra pessoa, ou faz referência à outra pessoa no sentido de alguém que completa ou alguém que se identifica.

A partir dessa noção, podemos aprender que: Deus elegeu um povo para chamar de amigo. Para estar próximo em profunda comunhão. Para ser irmão que tem a conotação de união pelo mesmo sangue (no caso, reconciliação pelo poder do sangue de Jesus Cristo).  Deus escolheu nos amar. Ele nos amou primeiro. Vendo nossa condição depravada, Ele olhou para nós com olhar de misericórdia e quis – em sua soberania – nos chamar de amigos. Sendo que Ele mesmo providenciou esse recurso através de Cristo que, por inefável amor, se doou em sacrifício por exatamente nos amar e desejar com imensurável afeto nos chamar de amigos.
Jesus é nosso amigo maior e melhor. Prova de amizade maior que a que Ele mostrou não há!
Deus nos resgatou para a vida para voltarmos a sermos parte dele em espírito, pois dEle viemos. Ele não precisa de nossa amizade. Somos prescindíveis para Deus, mas Ele é imprescindível para nós.  Nós completamos Deus não no sentido que Deus é incompleto sem nós. Não! Mas no sentido de fazermos – agora – parte do Corpo espiritual de Jesus na Terra. Somos membros do Corpo de Cristo porque Deus nos amou. Somos parte de Cristo e co-herdeiros com Ele porque Ele nos amou primeiro. Por nós mesmos jamais conheceríamos o esplendor de sua glória e a eficácia de sua amizade e, tampouco, o seu companheirismo diário pela comunhão no Espírito Santo.

No Novo Testamento, existem algumas expressões que definem “amor” e “amizade”, mas chamo atenção para duas em especial. Convido você a abrir sua Bíblia em João 21: 15-17.

Ali, Jesus tem uma conversa especial com Pedro.  Ele faz para o mesmo três perguntas que, a princípio, parecem meras repetições, mas não são.
Nas duas primeiras perguntas “amas-me”, Jesus se apropria do termo “agapao” de ágape. Jesus falava de um amor majestosamente grande que tinha uma conotação que estava para além das condições emocionais e, talvez, espirituais de Pedro. Mas o amor ágape não depende de um tipo de reciprocidade. Jesus fez a pergunta a Pedro não esperando dele a mesma intensidade de amor. Ele apenas perguntou (por duas vezes) se Pedro o amava a ponto de apascentar suas ovelhas. Jamais amaremos na mesma intensidade de nosso Senhor. Nossa natureza não nos permite isso, mas podemos amar muito a Deus e mostramos esse amor (verdadeiro) quando reconhecemos que somos dependentes dele e quando realizamos sua obra. Quando nos dispomos ao serviço, Deus se agrada e nos chama de amigos e não mais servos simplesmente.

“Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz seu senhor; mas Eu vos tenho chamado amigos, pois tudo o que ouvi de meu Pai Eu compartilhei convosco” (João 15:15)

Amizade se manifesta no cuidado. É entrega. É serviço. É disposição para ouvir, acolher, receber, caminhar junto.

Amizade é suportar um ao outro (dar pleno suporte). É se alegrar e se entristecer seja quais forem as circunstâncias.

Mas a terceira pergunta de Jesus a Pedro foi bem mais pontual, pois o termo empregado foi “phíleo” que já traz a idéia de um amor recíproco. Um amor de relacionamento. Um amor de compromisso. Um amor de entrega. Um amor de devoção.

Phíleo é a palavra grega que significa também AMIZADE. Dela se tem a palavra “filantropia”.
Talvez Pedro se entristecera ali porque não tinha condições reais de manifestar com seu corpo, sua alma e seu espírito essa amizade. Talvez se sentisse aquém desse importante pacto. Mas ele queria, estava disposto a dizer sim ao Mestre, pois o Senhor já havia mostrado o seu grande amor primeiro no gesto do sacrifício.

Amizade não significa ser perfeito ou ser melhor em tudo diante do Senhor, diante da família, diante da igreja e diante do amigo íntimo. Não! Ser amigo é estar disposto a dizer sim. Mesmo nas falhas e mazelas próprias de nossa natureza. Ser amigo é dizer sim, mesmo dizendo não quando for preciso. Aliás, dizer não ao amigo para preservá-lo, às vezes, significa dizer sim, pois o não no Senhor é sim para a vida em crescimento na graça e no conhecimento da vontade de Jesus Cristo. Falar o que precisa ser dito ao amigo, ao irmão e ao próximo é dizer sim para a benção do Senhor sobre sua vida.

A amizade é um presente de Deus. A Igreja não se fortalece e não cresce se não houver amizade entre os irmãos. Amizade é suporte que cada um dá ao outro em constante amor, zelo, carinho, cuidado, repreensão, oração e ensino.

O amigo, então, é dádiva do céu, pois a amizade é um sentimento que revela também o amor de Deus por nossas vidas. Seu amigo (ou seus tantos amigos de verdade) são o cuidado de Deus para com sua vida.

Na hora da adversidade, o amigo é combatente e Deus é fortaleza. No momento da alegria, o amigo é participante e Deus é louvado.

Louvo a Deus pelos meus verdadeiros amigos, começando por minha esposa, meus pais e familiares e pelos meus novos amigos que tenho encontrado nessa nova etapa de minha vida.


Gabriel Felipe M. Rocha

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