Uma
reflexão singela sobre a amizade
O amigo ama em todos
os momentos;
é um irmão na
adversidade.
(Provérbios 17:17)
A amizade é um
fenômeno humano cujas raízes (ou princípios) são plenamente metafísicos. Ou
seja, estão para além da física. O cérebro até pode mostrar para o psicanalista
onde se manifesta fisiologicamente a amizade, o amor, o companheirismo, até
mesmo a fé. Mas nunca poderá mostrar empiricamente os átomos ou matérias que compõe cada um.
Porque suas raízes não estão no plano imanente e não se limitam na esfera
terrena. A amizade, assim como todos os outros sentimentos próprios do espírito,
está para além do homem e é oriunda de Deus.
Antes de se
manifestar o sentimento da amizade em nós nos primeiros contatos e relações
humanas de nossa existência, Deus já era “todo Amor”. Ele já era “todo Amizade”,
assim como os diversos atributos e características de nosso Senhor.
Tanto que, o termo
"amigo” no hebraico (rêa), além de significar “companheiro”, “irmão”
e “próximo”, significa também “amante”, “marido”. É um substantivo masculino
que significa outra pessoa, ou faz referência à outra pessoa no sentido de
alguém que completa ou alguém que se identifica.
A partir dessa noção,
podemos aprender que: Deus elegeu um povo para chamar de amigo. Para estar
próximo em profunda comunhão. Para ser irmão que tem a conotação de união pelo
mesmo sangue (no caso, reconciliação pelo poder do sangue de Jesus
Cristo). Deus escolheu nos amar. Ele nos
amou primeiro. Vendo nossa condição depravada, Ele olhou para nós com olhar de
misericórdia e quis – em sua soberania – nos chamar de amigos. Sendo que Ele
mesmo providenciou esse recurso através de Cristo que, por inefável amor, se
doou em sacrifício por exatamente nos amar e desejar com imensurável afeto nos
chamar de amigos.
Jesus é nosso amigo
maior e melhor. Prova de amizade maior que a que Ele mostrou não há!
Deus nos resgatou
para a vida para voltarmos a sermos parte dele em espírito, pois dEle viemos.
Ele não precisa de nossa amizade. Somos prescindíveis para Deus, mas Ele é imprescindível
para nós. Nós completamos Deus não no
sentido que Deus é incompleto sem nós. Não! Mas no sentido de fazermos – agora –
parte do Corpo espiritual de Jesus na Terra. Somos membros do Corpo de Cristo
porque Deus nos amou. Somos parte de Cristo e co-herdeiros com Ele porque Ele
nos amou primeiro. Por nós mesmos jamais conheceríamos o esplendor de sua
glória e a eficácia de sua amizade e, tampouco, o seu companheirismo diário
pela comunhão no Espírito Santo.
No Novo Testamento,
existem algumas expressões que definem “amor” e “amizade”, mas chamo atenção
para duas em especial. Convido você a abrir sua Bíblia em João 21: 15-17.
Ali, Jesus tem uma
conversa especial com Pedro. Ele faz
para o mesmo três perguntas que, a princípio, parecem meras repetições, mas não
são.
Nas duas primeiras
perguntas “amas-me”, Jesus se apropria do termo “agapao” de ágape. Jesus falava
de um amor majestosamente grande que tinha uma conotação que estava para além
das condições emocionais e, talvez, espirituais de Pedro. Mas o amor ágape não
depende de um tipo de reciprocidade. Jesus fez a pergunta a Pedro não esperando
dele a mesma intensidade de amor. Ele apenas perguntou (por duas vezes) se Pedro
o amava a ponto de apascentar suas ovelhas. Jamais amaremos na mesma
intensidade de nosso Senhor. Nossa natureza não nos permite isso, mas podemos
amar muito a Deus e mostramos esse amor (verdadeiro) quando reconhecemos que
somos dependentes dele e quando realizamos sua obra. Quando nos dispomos ao
serviço, Deus se agrada e nos chama de amigos e não mais servos simplesmente.
“Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz
seu senhor; mas Eu vos tenho chamado amigos, pois tudo o que ouvi de meu Pai Eu
compartilhei convosco” (João 15:15)
Amizade se manifesta no cuidado. É entrega. É serviço. É
disposição para ouvir, acolher, receber, caminhar junto.
Amizade é suportar um ao outro (dar pleno suporte). É se
alegrar e se entristecer seja quais forem as circunstâncias.
Mas a terceira pergunta de Jesus a Pedro foi bem mais
pontual, pois o termo empregado foi “phíleo” que já traz a idéia de um amor
recíproco. Um amor de relacionamento. Um amor de compromisso. Um amor de
entrega. Um amor de devoção.
Phíleo é a palavra grega que significa também AMIZADE. Dela
se tem a palavra “filantropia”.
Talvez Pedro se entristecera ali porque não tinha condições
reais de manifestar com seu corpo, sua alma e seu espírito essa amizade. Talvez
se sentisse aquém desse importante pacto. Mas ele queria, estava disposto a
dizer sim ao Mestre, pois o Senhor já havia mostrado o seu grande amor primeiro
no gesto do sacrifício.
Amizade não significa ser perfeito ou ser melhor em tudo
diante do Senhor, diante da família, diante da igreja e diante do amigo íntimo.
Não! Ser amigo é estar disposto a dizer sim. Mesmo nas falhas e mazelas
próprias de nossa natureza. Ser amigo é dizer sim, mesmo dizendo não quando for
preciso. Aliás, dizer não ao amigo para preservá-lo, às vezes, significa dizer
sim, pois o não no Senhor é sim para a vida em crescimento na graça e no
conhecimento da vontade de Jesus Cristo. Falar o que precisa ser dito ao amigo,
ao irmão e ao próximo é dizer sim para a benção do Senhor sobre sua vida.
A amizade é um presente de Deus. A Igreja não se fortalece
e não cresce se não houver amizade entre os irmãos. Amizade é suporte que cada
um dá ao outro em constante amor, zelo, carinho, cuidado, repreensão, oração e
ensino.
O amigo, então, é dádiva do céu, pois a amizade é um
sentimento que revela também o amor de Deus por nossas vidas. Seu amigo (ou
seus tantos amigos de verdade) são o cuidado de Deus para com sua vida.
Na hora da adversidade, o amigo é combatente e Deus é
fortaleza. No momento da alegria, o amigo é participante e Deus é louvado.
Louvo a Deus pelos meus verdadeiros amigos, começando por
minha esposa, meus pais e familiares e pelos meus novos amigos que tenho
encontrado nessa nova etapa de minha vida.
Gabriel Felipe M. Rocha
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