terça-feira, 24 de junho de 2014

O Culto No Lar

O Culto No Lar (O Culto Familiar)


(Por A. W. Pink/ adaptações, considerações e acréscimos de Gabriel Felipe M. Rocha)



Existem algumas ordenanças exteriores, orientações espirituais e meios de graça muito importantes que estão nitidamente implícitos na Palavra de Deus e que para o servo de Deus representa saúde espiritual, mas,  para a prática destes, a maioria das igrejas atuais têm pouco apego, quando algum, direcionamento e preceitos positivos e incentivos ao uso dos tais. Até mesmo a oração que é um meio de graça infalível e é característica do genuíno crente em Jesus não é tão incentivado em algumas igrejas modernas; mas, tais bênçãos e práticas de fé nos é dada a obtê-las a partir da obra redentora do Espírito Santo, pela experiência pessoal com Jesus Cristo (Jesus revelado em nós) e do exemplo de homens (heróis da fé) e, a partir de diversas circunstâncias secundárias.. Uma importante finalidade é respondida por este arranjo: desta forma é feito o julgamento do estado de nossos corações. Isto serve para fazer evidente, se por um comando expresso não possa ser exigido o seu cumprimento, cristãos professos negligenciarão um dever claramente implícito. Deste modo, mais do estado real de nossas mentes é revelado, e isto torna manifesto se temos ou não um amor ardente a Deus e ao Seu serviço. Isto se aplica tanto ao culto público (em nossas igrejas) quanto ao familiar (em nossos lares). Ainda assim, não é de todo difícil comprovar a obrigação da piedade doméstica.

Primeiro considere o exemplo de Abraão, o pai da fé e o amigo de Deus. Foi através de sua piedade doméstica que ele recebeu a bênção do próprio Senhor, “Porque eu o escolhi para que ordene a seus filhos e a sua casa depois dele, a fim de que guardem o caminho do SENHOR e pratiquem a justiça e o juízo” (Gênesis 18:19). O patriarca nisto foi elogiado, por instruir seus filhos e servos nos mais importantes de todos os deveres, “o caminho do SENHOR” – a verdade sobre a Sua Gloriosa Pessoa, Seu direito Supremo sobre nós, o que Ele exige de nós. Observem bem as palavras “para que [ele] ordene”, ou seja, ele usaria a autoridade que Deus lhe dera como pai e cabeça de sua casa, para aplicar os deveres da piedade familiar na revelação outorgada por Deus por intermédio do Espírito Santo. Abraão também orou com, bem como instruiu a sua família – Aonde quer que fixasse a sua tenda, ali ele “edificou um altar ao Senhor” (Gênesis 12:7; 13:4). Agora, leitores do Blog Palavra a Sério, bem podemos perguntar-nos, somos nós a “descendência de Abraão” (Gálatas 3:29) – se nós “não fazemos as obras de Abraão” (João 8:39) e negligenciamos o importante dever do culto em família? Ignorar o culto no lar é ignorar a benção e a presença do Criador em sua casa e para sua família. Se o cabeça não governa bem sua casa, como cuidará das coisas do Senhor nas igrejas? Como diz amar a Deus se nega tal comunhão para a própria esposa e filhos? Tem quem faz pior até. Tem quem é hiper-mega- super santo na igreja, conhece todas as orientações da igreja, está “antenado” em tudo, mas em casa maltrata a esposa e os filhos. Esse já caiu da graça e não serve para o serviço do Rei.

O lar é a extensão da igreja. Isso é tão importante e sério que, Paulo, ao escrever sobre alguns serviços eclesiásticos, ou seja, ministérios, serviços, etc., ele orientou que os mesmos (os eleitos para tais cargos) deveriam ser homens zelosos e incorruptíveis dentro do lar e, primeiro, governar bem sua casa. Aliás, a FAMÍLIA é a instituição mais antiga que a própria IGREJA. A família foi, digamos, a “primeira igreja de Deus”. Comprovamos isso nas Escrituras veterotestamentárias (Antigo Testamento) onde o sistema patriarcal imperava.

Os exemplos de outros homens santos são semelhantes ao de Abraão. Considere a piedosa determinação de Josué, que declarou a Israel, “porém eu e a minha casa serviremos ao Senhor” (Josué 24:15). Nem mesmo a elevada posição que ocupava, nem a urgência dos deveres públicos que o pressionavam, distraíram sua atenção do bem-estar espiritual de sua família. Novamente, quando Davi trouxe de volta a arca de Deus para Jerusalém com júbilo e ações de graça, depois do exercício dos seus deveres públicos, ele voltou “para abençoar a sua casa” (2 Samuel 6:20). Além destes eminentes exemplos, podemos citar os casos de Jó (1:5) e de Daniel (6:10). Limitando-nos à somente um [caso] do Novo Testamento, lembramos da história de Timóteo, que foi criado em um lar piedoso. Paulo trouxe à memória a “fé sincera” que havia nele, e acrescentou: “a qual habitou primeiro em tua avó Lóide, e em tua mãe Eunice”. Há aqui uma admiração tal que o apóstolo poderia dizer “E que desde a tua meninice sabes as sagradas Escrituras” (2 Timóteo 3:15)!

Derrama a tua indignação sobre as nações que não te conhecem e sobre os povos que não invocam o teu nome!” Jeremias 10:25. Nós imaginamos quantos de nossos leitores tem ponderado seriamente nestas temíveis palavras! Observem que terríveis ameaças são pronunciadas contra aqueles que negligenciam o culto familiar! Quão inefavelmente grave é descobrir que as famílias que não oram são aqui comparadas aos pagãos, que não conhecem ao SENHOR. Mas, isto não deve nos surpreender. Por que, existem muitas famílias pagãs que se reúnem em adoração aos seus falsos deuses. E eles não envergonham milhares de cristãos professos?

Quão ruidosamente estas palavras deveriam falar a nós. Não é suficiente que oremos individualmente em nossos quartos; também é exigido de nós que honremos a Deus em nossas famílias. A cada dia, todos os familiares devem estar congregados juntos para curvarem-se diante do Senhor – para confessar seus pecados, para dar ações de Graças pelas Misericórdias Divinas, para clamar por Seu auxílio e bênção. Nada deve ser permitido interferir neste dever: todos os demais compromissos domésticos devem ser submetidos a este. O chefe da família deve ser aquele que dirige as devoções – mas se ele estiver ausente – ou gravemente enfermo – ou se não for convertido, então a esposa pode substituí-lo. Sob nenhuma circunstância o culto familiar deve ser omitido. Se pretendemos desfrutar das bênçãos de Deus sobre nossa família – então, façamos com que os membros reúnam-se diariamente para louvar e orar. “Honrarei aqueles que me honram” é a Sua promessa.

Um antigo escritor bem disse, “Uma família sem oração é como uma casa sem telhado, aberta e exposta a todas as tempestades.” Todo o nosso conforto doméstico e misericórdias temporais, emanam da Benignidade do SENHOR. O melhor que podemos fazer em retribuição, é reconhecer agradecidos juntos, Sua bondade para com a nossa família. Desculpas contra o cumprimento deste dever sagrado – são indolentes e inúteis. De que servirá, quando nós prestarmos contas a Deus quanto à mordomia de nossas famílias – dizer que nós não tínhamos tempo disponível, trabalhando muito da manhã até a noite? Quanto mais urgentes são os nossos deveres temporais – maior é a nossa necessidade de buscar auxílio espiritual. Nem tão pouco cristão algum pode alegar que não estava capacitado para tal serviço – dons e talentos são desenvolvidos pelo uso – e não pela negligência.

O culto familiar deve ser realizado de forma reverente, cristocêntrica, sincera e simplificadamente. Para que então, os pequeninos recebam as suas primeiras impressões e formem a sua concepção inicial a respeito do Senhor Deus.

Precisa-se ter grande cuidado para não dar a eles uma falsa ideia sobre o Caráter Divino, e para isto, deve-se preservar o equilíbrio ao comunicar sobre a Sua Transcendência e imanência, Sua Santidade e Sua Misericórdia, Seu Poder e Sua Ternura, Sua Justiça e Sua Graça. O culto pode ser iniciado com breves palavras de oração invocando a Presença e bênção de Deus. Pode-se seguir com uma pequena passagem da Sua Palavra, com breves comentários sobre a mesma. Dois ou três versos de um Salmo ou hino podem ser cantados. Encerra-se com uma oração de entrega nas Mãos de Deus. Ainda que possamos não ser capazes de orar com eloquência, podemos orar sinceramente. As orações breves são as que geralmente prevalecem. Cuidado para não cansar os mais jovens.

As vantagens e bênçãos do culto familiar são incontáveis.

Primeiro, o culto em família prevenirá muitos pecados, pois introduzirá já a importância do Sangue de Cristo e nosso livramento da morte por sua graça. Daí os filhos serão introduzidos já cedo ao temor, à reverência e ao louvor pela salvação em Cristo no entendimento da graça e do Evangelho de Jesus Cristo. Ele gera temor na alma, transmite um senso da majestade e autoridade de Deus, determina solenes verdades diante da mente, e derrama bênçãos de Deus sobre o lar. Piedade pessoal no lar é um meio mais influente, abaixo de Deus, para estimular a piedade aos pequenos. Crianças são, em grande parte, criaturas de imitação, dedicando-se a copiar o que observam nos outros.
O culto no lar é o local apropriado para Jesus se revelar para a família. Ele faz isso nas igrejas por intermédio da ação do Espírito santo, mas na família será sempre algo íntimo e marcante. Uma experiência particular que marcará o lar para sempre como lar onde Deus habita. Uma extensão da igreja. A família que se reúne em casa em Nome de Jesus, tem algo sempre mais profundo de espiritualidade e exemplo para compartilhar no Corpo de Cristo.

Ele estabeleceu um testemunho em Jacó, e instituiu uma lei em Israel, e ordenou a nossos pais que os transmitissem a seus filhos, a fim de que a nova geração os conhecesse, filhos que ainda hão de nascer se levantassem e por sua vez os referissem aos seus descendentes; para que pusessem em Deus a sua confiança e não se esquecessem dos feitos de Deus, mas lhe observassem os mandamentos.” (Salmo 78:5-7).

Atualmente, quanto das terríveis condições moral e espiritual das multidões, poderiam ser provenientes da negligência de seus pais neste dever? Como estes que negligenciam o culto a Deus em suas famílias – esperam por paz e conforto nelas? Oração diária em casa é um abençoado meio de graça para dissipar aquelas tristes corrupções das quais nossa ordinária natureza é sujeita.

Finalmente, a oração em família obtém para nós a presença e a bênção do Senhor. Aí está uma promessa de Sua Presença que é particularmente aplicável a este dever, “Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, ali estou no meio deles.” Mateus 18:20. Muitos têm encontrado no culto familiar, aquele auxílio e comunhão com Deus os quais eles têm buscado, com menor eficácia, na oração particular.

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O Senhor Jesus vem!!!

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