FÉ: UM DOM DE DEUS
(Por Gabriel Felipe M. Rocha)
“Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós; mas é dom de Deus” (Efésios 2:8)
Quando se fala sobre a questão da fé ser “dom de Deus”, abre-se uma discussão, principalmente entre as duas correntes soteriológicas mais comuns no protestantismo, a saber, calvinismo e arminianismo. De fato, dizer que a fé é “dom de Deus”, inquieta muito os da corrente arminiana. Contudo, tal inquietação é justa. Vejamos o seguinte:
Sendo a fé um dom de Deus, torna um pouco confuso o argumento da eleição prevista como quer os calvinistas. Deus escolheria para a salvação, nessa perspectiva da fé prevista, aqueles a quem Ele decidiu dar a fé de antemão, o que o tornaria parcial ao não dar a fé a todos. Por isso, são forçados a afirmar que a fé não é um dom de Deus e, para demonstrar isso, recorrem a Efésios 2:8.
O pressuposto é o seguinte: o pronome demonstrativo touto (“isto”) é do gênero neutro e, portanto, não pode referir-se a pisteos (“fé”) que é do gênero feminino. Sendo assim, eles estão corretos. Mas é importante ressaltar também que “isto” não pode se referir jamais à “graça”, pois kariti, de Karis é de igual modo feminino. Até mesmo “salvação” não poderia ser referência de “isto”, pois soterias é também feminino até porque a forma aqui é verbal. Sendo dessa forma, com base no contexto original, fica claro que o termo “isto” se refere ao ato da salvação como um todo. A fé, portanto, é o meio pelo qual o homem receberá o dom de Deus que é o ato da salvação. A responsabilidade humana não está aqui anulada. Em Lucas 18: 08, o texto bíblico diz: “Quando, porém vier o Filho do homem, porventura achará fé na terra?”, deixando claro que tal fé será cobrada do homem como um meio pelo qual a salvação – dom de Deus – será, enfim, concluída aqui na terra e acompanhada no Reino de Deus.
Portanto, estamos falando do ato da salvação como um todo, como está explícito na afirmação “pela graça sois salvos mediante a fé”. Ou seja, embora o pronome não se refira diretamente à fé, a inclui como tudo que é necessário para que se efetive o “sois salvos” que é, de fato, um dom de Deus.
(Por Gabriel Felipe M. Rocha)
“Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós; mas é dom de Deus” (Efésios 2:8)
Quando se fala sobre a questão da fé ser “dom de Deus”, abre-se uma discussão, principalmente entre as duas correntes soteriológicas mais comuns no protestantismo, a saber, calvinismo e arminianismo. De fato, dizer que a fé é “dom de Deus”, inquieta muito os da corrente arminiana. Contudo, tal inquietação é justa. Vejamos o seguinte:
Sendo a fé um dom de Deus, torna um pouco confuso o argumento da eleição prevista como quer os calvinistas. Deus escolheria para a salvação, nessa perspectiva da fé prevista, aqueles a quem Ele decidiu dar a fé de antemão, o que o tornaria parcial ao não dar a fé a todos. Por isso, são forçados a afirmar que a fé não é um dom de Deus e, para demonstrar isso, recorrem a Efésios 2:8.
O pressuposto é o seguinte: o pronome demonstrativo touto (“isto”) é do gênero neutro e, portanto, não pode referir-se a pisteos (“fé”) que é do gênero feminino. Sendo assim, eles estão corretos. Mas é importante ressaltar também que “isto” não pode se referir jamais à “graça”, pois kariti, de Karis é de igual modo feminino. Até mesmo “salvação” não poderia ser referência de “isto”, pois soterias é também feminino até porque a forma aqui é verbal. Sendo dessa forma, com base no contexto original, fica claro que o termo “isto” se refere ao ato da salvação como um todo. A fé, portanto, é o meio pelo qual o homem receberá o dom de Deus que é o ato da salvação. A responsabilidade humana não está aqui anulada. Em Lucas 18: 08, o texto bíblico diz: “Quando, porém vier o Filho do homem, porventura achará fé na terra?”, deixando claro que tal fé será cobrada do homem como um meio pelo qual a salvação – dom de Deus – será, enfim, concluída aqui na terra e acompanhada no Reino de Deus.
Portanto, estamos falando do ato da salvação como um todo, como está explícito na afirmação “pela graça sois salvos mediante a fé”. Ou seja, embora o pronome não se refira diretamente à fé, a inclui como tudo que é necessário para que se efetive o “sois salvos” que é, de fato, um dom de Deus.
Mesmo se precisássemos apenas dessa passagem para afirmar que a fé é um dom de Deus, não estaríamos desamparados de argumentos, como vimos aqui. No mais, essa afirmação é corroborada com outras passagens, formando assim uma doutrina consistente com o conteúdo e o ensino geral das Escrituras.
Por exemplo, Tiago afirma que “toda a boa dádiva, e todo o dom perfeito vem do alto, descendo do Pai das luzes” (Tiago 1: 17), sustentado por Pedro que escreve: “o seu divino poder nos deu tudo o que diz respeito à vida e piedade” (2Pe 1:3) a ponto de Paulo mesmo perguntar: “que tens tu que não tenhas recebido?” (1Cor 4: 7). E isto, sem dúvida inclui a fé. Essa retórica paulina em 1Cor 4: 7 remete à pergunta que poderia entrar no contexto sem mudar o sentido da retórica: “o que não tens tu ainda para receber? O que te falta?”. Nesse caso, seria a fé.
Contudo, não estamos persuadindo aqui, ao mostrar a fundo esse contexto de Efésios 2:8, que a fé não é algo oriundo de Deus. Aliás, reforço aqui que a fé é oriunda da eternidade e é profética. Ela vem de Deus, é dom de Deus, é dádiva, é generosidade, é meio da graça NECESSÁRIA para a obra salvífica de Deus. Ela é efetivada na vida do crente pela ação exclusiva do Espírito Santo no ato da revelação de Cristo, no arrependimento e na conversão do mesmo. Ela (a fé) é o pontapé inicial (vindo da eternidade e não nosso) para a conclusão de todo o restante projeto do Espírito Santo de redenção humana. O projeto salvífico de Deus – pela graça – é eterno e profético (é dom de Deus) e só pode alcançar o homem (terreno e pecador) pela fé que também é profética.
Assim dizemos
sem erro que o homem só pode adentrar o plano de Deus e fazer parte da
eternidade do Criador se tiver sobre si os valores oriundos da mesma
eternidade. Em suma, ele só poderá subir ao Pai utilizando o meio que o Pai
envia, a saber, a fé em Jesus Cristo – o Mediador. O homem na sai condição de
pecador e de ser depravado (destituído da glória) não pode conhecer a Cristo
senão pela Revelação do mesmo a ele e não ao contrário. Não é um mero
reconhecimento intelectual de quem foi ou é Cristo, mas é algo que parte do
próprio projeto divino para seus eleitos e o mesmo Espírito testifica por meio
da experiência pessoal o Cristo revelado ao que receberá a fé da Eternidade
para contemplar tal revelação. Ou seja, Deus dá a se conhecer pelo Espírito
Santo na Pessoa de Jesus e é a fé (da eternidade) quem vai ligar o homem
(incapaz por si só) no reconhecimento de Jesus Cristo como Salvador, crendo no
poder de seu sangue e na eficácia de seu sacrifício. Da fé, inicia-se (agora
num plano terreno) todo o processo de redenção pela OBRA DO ESPÍRITO SANTO na
regeneração do crente à salvação do crente. A fé é recebida pelo crente como algo que Deus
provou para que esse eleito venha a crer, mas isso, por outro lado, não anula a
responsabilidade do mesmo no processo e no exercício dessa fé. A fé se firmará
sob diversas formas, mas a principal virá com o constante contato desse crente
com a Palavra, pois a Palavra é a fonte da fé. Ela é quem testifica do Cristo
e, ouvindo a Palavra, cremos. De fé em fé continuamos fazendo firme nossa
vocação.
Ademais, a
Bíblia afirma que a fé vem pelo ouvir (João 10: 17). Bem, se a fé vem pelo
ouvir a Palavra de Deus, como ela pode estar já definida? Não é tão simples
discorrer sobre isso. No entanto, a fé vem pelo ouvir e pronto! Sendo assim, o
ato da fé não é algo programado de antemão como algo definido de forma pessoal
por um Deus parcial, mas é algo que é gerado pela ação do Espírito Santo que
promove na vida do ouvinte ou leitor da Palavra a obra de redenção iniciada
pela fé salvífica, o “meio” de graça fundamental para a efetivação do dom de
Deus na vida do eleito. O texto em João 10: 17 deixa claro que, antes da
pregação do Evangelho não há fé no homem, mas tal é gerada. Isso não anula a
qualidade profética da fé. Ela é oriunda sim da Eternidade de Deus, até porque
não é a fé natural do homem que é capaz de salvá-lo, mas sim a fé salvífica. Há
uma diferença entre a fé natural do homem e a fé salvífica que é gerada pela
ação espiritual. Poderemos trazer esse assunto em breve.
Aos romanos, Paulo fala da “fé que Deus repartiu a cada um” (Rm 12:13) e aos efésios, Paulo
fala da “fé da parte de Deus Pai”
(Ef 6:23) e, também, aos filipenses, conclui: “a vós vos foi concedido, em relação a Cristo, não somente crer nele,
como também padecer por ele” (Fl 1: 29) que remete ao ato consciente de
aceitar tal carreira cristã em crer no Cristo e em morrer pela causa de Cristo.
Portanto, concluindo, não podemos pensar a fé como um presente ou um favor do homem a Deus, mas sim um presente de Deus ao homem – não de forma pessoal - na ação redentora do Espírito Santo. Sendo a fé efetivada no ouvir a pregação do Evangelho, podemos crer que o conteúdo da Escritura é por inspiração, revelação e iluminação do Espírito Santo que tende a revelar o Cristo glorificado e testificado pelas Escrituras. Logo, o mesmo Espírito “oferece” e “trabalha” a fé na vida do ouvinte ou do leitor da Palavra de Deus e na disposição consciente do indivíduo, a fé é plantada (como um grão de mostarda) e pode vir a dar seus devidos frutos para a vida eterna.
Gabriel Felipe M. Rocha é professor e acadêmico. Graduado em História (licenciatura e bacharelado) e pós graduado em Sociologia. Atualmente conclui um mestrado em Filosofia na área de Ética e também Antropologia. Possui um bacharelado em Teologia com ênfase em História da Igreja.
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