As pessoas são
predestinadas ao céu ou ao inferno?
O termo predestinação é
uma tradução da palavra grega proorizo,
que aparece seis vezes no Novo Testamento (At 4.28; Rm 8.29-30; 1 Co
2.7; Ef 1.5; Ef 1.11). Em alguns casos, refere-se à preordenação divina de
todos os acontecimentos da história mundial (At 4.28; 1 Co 2.7). Em outros,
refere-se à decisão de Deus, tomada antes de o mundo vir a existir, com
respeito ao destino final de pecadores individuais - mais especificamente,
daqueles que foram escolhidos para salvação e vida eterna (Rm 8.29-30;
Ef 1.5; Ef 1.11), em contraste com aqueles que, por fim, serão condenados ao
julgamento eterno.
No entanto, muitos ressaltam que as Escrituras também atribuem a
Deus uma decisão prévia quanto àqueles que, em última análise, não são salvos
(Rm 9.6-29; 1 Pe 2.8; Jd 4). Ademais, ao predestinar alguns para salvação, Deus
necessariamente destina o restante à destruição. Diante desses fatos, tornou-se
comum em vários círculos definir a predestinação por Deus de modo a incluir
tanto a decisão de salvar alguns do pecado (eleição), quanto sua decisão de
condenar o restante pelo seu pecado (reprovação).
É difícil negar categoricamente que as Escrituras ensinam um tipo
de predestinação à salvação, uma vez que o termo grego proorizo aparece nas Escrituras. Não obstante,
as tradições cristãs diferem quanto ao critério de Deus para sua decisão de
predestinar alguns, mas não outros, à vida eterna. Vários ramos da igreja falam
de predestinação (ou eleição) com base na presciência de Deus acerca da fé de
certo indivíduos. Supõem que Deus sabia de antemão que certas pessoas
escolheriam, por sua própria vontade, aceitar Cristo como seu Salvador ao ouvir
o evangelho e concluem que, com base nisso, Deus predestinou tais pessoas à salvação.
Nesse sentido, a presciência é uma previsão divina passiva acerca daquilo que
os indivíduos escolherão fazer por sua livre e espontânea vontade, sem
intervenção de Deus. Assim, Deus predetermina o destino dessas pessoas em
resposta àquilo que ele sabe que ocorrerá.
No entanto, os teólogos reformados ressaltam que o termo proginosko traduzido como "de antemão conheceu" em Romanos
8.29 e 11.2 significa "de antemão
amou" e "de antemão
reconheceu" (veja 1 Pe 1.20, onde proginosko é traduzido como "conhecido...antes").
Passagens como essa deixam claro que proginosko expressa presciência em relação a uma
pessoa, e não apenas a fatos do futuro ou às escolhas que alguém fará ao longo
da vida. Na verdade, o Novo Testamento ensina que Deus elegeu com base em sua
afeição e amor prévio por aqueles aos quais deu a vida eterna.
Ademais, uma vez que todas as pessoas se encontram naturalmente
mortas no pecado (ou seja, separadas da vida de Deus e indiferentes a ele),
ninguém que ouve o evangelho pode se arrepender e aceitar a salvação pela fé
sem o despertamento interior que somente Deus pode conceder (Ef 2.4-10). Jesus
disse, "ninguém pode vir a mim,
se, pelo Pai, não lhe for concedido" (Jo 6.65; Jo 6.44; Jo 10.25-28). Se Deus olhar para o
futuro a fim de ver as escolhas que faremos por nossa própria conta, não verá
outra coisa senão a nossa rejeição total ao evangelho. Os pecadores escolhem Cristo somente porque Deus os escolhe e conduz a
essa decisão ao renovar o coração deles.
A doutrina da predestinação pode ser usada indevidamente
para apoiar várias formas de fatalismo. No entanto, não é esse o propósito
do ensinamento das Escrituras. Antes, as Escrituras repudiam o fatalismo
ensinando que as nossas escolhas e decisões são importantes, pois foram
preordenadas como o meio que Deus usa para alcançar os seus propósitos
(exemplo Fp 2.12-13). As Escrituras não ensinam a predestinação para incentivar
o fatalismo, mas para dar aos cristãos a certeza da vida eterna, uma vez que
estão em Cristo. A predestinação assegura os salvos da fidelidade de Deus e da
certeza de nosso destino eterno em Cristo. Não precisamos temer, pois ninguém
poderá nos arrebatar da sua mão (Jo 10.28).
ELEIÇÃO E REPROVAÇÃO
"Portanto, ele tem
misericórdia de quem quer e endurece a quem quer." (Rm. 9.18)
"Eleger"
significa selecionar ou escolher. De acordo com a Bíblia, antes da criação,
Deus selecionou — dentre os da raça humana — aqueles que seriam redimidos,
justificados, santificados e glorificados em Jesus Cristo (Rm 8.28-39; Ef
1.3-14; 2Ts 2.13,14; 2Tm 1.9-10). A escolha divina é uma expressão da graça
livre e soberana de Deus. Não é merecida por coisa alguma por parte daqueles
que são escolhidos. Deus não deve aos pecadores nenhuma espécie de
misericórdia, pois eles só merecem condenação. Por isso, é maravilhoso que ele
escolhesse salvar qualquer um entre nós.
Como toda verdade
a respeito de Deus, a doutrina da eleição envolve mistério e, às vezes, levanta
controvérsia. Porém, nas Escrituras, é uma doutrina pastoral, que ajuda os cristãos
a verem quão grande é a graça que os salva e os move a responder com humildade,
confiança e louvor. Não sabemos quais os outros que Deus escolheu entre os que
ainda não são crentes, nem por que ele nos escolheu, especificamente. Sabemos
apenas que, se somos crentes agora, é porque fomos escolhidos. Também sabemos
que, como crentes, podemos confiar em que Deus acabará a boa obra que começou
(1Co 1.8-9; Fp 1.6; 1Ts 5.23-24; 2Tm 1.2; 4.18). Por essas razões, o
conhecimento da eleição é uma fonte de gratidão e confiança.
Pedro nos diz que
devemos procurar "com diligência...
confirmar a (nossa) vocação e eleição" (2Pe 1.10), isto é, devemos
torná-la certa para nós. A eleição é conhecida por seus frutos. Paulo
sabia que os tessalonicenses tinham sido escolhidos, porque viu sua fé, sua
esperança e seu amor, a transformação da vida deles, realizada pelo evangelho
(1Ts 1.3-6).
Reprovação é o nome dado à eterna
decisão de Deus com relação àqueles pecadores que não foram escolhidos para a
vida. Não os escolhendo para a vida, Deus determinou que eles não fossem
transformados. Eles continuarão em pecado e, finalmente, serão julgados por
aquilo que tiverem feito. Em alguns casos, Deus pode ir mais longe e remover as
influências restritivas que protegem uma pessoa da desobediência extrema. Esse
abandono, chamado de "endurecimento", é, em si mesmo, uma penalidade
do pecado (Rm 9.18; 11.25; cf. Sl 81.12; Rm 1.24,26,28).
A reprovação é
ensinada na Bíblia (Rm 9.14-24; 1Pe 2.8), porém, como uma doutrina, seu
significado sobre o comportamento cristão é indireto. O decreto de Deus sobre a
eleição é secreto; quais pessoas são eleitas e quais são reprovadas não será
revelado antes do Juízo Final. Até aquele tempo, Deus ordena que o chamado ao
arrependimento e à fé sejam pregados a todos.
Grupo de estudos "Blog Palavra a Sério"
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