A questão da livre escolha
no plano da Eleição divina
“A eleição é segundo o pré-conhecimento de
Deus daqueles que crerão”
(1 Pedro 1:1-2)
“Como também nos elegeu nele antes da fundação
do mundo, para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dele em amor; E nos predestinou para filhos de
adoção por Jesus Cristo, para si mesmo, segundo o beneplácito de sua vontade,
Para louvor da glória de sua graça, pela qual
nos fez agradáveis a si no Amado” (Efésios 1:4-6)
“Mas vós não credes, porque não sois das
minhas ovelhas” (João 10.26)
“Eu
lhes dou a vida eterna; jamais perecerão, e ninguém as arrebatará da minha mão”
(João
10:28)
“Aquilo
que meu Pai me deu é maior do que tudo; e da mão do Pai ninguém pode arrebatar”
(João
10:29)
Essa questão do "livre arbítrio"
não é tão simples assim. Deve ser estudada com atenção. Inclusive, para alguns
que dizem não gostar de teologia mas amam mencionar o termo “livre-arbítrio”,
esse termo foi teologicamente por um padre da Igreja Católica Romana e
filósofo, a saber, Agostinho (ou Sto Agostinho). É um conceito complexo e não
pode ser usado de forma tão simples nas apropriações, estudos e mensagens.
O Calvinismo consciente e não
fundamentalista reconhece que existe níveis de escolha, mas prefere ser mais
coerente com a mensagem geral da Bíblia, numa hermenêutica mais completa. Há,
de fato, nos exemplos diversos das Escrituras como, a escolha de Adão e Eva,
escolha de Davi, de Saul, de Absalão, etc., níveis de escolha. Não é negado que
haja escolha, mas, para haver a escolha, deve haver o primeiro
"motor" que é o próprio Deus (entraria aqui uma reflexão mais
profunda em Aristóteles e Sto Agostinho, mas não é o caso agora).
Na lei da natureza e na metafísica esse
princípio não pode ser rejeitado. deve haver um primeiro "motor" (no
caso, o próprio Transcendente/ Deus). Na "lei espiritual", há um
primeiro fundamento para a escolha livre, pois o próprio soberano criou a
"escolha" se afirmarmos que ela existe. Então, o próprio Deus é
Senhor da escolha. No plano espiritual e profético está já definido, pois Deus
é o ontem, o hoje e o amanhã e a lógica da Eternidade não se aplica à nossa
lógica cronológica. O critério divino não se aplica da mesma forma que a
"justiça humana". Aliás, justo mesmo seria se todos nós perecêssemos,
pois a Bíblia diz que TODOS nós pecamos e destituídos estamos da glória divina.
Uma coisa eu sei e afirmo: não existe
"liberdade plena" no homem. Explico: se cremos que somos depravados,
logo há em nós inclinações. Se há inclinações (e a Bíblia afirma que há), somos
movidos por elas. Logo, nossa vida na carne se resume em atendê-las. Assim não
somos totalmente livres. Nossa vida no espírito se resume em superá-las, assim
há um nível de liberdade em nós que se manifesta, mas, por ser "luta
contra inclinação", não é liberdade plena. Jamais poderá ser. Logo: não há
um " livre arbítrio" em seu sentido de "plenitude de
deliberação". O homem que crê precisa do auxílio de Deus para crer. É
nesse campo que permanece o calvinismo (nem sempre alguns calvinistas).
Na vertente calvinista se tem o
entendimento da depravação total do homem mediante sua queda. Na queda no Éden
o homem, mesmo andando com Deus, foi facilmente influenciado, pois é de sua
natureza se influenciar. É um ser constitutivamente influenciável, pois Deus o
criou para ser influenciado. Esse princípio não pode ser refutado tão
facilmente. O que houve então no Éden? Influência do "mal" sobre o
"bem".
O Bem seria a presença plena de Deus e sua
Revelação. O Bem era o referencial para agir, porém num horizonte de
determinação divina. Pois se pensa a partir de uma ordem estabelecida pelo
próprio Criador. Nesse sentido, "Bem" é tudo, é todo, é completude, é
presença completa e eterna do Criador. Mas e o "Mal"? Deus criou o
mal? Não! Deus é plena bondade. Nele não surge o mal.
O conceito de "mal" se passa no
horizonte da "falta", do "nada". Santo Agostinho
desenvolveu com muita propriedade essa linha de pensamento obedecendo a
hermenêutica bíblica. Se Deus criou o mundo do "nada",
intrinsecamente há "falta" no mundo, embora Deus seja Tudo. Se Deus
criou o homem do nada, logo há falta de algo a se completar ainda na essência
do homem. Nesse contexto, a alma do homem carece sempre da completude de Deus.
Por isso o homem busca Deus. Quando não busca o Deus Vivo, busca o deus
criatura (do próprio homem) em suas diversas formas. Pois o humano precisa se
completar. Eis o princípio do pecado! "Pecado" nos textos neotestamentários
é "hamartia" que significa "erro do alvo". Pecado é quando
não se acerta o alvo. Mas Deus já dá todo o recurso espiritual para que esse
alvo seja acertado.
Então o ser humano é um ser essencialmente
influenciado pelo seu constitutivo desejo de se preencher. Assim, não pode
haver nele uma "plena liberdade de escolha" que tenha surgido da
"sua santa essência". Não! Isso é um tipo de humanismo estranho ás
Escrituras.
Infelizmente,
o arminianismo prega um certo tipo de humanismo onde o homem pode interromper
todo o projeto de redenção de Deus (contrariando o próprio Deus). Ele delibera
livremente... Grande homem!
O que, de fato, existe é: níveis
limitados de liberdade. Portanto, não se nega a liberdade. Pois nesse contexto
de busca pela satisfação da alma carente, o homem faz suas escolhas e se
responsabilizará por elas. Mas elas são influenciadas e isso é economia de
Deus.
Deus não deixará de ser Deus e, tampouco,
deixará de ser amor se alguns não se salvarem. Pois ninguém merecia a
"segunda chance". Jesus nos mostra a grandeza desse Deus.
Mas Deus deixaria de ser Deus se eu
afirmar com todas as letras que EU posso dar rumo à história e recusar em tempo
terreno o que Deus planejou em tempo eterno.
"Se
a queda do homem não estava dentro dos desígnios de Deus, mas foi fruto do
acaso, do qual Deus é alheio, todavia pré-conhecedor, qual a garantia que temos
que não ocorrerá uma nova queda no estado eterno que está por vir? Ora, se é
aceito o total controle de Deus no tempo futuro, interferindo na escolha do
homem de não se rebelar novamente, por que não aceitam o controle de Deus sobre
tudo nesse tempo presente, de forma que permitiu a queda do homem para o louvor
da sua glória?"
Arminianos precisam entender que Deus é um ser totalmente
outro, no sentido de que Ele possui atributos e poderes muito além dos nossos.
Um deles, facilmente perceptível na bíblia, é sua habilidade de cumprir seus
decretos e propósitos
sem interferir na livre decisão (não livre arbítrio) do homem, de modo que
consegue responsabilizar o homem com justiça por seus atos, mesmo sendo os seus
atos praticados em conformidade com Sua soberana vontade. Um exemplo bom é a
respeito das autoridades.
Nós elegemos os governantes, mas elas foram ordenadas
por Deus. Então, quando votamos, somos feitos marionetes? Não! Votamos
livremente, e se algo der errado a culpa é nossa, mas a autoridade foi
investida pela vontade de Deus. Como Deus faz isso? Não tem como saber. Continuando,
crer que Adão pecou e que isso não estava dentro dos propósitos de Deus é crer
num Deus irresponsável e incapaz de impedir tragédias e de cumprir suas
promessas. Por que fez isso então? Por que deixou existir o diabo? Por que não
destruiu o mal ainda? Será que alguém pensa que o diabo pegou Deus de surpresa
quando se rebelou? Será que alguém pensa que Adão pecou Deus de surpresa quando
caiu? Se Deus sabia que Lucifer se rebelaria, porque o criou? Se Deus sabia que
Adão cairia, porque pôs a árvore no Jaridm? Seria Deus irresponsável ou fraco?
Não! Ele fez tudo isso PARA O LOUVOR DE SUA GLÓRIA! Ora, Deus é amor, mas é
justiça, bondade, longaminidade, santidade...Como conheceríamos sua justiça se
não existisse a injustiça? Como conheceríamos sua bondade se não existisse o
mal? Como conheceríamos sua santidade se não existisse o pecado? Só conhecemos
a essência de Deus porque um dia o homem e o diabo caíram, caso contrário nunca
conheceríamos a Deus de verdade e não daríamos o louvor devido por sua bondade,
justiça, longanimidade, santidade, mas apenas por seu amor. Conheceríamos
apenas seu amor e olhe lá. Deus fez o homem e o diabo pecar? Não, pois como
disse no início, Ele consegue conciliar sua vontade com nossas livres escolhas
(continua)
Breve
posto aqui um artigo mais fundamentado sobre o tema.
Gabriel
Felipe M. Rocha.
Contribuições
de Dan Russel
Grupo
de Estudos Bíblicos Palavra a Sério
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