Pregação
superficial
"Eles tratam da
ferida do meu povo como se ela não fosse grave. "Paz, paz", dizem,
quando não há paz alguma." (Jeremias 8.11)
O centro do culto que agrada a Deus é Jesus. Todo culto cristão, para
ser genuinamente cristão, deve ter a exposição e a Revelação do Cristo vivo.
Sendo assim, a Palavra de Deus é o principal instrumento litúrgico do culto.
Podem faltar todos os instrumentos, pois o louvor não depende do instrumento,
mas da presença real de Jesus testificada pelo Espírito Santo na vida da
congregação reunida. Pode faltar até o pastor e o pregador, mas a Palavra não.
Ela não pode faltar!
Mas, infelizmente, o mal de algumas igrejas está no despreparo dos que
sobem aos púlpitos para pregar. Vão com a desculpa famigerada de que é o
Espírito Santo quem capacita, mas se esquecem que o preparo pessoal também é
ordenança bíblica e Deus se agrada quem busca o conhecimento, o bom preparo e o
crescimento no conhecimento e em sua graça.
Outro problema é: muitas igrejas se tornaram institucionais e se
segregaram demais, tornando-se partidárias e sectárias. E para manter seus costumes
e dogmas, precisam forçar uma mensagem denominacional, enfatizando mais a placa
do que a essência do que está sendo falado. Até pregam Jesus, mas pregam
conforme suas vaidades em nome de “revelações”, porém – muitas vezes – extra-bíblicas.
Se é extra-bíblica, ultrapassam a Verdade ensinando “fermento” travestido de “amor
à instituição” mais do que às vidas, etc. Pregam o “outro evangelho”, pois
afirmam que seus grupos emanaram de uma “nova revelação”, como se tudo que o
Senhor havia ensinando antes estivesse errado ou incompleto. Assim, se auto
proclamam “igrejas únicas de Deus”, “única que salva”, etc. Mas sabemos que é
mentira e engano! Mas, lamentavelmente, as pregações são superficiais. Falam de
Jesus, falam da salvação, etc. Mas é superficial, pois muitos não conseguem
viver o que pregam e, tampouco, cumprir as legalidades e cargas que impõe aos
outros.
Mas estou
comprometido com a pregação expositiva. Quero falar da glória do Noivo e não da
Noiva, pois a Noiva (Igreja) cabe a Deus glorificar e não eu. Tenho a convicção
inabalável de que a proclamação da Palavra de Deus sempre deve ser o âmago e o
foco do ministério da igreja (2 Timóteo 4.2). E a pregação bíblica correta deve
ser sistemática, expositiva, teológica e teocêntrica. Esse tipo de
pregação está em falta nestes dias. Há abundância de comunicadores talentosos
no movimento evangélico moderno, porém os sermões de hoje tendem a ser curtos,
superficiais e tópicos. Fortalecem o ego das pessoas e centralizam-se em
assuntos completamente insípidos como relacionamentos, vida de sucesso,
problemas emocionais e outros temas práticos, mas seculares.
Assim como os púlpitos de materiais leves e transparentes
dos quais as mensagens são apresentadas, esse tipo de pregação não tem peso nem
consistência; é barata e sintética, deixando pouco mais do que uma impressão
efêmera na mente dos ouvintes. John MacArthur, há algum tempo realizou um
seminário sobre pregação em sua igreja. Ao preparar-se para as palestras, pegou
um caderno de anotações, uma caneta e começou a listar os efeitos negativos
desse tipo superficial de pregação, tão predominante no evangelicalismo
moderno. Inicialmente, pensou que seria capaz de identificar pelo menos
dez efeitos negativos, mas, no final, ele havia alistado sessenta e uma
consequências devastadoras! Apresento aqui as mais importantes como um aviso
contra a pregação superficial — tanto para os pastores, nos púlpitos, quanto
para seus ouvintes, nos bancos das igrejas.
USURPA A
AUTORIDADE DE DEUS
Quem possui o direito de falar à igreja? O pregador ou
Deus? Sempre que a Palavra de Deus é substituída por qualquer outra coisa, a
autoridade dEle é usurpada. Que atitude arrogante! Na verdade, substituir a
Palavra de Deus pela sabedoria do homem é uma atitude insolente. DESAFIA O
SENHORIO DE CRISTO. Quem é o cabeça da igreja? Cristo é realmente a
autoridade dominante no ensino da igreja? Se isso é verdade, por que há tantas
igrejas nas quais a Palavra dEle não está sendo proclamada com fidelidade?
Quando observamos o ministério contemporâneo, vemos
programas e métodos que são fruto da invenção humana, resultado de pesquisa de
opinião pública e avaliação da vizinhança da igreja, além de outros artifícios
pragmáticos. Os especialistas em crescimento de igreja têm lutado para assumir
o controle das atividades da igreja, tomando-o de seu verdadeiro Cabeça, o
Senhor Jesus Cristo. Quando Jesus Cristo é exaltado no meio de seu povo,
seu poder é manifestado na igreja. Quando a igreja é controlada por
comprometedores cuja única ambição é conformar-se à cultura, o evangelho é
minimizado, o verdadeiro poder é perdido, uma energia artificial precisa ser
fabricada, e a superficialidade toma o lugar da verdade.
OBSTRUI A
OBRA DO ESPÍRITO SANTO
Ele usa a Palavra de Deus para realizar a sua obra. Ele a
usa como instrumento de regeneração (1 Pe 1.23; Tg 1.18) e de santificação (Jo
17.17). Na verdade, a Palavra de Deus é a única ferramenta que o Espírito Santo
usa (Ef 6.17). Então, quando os pregadores negligenciam a Palavra de Deus e
criam “novas doutrinas” e novos conceitos sobre o projeto de Deus, debilitam a
obra do Espírito Santo, produzindo conversões superficiais e crentes aleijados
em sua vida espiritual — e, talvez, completamente
falsos. Consequentemente, o púlpito perde o seu poder. “A palavra de Deus
é viva, e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes” (Hb
4.12). Qualquer outra coisa é impotente, oferecendo apenas uma ilusão de poder.
A habilidade do homem em seduzir as pessoas não deve impressionar-nos mais do
que a capacidade da Bíblia em transformar vidas.
DEMONSTRA
FALTA DE SUBMISSÃO
Nas abordagens modernas de “ministério”, a Palavra de Deus
é deliberadamente subestimada; o opróbrio de Cristo (Hb 11.26), repudiado com
sagacidade; a ofensa do evangelho, removida com cuidado; e a “adoração”,
moldada com o propósito de se ajustar às preferências dos incrédulos. Isto não
é nada mais do que uma recusa em se submeter ao mandamento bíblico para a
igreja. A insolência dos pastores que seguem um caminho como esse é assustadora
para mim.
SEPARA O
PREGADOR DA GRAÇA DE SANTIFICAÇÃO
O maior benefício pessoal que recebo da pregação é a obra
que o Espírito de Deus realiza em minha própria alma, quando estudo e me
preparo para duas mensagens expositivas a cada Dia do Senhor. Semana após
semana, o dever da exposição cuidadosa mantém o próprio coração focalizado e
fixo nas Escrituras; e a Palavra de Deus me alimenta, enquanto me preparo para
alimentar o rebanho.
Deste modo, eu mesmo sou abençoado e fortalecido
espiritualmente por meio deste empreendimento. Ainda que não houvesse qualquer
outra razão, eu jamais abandonaria a pregação bíblica. O inimigo de nossa alma
persegue os pregadores, e a graça santificadora da Palavra de Deus é essencial
à nossa proteção.
OBSCURECE
A TRANSCENDÊNCIA DE NOSSA MENSAGEM
Consequentemente, a pregação superficial enfraquece tanto a
adoração congregacional como a adoração pessoal. O que hoje é recebido como
pregação, em algumas igrejas, é tão superficial quanto as mensagens que os
pregadores de gerações anteriores ministravam em cinco minutos às crianças.
Isto não é exagero. Esse tipo de abordagem torna impossível a verdadeira
adoração, porque a adoração é uma experiência transcendente que deveria nos
elevar acima do que é mundano e simplista.
A verdadeira adoração é uma resposta do coração à verdade
de Deus (Jo 4.23). O nosso povo não pode ter pensamentos sublimes a respeito de
Deus, se não os fazemos mergulhar nas profundezas da auto-revelação de Deus.
Mas a pregação de hoje não é profunda nem transcendente. Não se aprofunda nem
se eleva às alturas. Almeja apenas entreter.
IMPEDE O
PREGADOR DE DESENVOLVER A MENTE DE CRISTO
Os pastores devem viver em submissão a Cristo. Muitos
pregadores modernos se mostram de tal modo determinados a compreender a
cultura, que desenvolvem a mente da cultura, e não a mente de Cristo. Começam a
pensar como o mundo, e não como o Salvador.
Sinceramente, as nuanças da cultura mundana são
irrelevantes para mim. Quero conhecer a mente de Cristo e usá-la para
influenciar a cultura, não importando qual seja a cultura em que ministro. Se
tenho de subir ao púlpito e ser representante de Jesus Cristo, quero conhecer o
que Ele pensa — e declarar isso ao seu povo.
DEPRECIA
A PRIORIDADE DO ESTUDO BÍBLICO PESSOAL
O estudo bíblico pessoal é importante? Claro que sim! Mas,
que exemplo o pregador oferece quando negligencia a Bíblia em sua própria
pregação? Por que estudariam a Bíblia, se o próprio pregador não a estuda com
seriedade, ao preparar seus sermões? Alguns dos gurus do ministério
“Sensível aos Interessados” nos aconselham a retirar do sermão todas as
referências explícitas à Bíblia. Eles dizem: “Nunca peça à sua congregação que
abra a Bíblia em uma passagem específica, porque esse tipo de coisa deixa os
interessados desconfortáveis”. Algumas igrejas “sensíveis aos
interessados” desencorajam veementemente seus membros a trazerem Bíblias à
igreja, com receio de que a visão de tantas Bíblias intimide os interessados.
Como se fosse perigoso dar ao povo a impressão de que a Bíblia é importante!
SILENCIA
A VOZ DE DEUS
Jeremias 8.9 diz: “Os sábios serão envergonhados,
aterrorizados e presos; eis que rejeitaram a palavra do SENHOR; que sabedoria é
essa que eles têm?”
Quando eu falo, quero ser o mensageiro de Deus. Não estou
interessado em interpretar o que algum psicólogo, ou guru de negócios, ou
professor universitário tem a dizer sobre qualquer assunto. O meu povo não
precisa de minha opinião; precisa ouvir o que Deus tem a dizer. Se pregarmos
como a Escritura nos ordena, não será difícil saber de quem é a mensagem que
vem do púlpito.
PRODUZ
INDIFERENÇA EM RELAÇÃO À GLÓRIA DE DEUS
A pregação “sensível aos interessados” nutre pessoas
centralizadas em seu próprio bem-estar. Quando você diz às pessoas que o
principal ministério da igreja é consertar para elas o que estiver errado nesta
vida — suprir suas necessidades e ajudá-las a enfrentar seus desapontamentos
neste mundo — a mensagem que você está enviando é que os problemas desta vida
são mais importantes do que a glória de Deus e a majestade de Cristo.
Novamente, isto corrompe a verdadeira adoração.
ROUBA ÀS
PESSOAS A SUA ÚNICA FONTE DE AJUDA VERDADEIRA
As pessoas que vivem sob um ministério de pregação
superficial tornam-se dependentes da habilidade e criatividade do orador.
Assim, elas se tornam espiritualmente inativas e vão à igreja apenas para serem
entretidas. Não têm interesse pessoal na Bíblia, porque os sermões que ouvem
não emergem das Escrituras. São impressionadas pela criatividade do pregador e
manipuladas pela música; e isso se torna toda a sua perspectiva de
espiritualidade.
ENGANA AS
PESSOAS QUANTO AO QUE ELAS REALMENTE PRECISAM
Em Jeremias 8.11, Deus condena os profetas que tratavam de
modo superficial as feridas do povo. Este versículo se aplica poderosamente aos
pregadores artificiais que ocupam muitos púlpitos evangélicos proeminentes, em
nossos dias. Tais pregadores omitem as verdades mais severas sobre o pecado e o
julgamento. Abrandam as partes ofensivas da mensagem de Cristo. Enganam as
pessoas sobre aquilo que elas realmente precisam, prometendo-lhes “satisfação”
e bem-estar terreno, quando o que necessitam é de arrependimento, fé e uma
visão exaltada de Cristo, bem como de um verdadeiro entendimento do esplendor
da santidade de Deus.
Portanto, os pastores têm de pregar a
Palavra, embora fazê-lo esteja fora de moda em nossos dias (2 Tm 4.2). Essa é a
única maneira pela qual o ministério deles pode dar frutos. Além do mais, a
pregação da Palavra assegura que os pastores serão frutíferos no ministério,
porque a Palavra de Deus jamais volta vazia para Ele; ela sempre faz aquilo que
Lhe apraz e prospera naquilo para o que foi designada (Is 55.11).
Que Deus nos proteja e nos livre do maligno e do engano!!!
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