O erro das más interpretações: análise em II Cor. 3:6
"Examinai
as Escrituras [...]"
(o
conceito bíblico de "a letra
mata, mas o espírito vivifica")
Considerações iniciais:
Considerações iniciais:
A
Igreja de Jesus Cristo (seu Corpo) deve atuar frente ao mundo na pregação
expositiva do Evangelho sem retoques e sem "fermentos" que levedam a
"massa", pois o Evangelho é o poder de Deus para aquele que crê. O
Evangelho transforma vidas através da Revelação do Cristo vivo e glorificado
(Jesus é a própria manifestação da graça e misericórdia de Deus). Portanto,
deve-se - sem medo e sem libertinagens, formalismos (e legalismos) pregar a
Mensagem da Cruz!
Portanto, a
teoria acadêmica da teologia deve ser restrita
apenas àqueles que se interessam em aprofundar-se no conhecimento da mesma. O
incentivo da Igreja, dos pastores, professores e líderes diversos em relação à
membresia deve dado para que TODOS lêem a Bíblia e aprendam, pelo menos o
básico para fé e prática, das Escrituras. A leitura da Bíblia deve, portanto,
ser incentivada! Sem "novos ensinos" e "novas revelações".
Sem ocultismos e apelos legalistas e farisaicos da religiosidade. Mas deve ser
incentivada através de um importante meio de graça: a oração. Dois meios de
graça importantíssimos para a formação do caráter cristão destacamos aqui: a
oração e a leitura devocional da Bíblia. Além do frequentar a igreja, do
louvor, etc.
Com
isso, cria-se uma dependência do Espírito Santo, pois a Bíblia deve ser lida
sob a tutela do mesmo. Ele ensina, Ele exorta, Ele confronta, Ele liberta, Ele
transforma, Ele capacita, Ele dá o entendimento, Ele redime, Ele envia.
Portanto, a leitura da Bíblia está em paralelo com a dinâmica da Obra do
Espírito Santo na vida do crente. Esse cresce em graça e conhecimento e é
"pau para toda obra". É capacitado para o serviço santo, pois conhece
e sabe em quem tem crido, porque a fé já foi gerada pelo Palavra.
Portanto,
meu amado, a "letra" que meta é a "letra" do legalismo
denominacional e religioso que se traveste de piedade e humildade, mas está
cheio de rapina farisaica, impondo ritos, costumes e dogmas "além da
letra" e, assim, embaçando a graça de Deus no entendimento alheio.
Falando
nessa citação isolada da Bíblia que muitos usam para incentivarem o membro a
não ler a Bíblia a fim de não ter suas fábulas destruídas, cito um artigo que
escrevi já a um tempo quer aborda rasamente essa questão.
Já sabemos que
Jesus é o clímax da revelação de Deus: "Ninguém jamais viu a Deus. O
Deus unigênito, que está no seio do Pai, esse o deu a conhecer" (Jo
1.18). Jesus é a maior revelação de Deus e, todas as outras inspirações e
revelações de Deus aos homens por parte do Criador, eram para mostrar
Jesus. A finalidade da revelação é tornar Deus conhecido dos homens.
Para isso, as
Palavras do Deus espiritualmente e intelectualmente superior à razão dos homens
devem ser mostradas pelo Espírito Santo, aquele que “vos ensinará todas as
coisas”. Veja em João 17 que a função do mesmo Espírito Santo é dar ao
mundo (através da Igreja) o conhecimento de Deus. Isso configura um caráter
explicitamente espiritual e será pela revelação do Espírito Santo que tal
conhecimento pode chegar aos homens distantes de Deus.
Mas o que
precisamos entender, de fato, aqui é o seguinte: Isso não significa dizer que o
texto literal é inválido. Quem diz ou ensina isso está cometendo um grave erro
baseado num versículo isolado da Bíblia em (IICor 3:6) que diz assim:
“[...] porque a letra mata, mas o Espírito vivifica”.
Ali Paulo não
falava da invalidez das Escrituras, mas sim da validez da mesma sobre a
intervenção inspiradora, reveladora e iluminadora do Espírito Santo. Paulo ali,
no contexto, falava da Lei e isso não pode fazer alusão à Bíblia que hoje nós
temos que é a revelação de Deus. Porém a expressão “letra”, do grego “gramma”
que pode falar da Lei, mas pode falar do livro todo, uma epístola e Escrituras
(considerando que ali não existia só a Lei, mas a Lei e os Profetas). Essa
expressão grega vem do substantivo “grapho” = “escrever” e remete ao
sentido literal da escrita. Então não podemos ignorar que Paulo advertia a
igreja do mau uso da letra literal, fundamentalista e religiosa.
Mas o que vale
como informação central nesse texto é o seguinte: Não é a Lei e nem a Palavra
de Deus escrita, em si mesmas, que matam. Trata-se, pelo contrário, das
exigências da Lei, que sem a vida e o poder do Espírito, trazem condenação
(veja em Jr 31:33; Rm3:31). Mediante a salvação em Cristo, o Espírito santo
concede vida e poder espiritual ao crente no manejo das Escrituras que também
são vivificadas.
Trocando em
miúdos e tendo em vista todo o contexto, Paulo disse assim: "a Lei (grego
= "gramma" que pode ser traduzido também por "letra")
mostra o pecado, mas o Espírito (grego = pneuma) mostra a Vida.
Contudo, podemos em segurança dizer que a Vida mostrada pelo Espírito Santo na
Palavra é a Revelação de Jesus Cristo, corroborando assim com as próprias
palavras de Paulo.
“a Lei mostra
o pecado e o Espírito mostra a vida”
O que mata, de
fato, são as exigências da Lei tão operantes em algumas igrejas, usos e
costumes exacerbados, legalismo religioso, farisaísmo, sectarismo, etc. Isso
tende a matar a fé na constante anulação da graça na vida do crente. Não que a
graça seja vencida, mas é negada e essa negação (pela religiosidade operante)
será paga com terrível condenação.
Contudo,
Cristo havia dito: examinai as Escrituras (livros em si)
[..] pois elas de mim testificam (Jesus vivo e revelado
nelas). Jesus mostra com clareza que Ele não é a Bíblia em si, não podemos
assim mistificá-la, mas a Bíblia fala dEle. Isso é bem claro e é questão de
pressupostos atestados pelo crivo das Escrituras e perspectivas corretas em
relação às Escrituras.
O fato de
Jesus ser testificado pela Palavra corrobora também com o fato de: a Bíblia ter
um conteúdo “profético”. Mas antes, vou explicar o termo “profético”: O
termo “profético”, assim como “profecia” (grego = prophetéia),
é comumente usada nas igrejas, mas, muitas vezes, de forma errada. ‘Profecia’ e
‘profético’ remete ao voltar-se para algo, cujo caminho ou método é apontado.
Não é só, portanto, “apontar para frente” e não se passa apenas no horizonte do
“descobrir algo sobre o futuro”, mas é, no caso bíblico, “voltar-se para Deus”,
assim como (também) alguma informação espiritual futura a respeito de algo.
Leiam os profetas bíblicos (maiores e menores) e percebam qual é o conteúdo
comum em suas mensagens.
O conteúdo
comum, já adiantando aqui, é “voltem para Deus”, cujo caminho é apontado:
“obedeçam a sua palavra”. Junto com essa mensagem comum nos profetas, haviam
ali os sinais e informações espirituais sobre determinados fatos futuros. Isso
define o termo “profético”. Sendo assim, a Bíblia é um livro literariamente e
espiritualmente profético, pois é a revelação do projeto de redenção de Deus
cuja centralidade está toda em Jesus Cristo, o Verbo de Deus, a verdadeira
“Palavra Revelada”. Por que é profética? Porque revela a salvação em Cristo e
tal Revelação ao encontro com o espírito humano gera a fé (dom de Deus/ fé para
a salvação/ fé da Eternidade), por isso a fé vem pelo ouvir e ouvir a Palavra
de Deus, pois seu conteúdo é profético. E nessa promoção de fé pela ação do
Espírito Santo (no contexto da soberania e graça divina), produz-se no crente o
genuíno avivamento espiritual, ou seja: o Espírito mostra (gera) a vida,
enquanto qualquer legalismo (da Lei) ou da religião gera morte.
O ato
salvífico de Cristo se resume em: trazer o homem de volta para Deus, logo, o
conteúdo da Bíblia é, portanto, profético.
Aliás, a
salvação é profética, pois parte do pressuposto bíblico que Deus programou tal
projeto na Eternidade e lá elegeu o seu povo para herdar a salvação e a glória
em Cristo. Não é à toa que a figura do sangue percorre por toda a Bíblia,
mostrando, conforme nos explica o autor de Hebreus, que viria o “Perfeito”
(Cristo). Isso sustenta a frase de Cristo: “examinai as Escrituras, pois elas
de mim testificam”. Como “de mim testificam”? Pelas figuras e tipos. Onde entra
a interpretação e a “revelação” nisso? Entra no fato de: o Espírito conduzir o
que manuseia a Palavra ao entendimento de caráter profético que configura numa
espécie de revelação, pois, bota “para fora” algo que a Bíblia tinha como
“modelo”. Isso se aplica nas peças do Tabernáculo, na figura do Cordeiro, do
Sangue, dos tipos humanos, etc. Há aí uma interligação entre RAZÃO e REVELAÇÃO.
Nenhuma é
alheia à outra. Estudar, pesquisar e se aprofundar nos textos bíblicos no
espírito e pelo Espírito é muito diferente de fazer o mesmo sem a fé. Veja que
muitos biblistas alcançam entendimentos profundos sobre o conteúdo histórico,
cultural, arqueológico e religioso sobre as escrituras, mas pouquíssimos falam
do seu caráter espiritual ou profético. Por quê? Porque não têm o pressuposto
fundamental para “botar para fora” aquilo que se discerne espiritualmente, a
saber, a fé. Mas vão até onde o espírito humano (a razão humana) pode levar.
Mas quando você lê ou estuda a Bíblia partindo desse pressuposto espiritual (a
fé), o Espírito de Deus, pela fé, dá o entendimento espiritual daquilo que se
lê e assim, Deus fala, as vezes de forma bem particular. Não estamos falando
aqui de inventar doutrinas em nome da “revelação”, pois tudo que aparece deve
ser provado pela própria Bíblia.
Contudo,
termino com a palavra do Rev. Augustus Nicodemus que fala a respeito dessa má
(e tendenciosa) interpretação de “a letra mata...” como “desculpa de quem não
tem nem argumento e nem exemplo para dar”.
A Paz
de nosso Senhor Jesus!
Para
ler mais sobre o tema, sugiro:
Gabriel Felipe M. Rocha
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