Um estudo detalhado sobre João 3: 16
Por John Owen
Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o
seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha vida
eterna. (Jo. 3: 16).
Muitas
vezes este versículo é usado para ensinar que:
·
"amou" = Deus tem tal anseio natural pelo
bem de.
·
"mundo" = toda a raça humana, em todas as
épocas e tempos.
·
"deu" = Ele deu Seu Filho para morrer, na
verdade, não para salvar qualquer um, mas.
·
"todo aquele" = para que qualquer um que
tenha a tendência natural para crer.
·
"tenha" = possa, assim, obter a vida
eterna.
Contrastando
com isso, nós entendemos que o versículo ensina:
·
"amou" = Deus tem um amor tão especial,
tão supremo, que Ele determinou.
·
"mundo" = que todo o Seu povo, dentre
todas as raças fosse salvo.
·
"deu" = ao designar Seu Filho para ser um
Salvador adequado.
·
"todo aquele que" = deixando claro que
todos os crentes, e somente eles.
·
"tenha" = tenham, efetivamente, todas as
coisas gloriosas que Ele planejou para eles.
Há três
coisas a serem cuidadosamente estudadas aqui. Em primeiro lugar, o amor de
Deus; em segundo lugar, o objeto do amor de deus, aqui chamado de "o
mundo"; em terceiro lugar, a intenção do amor de Deus: para que os crentes
"não pereçam".
1. É
importante entender que nada que sugira que Deus é imperfeito deve ser dito a
respeito dEle. Sua obra é perfeita. No entanto, se for argumentado que Ele tem
um anseio natural quanto à salvação de todos, então, o fato de todos não serem
salvos deve significar que Seu anseio é fraco e Sua felicidade é incompleta.
Além
disso, as Escrituras não afirmam, em lugar algum, que Deus é naturalmente
inclinado ao bem de todos. Ao contrário, é evidente que Deus é completamente
capaz de ter misericórdia daqueles pelos quais Ele terá misericórdia. Seu amor
é um ato livre de Sua vontade, não uma emoção produzida nEle por nosso estado
miserável. (Se fosse a miséria que tivesse atraído o anseio natural de Deus
para ajudar, então Ele deveria ser misericordioso para com os demônios e os
condenados!).
O amor
que é aqui descrito é um ato supremo e especial da vontade de Deus, dirigido
particularmente aos crentes. As palavras "de tal maneira" e
"para que" enfatizam a característica incomum desse amor e o claro
propósito desse amor no sentido de salvar os crentes da perdição. Então, este
amor não pode ser uma afeição comum por todos, desde que alguns realmente
perecem.
Outros
versículos das Escrituras também concordam que esse amor de Deus é um ato
supremo e é dirigido especialmente aos crentes, como, por exemplo, Romanos 5: 8
ou 1 João 4: 9, 10. Ninguém falaria de uma inclinação natural para o bem de
todos, através de maneiras tão enfáticas como estas.
É claro
que Deus quer o bem de todos a quem Ele ama. Então, segue-se que Ele ama
somente aqueles que recebem esse bem. O mesmo amor que O levou a dar Seu Filho
Jesus Cristo, faz com que Ele dê também todas as outras coisas necessárias,
"Aquele que nem mesmo a seu próprio filho poupou, antes o entregou por
todos nós, como nos não dará também com ele todas as coisas?" (Romanos 8:
32). Assim, este amor especial de Deus pode, portanto, ser somente por aqueles
que realmente tenham recebido graça e glória.
Ora,
leitor cristão, você precisa julgar: pode o amor de Deus, que deu o Seu Filho,
ser entendido como um sentimento de boa vontade para com todos em geral? Não
será, ao invés disso, o Seu amor especial para com os crentes eleitos?
2.
Precisamos examinar o que é o objeto desse amor de Deus, aqui chamado de
"o mundo". Alguns dizem: isso deve significar todos e cada um dos
homens. Eu jamais consegui ver como isso poderia significar tal coisa. Já
demonstramos os diferentes sentidos com que a palavra "mundo" é usada
nas Escrituras. E, em João 3:16, o amor mencionado no princípio e o propósito
no final, não podem concordar com o significado de "todos e cada um dos
homens" que é imposto, por alguns, sobre "o mundo", o qual
ocorre no meio do versículo.
De nossa
parte, entendemos que essa palavra significa os eleitos de Deus espalhados pelo
mundo entre todas as nações. Os benefícios especiais de Deus já não são para os
judeus somente. O sentido é: "Deus amou os Seus eleitos em todo o mundo de
tal maneira, que deu o Seu Filho com esse propósito, para que os crentes
pudessem ser salvos por Ele". Há várias razões que corroboram esse ponto
de vista.
A natureza do amor de Deus conforme já examinamos aqui, não pode ser
considerada como sendo estendida a todos e a cada um dos homens. O
"mundo", neste versículo, tem que ser aquele mundo que realmente
receba a vida eterna. Isso é confirmado pelo versículo seguinte - João 3: 17 -
onde, na terceira ocorrência do termo "mundo", é afirmado que o
propósito de Deus ao enviar Cristo foi "para que o mundo fosse
salvo". Se "mundo" se refere aqui a quaisquer pessoas senão aos
crentes eleitos, então Deus falhou no Seu propósito. Não ousaríamos admitir
isso.
Não é raro, de fato, o povo de Deus ser designado por termos, tais como: "mundo", "toda a carne", "todas as nações", e "todas as famílias da terra". Em João 4: 42, por exemplo, é afirmado que Cristo é o Salvador do mundo. Um Salvador de homens não salvos seria uma contradição de termos. Assim sendo, aqueles que aqui são chamados de "o mundo" têm que ser apenas aqueles que são salvos.
Há várias razões porque os crentes são chamados de "o mundo". É para distingui-los dos anjos; para rejeitar judeus jactanciosos que pensavam ser apenas eles o povo de Deus; para ensinar a distinção entre a velha aliança feita com uma só nação, e a nova - na qual todas as nações do mundo se tornariam obedientes a Cristo; e para mostrar a condição natural dos crentes como criaturas terrestres e deste mundo.
Se for ainda argumentado que "mundo" aqui se refere a todos e a cada um dos homens como sendo o objeto do amor de Deus, então, por que Deus não revelou Jesus a todos a quem Ele tanto amou? É muito estranho que Deus desse Seu Filho para eles, e, no entanto, nunca lhes falasse desse amor, pois milhões jamais ouviram o evangelho! Como pode ser dito que Ele ama todos os homens, se, na Sua providência, esse amor não chega a ser conhecido por todos os homens?
Finalmente, "mundo" não pode significar todos e cada um dos homens, a menos que estejamos dispostos a admitir que:
Não é raro, de fato, o povo de Deus ser designado por termos, tais como: "mundo", "toda a carne", "todas as nações", e "todas as famílias da terra". Em João 4: 42, por exemplo, é afirmado que Cristo é o Salvador do mundo. Um Salvador de homens não salvos seria uma contradição de termos. Assim sendo, aqueles que aqui são chamados de "o mundo" têm que ser apenas aqueles que são salvos.
Há várias razões porque os crentes são chamados de "o mundo". É para distingui-los dos anjos; para rejeitar judeus jactanciosos que pensavam ser apenas eles o povo de Deus; para ensinar a distinção entre a velha aliança feita com uma só nação, e a nova - na qual todas as nações do mundo se tornariam obedientes a Cristo; e para mostrar a condição natural dos crentes como criaturas terrestres e deste mundo.
Se for ainda argumentado que "mundo" aqui se refere a todos e a cada um dos homens como sendo o objeto do amor de Deus, então, por que Deus não revelou Jesus a todos a quem Ele tanto amou? É muito estranho que Deus desse Seu Filho para eles, e, no entanto, nunca lhes falasse desse amor, pois milhões jamais ouviram o evangelho! Como pode ser dito que Ele ama todos os homens, se, na Sua providência, esse amor não chega a ser conhecido por todos os homens?
Finalmente, "mundo" não pode significar todos e cada um dos homens, a menos que estejamos dispostos a admitir que:
·
O amor de Deus em relação a muitos é em vão, porque
eles perecem;
·
Cristo foi enviado em favor de milhões que jamais O
conheceram;
·
Cristo foi enviado em favor de milhões que não
podem crer nEle.
·
Deus muda Seu amor para abandonar aqueles que
perecem (ou isso, ou Ele continua a amá-los no inferno);
·
Deus não consegue dar todas as coisas àqueles pelos
quais Ele deu Cristo.
·
Deus não sabe de antemão quem vai crer e ser salvo.
Não
podemos admitir tais absurdos; "mundo" só pode significar aquelas
pessoas espalhadas pelo mundo, que são eleitos.
3.
Afirma-se que a maneira pela qual os eleitos de Deus chegam, realmente, a obter
a vida que está em Seu Filho é através do ato de crer. É "cada crente que
não vai perecer"[1].
Se for
alegado que Cristo morreu por todos e por cada um dos homens, e, entretanto,
nós agora aprendemos que somente os crentes serão salvos, o que é que faz a
diferença entre crente e não crentes? Eles não podem fazer a diferença por si
mesmos (Ver 1 Coríntios 4: 7). Então Deus os fez diferentes. Mas se Deus os fez
diferentes, como pode ter enviado Cristo para todos eles?
O
versículo (João 3: 16) declara a intenção de Deus no sentido de que os crentes
serão salvos. Segue-se, então, que Deus não deu Seu Filho para os incrédulos.
Como poderia ter dado Seu Filho para aqueles a quem Ele não deu a graça de
crer?
Ora, que
o leitor pese todas estas coisas, e especialmente a primeira - o amor de Deus -
e pergunte seriamente se pode ser considerado uma afeição por todos em geral
aquilo que pode tolerar a perdição de muitos daqueles a quem Ele tanto amou? Ou
será que este amor não é melhor entendido como sendo aquele único, especial
amor do Pai por Seus filhos crentes, que torna seguro o futuro deles? Então,
você terá uma resposta se a Bíblia ensina, ou não, que Cristo morreu como um
resgate geral - infrutífero com relação a muitos pelos quais o resgate foi pago
ou como uma redenção especial e gloriosamente eficaz para cada crente. E
lembre-se de que este texto, João 3: 16, é frequentemente usado para sustentar
a ideia de que Cristo morreu por todos os homens - embora, como já tenho
mostrado, seja completamente incompatível com tal noção!
***
Notas:
[1] Sugerir
que "todo aqueles" significa "qualquer um" indefinidamente,
não vai ajudar em nada a causa da redenção universal. A forma das palavras
gregas é realmente "todos os crentes". Argumentar a favor de
"qualquer um" é, sem dúvida, negar que o amor de Deus é igual para
com todos os homens! Se alguns - o "todo aquele" - podem ser
especialmente favorecidos, então Deus não pode ter amado todos os homens
igualmente. Ele deve, de alguma forma, ter amado os "todos aqueles"
mais do que o restante dos homens!
***
Fonte: John
Owen, Por quem Cristo Morreu?,
PES, pp. 82-88 (adaptado para postagem).