domingo, 28 de setembro de 2014

JESUS CRISTO REVELADO EM LEVÍTICO (E O VALOR DO SANGUE DE JESUS PARA A IGREJA)

JESUS CRISTO REVELADO EM LEVÍTICO (E O VALOR DO SANGUE DE JESUS PARA A IGREJA)

O livro de Gênesis mostra a ruína e o fracasso do homem. Êxodo revela a grande redenção e salvação de Deus. Levítico, por outro lado, mostra o acesso a Deus que o regenerado hoje tem por meio de Cristo para adoração e comunhão.  É um livro para um povo redimido, pois revela a graça de um Deus generoso.

Seu ensino, à luz do Novo Testamento, é para aqueles que já perceberam sua condição perdida, e aceitaram a redenção que há em Cristo Jesus e estão buscando se aproximar da presença de Deus. Ele mostra a santidade de Deus e a absoluta e a corrupção humana,por isso precisamos de expiação.
O livro de Levítico nos revela a grandeza da Cruz,temos, na realidade, a Cruz de Cristo. 
A Cruz era de fato uma exposição do amor de Deus, o amor de Deus Pai, e do Filho de Deus "que pelo Espírito eterno se ofereceu’' (Hb 9:14 ). 

Mas foi mais do que isso, era para tratar com o pecado do homem. 

A Cruz de Cristo permanece como estimativa do que o pecado é realmente, algo tão profundo e terrível que custa a crucificação do próprio Deus.
Foi mais ainda do que isso, foi o sacrifício expiatório, por que o pecado poderia para sempre ser tratado. 

Foi um sacrifício para a satisfação plena de Deus. Embora nosso intelecto não possa compreender o mistério da expiação, o nosso coração e consciência confessam seu poder.
Paulo mesmo fala da grandeza da Cruz: "Tendo feito a paz pelo sangue da sua cruz"( Cl 1:20 ). 
O conforto destas palavras trouxeram para almas atribuladas tudo ao longo dos séculos. 
Aqueles que sabem o que é sofrer sob a convicção do Espírito Santo em relação ao pecado, sabem melhor como valorizar a Cruz de Cristo.

O pensamento mais profundo do livro de Levítico está centrado em torno do Grande Dia da Expiação. 

Foi um dia de humilhação. O sentimento de pecado foi se aprofundado ao máximo e com intensidade na mentalidade nacional.  Ocorria apenas uma vez por ano. "Cristo foi oferecido uma vez para tirar os pecados de muitos" (Hb 9:28 ). 

Não há repetição de Sua obra sacrificial. Em todo o ano, há um só dia de expiação. Com o seu incensário de ouro do incenso e do sangue do novilho da oferta pelo pecado, o Sumo Sacerdote entrava no Santo dos Santos, e fazia expiação por si e sua família. Cristo foi oferecido por nós na Cruz como o perfeito sacrifício. Ele é a nossa eterna propiciação. O nosso substituto eterno.
O que a Igreja faz em relação ao poder do sangue de Jesus hoje é valorizar o ato sacrificial de Jesus numa vida de santidade, amor, trabalho, voluntariedade, entrega, fé e testemunho. Isso é memorizar o sangue. O símbolo do sangue já nos é revelado através da presença remidora e redentora do Espírito Santo mediante a nossa fé em Jesus Cristo como Redentor nosso.

Por isso no Evangelho de João lemos: "Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo"; "O Senhor fez cair sobre ele a iniqüidade de todos nós"( Jo 1:29 ; Is 53:6 ).

E, por fim, vemos que o Livro de Levítico repete ainda mais enfaticamente do que Genesis o significado do sangue para a nossa eterna redenção:

"A vida da carne está no sangue" 
"E eu o dei a vocês sobre o altar para fazer expiação pelas vossas almas;pois é o sangue que fará expiação em virtude da vida ... "
"Para a vida de toda a carne, haverá o sangue, com sua vida"(Lv 17:11,14 ,17).

Precisamos perceber a importância vital do sangue de Cristo: pois essa é a base de tudo. Toda a vida cristã se baseia na Mensagem e no ato da cruz.

A redenção é através do sangue (1 Pd 1:18,19).
O perdão é através do sangue (Ef 1:7).
A justificação é através do sangue(Rm 5: 9).
A paz é pelo sangue(Cl 1:20).
A limpeza espiritual é através do sangue(1Jo 1:7).
A santificação é através do sangue(Hb 13:12).
O acesso a Deus é através do sangue(Hb 10:19).
A vitória cristã é através do sangue(Ap 12:11).
A glória eterna é através do
sangue(Ap 7:14,15).

Portanto, o sangue é o elemento simbólico de valor espiritual para a Igreja de Jesus Cristo (sua Noiva).
Ele deve ser memorizado pelo crente até a vinda de Jesus.
Memorizado como?
Em vãs repetições como fazem os pagãos? Não! Mas através da vida santificada e edificada em Deus e através da cruz que propomos (pela fé) carregar a partir de então. Memorizamos o sangue de Jesus quando ceamos com a congregação, quando participamos ativamente do Corpo de Jesus. Nós memorizamos o sangue quando somos fieis à Palavra de Deus e andamos pautados nela, pois sabemos que nossa redenção custou o precioso sangue de Cristo. Memorizamos quando levamos esse Evangelho ao oprimido e necessitado de ouvi-lo. Devemos memorizar o poder do sangue de Jesus (“fazei isso e memória de mim...”).

Logicamente, isso não significa que, agora, temos que usar frases de efeito em nossas orações crendo que só assim Deus nos ouvirá. Ele ensina que a oração deve ser feita em referência a Jesus Cristo, ou seja, em Nome dele, pois, a fé no Nome de Cristo já implica a fé em seu sacrifício, pois não podemos crer num Cristo morto, mas sim no Cristo vivo que venceu a morte. O “sangue de Jesus” não é frase especial e nem mantra ou senha, pois Deus já garantiu a livre entrada pela graça e pelo sangue. Basta, agora, orar com fé no Nome de Jesus e em seu poder para nos levar até a presença de Deus, mesmo nós não merecendo estar lá por causa do nosso pecado.
Somente a Deus Glória!!!

Jesus Cristo vem!!!

Gabriel Felipe M. Rocha

sábado, 27 de setembro de 2014

O poder e a mensagem do Evangelho

O poder e a mensagem do Evangelho

"A quem Deus propôs, no seu sangue, como propiciação, mediante a fé, para manifestar a sua justiça, por ter Deus, na sua tolerância, deixado impunes os pecados anteriormente cometidos; tendo em vista a manifestação da sua justiça no tempo presente, para ele mesmo ser justo e o justificador daquele que tem fé em Jesus."  (Romanos 3.25-26)

O início de Romanos 3.25-26 nos diz que foi a vontade de Deus expor publicamente, ou pendurar em um outdoor, seu Filho na cruz do Calvário. Como já afirmamos, no momento específico da história, Deus o ergueu em um madeiro justamente no cruzamento do centro religioso do universo para que todos vissem.[1] De acordo com nosso texto, Deus escolheu esse lugar dos mais públicos para o sacrifício de seu Filho para que viesse a vindicar a si mesmo ao demonstrar de uma vez por todas que ele é um Deus justo. Ainda assim devemos perguntar: por que tal vindicação foi necessária?[2] O texto acima coloca a razão diante de nós: “por ter Deus, na sua tolerância, deixado impunes os pecados anteriormente cometidos”.[3]
De acordo com o apóstolo Paulo, foi necessário que Deus vindicasse a si mesmo, ou provasse sua justiça, porque em sua tolerância ele havia deixado impunes os pecados de seu povo e não aplicou a justiça ou a punição que era devida a ele. Ao longo da história humana, ele havia demonstrado graça e concedido perdão para uma multidão incontável de homens que ele chamou do mundo e declarou que eram seu povo. Contudo, ao fazê-lo, ele expôs a múltiplas acusações de injustiça: Como um Deus justo pode conceder perdão ao perverso, e como pode um Deus verdadeiramente santo chamá-los à comunhão consigo mesmo? Se Deus é justo, por que ele não aplica justiça? Em qual base ele concede perdão para aquela grande multidão de santos no Antigo Testamento? As Escrituras testemunham claramente que os antigos sacrifícios de sangue de bois e cabras não tinham poder para remover o pecado.[4] Então como Deus poderia perdoá-los? Sua tolerância aos pecados prova que ele não é justo? Isso demonstra que ele é tão apático para com o mal que ele pode olhar para o pecado com indiferença ou conceder perdão por uma questão de capricho? O Deus do céu comprometeu sua justiça ao conceder perdão àqueles que deveriam ser justamente condenados?[5] Não fará justiça o juiz de toda a terra?[6] A cruz do Calvário fornece a resposta para todas essas perguntas. Lá, Deus depositou os pecados de seu povo sobre a cabeça de seu Filho. Lá, a justiça de Deus que era devida ao povo de Deus em todas as eras — passadas, presentes e futuras — foi derramada sobre Jesus de Nazaré. Desde o primeiro homem perdoado na dispensação do Antigo Testamento até o último homem perdoado no fim do mundo, todos eles devem seu perdão ao fato de que Cristo morreu por seus pecados. Através da cruz, é como se Deus declarasse a seus acusadores:
Vocês questionam como eu poderia chamar um povo mesmo do perverso período antediluviano e declará-los meus? Vocês exigem explicação sobre porque poupei Noé, quando na verdade ele também deveria ter morrido no dilúvio? Vocês me chamam para explicar o motivo pelo qual chamei o pagão Abrão daquela cidade vil de Ur, creditei justiça a ele, e fiz dele meu amigo? Vocês se perguntam o porquê de eu ter salvado um remanescente da nação de Israel e os abracei como meu tesouro especial ainda que seus pecados exigissem sua rejeição? Vocês tentam entender como eu pude perdoar a multidão de pecados de Davi e chamá-lo de filho meu?
Suas acusações já foram longe demais. Agora respondi a vocês na cruz de meu Filho amado, que foi destinado a morrer pelos pecados de meu povo mesmo antes da fundação do mundo. Ao longo das extensas eras de minha tolerância, meu olho esteve fixo naquele madeiro onde ele sofreria por eles. Tudo o que eu fiz por eles no passado foi baseado no que meu Filho fez por eles agora. Sim, eu perdoei livremente uma grande multidão de homens perversos, perdoei suas obras ilegais, cobri seus pecados e não levei em conta suas transgressões, mas foi porque eu determinei satisfazer cada demanda de justiça contra eles através da obra expiatória de meu Filho amado!
A cruz do Calvário cala todas as vozes e demonstra que cada acusação contra Deus é falsa. Naquele madeiro, ele condenou os pecados de seu povo com perfeita justiça e expiou por seus crimes com um amor que não pode ser medido. Naquele altar de madeira, “encontraram-se a graça e a verdade, a justiça e a paz se beijaram”.[7] Deus vindicou a si mesmo. Ele provou ser tanto justo quanto o justificador daquele que tem fé em Jesus Cristo.[8] A cruz abole quaisquer incertezas a respeito de sua justiça ou intolerância para com o pecado. A cruz prova que quaisquer dúvidas a respeito de seu amor são infundadas e não devem ser acolhidas nos corações de seu povo.

Fontes:
Pregação expositiva de Paul Washer;
Adaptação e reorganização de conteúdo e citações: Gabriel Felipe M. Rocha
Bíblia King James/ Genebra/ Palavras Chave – Hebraico e grego
Notas:
 [1] Gálatas 4.4
[2] O Dicionário Webster’s define vindicação como a defesa de qualquer coisa; uma justificação contra a negação ou a censura, ou contra objeções ou acusações.
[3] Romanos 3.25
[4] Hebreus 10.4
[5] Provérbios 17.15
[6] Gênesis 18.25
[7] Salmo 85.10

[8] Romanos 3.26

O propósito da salvação em 1 Pedro - 1/5 (1ª parte)

 O propósito da salvação em 1 Pedro - 1/5

(Por Leonardo Dâmaso)

Olá, amigos, leitores e verdadeiros estudantes da Palavra de Deus, a paz! Venho através deste estudo (dividido em duas partes) deixar um ensinamento consistente e coerente com as Escrituras a respeito do propósito bíblico da salvação. Como estou demasiadamente atarefado com meus estudos e escrevendo um artigo para postar aqui em breve, deixo esse rico artigo de Leonardo Dâmaso (fonte: Bereanos) para nosso aprendizado.

Como já tenho dito e reafirmado aqui, o Blog Palavra a Sério é um blog comprometido com a verdade das Escrituras e com a Revelação de Jesus Cristo e não com dogmas e ensinamentos extra bíblicos de grupos religiosos específicos. Isso é atestado pela seriedade de nossos artigos e pela coerência do nosso ensino.
Louvado seja Deus pela grande salvação em Cristo Jesus e pela benção constante e operante do Espírito Santo que ilumina nossas postagens.

Vamos ao estudo:

O propósito da salvação
(1 Pedro 1.13-25)

Introdução

Após tecer um louvor de agradecimento a Deus, e, ao mesmo tempo, discorrer com virtude sobre a obra da salvação em Cristo Jesus através de uma série de afirmações indicativas (vs.3-12), Pedro, dessa vez, relaciona a santidade na vida cristã como evidência e finalidade da salvação. Se outrora o apóstolo afirmou a nossa salvação expondo algumas das principais doutrinas da graça, tais como: eleição, expiação, regeneração, santificação (vs.2-3), agora ele nos chama através de uma série de imperativos (exortações) para viver esta salvação na vida prática (1.13-25). Além de explicar para quê o cristão foi salvo, estas doutrinas da graça são, também, a base do chamado a um estilo de vida em obediência.

O esboço homilético desta seção pode ser dividido em três pontos, ou seja, o propósito da salvação consiste em: 1 Uma vida em santidade (1.13-16). 2 Uma vida com reverência (1.17-21). 3 Uma vida em amor (1.22-25).         

1. Uma vida em santidade (1.13-16)

Tendo recebido o dom da salvação em Cristo Jesus (vs.9), os destinatários de Pedro bem como os cristãos em geral não devem desprezar este inefável presente sendo negligentes na salvação. Como filhos de Deus, devemos viver em conformidade com a sua vontade, que consiste numa vida em obediência a sua Palavra (veja Mc 3.35; Jo 9.31; 1Pe 2.15). A realidade da salvação deve se expressar em santidade vivida. 

1.13 Por isso, cingindo o vosso entendimento, sede sóbrios e esperai inteiramente na graça que vos está sendo trazida na revelação de Jesus Cristo.

Pedro, através de uma série de imperativos (exortações), instrui os seus leitores e a todos os cristãos em como viver uma vida que glorifica a Deus. Para vivermos em santidade é necessário:

a) Dispormos a mente. A preposição por isso é uma conclusão afirmativa que antecede o tema da obra da salvação tratado nos versículos 3-12. Pedro, agora, liga a salvação com a santidade (vs.13), e, desse modo, tomando por base esta salvação que é recebida pela fé em Jesus Cristo (vs.5), exorta-nos a cingir o nosso entendimento. A expressão cingindo o vosso entendimento, ou como é na tradução literal do grego – “cingindo os lombos do vosso entendimento”1 é uma metáfora que, na época de Pedro, no século 1, era facilmente compreendida por todas as pessoas. Porém, hoje, no mundo moderno, é necessária uma explicação mais acurada do seu significado. 
  
Cingir os lombos, na antiguidade, era um hábito dos orientais. A túnica, uma roupa comum e usada na época, era uma peça larga e comprida, semelhante a um vestido longo que cobre todo o corpo. Era colocada sob o manto ou a capa e usada com um cinto sob a cintura. Esse tipo de roupa, sem o cinto, atrapalhava a pessoa a exercer algum tipo de trabalho que exigisse movimentos longos e intensos em alguma atividade física que era preciso certa agilidade. Sendo assim, para ter uma boa mobilidade e evitar empecilhos, a pessoa cingia os lombos (ou quadris), isto é, colocava o cinto sobre a túnica. Em outras palavras, a expressão moderna e equivalente para nós, hoje, seria dizer: Vamos “arregaçar as mangas ou tirar o casaco”, que indica algum trabalho ou atividade física que fôssemos exercer.

A palavra entendimento, no grego διάνοία (dianoia), se refere à mente; “significa pensar em algo e tirar as conclusões apropriadas”.2 Portanto, Pedro utiliza e aplica esta metáfora do cingir os lombos dizendo aos seus leitores e a todos os cristãos que eles devem estar com a sua mente preparada e disposta para agir colocando em prática aquilo que ouviram, ou seja, tudo o que foi dito anteriormente sobre a salvação (vs.3-12).

Aplicação prática

O entendimento, aqui, se refere ao modo pelo qual nos relacionamos com Deus através da mente que irá convergir na nossa conduta. Em vista disso, a nossa mente deve estar disciplinada e livre de qualquer coisa que possa servir de obstáculo para, assim, vivermos uma vida cristã pautada nas Escrituras e que glorifique ao Senhor. A nossa mente precisa estar subjugada aos preceitos de Deus para que possamos compreender a sua vontade para a nossa vida, discernindo entre o certo e errado, entre a verdade e a heresia, e não aos preceitos que norteiam o mundo e a vida de muitos “ditos” cristãos, como, por exemplo, o evangelho caracterizado pelo materialismo e a preocupação exacerbada com a estabilidade e a satisfação pessoal na vida.

O materialismo é uma avidez desenfreada pelo consumismo, e a preocupação exacerbada com a estabilidade e a satisfação pessoal na vida, além de serem o lema da sociedade secular, tem sido também o lema da igreja evangélica em sua maioria. O “evangelho” mundano que tais “cristãos” creem apresenta o seguinte slogan: Eu tenho que ter isso e aquilo de qualquer maneira! Portanto, vou lutar e trabalhar sobremaneira para conquistar tudo o que eu desejo ter neste mundo profetizando e barganhando com Deus! Ou: Eu só serei feliz se tiver dinheiro, uma namorada (o), uma esposa (o) e saúde!  

Todavia, o materialismo é pecado, mas a motivação pela estabilidade e satisfação pessoal não são pecado em si. No entanto, esta motivação se torna pecado quando depositamos toda a nossa esperança e as colocamos como prioridade em nossa vida em detrimento de Deus, que é a nossa prioridade (1Cor 15.19; Cl 3.1-3). O evangelho mundano caracterizado pelo materialismo e a preocupação exacerbada pela estabilidade e satisfação pessoal têm corrompido e desvirtuado a mente de muitos cristãos. Portanto, conforme a ideia no grego, era como se Pedro dissesse: Não permita que qualquer coisa tire o foco da sua mente em relação a compreender e obedecer a Palavra de Deus!

Para vivermos em santidade é necessário:

b) Sermos sóbrios. Se os cristãos devem cingir o entendimento no sentido de estar com a mente preparada, disciplinada e disposta para viver a salvação que ouviram na vida prática, Pedro prossegue exortando-os que, agora, eles devem ser sóbrios3 (4.7; 5.8).  

No grego, a expressão sede sóbrios νήφοντες (nephontes), literalmente “sendo sóbrios”, é um particípio presente ativo que, traduzido como um imperativo, seria como se eu dissesse que “estou sóbrio ou tenho autocontrole”. Esta palavra descreve uma pessoa que tem domínio próprio tanto em relação à bebida alcoólica, evitando, assim, a embriaguez e, de modo geral, a qualquer tipo de êxtase frenético que extraia a pessoa da racionalidade. Entretanto, aqui, de forma mais ampla, se refere à pessoa que não está “embriagada” por coisa alguma estando com a mente lúcida.4 Ser sóbrio, portanto, além de ser constante, firme e perseverante no pensamento acerca da esperança da salvação em Cristo Jesus, significa, também, “ser calmo, estável e controlado” 5 (veja a mesma ideia em 2Tm 4.5; 1Ts 5.6, 8). 

Aplicação prática

John MacArhtur acentua que o cristão sóbrio é responsável de modo correto por suas prioridades e não se deixa embriagar pelas distrações do mundo.Não obstante, é bem verdade que o falso evangelho mundano que corrobora o materialismo e a preocupação exacerbada pela estabilidade e satisfação pessoal e todas as suas outras “falsas doutrinas” são um tipo de "droga" que tem entorpecido muitos cristãos verdadeiros, os quais são cristãos incautos e sem discernimento espiritual.
   
Os prazeres mundanos como a bebida alcoólica, a pornografia, a fornicação (o sexo fora do casamento), o adultério, a desonestidade, a mentira, as baladas e as orgias são, também, "drogas" que tem entorpecido muitas pessoas nas quais, algumas, são até cristãos verdadeiros que, enfraquecidos pelas negligencias e omissões, se desviaram do evangelho.

O cristão verdadeiro que está entorpecido pelo falso evangelho pode ter o seu entendimento elucidado pelo Espírito Santo para o conhecimento do verdadeiro evangelho e ser liberto da "droga" chamada falso evangelho. O cristão desviado e entorpecido pelos prazeres mundanos pode, também, ser resgatado e restaurado por Deus à sobriedade sendo introduzido novamente à comunhão da igreja. Certamente o Senhor não abandona os seus! Ele cuida de nós!

Para vivermos em santidade é necessário:

c) Esperarmos na graça. Depois de instar os cristãos acerca da necessidade de serem vigilantes e equilibrados, estando com a mente livre de qualquer perturbação e inclinada para a salvação em Cristo Jesus, Pedro, dessa vez, acentua que eles devem também depositar toda a esperança que possuem na graça que será entregue quando Jesus Cristo se revelar. 

O verbo esperar, no grego έλπίσατε (elpisate), significa, basicamente “colocar a esperança”. É uma forma verbal de esperança έλπίδα (elpis) que, no versículo 3, declara que os cristãos, a partir da regeneração, já recebem a salvação, porém, de modo parcial. Esta salvação parcial, contudo, é apenas o prelúdio daquilo que ainda é esperado, ou seja, a salvação na sua plenitude no qual o versículo 5 aborda. Todavia, o verbo esperar, aqui, é seguido pelo advérbio τελειος (teleios), que pode ser interpretado de duas maneiras:  

1. Enfatizando o verbo esperar conforme traduziu a ARA por esperai inteiramente. 2. Como uma indicação ao modo pelo qual os cristãos devem viver esta esperança, isto é, com maturidade e integridade (veja o uso do advérbio τελειος (teleios) também em Tg 1.2-4). Embora estas duas interpretações sejam possíveis, contudo, seria melhor entendermos o advérbio τελειος (teleios) como uma ênfase no verbo esperar, no qual se harmoniza perfeitamente com o contexto geral da carta (3.5). Desse modo, Pedro exorta os cristãos a esperar inteiramente, que significa “depositar a esperança”. 

Logo, vemos que esta esperança descrita não consiste em uma pessoa, mas em um objeto, ou seja, “na graça”. Esta graça que nos versículos 2 e 10 está no tempo presente, não obstante aqui, é sinônimo da salvação futura (vs.4, 9). Deus, portanto, está “trazendo a graça para os cristãos na revelação de Jesus Cristo”.

A expressão revelação de Jesus Cristo ARA é uma repetição da última parte do versículo ,e tem o mesmo sentido aqui como uma referencia não a primeira vinda de Cristo, mas a sua segunda vinda em glória (1Cor 1.7-8). A obra da redenção dos pecadores eleitos será concluída quando Jesus voltar. A plenitude da salvação chegará através do livramento da presença do pecado pela glorificação do corpo e da alma. Portanto, “olhar para a volta de Cristo fortalece a fé e a esperança em tempos difíceis e concede mais da graça de Deus (Tt 2.10-13)”7    

Não obstante, a seguir, nos versos 14-16, observamos que Pedro amplia o tema da santidade na vida cristã começando uma nova série de imperativos (exortações) baseados em três pontos. Senão vejamos:

a) Um solene aviso acerca do perigo à santidade.

1.14 Como filhos da obediência, não vos amoldeis às paixões que tínheis anteriormente na vossa ignorância.           

Pedro, aqui, tece uma advertência aos seus leitores históricos e a todos os cristãos. O apóstolo assevera que, uma vez que foram eleitos para a salvação em Cristo Jesus por Deus Pai (vs.2), regenerados pelo Espírito Santo para a esperança da salvação futura e uma vida em santidade (vs.3, 13), os cristãos, todavia, não devem retornar ao estilo de vida que tinham no passado quando não conheciam o evangelho, o qual era caracterizado pela prática do pecado. Sendo assim, Pedro diz o que estes cristãos “devem fazer” (imperativo positivo). Vejamos então:

i. Os cristãos devem ser obedientes. A expressão filhos da obediência “é um linguajar semita (hebraico). Significa algo como: pessoas que são cunhadas integralmente pela obediência”(veja os exemplos similares em Lc 10.6; Ef 5.8; 2Ts 2.3).  

Geralmente, os filhos obedientes “são os filhos de uma pessoa que faleceu e deixou um testamento para que recebam a herança. Os cristãos são chamados de filhos, não por nascimento, mas por adoção. Entre os gregos e romanos do século 1, a prática da adoção era bem comum. Um filho adotivo desfrutava dos mesmos privilégios que o filho natural, até mesmo a ponto de dividir a herança”. Em vista disso, Pedro chama os seus destinatários e todos os cristãos de filhos da obediência, ou, em outra tradução, de “filhos obedientes” a fim de esboçar o conceito de santidade a eles. Portanto, ser filho da obediência é viver uma vida que desemboque em obediência, que pode ser definida simplesmente como fazer a vontade de Deus (1.2).

Após delinear o que os cristãos devem fazer, Pedro, agora, diz o que eles “não devem fazer” (imperativo negativo). Senão vejamos:

ii.  Os cristãos não devem se amoldar novamente aos desejos que tinham no passado. Embora os primeiros destinatários históricos de Pedro fossem uma mescla de Judeus e gentios (1.3, 12, 14, 18, 22-23, 25; 2.9-10; 4.3), todavia, o apóstolo relembra aqui especificamente o estilo de vida dos cristãos gentios no passado antes da conversão, a fim de avisá-los do perigo de retornar a este velho estilo de vida que Deus não se agrada. Diferente dos judeus, que conheciam a lei moral, estes gentios eram pagãos e ignorantes quanto ao conhecimento da vontade de Deus revelada nas Escrituras. Por essa razão, tinham o seu modus vivendi (modo de viver) conduzido pelas mais variadas paixões9 ou “desejos pecaminosos”.

No grego, a expressão não vos amoldeis σνσχηματιςόμενοι (syschematizomenoi) é, literalmente, “não vos amoldando”, podendo ser traduzida como “não se deixem conformar” 10 ou, trivialmente, como uma exortação a “não entrar no esquema”. Esta expressão “significava assumir a forma de alguma coisa, a partir de um molde no qual se era encaixado”.11 Contudo, uma vez que foram libertos da escravidão do pecado (Ef 2.1-3), Pedro adverte estes cristãos gentios a não entrarem novamente no antigo esquema do mundo caracterizado por uma vida regida pelos prazeres carnais (veja com exemplo Êx 20.13-17).

Aplicação prática

Os cristãos foram salvos para a obediência, por isso os salvos são filhos obedientes. Como os filhos herdam a natureza dos pais, precisamos viver em santidade, pois nosso Pai é santo.

Como filhos obedientes, não podemos retroceder nem cair nas mesmas práticas indecentes que marcavam nossa conduta quando vivíamos prisioneiros do pecado. Naquele tempo, os desejos e as paixões constituíam o esquema determinante da nossa vida e a nossa norma de conduta. É incoerente, incompatível e inconcebível um salvo amoldar-se às paixões de sua velha vida12 (veja Ef 4.22-25, 28-29, 31). Que não sigamos o mau exemplo de homens ímpios e desobedientes. Antes, sejamos corajosos o bastante para rejeitar o padrão de vida que eles gostariam de impor-nos por seu exemplo e influência.13 

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Notas:
1. A ARC traduziu literalmente a expressão no grego.
2. Ênio Mueller. 1 Pedro – Introdução e Comentário, pág 98.
3. O imperativo “sede sóbrio” não é um chamado à sobriedade, mas uma metáfora para manter a mente alerta e serena (Bob Utley. Comentário Bíblico de Marcus e 1, 2 Pedro, pág 222).
4. A palavra grega νήφοντες (nephontes) era comumente usada no âmbito religioso na época de Pedro, especificamente para as religiões de mistério para descrever as pessoas que se mantinham voltados para a salvação eterna enquanto que as outras pessoas que eram apegadas as prazeres deste mundo eram consideradas “embriagadas”.
5. Warren Wiersbe. Comentário Bíblico Expositivo. Novo Testamento 2, pág 511.
6. Bíblia de Estudo MacArthur. Notas de Rodapé, pág 1730.
7. Warren Wiersbe. Comentário Bíblico Expositivo. Novo Testamento 2, pág 511.
8. Uwe Holmer. Comentário Esperança. 1 Pedro, pág 21
9. σνσχηματιςόμενοι (me syschematizomenoi) é um particípio presente passivo que, influenciado pelo verbo principal “sede” γενήθητε, no versículo 15, no qual é um imperativo aoristo ativo, é traduzido como um imperativo.
10. Ênio Mueller. 1 Pedro – Introdução e Comentário, pág 101.
11. A palavra grega traduzida pela ARA por “paixões” é έπθυμία (epthymia), que é comumente descrita como “um anseio por algo que é proibido”. Denota um “forte desejo pela lúxúria”, podendo ser traduzida como “concupisciências” ARC ou, literalmente do grego como “desejos”, conforme a NVI e a Almeida Século 21 traduziram. Pessoalmente, para melhor entendimento, prefiro a tradução da BJC em virtude do acréscimo do adjetivo “mau”, ficando, assim, traduzido como “maus desejos”.
12. Hernandes Dias Lopes. 1 Pedro, pág 48-49.
13. Russel Norman Champlin. O Novo Testamento Interpretado – Vol 6. 1 Pedro, pág 104.

***

Fonte: Trecho extraído do Comentário Expositivo de 1 Pedro do autor. 
Divulgação: Bereianos

O propósito da salvação em 1 Pedro - 2/5 (2ª parte)

O propósito da salvação em 1 Pedro - 2/5

(Por Leonardo Dâmaso)

(continuação)

b) A razão do imperativo à santidade.

1.15 ... pelo contrário, segundo é santo aquele que vos chamou, tornai-vos santos também a vós mesmos em todo o vosso procedimento.


Após instar os cristãos a sempre se manterem como filhos obedientes e não se amoldarem ao antigo esquema de vida norteado pelo pecado que outrora eles faziam parte antes da conversão, Pedro, dessa vez, salienta por qual motivo os cristãos devem viver em santidade. O apóstolo realça que assim como Deus, que é santo, chamou os cristãos de uma vida outrora em trevas para a sua maravilhosa luz (2.9), os cristãos, em vista disso, também devem ser santos em tudo o que fizerem na vida. Se no versículo 14 Pedro exortou o que os cristãos “não devem fazer” (imperativo negativo), isto é, “não se amoldar” ao esquema de uma vida pecaminosa, aqui, mais uma vez, há outro imperativo – tornai-vos santos.

A conjunção “mas”, no grego αλλα (alla), traduzido pela a ARA como pelo contrário, estabelece um contraste com o versículo 14b. Portanto, o versículo 15 é a continuação do versículo 14b, o qual amplia o tema da santidade na vida cristã. Era como se Pedro dissesse: “Não façam aquilo de novo” – vos amoldar às paixões que tínheis anteriormente, “mas façam isso” – sejam santos também em tudo o que fizerem. (NVI) Não obstante duas proposições são destacadas aqui:

i. O caráter daquele que chama os cristãos à santidade.14 A palavra “santo” possui diferentes conotações de significado no Antigo e no Novo Testamento. Santo, no hebraico קדוש (qadosh), significa “ser separado do uso comum para o uso exclusivo de Deus”. No Antigo Testamento, todos os objetos que eram utilizados para Deus. As vestes sacerdotais eram santas (Êx 28.2), o lugar específico para a preparação das ofertas de sacrifício era santo (Êx 29.31), os vasos usados no templo eram santos (1Rs 8.4).   

Por outro lado, a mesma ideia de “separado” que a palavra קדוש (qadosh) transmite no Antigo Testamento é aplicada no Novo Testamento com a palavra grega άγιον (hagios). Contudo, é importante frisar, para melhor compreensão, que a santidade de Deus possui uma dupla conotação. Assim, destacamos a santidade “singular” e a santidade “moral” de Deus.  Senão vejamos:

1. A santidade singular de Deus. De modo restrito, por ser completamente distinto, separado e adorado pela sua igreja em virtude da sua magnífica grandeza inacessível e ao mesmo tempo acessível mediante Cristo Jesus (Jo 1.14), somente Deus possui esta santidade peculiar. Mesmo quando estiverem com os corpos glorificados vivendo eternamente na terra restaurada, os cristãos não serão santos nesse aspecto como Deus é, pois ainda continuarão sendo seres finitos. Desse prisma, a santidade de Deus é única, sendo um atributo incomunicável aos homens (veja Êx 15.11; Is 57.15; Ap 4.8).    

2. A santidade moral de Deus. Proveniente de sua santidade singular, Deus também possui uma santidade moral. As leis estabelecidas por Deus nas Escrituras revelam o seu caráter santo e demonstram que ele é absolutamente livre de qualquer deformidade ética. Deus é separado do pecado e do mal moral (veja Jó 34.10; Hc 1.13). Portanto, diferente da santidade singular, que é exclusiva em Deus, a santidade moral é comunicável aos homens, o que veremos a seguir. 
ii. A santidade deve abarcar todas as áreas da vida dos cristãos. Pedro sublinha que, assim como Deus, o nosso pai espiritual (2Cor 6.18; Hb 12.9; Gl 3.26) é santo, nós, cristãos, como filhos obedientes (vs.14; Rm 8.13-16) também devemos ser santos em toda a nossa conduta moral15 (2.12; 3.1, 3, 13; 2Pe 2.7; 3.11). O Deus que exige santidade é, sobretudo, o modelo para que o imitemos em santidade (Ef 5.1). “Nenhum aspecto da nossa vida está excluído desse imperativo divino. Todo o nosso procedimento deve resplandecer o caráter de Deus, a santidade daquele que nos chamou do pecado para a salvação”.16           

c) A santidade é um imperativo porque é confirmada nas Escrituras.

1.16 Porque escrito está: Sede santos, porque eu sou santo.

Pedro, agora, ratifica sua exortação aos cristãos sobre a necessidade de conduzirem suas vidas em santidade recorrendo às Escrituras, afirmando que está escrito que eles devem ser santos.

A expressão está escrito γέγραπται (gegraptai), no grego, “era usada em relação a documentos legais cuja validade ainda permanecia”.17 Sendo assim, Pedro não baseia a sua exortação em suas convicções particulares em como os cristãos devem se portar, mas, sobretudo, lança mão da autoridade das Escrituras do Antigo Testamento citando Levítico 11.44-45 para confirmar o seu argumento.

O apóstolo extrai como base para o seu ensino aos cristãos uma exortação proferida diretamente da boca de Deus a Moisés e a Arão, para que estes instruíssem o povo de Israel a serem santos em toda a sua conduta moral assim como Deus é santo (uma vez que a santidade é um dos temas que permeia Levíticos, veja também 19.2; 20.7, 26; 21.8, 15; 22.9, 16, 32).18 Parafraseando, era como se Pedro dissesse: Deus é santo, logo, ele exige que nós, também, sejamos santos, porque ele próprio corrobora em Levítico 11.44-45 e 19.2 para que sejamos santos assim como ele é santo! A conjunção porque διότι (dióti) remonta a expressão está escrito, a qual alega que o imperativo à santidade foi extraído das Escrituras.

Aplicação prática

Não somos santificados pela obediência aos preceitos de Deus estabelecidos nas Escrituras; obedecemos aos preceitos de Deus porque fomos santificados [aspecto posicional dos cristãos] na união com Cristo Jesus pela regeneração. Por outro lado, como pessoas que foram (Hb 10.10; 1Cor 6.9-11), são (Hb 2.11) e estão sendo santificadas pelo Espírito Santo (Hb 10.14), os cristãos, todavia, são chamados a manifestar santidade [aspecto colaborativo na santificação], isto é, o caráter do Deus santo em suas vidas “interiormente” quando estão sozinhos e ninguém os vê, somente Deus, e “externamente” na maneira de viver (ARC) com os outros pelos relacionamentos sociais (para mais detalhes sobre a santificação veja o meu comentário do versículo 2b).  
  
William Barclay escreve:

O cristão é um homem de Deus por eleição de Deus. É eleito para uma tarefa no mundo e para um destino na eternidade. É eleito para viver para Deus no tempo e para viver com Deus na eternidade. No mundo tem que obedecer a lei de Deus e reproduzir a vida de Deus. O cristão foi eleito por Deus, e, portanto, em sua vida tem que haver algo da pureza de Deus e em sua ação tem que manifestar-se algo do amor de Deus. O cristão recebeu a tarefa de ser diferente.19  

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Notas:

[14] A expressão “segundo é santo aquele que vos chamou”, traduzida literalmente do grego κατά τόν καλέσαντα υμας άγιον – “assim como o santo que vos chamou” é incompleta, embora esteja correta. Porém, quando acrescentamos na tradução o verbo auxiliar (tempo presente do modo indicativo) εστιν (estin) “é”, o sentido da expressão fica mais claro – “assim como “é” santo aquele que vos chamou”. (Almeida Século 21) No entanto, prefiro a tradução desse trecho da seguinte forma: “Conforme o exemplo do Santo que vos chamou” (veja um exemplo similar em 2Pe 2.1).
[15] No grego, o substantivo αναστροφη (anastrophe), literalmente “conduta”, traduzido pela a ARA por “procedimento”, e pela a ARC por “maneira de viver”, enfatiza o estilo de vida moral que uma pessoa tem no seu relacionamento com outras pessoas. Desse modo, prefiro a tradução literal do grego ou a tradução da ARC.     
[16] Hernandes Dias Lopes. 1 Pedro, pág 50.   
[17] Fritz Rienecker e Cleon Rogers. Chave Linguística do Novo Testamento Grego, pág 554-555.
[18] A religião judaica promovida e distorcida pelos fariseus e líderes religiosos ensinava que os homens poderiam alcançar a santificação pelos seus próprios atos simplesmente se cumprissem os preceitos descritos na “lei”. Tais preceitos de santidade tinham conotações legalistas porque eram baseados numa interpretação equivocada das Escrituras (Mc 7.1-13; Hb 13.9). Contudo, tanto a lei no Antigo Testamento quanto o evangelho enfatiza o contrário. Assim como a salvação é e sempre foi pela graça mediante a fé, a santificação (progressiva), por sua vez, também é desfrutada pela fé (At 26.18).  
[19] William Barclay. 1 Pedro, pág 64-65.

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Fonte: Trecho extraído do Comentário Expositivo de 1 Pedro do autor. 

Divulgação: Bereianos

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Conceito Básico de Salvação (em Efésios 2: 8 e 9)

Salvação: dom inefável de Deus
(conceito básico de salvação)

Pois vocês são salvos pela graça, por meio da fé, e isto não vem de vocês, é dom de Deus; não por obras, para que ninguém se glorie  (Efésios 2:8-9)


A salvação não é uma conquista humana, mas uma dádiva de Deus. Não a alcançamos por mérito, mas recebemo-la por graça. A salvação não é um troféu que erguemos como fruto do nosso labor nem uma medalha de honra ao mérito, mas um presente imerecido. Concernente à salvação, como dom inefável de Deus, destacamos três verdades sublimes: 
Em primeiro, a graça, o fundamento da salvação. "Porque pela graça sois salvos…" (Ef 2.8aa). A graça de Deus é seu amor imerecido, endereçado a pecadores perdidos e arruinados. Deus amou-nos quando éramos fracos, ímpios, pecadores e inimigos. Amou-nos não por causa dos nossos méritos, mas apesar dos nossos deméritos. Amou-nos não por causa das nossas virtudes, mas apesar das nossas mazelas. Amou-nos não porque éramos seus amigos, mas apesar de ser seus inimigos. Amou-nos e deu-nos seu Filho Unigênito. Amou-nos e deu-nos tudo. Deu-se a si mesmo. Deu seu Filho único.
Deu-o não para ser servido, mas para servir. Não para ser aplaudido entre os homens, mas morrer pelos pecadores. Esse amor incomparável, incompreensível e indescritível a pecadores indignos é a expressão mais eloquente de sua graça. Assim, não somos salvos pela obra que realizamos para Deus, mas pela obra que Deus realizou por nós, na cruz do Calvário.
A cruz de Cristo é o palco onde refulge com todo o esplendor a graça de Deus. Aqui está a causa meritória da nossa redenção, o fundamento da nossa salvação. 
Em segundo lugar, a fé, o instrumento da nossa salvação. "… mediante a fé, e isto não vem de vós; é dom de Deus. Não de obras, para que ninguém se glorie" (Ef 2.8b,9). Não somos salvos por causa da fé, mas mediante a fé. A fé não é a causa meritória, mas a causa instrumental da nossa salvação. Apropriamos da salvação pela graça, mediante a fé. A fé é a mão estendida de um mendigo para receber o presente de um rei. Deus nos oferece a salvação gratuitamente e apropriamo-nos dela pela fé. A própria fé não vem do homem, vem de Deus; não é resultado de esforço ou mérito humano, mas presente de Deus. A fé salvadora não é apenas um assentimento intelectual nem uma confiança passageira apenas para as questões desta vida. A fé salvadora é plantada em nosso coração pelo Espírito Santo de Deus e então, transferimos nossa confiança daquilo que fazemos para o que Cristo fez por nós na cruz. A fé não apenas toma posse da salvação, mas, também, descansa na suficiente obra de Cristo. Somos justificados pela fé, vivemos pela fé, andamos de fé em fé e vencemos o mundo pela fé. 
Em terceiro lugar, as boas obras, o propósito da nossa salvação. "Pois somos feitura dele, criados em Cristo Jesus, para as boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas" (Ef 2.10). Não somos salvos pelas boas obras, mas para as boas obras. As boas obras não são a causa da salvação, mas sua consequência. Não fazemos boas obras com o propósito de sermos salvos; fazemo-las porque já fomos salvos pela graça, mediante a fé. É importante destacar que se as boas obras não encontram lugar como causa meritória ou instrumental da salvação, elas precisam ser vistas como a evidência da salvação. A fé e as boas obras não estão em conflito. A fé sem as obras é morta; as obras sem a fé não são boas. A fé produz obras e as obras provam a fé. A salvação é só pela fé independente das obras, mas a fé salvadora nunca vem só. Vem acompanhada das obras que glorificam a Deus e abençoam os homens. Essas obras foram preparadas de antemão para que andássemos nelas. Tudo provém de Deus, pois é ele quem opera em nós, tanto o querer como o realizar. 
A salvação é um dom inefável de Deus. Foi planejada por Deus Pai, executada pelo Deus Filho e aplicada pelo Deus Espírito Santo. Foi planejada na eternidade, é executada na história e será consumada na vinda de Cristo. Fomos salvos pela graça, mediante a fé e para as boas ações e boa conduta cristã nesse mundo como meio de mostrar ao mundo (em trevas) que há vida de Deus em nós. Isso se chama: dar testemunho da fé e da salvação em Jesus!
Assim, a salvação não é uma coisa estática. A salvação produz em nós, pela obra de redenção e transformação do Espírito Santo, os frutos do espírito para uma vida cristã virtuosa. Assim, somos convidados pelo Espírito Santo todos os dias a buscar com zelo a santificação, a boa conduta, andar em bom testemunho, perseverar na fé, andar pautado na Palavra de Deus. Sempre seguindo em frente nesse PROCESSO rumo à redenção prometida (nosso alvo) e já afirmada pelo ATO da graça na soberania divina em Cristo Jesus.


G.E.P.S. (20/09/14)